A Minha Sanzala

no fim desta página

30 de setembro de 2023

com ou sem nexo

Não deixo aquecer a cerveja. Entre goles vou vendo as fotografias que fui memorizando ao longo dos tempos. Tem memórias que são a preto e branco a dar para o amarelecido e tem memórias que estão frescas que nem planta acabada de colher. Mas olhando umas e outras eu sei que ainda não acabei de viver, que ainda há muito para fazer, muito para olhar, muito para dizer ou apenas recuperar.
Quando faço os meus quilómetros de bicicleta, percorrendo estradas ou caminhos, simplesmente pedalando, eu vejo os registos e me ponho a pensar. Não é como as fotos que eu tenho e onde eu estou. Nessas eu existo ali, prova física. Nos registos da bicicleta como eu ouso dizer que os fiz se eles já estão lá faz tempão. Eu os percorro e não os faço, não tenho marca física apesar de me doer o físico. Esta vida tem coisas que levam um gajo a pensar sem nexo ou com todo ele.


Sanzalando

29 de setembro de 2023

amor ódio

Saboreio a minha gelada cerveja e deixo-me passear por pensamentos e ideias. Estou assim num modo vagabundo de viver a vida, sem pressas ou pressões. Um modo de sentir-me como que com gosto, descontraído e feliz. Não preocupado com sentimentalismo de amor e ódio. Só mesmo saboreando o meu gosto de estar. Deixei-me de ir ao profundo sentimentalismo, aquele que provoca arrepios e inundam a alma de responsabilidades e pesos mentais. Deixei-me de culpas e desculpas e fiquei no entender, no afecto de saber, na exposição de compreender. 
Bebido mais um gole digo-me que nada é minha culpa e nada tem culpa, nada depende da demência, incompetência e incongruência dos outros. Vou só mesmo compreender e perceber para saber. É suficiente para não ter traumas nem sofrer de colaterais danos. É um viver simples. Não é superficial porque para aqui chegar mergulhei fundo nos passados da vida. É ser feliz sabendo que não posso reprimir sentimentos, ideias, decisões nem deixa-me invadir por emoções que minam a leveza do pensamento. 
Responsabilizo-me de acções e tenho como estandarte que a felicidade é ser simples e feliz, compreender e fazer-me compreender.


Sanzalando

28 de setembro de 2023

dúvidas

Neste delírio em que me perco tantas e tão pouco que já nem sei se sou imaginação ou se eu existo para lá deste pensamento. Nesta eterna dúvida em que me ponho, quase posso dizer que me apoderei do silêncio e o transformei em vida. Imagina a distância que o amor tem de percorrer para unir dois corações. Às vezes nem a medida humana tem capacidade para tanto, quando esse amor é feito de silêncios. Os intervalos de palavras podem ter anos, décadas, mas o amor feito em silêncio não é possível ser mensurado. Platónico, medida escondida entre lágrimas e silêncios, poderia ser uma, mas seria sempre subjectiva e não real e objectiva. 
Há amores de fantasia, de imaginação e de paixão, meio caminho para a loucura. Os amores de silêncio duram a vida toda. Quanto tempo é a vida? Outra dúvida ganha nesta mesa de esplanada enquanto olho para a garrafa  de cerveja gelada.
E na noite quase madrugada, estes silêncios se convertem em ecos de melancolia, em sorrisos de tristeza ou lágrimas de saudade.

Sanzalando

27 de setembro de 2023

se eu pudesse

Se eu pudesse te olhar nos olhos eu te quereria dizer tantas coisas que apenas ia sobrar silêncio. Seria um olhar de silêncios, um brilho intenso que traduziria toda a emoção contida. 
Sim, eu sei que saudade é depressão, mas a que eu sinto é só mesmo aquela vontade de te dizer tudo o que nunca te falei e se foi guardando em mim. Não foi medo de futuro a teu lado, porque isso seria ansiedade, mas só aquele calor de te saber escaldante à minha beira.
Eu sei que todos os momentos que não estivemos juntos foi vida vivida intensamente. Nós não precisamos de estar juntos para viver porque ambos somos água e azeite ou vice-versa. Mas tínhamos tanto para dizer que quase certo estou que íamos ficar no silencio calcificado, especados no olhar tipo caras de parvo.
Fomos um brinquedo não usado.


Sanzalando

26 de setembro de 2023

vagabundo de mim

Sento-me na esplanada, bebo uma cerveja gelada e caminho por pensamentos feito um vagabundo do tempo. Às vezes penso que sou como o oceano, esse mar que me delicia, umas vezes calmo e outro numa calema que até dá medo só de lhe olhar, umas vezes formoso na cor e outras rebelde na força. Aqui, de copo na mão, revejo com admiração a forma como ele se move num espraiar sob a areia, bamboleando-se nas irregularidades dela, suavemente estendendo-se como que a deformar-se numa absorção lenta. Aqui sentado deixo-me navegar nessas imagens que imagino, sem saber se hoje ele está calmo e sereno ou revoltado e destrutivo. Hoje sou um barco que navego nesse oceano de ideias, desconhecendo profundidades, lugares secretos ou o quanto é imenso o que há para descobrir. 
Sento-me saboreando uma cerveja gelada, navegando por mim adentro, como num mergulho à procura de lugar sagrado existente em mim.
Não tenho planos, nem fiz nenhum esquiço de régua e esquadro, bússola ou astrolábio. Quero ir por aí, vagabundo de mim.


