A Minha Sanzala

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28 de abril de 2015

Às vezes

Às vezes cansado de verter palavras, de construir sonhos e emparelhar ideias, dou por mim descansado na sombra duma árvore a meditar, esquecendo que há quem ainda me queira ouvir, sorrir ou comigo pensar.
Às vezes digo-me que para deixar saudade me afasto, mas sempre com receio que exagere e que, pela ausência, deixe de fazer falta.
Às vezes dou comigo a sonhar porque o que mais é nosso é o sonho e a capacidade de o fazer.
Às vezes, cansado da ideia, me afasto mas continuo a sonhar.
Às vezes dou comigo a pensar que ela era o amor de muitos mas eu o amor da vida dela.
Às vezes tem vezes que não apetece verter palavras com as mesmas ideias nem os mesmos sonhos.
Tem vezes que são apenas às vezes.

Sanzalando

24 de abril de 2015

daqui Germânica vontade

Desleixado caminho sem rumo a tentar dizer às pedras, aos cantos e esquinas, que o amor não tem preço, não é pedível nem esperado. Inevitavelmente ele está ou não num lá qualquer.
Acontece aqui são 6 da manhã e lá donde vim tem menos uma hora. Mas qual espanto se me vê na cara um sorriso,  se nota uma frescura e quem sabe eu lo que por ser assim como que nem eu sou mesmo.
Peguei num papel parece é jornal e as letras, consoantes umas, vogais outras e outras ainda não faço ideia. Dei uma volta 360 graus e despercebido completamente.  Voltei a sorrir.
Pego nas pernas e vou caminhar. Eu e a minha vontade de sentir feliz. 

Sanzalando

21 de abril de 2015

lembrei um antigamente mais antigo

Me deu assim uma de saudade que nem eu mais me lembrava ela existia. Me lembrei assim num momentaneamente parece é agora de jogar à bola em campo era inclinado para favorecer os mais fracos quando era a descer e dar cabo deles quando era a subir. Ups que saudade me deu de ter dez anos ou sei lá quantos poucos mais.
Me lembrei que do lado de lá dos vidros da janela, quem olha para a casa da vizinha ver ela me procura num olhar de janela, e eu só vejo está a chover que até parece tem remoinho de chuva. Era mesmo só remoinho no olhar acho eu. Eu ali a olhar a chuva e ao mesmo tempo tinha esperança ela vinha na varanda me procurar com seu sorriso que não ri.
Me lembrei agora que um dia ela me tinha sorrido num mês de Abril, faz agora uns muitos anos...


Sanzalando

19 de abril de 2015

livremente

Calcorreio a minha praia de muitas as cores e formas. Aqui sou vagabundo, astronauta, rei e senhor, nada ou quase tanto. Aqui me perco na correria do pensamento, na força da meditação e na leveza da vadiagem.
Foi por aqui que me perguntaram se eu gostava mais de amar ou ser amado. Foi por aqui que fiquei sem saber se gosto mais da perna direita ou da esquerda.
Calcorreio a minha praia não deixando ferver o meu sangue nos pensamentos traduzidos em palavras largadas ao vento. Aqui sou livre de ser eu amando-te, vendo-te entrar no mar.


Sanzalando

15 de abril de 2015

64 - Estórias no Sofá - o Se de Leopoldo

Meu nome é Leopoldo e venho de família mais antiga que o antigamente tem memória. Joguei à bola quando ela era de trapos. Basculei bailes por portas secundárias quando eram estes os fins de semana de arromba. Dancei na rua e pulei muros quando era agarrado por terceiros, quartos e outros porteiros que invadiram os banquetes da minha vida.
Mas agora, eu Leopoldo, de letra grande, tirei as trancas das minhas portas, deslarguei prisioneiros de ambos lados da porta, entra e sai quem quer porque eu não sou dono do mundo e o mundo não é pertença minha. Vem quer quer e vai quem quer pela ordem que entender.Eu sou dono apenas da minha felicidade e vou viver dentro de mim sem outro remédio ou pensamento. Estou de paz comigo e com as plantas, com os perfumes que entram pelas minhas abertas janelas, canto com os ladrares dos cães e miares dos gatos vadios que saltam telhados da liberdade.
Eu, Leopoldo de nome inteiro, saio de casa e encontro as pessoas, as malditas pessoas que têm mentes cheias de nada e vertem ignorância que se transforma em lagos de angustia, declaro que pequei muitas vezes no antigamente recente a pensar no SE. Curioso por natureza tenho curiosidade de saber se era igual se eu tivesse tomado outro caminho que não o que tomei. Este Se que segue-me pela vida e que me entra nos olhos mas Se os tivesse fechado seria difícil sair por aí sem tropeçar.
Eu Leopoldo tenho saudade do tempo em que o Se não me seguia na vida fora.


