Era uma vez um menino que tinha por recreio não um quintal, mas o deserto inteiro. Ele só conhecia um pedacinho que nem 500 metros eram. Para lá da estrada da Junta das Estradas era deserto. 500 metros foi muito, mas dava.
Não havia baloiços, mas havia dunas que pareciam montanhas de areia. Não havia escorregas de plástico, mas cada encosta era uma descida pronta para transformar-se em aventura.
O menino corria, deixava as pegadas desenhadas no chão como quem assina o mundo, e ria-se porque o vento apagava tudo, que até parecia que no dia seguinte alguém tinha varrido o quintal. Era o jogo preferido: fazer caminhos e vê-los desaparecer, como se o deserto fosse um quadro mágico que se apaga sozinho.
Com um pauzinho, inventava espadas, varinhas, cavalos de batalha. O deserto era castelo, oceano e selva, tudo ao mesmo tempo. A miragem ao longe era o seu cinema particular: às vezes via uma cidade, outras um lago, outras até camelos que se transformavam em dragões. O deserto era mágico mas ao mesmo tempo ele tinha medo de se perder, de tantas estórias ter ouvido contar.
Quando o sol se zangava e caía com todo o peso de fogo sobre a areia, o menino procurava a sombra raríssima de uma pedra, onde fazia de conta que tinha encontrado a caverna secreta dos exploradores. Ali descansava, inventando histórias que só o deserto escutava.
À noite, deitava-se na areia fria, e o teto era um céu sem fim, cheio de estrelas que pareciam lanternas acesas só para ele. Brincava então de contar constelações, chamando-lhes nomes de bichos, heróis e brinquedos que nunca tivera. Ele não sabia que já tinham dado nomes a elas. Mas o céu era a sua banda desenhada e cada estrela uma personagem
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