Sanzalando

25 de setembro de 2023

fim da trilogia

E passados estes anos todos eu me habituei à tua ausência. Melhor, eu me habituei à tua inexistência e me esqueci de todos os planos feitos naquela adolescência, na estória em comum de um esquecido destino. Se eu andava parecia um periscópio a ver se te via em cada rosto cruzado, aos poucos me fui deixando ficar nos presentes, me fui dando aos reais e o imaginário foi-se tornando um vazio, um buraco de agenda, um espaço em branco de um álbum de fotografias.
E, ao longo destes anos todos, quando termino esta trilogia de vida e recomeço uma nova, em que desato os nós que me amarravam ao antanho da memória, ao fruto da ilusão, aos alicerces duma vida desenhada num sonho, baseado num desejo e traçado num querer, vivido nuns acasos que deram certo, olho para tudo e não encontro os papeis que escrevemos, os desenhos desenhados, os quereres imaginados. E dá para me perguntar se alguma vez tudo isto não foi uma ilusão, um delírio ou simplesmente um sonho? Eu tive essa vida? Eu te conheci e te vivi? Não é tudo isto fruto dum romance dum qualquer escritor que eu estudei nos meus tempos de criança, em que me desenhou? Se eu sou apenas personagem dum romance o que realmente resta da minha real vida? Eu tive passado? Eu existo neste presente? Eu terei tempo de me reescrever em futuro?
Se tu não existes, se tu não tens voz, se nós os dois é coisa de ilusão, página de romance, como eu posso dizer que existi? Como posso eu afirmar que o meu peito teve inúmeros incêndios por tua causa? Como posso dizer que o meu agora é fruto desses momentos todos que afinal não existiram a não ser nas páginas dum livro?
A tua ausência apagou de vez a minha existência. Vou-me nascer outro como outro me nasci tantas vezes nesta vida em que não me apaguei na corrente de um ar que se lhe deu.



Sanzalando

24 de setembro de 2023

esse momento

Outonou-se o tempo e com ele entro na fase meditativa. 
Se eu soubesse que aquela vez era a última vez que ela falava comigo, que me olhava nos olhos e até me sorria, eu ia decorar a cara para mais tarde recordar. Mas eu não sabia e por isso não dei importância às linhas da cara, ao brilho dos olhos, ao contornos dos lábios e ao calor das palavras. Como é que eu posso agora rodar o filme do tempo para trás e rever todos aqueles segundos e ver o que é que posso recuperar na memória?
Foi num tempo mais ou menos como que hoje que descobri que uma pessoa não deixa de aprender. É durante as tormentas ou nas noites solitárias que procuramos o doce da vida, o caminho de ser feliz e encontramos. A única coisa que me atormenta, a que me deixa rebolar na cama sem ganas de deixar dormir é não ter decorado, memorizado, registado esse momento que agora julgo ter sido o mais amargo da minha vida. Nota que eu julgo, não tenho a certeza, porquanto a felicidade tem sido o meu nome de principio ao fim. Mas esse momento marcante e que contornou-me a linha recta da vida, não tem nem um registo na memória. Como é que posso libertar a minha alma se tem um espaço escuro tatuado?
Choraste, sofreste e insoniaste por causa desse momento ou ele também não te ficou registado?
Como teria sido a vida sem esse momento que não sei como foi?
Já viste que existe um marco importante que até parece nem existiu?
O silêncio foi a resposta, o esquecimento foi a cinza desse tempo. Será que posso acrescentar que a falta de tempo para recapitular é a atenuante? O tempo se esgota e não há sinal de eu me lembrar nem de um segundo desse momento, dessa página que se mantem em branco na memória.



Sanzalando

23 de setembro de 2023

preambulo

Já te disse não sei quantas vezes, talvez nunca directamente, mas deixei nas entrelinhas, o quanto eu te queria e desejava. Acho que o fiz de todas as formas possíveis e imaginadas, realistas e, quem sabe, abstratas formas usei. 
Quem diria que iam passar 44 anos de silêncio e com a forte possibilidade de, não havendo trovoadas ou outras calamidades, serem outros tantos de silêncio desértico?
Não imaginas as vezes que te imaginei encostada no meu peito a receber um afago ou um abraço. Quanto tempo demora um abraço? Os meus, imaginários duram a eternidade do silêncio e são tão calorosos como a profundidade do desconhecido fundo marinho. Te posso dizer que me deves uma vida, porque eu apenas sou corpo de um sonho sonhado na imaginação fértil de um adolescente que se perdeu na lonjura do tempo que passou depois do adeus.
O teu lugar favorito nunca o conheceste porque nunca estiveste entre os meus braços naquele abraço. 