Sanzalando

14 de abril de 2015

trocado por miúdos

Trocado por miúdos, as palavras são ecos da alma. Assim num faz de conta, as verdades são certezas em que as coisas nunca ficam vazias, em que o amor não é um temporal, em que as estrelas do céu iluminam mesmo que poucamente.
Trocado por miúdos, eu não deixei de ser eu mesmo que as palavras estejam caladas.
Mas se eu parar para pensar eu vou concluir que estou sempre a recomeçar. Mesmo quando estou parado a olhar-te.

Sanzalando

7 de abril de 2015

as minhas palavras

Passeio-me por ruas claras e revejo palavras, uma a uma. 
Bonitas as palavras que escrevo. Letra redonda, legível, soletradamente corretas. As frases que essas palavras formam é que..., como direi, não sei a cor nem decorei uma. São palavras em carreirinha escritas em letra redonda e bem legíveis. 
É, tenho uma lado estranho que às vezes encanta quem as lê. 
As minhas palavras não têm sentido quando estão soltas. Mas em carreirinha às vezes também são bonitas como as palavras que as compõem. É, contigo ao meu lado as carreirinhas de palavras até são bonitas. Às vezes gosto das minhas palavras escritas em carreirinhas.
As minhas palavras não têm horário. Chegam e partem quando lhes apetece. Mas são bonitas as minhas palavras.
As minhas palavras são como a paixão. Umas vezes sim, outras não.


Sanzalando

5 de abril de 2015

Sorrimos à beira mar

Beira mar. Perfume de maresia. Marulhar das ondas. Tantas vezes o silêncio é a melhor opção mas, quando nos atolamos nele, quando lhe ficamos prisioneiros nos sufocamos e se nos distraímos pode ser tarde de mais.
Beira mar. Perfume de maresia e descobrimos que o mundo é triste porém solene. Procuramos o mundo maravilhoso, caminhos juntos que se entrecruzam. Inexplicavelmente surgimos lado a lado, em silêncio, mãos dadas.
Sorrimos à beira mar

Sanzalando

3 de abril de 2015

à luz dum candeeiro

Sentado num candeeiro de esquina, deixo-me levar nos sonhos desde os tempos de criança, assim moleque de sandálias de pneu, despreocupado das coisas da vida até aos dias de facto e às vezes gravata, parece é sessão solene. Num recanto me lembro que o amor verdadeiro começa lá naquele ponto onde não se pede nada em troca, naquele degrau onde tudo fica claro como água da Senhora do Monte, onde os relógios deixaram de ser ditadores de compassos marcados numa língua áspera de espaço compartimentado em horas distintas e por vezes sem fuso nem horário.
Sentado numa esquina com candeeiro mais nada me resta a não ser adiantar o relógio para o tempo sem ti passar mais depressa

Sanzalando

1 de abril de 2015

se tem vezes

Se tem vezes que não sei quem sou, sei sempre que sou o Homem mais importante para mim. Pelo menos o melhor da minha vida. Não sou comediante mesmo que às vezes me veja a sorrir, não sou rico nem dou presentes caros, não sou Homem de luxo porque o único tesouro que tenho é ser eu. Um eu que te ama, que me cuida te cuidando, um chefe de cozinha que não sabe qual a tua comida perfeita e que ainda assim te agrada, um piloto de avião que te eleva ao céu da vertigem, um explorador de recantos que tenta te encantar em cada gesto sintonizado na pureza da alma, um caminhante reflectido no teu sorriso enquanto caminhas a meu lado, um médico que não sabendo os teus sintomas te olha com olhos doce de cura.
Se tem vezes que não sei quem sou, sei sempre que sou o Homem mais importante para mim.

Sanzalando
recomeça o futuro sem esquecer o passado