A Minha Sanzala

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31 de março de 2021

primaverou-se o cérebro 10

ÀS 11 horas era hora de ir comer um pastel de nata e beber um café na Oásis do sr. Reis e Moreira, gerenciada pelo sr. Reis de simpática figura e aspereza por vezes no trato. Mas isso era secundário para os frequentadores da esplanada, mesa ao lado dos mais cotas que fazia seculos ali permaneciam a dar-nos baile no seu comportamento de mais criança que nós armados em grandes. Depois do almoço era obrigatório ir no Aéro-Club jogar bilhar ao perde paga. Os do Turismo não iam ali. E havia ainda os outros que iam aos Magriços, bilhar e snooker que havia na sede do Sporting. Ah, havia também os que ficavam sempre no Café Avenida. Porquê estas fronteiras? Deslembro completamente as causas porque não era a origem ou a conta bancária que estava ali. Acho era só pela beleza de ter sido assim e sem saber mais como.
Mas o perde-paga do aéro-club era um festival. Eu e o Reis, filho do da pastelaria éramos uns azes. Tínhamos mestria no taco. E quando jogávamos com os pinos? Era uma delícia aqueles pensamentos rápidos. Se fosse futebol eu ia dizer que a gente driblava com qualidade.
E foi assim ali que comecei a receber as minhas hormonas, a formação do meu esguio corpo e da minha sabedoria de rua feitos.
Para trás tinham ficado as corridas de patins, as partidas à D. Maria Guedes, as conversas exageradas do Raul Gomes e tantas outras coisas que quase me ia esquecendo dos doces da Sra. Santana, a mãe do Pedro e Douglas. Chupa-chupas do melhor.


Sanzalando

30 de março de 2021

#comida


primaverou-se o cérebro 9

Entrei assim numa adolescência turbo-bolorentamente. 
Ao mesmo tempo comecei a fazer uma horas na rádio. Era assim como o técnico de som mais novo e com grande futuro pela frente, graças ao Sousa Santos que tinha a maior paciência do mundo para responder as quinhentas perguntas por minuto que eu lhe mandava, às vezes parecia metralhadora. 
Com ordenado fresco ao fim do mês, sem despesas porque a mãe aguentava tudo sozinha, conta de cigarros que eram na altura baratos porque acho ainda não se sabia faziam mal, as festas de fim de semana metia vinho ou cerveja até eu cantar o Jacques Brel em 'ne me quitte pas'. Eu acho cantava tão mal que me deixavam porque a conta era só minha e todos estávamos felizes mesmo que não soubéssemos ou déssemos conta disso. Acho eu uma vez foi no café Avenida, eu e Amorim e Manel VP, se me enganei foi porque o tempo apagou, bebemos tanto que ainda hoje não me lembro como foi que acabou. Eu cheguei ao hoje assim, eles que eu saiba também. Mas foi mesmo para esquecer. Era aqui e depois mais tarde nas festas de pré-finalista daquele liceu onde passei dum aluno à rasca para um bom aluno por causa dum rabo de saia que me deu a volta à cabeça ainda hoje eu não sei como foi possível. E em tão pouco tempo, entenda-se. Mas isso é mais tarde porque agora ainda estou na fase turbulenta da minha adolescência. Gente pequena a pensar que era grande, apesar de pensar que não era grande coisa. 
Eu comecei a frequentar a Oásis. Não era do Hotel Turismo. Aí estava já uma diferença. Grande até, mesmo para os dias de hoje onde as teias de aranha e Alzheimer deveriam ter feito um buraco de esconderijo no cérebro dum gajo.