Sanzalando

22 de setembro de 2023

querer eu queria

Mais uma tentativa de encerrar um ciclo. Acho chegou uma hora de fechar uma porta e abrir outra para seguir um caminho ainda não desenhado porem desejado. Não é tarefa fácil sair dum estado acomodado, dum pousio confortável, duns momentos felizes e importantes e começar do zero um outro incógnito, escuro porque não tem esquiço, porque não tem como comparado. É totalmente novo ou então seria mais do mesmo.
Não vou precisar de mudar de casa, de amigos, de lugar, de ares. É só mesmo mudar de palavras, de sentimentos escritos, de temas, de cores garridas tropicais para cinzentos outonais. Queria fazer as pazes dos meus pensamentos bagunçados, mesclados, mestiçados e pensar sem ansiedades nem despedidas, sem lágrimas nem saudades. Queria ter as palavras despidas de mim, ditas por um alguém que usasse as minhas letras.
Está na hora de fechar essa porta e voltar a um presente que embora passado tenha futuro.


Sanzalando

21 de setembro de 2023

acho é outono

Ainda não me disseram mas acho já é outono por estes lados norte do meu sul. À noite tenho frio e à sombra quase que sinto uma arrepio. O vento sopra mais forte que simples brisa. As folhas ainda não caiem mas simulam. Eu tenho o outono dentro de mim porque lá no meu sul está quase a começar o calor e assim sento eu refresco aqui. Na verdade eu sou rápido a esquecer o calor e a captar o frio. Uns são mais rápidos a esquecer promessas e a ferir corações. Na primavera e verão é que os corações estão ao rubro. Agora se agasalham, se resguardam e se preparam para passar um inverno clandestinamente disfarçados de ausentes. No outono em vez de suor se enche de saudade, em vez de gargalhas se sorri entre dentes com medo de gelar as entranhas.
Ainda não me disseram mas acho é outono. 


Sanzalando

20 de setembro de 2023

let it be

Ponho o rádio no on e ouço baixinho aquela música dos Beatles, Let it be. Há músicas bonitas e mais novas, me pergunto como se eu não soubesse a resposta. Mas esta é boa para ouvir assim no fim do dia. Naquele instante em que o dia já não o é e a noite ainda não caiu. É uma música da vida toda. Não me mudou mas se calhar de tanto a ouvir me moldou, me formou ou pelo menos me acompanhou.
Me acalma, me segura, me faz sorrir de nostalgia. Olho para o céu à procura da primeira estrela e o Let it be me acompanha na busca. 
Dá para imaginar a vida sem os Beatles? Desconsigo de todo. Ia ter de apagar as minhas paixões antigas, reescrever os meus modos de ser e de estar. Teria de olhar tantas vezes para as estrelas e sonhar outros sonhos. 
Let it be para sempre no meu rádio e assim poderei continuar a amar a vida como a amei a passada.


Sanzalando

19 de setembro de 2023

eu não esqueci

Esperei o Boca de Sapo passasse mas ele não passou. Esperei mais um dia e depois outro e foram tantos que esqueci havia um Boca de Sapo que à hora marcada passava naquela curva devagarinho para dar tempo de eu apreciar. 
Mas eu, depois de esperar tantas vezes quantas as vezes eu nem sei, eu esqueci de saber o que é que se passava com o Boca de Sapo. As folhas do calendário se amarelaram e eu esqueci faz de conta foi completo. Mas é só num faz de conta porque tem dias eu me lembro das voltas, das horas da volta, dos lugares da volta e das pessoas da volta. Mas esta é a página do meu livro que desconsigo ler em voz alta. Eu esqueci. 
Na verdade houve outros carros, outros modelos, outras voltas, outras curvas, outras apreciações e o calendário deixou de ser em papel para passar a ser digital e depois até nem sei mais como se chama agora o calendário que está misturado com o telefone que também é máquina de tirar fotografias. E eu não esqueci.


