A Minha Sanzala

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29 de setembro de 2008

Noites de Setembro

É noite estrelada de Setembro. O céu está assim num cintilar que até parece noite de festa. Se hoje houvesse cometas a gente os ia ver que até parece estava sentado na primeira fila dum teatro.
Está mesmo uma noite boa de amar, uma noite de primeira em contraste com a secundária noite passada.
Me dizem que a Lua de Setembro inspira os lobos e faz inventar estórias perdidas. Lhas espero numa noite como esta, ou noutra noite qualquer desde que não seja de Setembro, que está a acabar.
Ali está a noite e as suas estrelas cadentes, que eu não lhes consigo ver, a inspirar poetas que lhe buscam as respostas e eu, vazio de ilusões, pinto a noite de cores berrantes e sons quentes num rádio de faz de conta.
Vais me ver é a Lua de Outubro que mas vai trazer.

Sanzalando

27 de setembro de 2008

desmudei-me

A vida vale a pena e eu merco estar bem e sentir-me bem assim como os meus olhos só devem ver as coisas como elas realmente são.
Afinal de contas é uma loucura. Faz tempo que procuro uma solução, uma explicação e invento soluções que solucionem este meu dilema. Tudo em vão. Inexplicável.
Bloqueio? Não. Claro que não!
Esqueçi? Não. Claro que não!
Ofendi? Não. Claro que não!
Mas afinal de contas porque fui lateralizado num pestanejar?
Não sei e acho nunca vou saber. Faz hoje o primeiro dia que me deixei de preocupar.
Te chateaste? Problema teu. Não cobro amizades assim como destróco amuos.
Me fiz assim e vou-me fazer mais como então?

Sanzalando

26 de setembro de 2008

velhices

Já não consigo recordar-me de todas as coisas boas que me aconteceram nem do tempo que lhes rodeava. Me dizem que é a velhice que chega e eu não sei quando ela chegou. Não se fez notar assim num reparar inconfundível. Acho mesmo ela só ficou com a parte boa da minha mente que a coisa má eu me lembro ainda parece foi hoje que aconteceu. Vou fazer mais como então? Lhe aceito como evolução natural da vida. Mas lhe protesto com as fracas forças que ainda me restam. Me reconheço nas alterações da força do ânimo, nas faltas de apetites, no aterrar de desejos mais pequenos.
Acho que vou ter que ter uma reunião com a parte positiva da minha mente e desviar-me dumas realidades irrelevantes.

Sanzalando

25 de setembro de 2008

me come o tempo

Meus ossos se secam assim como determinadas curvas do meu corpo se pronunciam num apagamento doutras. Parece que me encerro dentro de mim num caminhar até à destruição que vai acontecer um dia que eu espero seja bem lá para tarde. Mas a verdade é que me morro e eu sei. Como sei as muitas coisas que poderão ficar por fazer, as muitas coisas a corrigir e as outras tantas que não têm mesmo mais hipóteses.
Mas afinal de contas o tempo me come e eu estou contente.

Sanzalando

24 de setembro de 2008

querer eu queria

Queria descrever a Lua com as minhas próprias palavras. Mas só me sai o silêncio!
Queria protestar do silêncio, mas só me saem suspiros de sal.
Enfim, as poucas palavras que consigo soletrar saem-me como carícias. As letras parecem-me cicatrizantes das feridas que me ferem a alma.
hum! Choro lágrimas secas que formam um seco lago onde afogo virgulas e pontos.
Olha, vou continuar a respirar sorrindo silêncios.

Sanzalando

23 de setembro de 2008

Vou em silêncio

Vou ficar com o teu nome em silêncio ao mesmo tempo que ficarei de olho fixo no teu imaginado sorriso. Vou esquecer as palavras todas que não te disse assim como os silêncios que me calaste e, nos intervalos de mim, vou imaginar-te seres minha.
Vou ficar com o teu nome gravado e em cada batida do meu coração saberei de ti.
Já sei que estou agarrado ao vazio e mesmo assim sorrio, descubro que a nostalgia vive dentro de nós e mesmo assim te olho e me surpreendo num arrepio. Em silêncio de amarei sempre.

