Há dias que deslizo o dedo pela tela como quem procura uma porta de saída.
Mas tudo o que encontro são janelas fechadas com cortinas bonitas — vidas alheias filtradas em sorrisos, conquistas e manhãs perfeitas com café na cama.Enquanto isso, aqui, deste lado do ecran, a cama está por fazer, o café já arrefeceu, e o silêncio pesa mais do que o barulho do mundo.
As redes sociais prometeram-nos ligação.
Prometeram-nos pontes, abraços digitais, likes como forma de amor moderno.
Mas, às vezes, tudo o que entregam é uma solidão mais nítida, mais aguda — como uma vitrine onde estamos dentro, olhando para fora, esperando que alguém veja de verdade.
Vejo amigos rindo. Lugares distantes. Relacionamentos que florescem.
E começo a duvidar da minha própria alegria, como se a vida só tivesse valor se for compartilhada em formato 9:16, com legenda espirituosa e música de fundo.
Mas a verdade é que ninguém posta a insónia.
Ninguém partilha a lágrima que caiu no meio duma tarde de sol.
Ninguém marca um “amigo” quando sente que está a desaparecer, mesmo rodeado de pessoas.
A tristeza nas redes é uma tristeza muda.
É um grito silencioso entre postes.
É o peso de estar sempre "ligado" e, paradoxalmente, sentir-se cada vez mais distante.
Hoje decido fazer diferente.
Fecho a aplicação. Abro a janela. Respiro.
Procuro-me fora do ecran, nas coisas que não precisam de validação.
No som do vento. No toque de um livro. Na honestidade de um encontro sem filtros.
Porque às vezes, para nos encontrarmos, temos primeiro que nos perder...das redes a que chamam sociais
Sem comentários:
Enviar um comentário