Sanzalando

18 de setembro de 2023

ironia

Me olho e penso que ironia seria uma outra pessoa olhar-me e ficar surpreendida. Esclarecido o olhar de surpresa: me olhou atentamente e me disse que pensava eu era uma pessoa que ela tinha visto faz 40 anos e até que nunca mais lhe viu. Tudo lhe chamou a atenção porque tudo era igual ao que lhe estava na memória. Na verdade não podia estar mais longe da realidade embora me dissesse coisas que coincidiam com a pessoa que eu era. A pessoa ria e chorava ao mesmo tempo. Me interiorizei num olhar e pensei que estava por aqui um dos dois era louco. Ela quase dizia as coisas que esse eu de anos atrás lhe fazia rir ou chorar, contar estórias que quase eu acreditava era eu, mas na verdade não me lembrava nem uma.
Não vou ser simpático e dizer era eu só que mais muitos anos em cima., porque na realidade eu não podia ser. Os quilómetros não coincidiam, os lugares não podiam bater certo porque eu nunca estive nesses lugares. 
Tenho um sósia de 40 anos atrás e desconheço. Foi difícil dizer que não era eu. O pormenor até dava ideia que tinha havido ali apaixoneta no meio, mesmo tendo-me dito que não. Mas na realidade eu não era porque eu nunca fui outro para além de mim e não me lembro de ter sido raptado por extra-terreste e levado para outra dimensão, para além que na minha vida não tem hiato assim perdidamente num esquecimento. 
Foi só ironia do destino fazer um outro gajo tão bonito que nem eu.


Sanzalando

17 de setembro de 2023

PAZ

Curiosamente a noite fez-se estrelada depois dum diluvio. Entristecido como prisioneiro da chuva declarei refúgio para o meu corpo em noite amena. Espreitei na janela e vi o céu. Olhei admirado. Vi estrelas como faz tempo não tinha tempo para lhes olhar. O tempo passou e eu vi as constelações que ainda tenho memória. Outras já nem lembro o nome e a forma. Mas as que eu sei estavam lá, cintilantes como a que eu desejasse fosse uma noite estrelada para ti. Nas noites adolescentes perdíamos tempo a rever as estrelas no céu. Conversávamos e até discutíamos no bom modo de fazer uma discussão. Os nossos olhos se entrecruzavam mesmo que os nossos corpos ou mãos não se tocassem. As nossas palavras eram dirigidas com a suavidade duma carícia mesmo quando discordávamos. Era uma noite estrela como essas, com a diferença que só estava eu à janela e já muitas das estrelas não me lembro o nome que lhe demos.
Era noite perfeita para te dedicar. Estrelada e silenciosa num quase mistério. O mesmo mistério que fez que nossos corações nunca mais se tivessem cruzado, o mesmo silêncio que mantivemos neste meio século, a mesma noite como tantas noites que não nos calávamos.
De ti restam-me as memórias e estes silêncios sagrados num quase divinos momentos de paz.



Sanzalando

16 de setembro de 2023

estória de embalar

Lá fora chove parece quer lavar o mundo das nódoas humanas indeléveis que se multiplicam parece é amibas. O zulmarinho deve estar cinzetado se se deixar ver. O estado de alma é de verão com uns tons de inverno e uns salpicos de outono. Quando voltará a ser primavera? Mas isso não importa pelo que me apeteceu escrever um conto de embalar numa tarde de sábado estendido no sofá.
Me sentei no sofá e meditei.
Assim num mais sem menos me lembrei que faz tempo te convidei para um cinema. Somos assim uns amigos que de vez em quando falamos coisas horríveis e tudo dá errado. Mas é só porque a gente se conhece faz de cor e salteado.
Na verdade cada vez que a gente tenta ser mais que isso de verdadeiros amigos sai confusão da grossa que até vira um campo de batalha de feridos e mortos e alguns a se salvarem.
Mas lá fomos ao cinema. Sem pipocas e outras modernices de ver cinema.
Respiramos tranquilos e com vontade de nos sentarmos num sofá a ouvir uma musica ou quem sabe saborear um sono relaxante depois de um copo de vinho e dois dedos de conversa.
Não demos as mãos nem falámos de passados. Não nos beijamos nem choramos saudades.
Fui tudo tão diferente que até parece evoluímos para um patamar que não tem posse nem amos e senhores, nem suores nem outros dissabores.
Não, deixamos de ter um amor tipo yo-yo e passamos a ser mesmo amigos.
Meu nome Albertino e teu Josefa nasceram para isso, para não ter nada de orgânico, para ser um silêncio de paixão, uma alegria de companhia, um livro de devorar lentamente na compreensão.
Me sentei no sofá e meditei que faz tempo não escrevia uma estória de sofá.


Sanzalando



15 de setembro de 2023

és

Olho o zulmarinho como que a recordar-me das vezes que fui na marginal para te ver passear no carro com os teus pais. Eu sabia quase tudo de ti e num agora já não me lembro da tua cor preferida, do teu olhar distraído, do teu sorriso escondido. Qual a tua música preferida? Calças ou saias preferidas? Carro ou mini-honda? Faço esforço para me lembrar e desconsigo saber. Vou ligar-te a perguntar mesmo sabendo que não sei onde andas, nem como poderia ligar-te. Como posso eu saber de ti se um dia há tantos anos decidiste que o meu caminho não podia ser igual ao teu? Nem próximo. Por adivinhação os meus passos foram paralelos e longínquos aos teus. Foi coincidência e não cedência. Nunca dissemos adeus para um corte abrupto, nem uma combinação de descruzamento de vida.
Olho o zulmarinho e apenas vejo o teu rosto de cinquenta anos atrás. Tudo o resto é fruto da minha imaginação, todos os caminhos foram-me inventados, todas as coincidências foram acasos. Perdemos uma amizade que era linda, uma estória colorida de felicidade desvanecida no nevoeiro do tempo, um carinho de miragens apagadas nos calores de verão.
Olho o zulmarinho e imagino a felicidade paralela que vivemos na distância duma amizade não alimentada e nunca esquecida. Pelo menos da minha parte.
Olho o zulmarinho e me lembro que tu és o meu jogo de palavras, a minha adolescência rica e feliz, o meu canto de versos cantados nos entardeceres de agora.
És as minha palavras, mesmo que não escritas.