Sanzalando

22 de setembro de 2008

para ti

Olho para a minha letra e vejo-a tremida, para as minhas palavras e vejo-as confusas, para as minhas frases e sinto-as ambíguas. Muitas vezes tento que quem as lê pense que lhe escrevo assim num directamente.
Mas hoje é especial porque vou dirigir-me directamente a ela mesmo não sabendo se ela me lê, mesmo não sabendo se ela sabe que eu existo ainda. Hoje não vai haver ambiguidades porque as minhas letras vão ter nome próprio. Hoje as minhas letras, palavras e frases vão dirigidas a ti, que me deslumbras entre quem me rodeia, que me odiaste tanto quanto eu te amei, que me viste chorar enquanto gargalhavas, que perfumas-me com todos os odores até da escuridão. A ti, com teu nome de Mulher.

Sanzalando

20 de setembro de 2008

40 - Estórias no Sofá - Maria da Ilha

Seu nome é Maria e me disseram que morava lá para os lados na Ilha. Eu lhe conheci quando ela chorava num chorar que não tinha maneira de acabar. Lhe sorri. Lhe falei palavras mais doces que os doces que vóvó fazia quando eu era um kadengue, mas ela só lhe apetecia era xingar o mundo, abrir uma qualquer janela e se mandar como se fosse um pássaro que não sabia voar, de verter umas e outras até já não saber mais quem era.
Maria só queria mesmo era que mais atrás no tempo lhe tivessem ouvido, lhe tivessem dado um segundo de atenção. Ela sabia que o seu mundo não era ficar na Ilha onde seus caprichos se lhe afundavam. Ela tinha certezas que ali o seu tempo era tempo gasto num à toa de servir para nada. Era ali era apenas mais uma que entrava na vida fácil do difícil mundo de sobreviver.
Maria sabia, fazia muito tempo lá para trás, que tinha capital para se engajar na cidade da sabedoria. Mas ninguém que lhe ouviu, que lhe tenha percebido as potencialidades como agora se diz.
Agora Maria já não tem catorze para ser uma zinha, já não tem sorriso quanto mais o doce sorriso que me disseram ela tinha.
Maria está velha nos seus vintes banhado em lágrimas que um dia vão acabar por afundar a Ilha donde não lhe deixaram sair quando Maria queria ser senhora. Maria já não tem sombra porque parece já chegou no finito dela.
Eu conheci Maria ao lhe enxugar as lágrimas que já não caiem com a força doutros tempos, seu corpo de ossos já não lhe segura o equilíbrio.
Me disseram que Maria tinha sido apanhada, sem nunca ter saído da Ilha.



Sanzalando

19 de setembro de 2008

eu só quero

Os dias caiem numa falta de sentido, as tardes surgem atrás dum cheiro nauseabundo e os pensamentos floram-se em espumas de vingança. Já sei que tudo é uma figura de estilo destilada num pensamento perdido.
Na verdade o que eu espero é receber umas migalhas, um calor que me afague, um caminho onde meus passos não tropecem nas rasteiras da vida.
Na verdade o que eu quero é que as decisões já se me apareçam tomadas, vazias de lágrimas futuras mesmo que eu descubra ser um bastardo de mim.
Na verdade o que desejo é que o céu não se me apresente com nódoas, manchas de medo e ódio.
Na verdade eu só quero é amar.

Sanzalando

18 de setembro de 2008

ao fim de tarde

É de tarde e, como todas as tardes, avança-se vagarosamente até à noite, tranquilidade desejada e tão esperada. Aqui chegados penetramos nos pequenos sulcos da estória que tentamos esquecer e regressamos à vida que desejávamos ter engrandecida de sonhos que construímos nos bairros velhos da nossa imaginação. Até parece o tempo viajou dentro de nós saídos do presente na dedução dum futuro.
É neste lusco fusco que a vida magnânima da tranquilidade se mescla com o túnel da imaginação num passo lento, sabor a café, perfume de terra acabada de molhar, leveza dum fumo de cigarro que não fumámos.
De vez em quando abrimos um olho da realidade e logo o fechamos para continuar a nossa viagem para lá da realidade. Tranquilidade ininterrupta do desconhecido desfecho da imaginação.

