A Minha Sanzala

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30 de abril de 2013

sem tino e sem tempo

Deambulo vagueando por caminhos mais que pisados, por estradas mais que gastas e por almas mais que penadas, como quem não sabe por onde vai. 
O zulmarinho deve ter pica pica, o céu tem vento e cai chuva, a casa tem frestas e entra frio. Vou fazer mesmo mais o quê? 
Olha vou dar ordem para parar o tempo! Já sei que não sou original. Todo o mundo quer parar o tempo. Uns, porque é de alegria e, outros, é porque estão cansados de sofrer. Mas todos acabamos por construir as mesmas coisas, as mesmas alegorias adultas de gente séria, assim como filhos, dizer sempre a verdade e não mais que a verdade, ser padrão e sonhar com a casa com piscina que nem a do vizinho, ganhar dinheiro, crescer barriga e quem sabe sofrer de diabetes ou tensão alta. 
Se chega mais adulto quase velho que nem idoso e já tem outra vez autoridade para fazer críticas, deixar cair palavrões que nem gente sem tino, ter pensamentos de homem livre e de repente vem a dona da casa de repouso e acorda a gente porque está na hora de mudar a fralda.

Sanzalando

29 de abril de 2013

chuva tímida

Me embalo no som da chuva que cai vagarosamente, parece é chuva tímida, enquanto embrulho pensamentos com pedaços de memória e atados a desejos sonhados. Me lembrei, faz pouco tempo, dos meus medos de criança. O escuro, o pouco, o nada, a indiferença, o vento, a trovoada e a mesma coisa de ser apenasmente só mais um. Hoje sinto medo de ter medos. A vida nos faz cansar mas a gente tem que ultrapassar todos esses medos, até os calejados que parecem fazer já parte nós, que transformam o sorriso num esboço mal definido e que atiram para os nossos olhos um ar inexpressivo. A vida nos faz ter medo de partidas, de deixar de respirar e de deixar de ser a gente como a gente sempre pensou que a gente era.
Me embalo ao som da tímida chuva, preguiçosa, e solto um suspiro enquanto olho pela janela, fechada, os pingos não verticais que essa chuva deixa deslizar pelos vidros e desato do sonho um pensamento da memória em que me diz que tenho a alma viva dentro do meu vivo corpo.


Sanzalando

28 de abril de 2013

JOÃO CARLOS CARRANCA




Sanzalando

Camarim - A canção da timidez (Zeca Medeiros)





Sanzalando

gasolinando

Abrigado do vento que teima em soprar cada vez é mais forte, como que me a dizer: se te aguentas eu soprejo mais que vais cair. Mas eu resisto, enrugo os olhos e em tons de muitas cores agarro palavras como se fossem uma corrente e continuo o meu caminho.
Eu sei que tem sentimentos que são como todas as coisas, passam, ficam, avariam e desaparecem. Uns ficam aqui outros vão por aí e o ai nem sabe a sorte que tem..
Contra o vento que sopreja cada vez mais forte eu digo que carro não anda se não tem combustível. Me deixa só ir ali abastecer

Sanzalando

27 de abril de 2013

adeus saudade

Já vagabundei-me pelo zulmarinho, já me despenteei no vento sueste que me enlouquece, como todo o sueste altera todas as almas, já parti palavras, gaguejei, tentei cantar versos sem rima e sem nexos e desconsegui saber como me sinto hoje.
Estranho mesmo. Assim como que embrulhado em nostalgia, assim numa saudade que não sei se alguma vez vivi ou viverei.
Eu podia dizer que a vida está óptima, mas tem alguma coisa hoje que me faz calema nos pensamentos, que me perturba a alma, sem ser o vento sueste. Hoje senti vontade de ter uma roda de gente, de tomar café com gente, de falar com gente. Enfim, hoje senti saudade nem sei de quê.
Já vagabundei palavras certas e sei que daqui a pouco se dissolverão nos ponteiros do relógio como todas as palavras que soletrei em apertados abraços.
Adeus saudade, até um dia!


Sanzalando

23 de abril de 2013

rascunho com medo de escrever

Caminho em passo curto, um pouco corado, não de cansaço nem de medo, apenas de espanto e surpreendido. Sigo em direcção a lado nenhum, no meu passo desapressado, despreocupado e escondendo a cara enquanto vou imaginando que deveria haver dias que não tivessem fim e sonhos que não desaparecerem nos primeiros raios da alvorada, que a felicidade não deveria ser nenhum embrulho escondendo o pó das estantes da memória e o tempo não fosse carrasco de amores perfeitos.
Sigo escondendo a cara, puto reguila de outrora, sigo imaginando que deveria ser fantástico viver no mundo da fantasia e não no mundo real, não como naufrago agarrado a um destroço com esperança de um dia chegar a um lugar.


Sanzalando

22 de abril de 2013

Falei?

Vou respirar. Vou ter um momento só para mim. Já paguei a factura da saudade, já morei na tua rua, já chorei as tuas lágrimas. É tempo de dizer que chega.