Sanzalando

14 de setembro de 2023

seja domingo

Se hoje fosse domingo eu tinha de ir ao santo sacrifício da saída da missa para lhes ver. É, as meninas bonitas do meu liceu vão na missa de domingo às nove para depois ir ou passear no parque infantil ou ir na praia. Nem ao domingo eu lhes quero perder por isso já estou aqui na falésia a olhar o longe da vida enquanto o padre Noronha dá as bençãos. 
É que é domingo e me faz falta ouvir a  voz dela. Eu não gosto de recordações, eu gosto de estar em presente. Não gosto de ter de ir buscar à memória as coisas. Além de dar trabalho pode dar saudade e isso eu não sei se é bom de ter. E se eu me esquecer como é que depois eu vou lembrar? Presentemente é mais fixe, é sinal de existência e não de alucinação ou imaginação.
Eu sei que ainda sou muito novo para ter assim recordações de coisas muito antigas, mas eu gosto de presentes e hoje eu lhe quero ver mesmo que ela não me veja. Eu lhe vou olhar nos olhos mesmo que os olhos dela não me olhem. Eu preciso sentir-lhe e se calhar descobrir coisas novas. Quem sabe um dia ela me olhe e me veja? Tem milagres que nem a ciência do liceu consegue explicar. 
Ostra parece é pedra e tem gente que lhe gosta. Porque é que ela um dia não vai poder gostar de mim? Se eu desistir é que de certeza isso nem acontece. É domingo num dia qualquer da semana. Eu temho de lhe ver olhos meus nos dela e depois seja o que deus quiser.


Sanzalando

13 de setembro de 2023

regresso ao passado

Deu assim uma de voltar antigamente no mais agora. Imagina só subir a SOS de burra, ainda não lhes tinham inventado mudanças e a força das pernas era a desmultiplicação dos pensamentos para aguentar e não sair da chica e lhe levar subida acima ao lado.
Assim num repentemente eu queria descobrir o que é que me fez ser assim tão bondoso que lembro até de quem me chingava porque as orelhas pareciam era avião a aterrar.
Assim num agoramente me recordo que o vento que ondula as searas é o mesmo que ondulava o capim do deserto uns dias depois de chuva miúda que tinha caído e inundava as ruas da cidade quadriculadamente desenhada e sem essas modernidades de saneamento.
Assim num instantaneamente sonhei acordado com os lábios que pela primeira vez se encostaram nos meus.
Assim, num ápice, voltei uns anos atrás e desenhei-me numa folha de papel. Irreconhecível. Quem é que ia dizer que aquele miúdo traquina pela calada, calções novos feitos de velhas roupas, joelhos esfolados de corrida de patins ou de carros de rolamentos, chica sem travões comprada no primo por dez tostões, ia ser quem agora se olha de fora para ontens de outros que se esqueceram foram miúdos ou são miúdos que se esqueceram de crescer?
Quem é que vai dizer ele não pode nem ser o mesmo que nem no físico se igualizou? Ele que ela não olhava vai agora escrever cartas para ela nunca saber ele escreveu, agora se armou em palavroso sambista de rascunhos e outras prosas?



Sanzalando

12 de setembro de 2023

a saudade da lembrança

Me deu assim uma de saudade que nem eu mais me lembrava ela existia. Me lembrei, assim num momentaneamente parece é agora, de estar a jogar à bola em campo que era inclinado para favorecer os mais fracos quando era a descer e dar cabo deles quando era a subir. Ups que saudade me deu de ter dez anos ou sei lá quantos poucos mais.
Me lembrei que do lado de lá dos vidros da janela havia uma vizinha, que me fazia olhar para a casa para ver se ela me procura num olhar de janela, e eu só vejo está a chover no brilho dos meus olhos que até parece tem remoinho de chuva de emoções. Era mesmo só remoinho no olhar acho eu. Eu ali a olhar a minha interna chuva e ao mesmo tempo tinha esperança ela vinha na varanda me procurar com seu sorriso que não ri.
Me lembrei agora que um dia ela me tinha sorrido num mês de Abril, talvez no dia de anos dela, essa parte eu esqueci de me lembrar e a saudade me afogou nas lágrimas internas da memória...


