Era um botão. Só isso. Um botão da camisa, quase invisível, ali perto da gola. Faltava.
Ninguém percebeu - excepto eu. O detalhe. Pequeno, mínimo, mas gritava no meio da arrumação toda. A camisa era nova, tecido alinhado, meias a condizer e o sapato engraxado. Mas aquele botão ausente fazia o mundo inteiro parecer meio torto. O mundo falhou, pensei.
E é assim com os detalhes.
Há quem diga que são apenas minúcias, coisas para os obsessivos e perfeccionistas. Mas não é verdade. Os detalhes não são só partes do todo — muitas vezes, são eles que definem o todo. Aquele sorriso de canto que escapa no meio de uma conversa séria. A pausa entre duas palavras. O jeito como alguém segura uma caneca ou um copo ou como dobra um guardanapo. Um detalhe pode revelar intenções, sentimentos, histórias.
O detalhe é onde mora a realidade.
Lembro-me que o meu avô me dizia: "Quem olha só a roupa, vê a aparência. Quem olha a costura, entende a alma." Nunca vi o meu avô falhar. Ele era o detalhe. Pelo menos da família.
No amor também é assim — são os detalhes que nos capturam. O jeito como ela prende o cabelo distraída, como ele fala baixo quando está com sono. Não é sorriso enorme nem a declaração de cinema que marca, mas a lembrança de ter dividido um guarda-chuva num dia de chuva.
Vivemos numa época de exageros: gritos, flashes, sangue e sirenes. Mas é no detalhe que mora a beleza subtil, aquela que não precisa de holofotes, só de olhos atentos.
Talvez o segredo da vida boa seja esse: aprender a notar o botão que falta — e também os que estão firmemente costurados.
Tantas vezes me perdi nos detalhes da vida. A admirá-los, diga-se.
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