No dia seguinte, tal como ditado
na véspera, às 6 sai de casa. Elas me disseram o lado para onde eu podia
apanhar o autocarro para o Hospital de S. João, local onde ia estudar e tinha documentação a tratar. Para lá
fui. Matabicho não tinha tomado pelo que entrei num café grande e concorrido
mesmo na esquina, na Areosa, perto da paragem do dito autocarro que antes era macimbombo. Pedi um café e uma sandes. Veio assim uma chávena
grande com uma água cor de café e um pão com queijo sem manteiga. Mas a fome era tanta que nem olhei para lado
nenhum, comi e bebi aquela água deslavada com certo aroma a café.
Fiz horas para ir para o Hospital
de S. João. Melhor dizendo, passeei na frontaria do Hospital das 7 até às 9
horas para tratar do que tinha que ser tratado. Às 10 estava despachado e sem
saber o que fazer até às 17, hora a que podia entrar em casa, pois a prima do
grau não sei quantos disse logo que não me dava chave da casa.
A minha vida estava encarreirada
na vagabundagem das 6 às 17. É aqui que vou virar monge, obediente e triste,
pensei. Mantive-me no S. João, conheci o bar, a sala de alunos, a associação de
estudantes e aos poucos fui vendo mais uns perdidos de gente, tal como eu. Dado
a poucas falas pouco falei. Uma pergunta aqui, uma ali, até que vejo alguém
conhecido. Um velho colega de liceu, daqueles que a gente perde e nem dá
porquê, também estava a chegar. Ia fazer o mesmo que eu. Fixe. Já tenho alguém
conhecido. Aos poucos fui criando uma multidão de tristes figuras perdidas à
minha volta. Numa manhã já havia um grupo. Não erámos uniformes no ponto de
partida, mas no de chegada. Os solitários eram agora para aí uma dúzia.
Fomo-nos fazendo companhia e até dávamos e recebíamos conselhos. Aos poucos
dispersámo-nos. Uns satisfeitos, outros a queixarem-se das casas que não havia
ou do preço e eu calado porque tinha caído ali de paraquedas através de uma
carta e não sabia mais nada daquela vivência.
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