Sanzalando




11 de setembro de 2023

o tempo não cura

Dizem que o tempo cura tudo. Mas não é assim. Faz tempo que estou na sala de espera e ainda estou na mesma. Eu queria ser curado de morte de amor e nada. Amo como nunca e nem sei mais como fazer a tanto amor. Olho no horizonte e deixo o tempo correr mas as borboletas continuam a esvoaçar na barriga até que nem adolescente aguenta quanto mais eu que estou aqui sentado faz mais horas que o tempo se esqueceu.
O tempo faz lembrar, às vezes numa sensação de saudade e outras numa posição parece é tempestade. O céu escurece, o céu clareia mas o amor está lá assim feito brasa a queimar num fogo quente.
O tempo não esquece a verdade como apaga e desculpa a mentira. E a verdade é que faz tempo que eu queria ser curado e desconsigo. Amar assim até dá dor, consome o corpo duma alma fragilizada de saudade.
O tempo é que nem livro, não apaga mesmo que queimado e muitos foram os que se queimaram ao longo do tempo e hoje a gente ainda fala disso. Tem gente que queima tempo para ver se ele apaga mas nada. Não apaga nem cura. 
E é recordando o tempo que me lembrei que faz tempo eu escrevo a cura da minha alma e não me esqueço que há diferença entre perder tempo e esperar.

Sanzalando

10 de setembro de 2023

zulmarinado

Zulmarinado num zulmarinho quente de inverno ainda em verão, medito como que apurando sabores e desviando-me de dissabores, alinhando pensamentos e rasgando pesadelos para serem diluídos pela chuva que cai, dissolvendo-os na ínfima molécula duma memória. 
Se há quem adore estar à sombra duma laranjeira, outros dum imbondeiro e outros ainda de apenasmente estar ao sol como que a queimar neurónios, eu por incrível que possa parecer, gosto de estar zulmarinado no zulmarinho quente deste inverno ainda em verão. Não preciso de grandes voos ou espera de grandes planos para apreciar o meu fruto zulmarinado nesta marinada de zulmarinho. Não vou procurar nenhuma sombra ou protecção para esta carga de água que resolveu verter-se desde cima, se estando aqui, cochilando ideias ou dissolvendo tristezas, me sinto como que em casa, fruto da minha árvore placentária plantada num lugar divino, para lá da linha horizontal coberta pela cortina de chuva que cai. 
Zulmarimbo-me em busca de ser fruto da minha árvore familiar, do meu grupo herbário humanoide, se eu sou o que gosto de ser, quando me apetece ser.
Sou um zulmarinado zulmarinho que nasceu para lá de qualquer lugar que queiram dar nome. 


Sanzalando

9 de setembro de 2023

tuatuando ou gravando

Me sentei num dos bancos de madeira da velha avenida de chão de areia vermelha que não faz lama quando chove, antes parece fica mais dura e não poeira quando venta. Não sei onde lhe foram buscar, mas acho foi boa ideia. Mas também não estou aqui para engenheirar ou filosofar sobre a chuva na falta dela. Estou mesmo aqui, no banco de madeira da velha avenida para te dizer que qualquer dia eu saio sem destino, paro num sítio qualquer, onde eu me vá sentir bem, agradavelmente bem e desato a escrever sobre ti, sobre nós, sobre  os tantos significados que me representas. Num resumo, eu te vou gravar em mim. Assim eu vou ter a certeza que em altura nenhuma eu me vou esquecer de ti e do quanto tu me fazes falta, de tudo o que aprendi em ti, dos sorrisos que dei em ti, dos amores perfeitos que me apaixonei por ti.
Aqui sentado num banco de madeira da velha avenida de chão de areia vermelha, eu lamento que não tenha gravado em lado nenhum o meu nome em ti, como se fosse a tua tatuagem de mim e que fosse o elo para não me deixares partir as vezes que parti. 
Era giro se alguém um dia fosse descobrir o meu nome feito em canivete numas costas desse banco de madeira. Minha mãe me ia dar um raspanete que agora ia ser despedagógico mas que na altura era remédio de santo. Mas eu não era dado para esses trabalhos manuais, era mais para escrever poemas sem poesia, rimas desconseguidas de paixão e dor de alma, de lágrimas e fantasia. 
Só tatuei na minha alma essa avenida feita jardim onde um caramanchão de buganvílias me deixavam repousar nas tardes de muito calor a meditar sonhos que mais tarde me iriam fazer falta.