Sanzalando

20 de abril de 2013

Ensaio nunca descrito nem existido

Olho o zulmarinho como quem não sabe o que fazer mais para sorrir com vontade, para ter os olhos brilhantes reluzentemente diamantes. Olho o zulmarinho e já sorrio, quando o telemóvel toca como que a me avisar que chegou uma mensagem. Instintivamente mando a mão ao bolso, abro-o e leio a mensagem que apenas diz: Saudades. Olho em redor e não vejo ninguém. Perco tempo a ver quem me a mandou, os óculos de sol baralham as cores destas modernices. Descobri  Voltei a sorrir. Não. Não pelo que pensas. É que de verdade eu já não me lembrava de ti. 


Sanzalando

19 de abril de 2013

Rascunhando letras

Dou comigo a caminhar por dentro do zulmarinho que me refresca a alma. Ele parece chão a se estender desde aqui até lá no lugar que tenho no coração. Neste caminhar dou comigo a sonhar sonhos que não sei se algum dia sonhei em voz alta ou foi só mesmo na fantasia deste momento. 
Eu sei que quando era criança eu queria ser gente grande. Agora eu sou grande e queria ser criança. Daí pensei que qualquer flor quer ser borboleta colorida e sair por aí voando a favor do vento. Dai pensei que qualquer grade deve quer ser de papel para deixar passar quem quer. Qualquer hoje queria ser ontem. Qualquer amanhã quer esquecer tudo e fica com inveja do nada que não tem nada.
Com os pés gelados dou comigo a imaginar que se tudo fosse o quereria ser, até a tristeza quereria ser alegria, a distância quereria ser um ponto e saudade não ser mais que um abraço.



Sanzalando

Coisas difíceis para simplificar

Sanzalando

18 de abril de 2013

voltei sem regressar

Vais pensar que eu voltei a soletrar palavras no vento, à espera que o vento te as leve para ouvires em silêncio. Mas de verdade não. Não voltei porque aqui sempre estive, ao que sei. Não voltei, porque vou e volto sem sair do meu lugar de costume, silenciosamente embalado pelo marulhar do zulmarinho,  perfume de alga que me leva no sonho de um dia voltar a ser alguém que nem eu mesmo. Não voltei porque olho as fotos antigas e não me vejo, olho as frases ditas e não me ouço, as atitudes tomadas e não me conheço. Não voltei porque acho sou outro que não eu.
Este eu, acha que tudo caiu no esqueçómetro do tempo e que aprendeu que não há amor que sempre dure e estradas que não terminem. Este eu, assim tal e qual como sou, continuo a aprender que tem tempos que estou rodeado de gente que não tem meio de aprender seja lá o que for. Este euzinho, assim manteiga que nem derretida de tanto sol, acha que o problema é que tem gente que acaba por morrer mesmo antes de viver.
Regressarei no dia em que sentir que eu sou eu mesmo, sem tirar nem por, igualzinho ao que sempre me senti.


Sanzalando

curiosamente

Sanzalando

16 de abril de 2013

Palavras sonhadas

Me sentei à beira do zulmarinho assim como quem quer ganhar uma cor que não seja pálidamente doentia. Esqueci que já não tenho mais tempo para perder em sonhos e deixei-me embalar, não pelo marulhar, mas apenasmente pelo cair de palavras na cabeça, escrevendo frases na memória. Sonhos, todos os temos, alguns mais que outros, uns melhores que outros e outros que tento a todo o custo esquecer. Também tem sonhos que eu prefiro pensar que não os tive, que não existem e que são os enterrados no esquecimento com o rótulo de pesadelo.
Mas não importa que eu perca tempo a sonhar, aqui sentado perto do zulmarinho, porque a qualquer altura vem essa coisa da realidade e lhes interrompe ficando apenasmente as palavras que escrevi na memória.

Sanzalando

12 de abril de 2013

subitamente palavras

Quem sabe algum dia voltarei a espreguiçar palavras que poderão voltar a ter significado, simbiose de virtudes e defeitos, ocas ou solidamente reconfortantes, subindo e descendo emoções como se fossem o yo-yo da vida.
Quem sabe eu tenho sentimentos que desconheces, saudades de ter saudades, nostalgias sem sentido? Quem sabe tu não sabes o que é uma carta de amor escrita por amigo que te gosta por seres amigo de letra grande?
Quem sabe que palavras soltas podem ser sonhos, certezas, fingimentos de correr por aí ao desconcerto das curvas da vida?
Subitamente dei comigo a escrever palavras espreguiças por um poema que recebi a me perguntar onde estou. Aqui que é em lugar nenhum por agora, travesseiro onde deito a cabeça a descansar e a sonhar com a saudade que te deixei de ter, por ter saudade de futuro.



Sanzalando

4 de abril de 2013

testando letras, apenas

Me sentei sob a chuva e imaginei o cheiro da terra molhada a me nostalgiar os olhos como quem chora em silencio e às escondidas. Me deixei levar por palavras secas a roçar a rudeza do agreste salvagem que me invadiu a alma e me perguntei porque um dia eu te deixei estacionar no meu coração sem porte pago e sem certeza que o local não era de estacionamento proibido. Multei-te? Preciso doer-me mais para ver se tenho jeito de aprender a fechar cancelas que sei se avariam nas pequenas chuvas da madrugada.


Sanzalando
recomeça o futuro sem esquecer o passado