Cheguei à cidade do Porto e não
conhecia nada nem ninguém. Ela ali que eu ia estudar. Por carta escrita tinha
arranjado um quarto em casa de um familiar que não conhecia, nem ao até
precisar sabia da sua existência. Me contaram uma história que era senhora
entrada na idade e que vendia flores no Bolhão. Me deram a morada e ficava ali
mesmo encostada à Areosa. Não sabia mais nada do Porto. Certa manhã cheguei à
estação da Campanhã. Ali perguntei como podia ir para o centro da cidade pois
eu não fazia a mínima ideia onde estava. Me indicaram e apanhei outro
comboio. Cheguei à estação de S. Bento. A estação de São Bento
parecia uma pintura viva, e o frio cortante de janeiro fazia os bolsos vazios
parecerem abrigo para mais que apenas mãos. Só que não cabia lá a mala. Eu
tirintava de frio. Fora as ruas de paralelepípedo, as casas da frente com
fachadas azulejadas e roupas penduradas nas janelas, me faziam sentir parte de
algo antigo, embora eu fosse só mais um recém-chegado perdido com uma mochila
nas costas e sem nenhum mapa na mão. Um simples bilhete com uma morada. Nada
mais tinha, excepto a certeza que estava no Porto. Dos poucos trocos que tinha
no bolso dariam de certeza para um taxi. Meti-me num e lá fui quase até à
Areosa. O Porto era maior do que eu imaginava. A morada estava certa na certeza
que ninguém estava em casa. Sentei-me no passeio ao lado da mala e da mochila.
Não tinha referência mais nenhuma para ir e o raio da mala e da mochila eram
incomodas para andar a passear. A disposição também não era nenhuma. Fazia frio
e estava um dia cinzento. Não estava dia como eu estava habituado a ter os meus
dias.
Passou a hora de almoço e
continuava a casa sem ninguém para me abrir a porta. E eu sentado no passeio.
Irrequieto, impaciente e com medo de ter de passar uma noite ali sentado a
pensar no que fazer da vida. Mas sem orações nem pedidos celestiais cerca das 5
da tarde eu já tinha companhia. A prima do grau não sei quantos tinha chegado
com a sogra da venda no Bolhão.
Apresentações e muitas
recomendações. Às 6 da manhã todos saem de casa. Às 19 todos estavam
deitados. Nada de amigos cá em casa, nem barulhos de música. Começava
bem a minha vida no Porto. Eu, ser livre, estava a aprisionar-me de forma voluntária?!
Apetecia agarrar a mala, pôr a mochila às costas e regressar ao ponto de
partida, tal como nos jogos de tabuleiro. Mas a minha intenção de ser o que
queria ser falou mais alto e disse-me para aguentar, pois um dia o sol ia
abrir.
Sem comentários:
Enviar um comentário