Sanzalando




8 de setembro de 2023

zulmarinando-me

Me sentei a ver o zulmarinho, esse mar que me leva daqui até onde está a minha alma, num zulmarinar de pensamentos e sonhos.
Amar assim é uma prerrogativa amorosa torturante, asfixiante e se calhar até capaz de ser loucamente mortal. Sempre morrendo de amor, morte amorosa, amor fatal. 
Imagino-me, aqui sentado, qual o peso da ansiedade que senti daquela vez que eu abri a porta, após tantos anos, e te dei um beijo como se fosse um filme de partir corações. Lembro-me que o cérebro ferveu e o coração fugiu-me, assim como o chão onde eu me erguia feito herói. Transpirei num fervilhar de emoções. Foi tempo a mais de intervalo, mesmo que tenha sido escolha minha deixar a porta fechada e segurando a maçaneta timidamente adiando a reabertura.
Será que tenho medo que as minhas bases tremam até ao desabamento do meu pesado corpo somado ao peso dessa ansiedade?
Será que não consigo cumprir as promessas que me fui fazendo?
Aqui sentado, ouvindo o zulmarinho, zulmarinando-me como que reservado para mais tarde me encher de perguntas, das quais não sei se quero saber as respostas. 
Aqui sentado me esqueço da sensação de queda livre num sonho sonhado em páginas de horas sem fim, porque tudo é real no meu horizonte mental e eu apenas fruto imaginário da minha pequena realidade.
As minhas mão estão suadas e o meu coração bate fortemente que nem sei se um dia ele vai aguentar bater tanto assim.
Foste, és e serás minha, enquanto eu tiver capacidade de sonhar e de ver através dos meus olhos fechados que estás ali, do outro lado do mar, onde um dia plantei a minha placenta e me fiz árvore.


Sanzalando

7 de setembro de 2023

as areias, da vida

Sentei-me na areia de mil e tantas cores e a fiquei a observar a dita cuja areia. Ela me olhou com cara assustada e eu tive a completa certeza de que ela não estava segura daquilo que estava a ver. Acho ela não me gostou de ver tantos anos depois. Acho ela pensava eu estava igual ao que já era nos ontens de antigamente.
Eu lhe olhava e ela me raivava em sons de pensamento, palavras impróprias de gente crescida, de gente miúda ou apenas de gente, saberia eu mais tarde depois de apurados momentos de saudade e meditação. 
Achei eu que os tempos lhe devem ter dito que ela começaria, uma dia mais tarde do que cedo, a amar e deixar que o vento a levasse ao sabor do coração nuns tons de poeira por deserto fora. E lá foi ela, pensava eu ter chegado o dia, pedalando e deixando que o coração tomasse conta dela. O seus tempos não lhe estavam ali a segurar o ombro ou a lhe segredar defesas. 
Quando ela percebeu que o meu olhar não se descolava, deu um grito tão alto que me deu até pena depois de recuperado do susto e a onda do mar lhe afagou molhadamente a superfície. Coitadinha daquela areia tantas vezes pisada, sussurrei eu . 
O aperto no peito aumentava, o amor em mim explodia ao mesmo tempo que sentia medo daquele areal a me olhar por tempos indeterminados.
Segui em frente, com todos os meus medos nas mãos, coragem no olhar, mostrando para vida que eu sei viver, mesmo que receba em troca um nada, um sorriso frouxo qualquer ou uma malcriada resposta transformada em silêncio num qualquer areal de praia deserta.
Mantenho-me na praia sentado a olhar para o meu sorriso, já sem estória, já sem brilho e já gasto de tanto ter olhado.



Sanzalando

6 de setembro de 2023

vida vivida

Me sentei na falésia, faz de conta é teatro e tenho a Igreja nas minhas costas, faz conta me protege de pecados e outros pensamentos que possam me levar para outros lugares que não a adolescência.
Porque é que me sentei aqui? 
Porque para além de ser aqui que me habituei a assistir ao santo sacrifício da saída da missa de domingo de manhã, é aqui, mais ou menos no meio da baía, que eu vejo todo o planeta zulmarinado que os meus olhos conseguem alcançar e que me embalo em sonhos que nem sei se mais algum dia eu lhes vou recordar com tanta nitidez. 
É aqui, neste lugar mágico que eu descubro quem sou, o que eu adoraria ser, o que eu fosse se não puder ser o sonho que eu tenho e me revejo no que realmente sou. Neste anfiteatro eu sou capaz de me sentir o que serei. 
Aqui, sentado na falésia, sem tempo nem modo, sem contas, rectas ou direitos, o meu passado se entrecruza desfuturado num agora ou nunca momentâneo, porque aqui eu sou futuro de mim, dono das invenções que inventei, das páginas que nunca escreverei e do desejo que nunca desvendarei. Aqui eu sou eu e mais ninguém, diria o poeta.
Aqui descubro tudo sobre ti, folheando as minhas memórias, revendo as minhas imaginações e, desenhando rabiscos de vento, te desenho para mim. Não me interessa a tua voz, teu sotaque, timbre ou qualquer som. Leio-te no meu silêncio e imagino-me no teu futuro com a certeza absoluta que nunca me arrependerei de ter sonhado contigo tantas horas do meu dia a dia.
Aqui, olhando o mar lá em baixo, poderia dizer que te amaria aquele eternamente que durasse o tempo que tivesse que ser. Aqui faço-te os meus pedidos desde que esses pedidos, todos juntos, sejam suficientes para me deixar estar perto de ti nos sonhos que sonhei para o meu futuro, mesmo que ele seja um distante espaço entre nós.
Aqui sentado vi que o meu futuro não é o que eu imaginei ele fosse embora tenha a certeza que ambos perdemos e ganhamos, que ambos fizemos da vida uma vida.