Sanzalando

17 de setembro de 2008

Esboço. Esquiço. Isso

Vou fazer um esboço. Ou será um esquiço? Isso! Uma das duas e não discuto mais comigo que isso também me cansa e cansado já ando eu com a vida.
Eu sei que ultimamente não lhe tenho ligado a mínima e eu já devia ter dado a notícia que suponho que eu passei à estória. Fui-me embora e lá vive ela no outro hemisfério, outra galáxia, outra coisa bem mais longe que nem me lembro já onde é que fica mesmo. Já sei, no raio que me parta. Eu sei que de vez em quando lá recebo um recadito, uma foto da modernaça mudança que vai sofrendo a favor no tempo, actualidades actuais de coisas que mais. Mas na verdade é que até agora ainda não falou de nós, não me ligou assim num directamente a ela. Pelo que dá para eu ver que os nossos corações estão a bater assim num ritmo que não é o mesmo.

Sanzalando

16 de setembro de 2008

destempo

Já tentei bater com a cabeça na parede tantas vezes quantas as eu conscientemente conseguia. Acho eu fazia um haraquiri se eu soubesse que isso ia dar certo. Acho mesmo eu só queria tirar-te da minha cabeça enquanto não se decide se entra de vez ou se desaparece.
É, eu já não tenho todo o tempo do mundo.

Sanzalando

15 de setembro de 2008

a dúvida

E a dúvida paira no ar.
Amo com amor de até sofrer ou amo só de dizer amor?
O sorriso se vai amarelando num esforço de manter a cara alegre ao mesmo tempo que ajeito as melenas que me caiem sobre os olhos, gesto nervoso instintivamente repetido, cada vez que me aprofundo mais nesta dúvida.
Às vezes custa compreender que o amor está mesmo na nossa frente e que é absolutamente simples. É tudo tão subtil quanto perceber qual a primeira estrela hoje apareceu a brilhar no céu escura da noite anoitecida faz pouco tempo.

Sanzalando

14 de setembro de 2008

fotos

Me atiro para o sofá. Literal e concretamente assim mesmo num atirar de peso quase morto. Corpo cansado dum trabalho feito paixão que se vai esmorecendo com o passar dos anos, dissabores e outros odores. Atiro o braço para agarrar qualquer coisa que me faça sair dali sem me mexer, sem me esforçar.
Pego no que o meu extenuado braço consegue alcançar.
Por acaso é um álbum de fotos.
Olho-as e fico a pensar na magia do momento em que aquele clique foi tirado. Fragmento da minha estória, alguns são a cores, outros a branco e preto. Raros são os fragmentos em que apareço uma vez que foi o meu dedo que clicou. É impossível ficar em branco na imaginação da emoção daquele momento. É impossível deixar de me lembrar de ti, sentir o teu perfume. Não consigo livrar-me da tua lembrança.
Acho mesmo que eu devia era queimar todas estas fotos.

Sanzalando

12 de setembro de 2008

dia dos diabos

Um dia destes dou cabo do diabo. Lhe mato de morte certa. Mas aqui se me levanta uma pergunta. Qual diabo mesmo eu lhe vou matar? Há muitas perguntas e outras muitas respostas e eu não sei qual é a pergunta certa para saber qual é mesmo o diabo certo de lhe matar de morte certa. É mais ou menos assim como os dias que parecem que são iguais, parecidos, mas por instantes, além de terem o mesmo tempo, a gente lhes vê uma diferença num ponto qualquer, nem que seja ver um disco voador quando se passa pelas brasas na hora pesada de depois do almoço.
Mas um dia destes eu lhe dou cabo dele.
É que hoje foi um dia dos diabos!


Sanzalando

11 de setembro de 2008

que desespero de delírio

Já sei que vais pensar que eu me passei e outras coisas assim como não sei mais o quê, tas a ver.
Em abono da verdade a facilidade me desanima. Ter o mesmo que os outros não me faz ser especial.
A dificuldade me desmotiva. Não ter o mesmo que os outros não me faz ser especial.
Sobra-me a normalidade. Essa então desespera-me.

