3 de agosto de 2025

Areia, Sal e Silêncio, muita gente

Há um certo tipo de silêncio que só encontro na praia. Não é ausência de som, mas uma pausa do mundo, o burburinho abafado pelas ondas, os pensamentos dissolvidos no vai e vem da maré. Ir à praia é mais do que um passeio: é um reencontro com o essencial. Tem momentos que encontro os eus antigos, os amigos que partiram, as brincadeiras brincadas, as corridas sofridas na fuga dos medos.

Chegar cedo, quando o sol ainda hesita e a areia conserva o frio da madrugada, é um privilégio que não me calha muitas vezes. Sol forte, transpiração da caminhada e lá estou eu a espreguiçar-me à beira-mar, pés enterrados na areia húmida, enquanto o céu pintado de azul celeste me observa. É uma forma simples, poderosa mesmo, de começar de novo. Ali, cada respiração é mais funda. O tempo desacelera.

À volta, as pessoas também se transformam. Há menos pressa, menos exigência. Os telemóveis ficam esquecidos nas mochilas. As conversas ganham outra cadência. Até o corpo parece agradecer, espreguiçando-se entre o sol e a água salgada, libertando-se das tensões da cidade, dos e-mails não lidos, das notícias que pesam.

O mar, com sua força constante, lembra-nos que tudo passa. Uma onda vem, outra vai. E no meio disso, há um instante, talvez e apensas só um, em que se percebe: estar ali, sem fazer nada, é fazer tudo. É viver.

Há quem diga que ir à praia é fuga. Talvez. Mas não é de responsabilidades que fugimos, e sim da pressa de viver sem sentir. Na praia, aprende-se o valor da pausa. A beleza do inútil. A arte de simplesmente estar.

No fim do dia, o sal fica na pele, e a alma, mais leve. Leva-se areia nos pés e paz nos ombros. E quando se volta para casa, talvez nada tenha mudado, exceto por dentro.

E isso, afinal, é tudo para além das muitas recordações que eu tenho de uma outra praia, de uma outra gente, de um outro modo de olhar, inocente, curioso e intenso




Sanzalando

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