Sanzalando

5 de setembro de 2023

sempre morrendo de amor

Quem nunca passou as passas do algarve, quem nunca sentiu o calor do inferno, quem nunca esteve à beira do abismo é porque nunca viveu. 
Quando eu era adolescente, morrendo por amor a cada dia, eu via luz. Não era comboio na noite nem era o picas do cine Moçâmedes e ensinar o lugar aos atrasados habituais. Eu morria e eu ressuscitava. De e por amor é claro. Jovem adulto passou o mesmo. Morri e ressuscitei por amor. Adulto sem ser jovem repeti dose e agora, adulto que os mais novos chamam de kota ou simplesmente de mais velho, eu morro de amor. Eu não consigo ver a vida sem essa de morrer de amor.
Eu hoje ia sentar no caramanchão e ia ver as mais belas e as outras a passear na avenida, tal como fazia na adolescência inconsciente. Se calhar tinha que ir mais devagar e se calhar já não achava tanta piada às que na altura eu achava de belíssimas. São os ciclos que se me repetem sem eu dar o meu aval ou contrariar. 


Sanzalando

4 de setembro de 2023

instavel vida

Quantas vezes tenho de me equilibrar na corda bamba que é a vida. Se fosse linear seria o mais próximo de um marasmo de qual sempre quis fugir. Uma corda bamba sempre me leva ao desequilíbrio, ao desalinhamento, à busca do ponto certo de estar, à elevação do ser equilibrado, à procura de ser no estar, mesmo que para isso às vezes caia no ridículo de me auto-flagelar mentalmente. 
O terreno sobre onde assentam os alicerces da vida é instável pelo que estou adaptado e preparado para essa instabilidade. Os nossos parceiros, as nossas amizades, a sociedade é instável e a posição que desfrutamos na sociedade é-o também.
O progresso, outrora manifestação do optimismo radical e felicidade partilhada se alterou na dita instabilidade da corda bamba da vida. Hoje a estabilidade advém da instabilidade das mudanças, da inclinação de cada eixo de rotação individual. 
Se bem me lembro, o que antes era uma brincadeira de encher tempo, o jogo das cadeiras, deixou de ser uma distração e passou a fazer parte do quotidiano e a derrota que era motivo de chacota virou fonte de depressão e insónia.
E a corda continua bamba e nem apanhando o comboio da estabilidade o equilíbrio pode ser considerado estável.
Cada segundo é uma vida que não +perco de maneira alguma porque cada um me é importante, mesmo quando estou na pausa de olhar o zulmarinho e deixar os meus antanhos minutos me invadirem os pensamentos e fazerem-me navegar por sonhos e desejos como quando eu era criança


Sanzalando

1 de setembro de 2023

ser avô

E assim parece ter sido num repente me tornei avô. 
Como encontrar uma definição para essa função. Quem tem a ideia de ser criança e um dia pensar ser avô? Quem vai suspirar isso? Tive a sorte de conhecer os meus, nunca imaginei ser um um dia. Nos meus avós conheci a grandeza de ser gente, a capacidade de ser compreensivo, a ideia de ser o sábio. Eram um porto de abrigo para os dias de sol ou para as maiores tempestades. Bebi a sabedoria das suas palavras mesmo que na altura eu pudesse ser visto como revoltado e injustiçado. Era criança e não sabia ou não queria saber. Nos seus olhos eu vi o carinho e deles recebi carícias. Bem me dizem que ser avô é ser pai duas vezes. Mas olhando para os meus ontens antigos eu acho eles foram muitas vezes os meus irmãos, os meus escudos e o meu guarda sol protector das insolações infantis.
Sabendo eu que é imprescindível viver a vida para poder ser avô, como se aprende a ser? Nos meus anos de vida acho nunca me deis a suspirar por sê-lo pelo que nunca imaginei ter tal função. Nos livros tem lá? Acho mesmo só está escrito na alma e é preciso ler a alma para poder se e sentir ser avô.
É incondicional o orgulho de poder dizer sou avô. Conseguirei ser o avô que os meus avôs foram? Conseguirei proteger os netos como fui? Conseguirei eu proteger dos pântanos e desertos da vida como o fui?
Não sei mais palavras para dizer que ser avô não é só fascinante. É sentir estar vivo nos substantivos, adjectivos, nos verbos e descritivos modos de viver.
Será que eu vou saber responder às perguntas inesperadas, aos afectos, às partidas e diabruras? Será que os meus olhos vão mostrar o carinho que sentem?
Graças à vida que me deu a sorte de ser avô.



Sanzalando

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