18 de junho de 2025

Cheguei ao Porto parte 8... não faço ideia de quantas

No Reino das Águias Carecas, vulgo lar da Álvares Cabral, quase todos eram oriundos de paragens distantes, três do norte de Portugal, dois da Madeira e o resto, bem, esses eram o mundo à parte, tinham vindo de Angola e tinham trazido essa característica na maneira de ser e estar. Eu estava como peixe na água. Primeiro clandestino e depois com o Serviço Social definido em bolsa e alojamento, ali estava de maneira legal. Mas de clandestinidade estava o reino cheio. Era por um ou dois dias, era a semana ou outros ‘desprotegidos’ como eu, iam ali buscar conforto e amizade. Ninguém tinha falta de amizade e apoio. Havia sempre um ombro, um amigo, uma conversa, uma companhia na hora.

Certo certo é que nunca mais voltei à Areosa, na morada da prima cujo grau desconheço ainda hoje e também deixei de parar na pastelaria onde me habituara a tomar o matabicho e onde aprendi a dizer CIMBALINO. Esta não só porque não me apetecia sair do autocarro, mas porque o lar tinha pequeno almoço. Passei a privilegiado. O curioso é que o dia com maior frequência de pequeno-almoço era o sábado logo às 8 da manhã… Se calhar em vez de chamar pequeno almoço eu diria que era a refeição antes de deitar.

Até o curso começou a parecer fácil. Mantive os dois grupos e fui-me acrescentado ao do lar, onde prontificavam quase todos os cursos da Universidade do Porto. Além da lerpada das sextas havia muito mais mundo para lá da secretária. Havia sempre motivo para comemorar, desde que isso não implicasse gastar dinheiro, que não havia. Pois todos tínhamos mais mês que dinheiro.

Aos Domingos, que não havia cantina, havia alguém pronto para salvar com um cozinhado. Solidariedade não tem preço e no lar garanto-vos que nunca faltou. Mais um bocado de arroz e o frango dava para dúzia

No final do semestre, ali para os lados de Maio, sentei-me à beira do Douro, tendo ao meu lado a minha amiga Leonor, com um caderno, de capa vermelha, no colo, escrevi:
"Cheguei ao Porto e não conhecia nada nem ninguém. Agora, conheço a cidade pelo nome dela, pelos cheiros e pela beleza das casas e vilas."



Sanzalando

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