Todas as manhãs, ela passava por mim com o mesmo sorriso que eu, para mostrar que sabia algumas coisas, dizia era parecido à Monalisa, leve, despreocupado, como se o mundo fosse um lugar gentil. E talvez fosse, para ela. Para mim, era o espaço entre o que eu sentia e o que nunca tive coragem de lhe dizer.
Ela sentava sempre na terceira fila, primeira carteira, mexia no cabelo quando estava nervosa e fazia rabiscos nas bordas do caderno, parecia assim uns zigue-zagues, enquanto o professor falava. Eu sabia disso tudo porque observava. Sempre de longe, sempre em silêncio.
A gente conversava às vezes. Coisas pequenas. Fizeste os trabalhos de casa? ou "Essa matéria é muito chata, não é?". Eu respondia sorrindo, tentando esconder um coração que batia mais rápido do que deveria. Ela era aluna de topo e eu era tipo de gostar dela. Isso me fez gostar de matérias que até aí eu ainda não sabia o que fazer com elas.
Tinha medo de estragar tudo. Medo de perder o pouco que tinha: a troca de olhares, os acenos tímidos, o "bom dia" que parecia só dela. Eu gostava dela. Muito. Mas ela não sabia.
No último dia de aulas, levei um papel dobrado no bolso. Nele, um bilhete simples escrito com a letra mais bonita que eu tinha:
"Se um dia te perguntares se alguém já te amou em silêncio, a resposta é sim."
Mas não entreguei. Ela saiu da sala rindo, sem olhar pra trás. E eu fiquei ali, com o bilhete amassado na mão, e um silêncio ainda maior entre nós. Um silêncio que vai além do muito tempo que tem meio século
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