Era fim de tarde em Luanda quando o Café dos Invisíveis abriu as portas. Não havia letreiro, nem música; apenas mesas gastas e cheiro de café forte. Ali, vinham sentar-se aqueles que escreviam Angola.
Luandino estava lá sentado como se estivesse à espera, faz muito tempo. Depois Pepetela chegou, trazendo debaixo do braço um caderno onde ainda se via a poeira do Mayombe. Pediu silêncio: dizia que as árvores da floresta ainda falavam dentro dele. Logo depois entrou José Eduardo Agualusa, com um sorriso leve e histórias que pareciam voar, como se fossem feitas de vidro e de sonho. Trouxe na mão uma pequena arca imaginária, onde jurava guardar segredos do mundo.
Luandino Vieira falou sem pedir licença, mais velho não precisa, carregando palavras como quem carrega pedras pesadas. A sua voz era dura, mas dentro dela morava a cidade inteira — as vielas, as gírias, os meninos descalços correndo pelo musseque.
Ondjaki chegou, risonho, trazendo consigo uma infância interminável. Sentou-se, e de repente o café ganhou cores: havia balões, crianças inventadas, fantasmas doces que dançavam nas paredes.
Conversaram sem se olhar muito, porque cada um via Angola à sua maneira. Pepetela falava das batalhas que não terminam, Agualusa das fronteiras que se dissolvem, Luandino da língua reinventada, Ondjaki do futuro que ainda brinca no quintal.
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