Sanzalando

10 de setembro de 2008

adiado delírio

Há momentos em que algo me parece dizer que devo deixar para depois o que eu tenho para fazer, mas teimosamente eu forço-me a fazer e depois sai um desastre. Portanto vou eu neste momento fazer ouvidos a este algo e não vou delirar. Delirarei um dia mais tarde na indefinição do tempo.

Sanzalando

8 de setembro de 2008

desejo

Reina um silêncio à minha volta. Praticamente só se ouve o meu respirar neste cair da tarde quase noite. Desejo ansioso a chegada da noite, a tonalidade negra substituindo as múltiplas tonalidades alaranjadas deste entardecer.
Desejo ardentemente poder sentir-te minha quando pousar a cabeça sobre a almofada, imaginar o teu ar quente e húmido.
Desejo estar no profundo silêncio da noite e viver-te nos meus sonhos quer um dia vão ser realidade.
Desejo-te hoje tanto ou mais que ontem.

Sanzalando

6 de setembro de 2008

Afinal não te escrevo uma carta

Te escrevo uma carta que sei que nunca a vais ler porque eu não ta vou mandar. Mas escrevo na mesma para limpar os meus pensamentos. Nunca ninguém saberá desta carta além dos meus olhos e do que me resta da memória. Nunca saberás o que te escrevi quando já tinha o cabelo cinzento muito claro, a pele mascarada de socalcos enrugados e o olhar esforçado de ver longe de mais.
Te escrevo uma carta enquanto espero o sol que eu sei que nunca saberás se chegou ou não.
Enquanto penso no que te escrevo dou uma olhadela para a janela e revejo o que já vivi, as ondas melancólicas do passado e a tristeza da solidão.
Rasgo da cabeça as palavras pensadas e não te escrevo uma carta que eu sabia que nunca a ias ler porque eu nunca ta mandaria.

Sanzalando

5 de setembro de 2008

novo contrato

Acho chegou a hora de despedir do zulmarinho, dizer adeus à linha recta que é curva, pensar noutros ares que se me dão. Sei que lhe vou sentir a falta do perfume da maresia, de passar as mãos pelo cabelo revoltado no vento que sopra mais forte que a brisa. Acho que chegou a hora de juntar à eterna nostalgia a nostalgia deste zulmarinho que me serve de ponte, elo de ligação ao início dele, porta voz das vozes das kiandas.
Mas assim decidido fica também manifestado a intenção de selar um pacto de amor em que me comprometo a respeitar o mais amplo sentido das palavras e dos silêncios; nenhum de nós manterá malentendidos que possam causar dano no nosso fiel propósito de nos amarmos; ambos teremos direitos a carícias e mimos com o simples propósito de renovar este contrato; estão permitidos os silêncios desde que não por birra ou zanga; os actos de amor nunca serão escondidos.

Sanzalando

3 de setembro de 2008

Poema de Outono

Me inspiro no céu com letras imprecisas dos passos que dou em sentido lato.
Não ouvi ruídos de guerra, não vi corpos em cinza, não senti o perfume do medo.
Não vi leões de corpo humano sedentos de sangue devorando adeuses.
Não vi mundos caídos em tornados de fim do mundo.
Não vi corpos de anjos voando à minha volta escravizados na imortalidade.
Não vi genocídios escondidos em esperanças perdidas, não vi ódios, não vi raivas.
Me inspiro no céu para pôr em letras os caminhos que calcorreio de imaginação em imaginação directo à esperança.
Me inspiro no céu da cor do zulmarinho para dizer adeus, até mais logo.

Sanzalando

1 de setembro de 2008

solitário

Caminho solitário e solidário. No meu diálogo interno e intenso descubro que a paixão e o amor são necessidades básicas de mim. Ou o amor e a paixão que a ordem aqui não tem interesse. Mas num repente tropeço na ideia que sou capaz de viver sem amor, que sou capaz de o imitar, argumentar, imaginar ou falsear. Lhe sou capaz de inventar até. Mas paro a caminhada para pensar melhor e concluo que com a paixão isso eu não consigo. Porque a paixão ou é ou não é!
E assim caminho solitário.

Sanzalando
recomeça o futuro sem esquecer o passado