Sanzalando

29 de março de 2021

primaverou-se o cérebro 8

Regressado à minha cidade Real e como havia prometido eu ia contar a minha estória real se a memória ou a verdade não disserem o contrário. E ela começa mesmo no início da minha adolescência, marco importante na minha viragem social, mental e até comportamental.
De verdade que eu sempre mantive um pé mental na minha cidade de Imaginação e na minha cidade Fantasma, porém acho refugiei-me de vez e até à proxima na minha cidade Real. Mas isso não afecta a minha estória, isso não cria obstáculos ou barreiras, saltos e sobressaltos na minha estória de nunca ter chegado à Glória.
As hormonas começavam a sair das suas fabrica intimas acrescentando masculinidade no meu corpo esguio, na minha cara linda afeizada por umas orelhas a dar para o abano, ao meu pensamento que aparentemente até aí não tinha o que fazer e ao meu outro órgão que até então servia para verter águas. 
As orelhas me pareciam uns travões de vento por causa da magreza que eu tinha, não era por fome, era mesmo por inquietação intrínseca, física e mental que mais tarde apelidei que era por causada pela minha ideia revolucionária e contestatária, contagiado pela História que ia acontecer num futuro que eu não fazia a mínima ideia.
O meu pensamento andava pelos cigarros, bilhar e pastelaria e um ou outro carro de competição. Queria lá saber de mais o quê.
O outro é que se foi rodeando de pelo e engrossando e mudando o estado de estar de mole a duro apenas por causa dum olhar.
Mas lá andava eu por vezes com voz grossa alternado por uma voz criançada. Eram as hormonas a dar sinal que eu andava na fase do crescimento. Até essa data, por causa duma rebeldia ou por falta de mão macho em casa, eu faltava nas aulas, eu fumava nas escondidas avenidas abertas por onde ninguém conhecido passava


Sanzalando

28 de março de 2021

primaverou-se o cérebro 7

Volto à minha cidade Real onde poderei viver com imaginação e fantasmas sem perder a minha atitude nem o meu celestial posto de observação e critica. O meu passado não é imaginário, os meus fantasmas podem ser fruto duma realidade imaginada e sofrida porém facilmente exorcizados pelo testemunho da minha existência, pela verticalidade dos meus actos sem necessidade de me pôr em bico de pés para ser observado pelos vários condutores e motoristas da minha Real cidade. Não precioso palanque para me verem. Sabem só que eu estou aqui.
Todas as tochas que atirei à minha fogueira, todos os incêndios que provoquei, todas as lagoas que inundei são afirmações da minha existência real e humana. Acertos e erros são parte integrante do meu ser e iria poder ser de outra forma? Não estou travestido de laser espadachim, luminosa luz de corte cabelo e barba, mas de sangue e coração que bate por enquanto ritmado e lentamente.
Assim, regressado à minha cidade Real vou contar a estória de que eu nunca atingi a Glória, Nunca lhe cheguei por mais que eu tivesse tentado. Mas com a ajuda da inspiração e dos fantasmas eu tentarei, com verdades, inverdades e talvez com precisões e imprecisões devido ao esquecimento de factos desmarcados na memória.


Sanzalando

27 de março de 2021

#caminhos confinado


#momentos


primaverou-se o cérebro 6

Repousado levantei-me e segui o meu caminho pela minha cidade Fantasma. 
Porque deixei a minha cidade Imaginação? Porque caminho num sem parar? Que significado dou às palavras que digo e aos silêncios com que respondo? A beleza do pôr-do-sol é uma constante ou um estado de espírito? O crepúsculo alaranjado fogo tem sempre o mesmo efeito em mim? A lua cheia mete-se comigo ou sou só eu que implico porque sim? As pessoas sorriem ou lamentam-se apenas para serem notadas e mimadas? 
Será que aqui na minha cidade Fantasma eu conseguirei olhar o céu?
Tantos fantasmas eu transporto no meu espírito que não sei se terei vida suficiente para os enumerar? 
Mais um fantasma arranjado para juntar à minha colecção. Deixei a minha cidade Imaginária por falta de imaginação. Deixo a minha cidade Fantasma porque acrescento novos à minha colecção e não os desamparo nos meus caminhares errantes.

Sanzalando

#selfie


26 de março de 2021

#flores


primaverou-se o cérebro 5

Desci à cidade, a minha cidade Fantasma, procurei um café, sentei-me de frente para uma vidraça aberta de modo a contemplar a azáfama da rua, sem perceber que aquele caos não eram pessoas a preencher todos os espaços vazios da rua mas apenas e tão só os meus medos e complexos sistemas acumulados ao longo dos anos. Tontamente me embaralhei na confusão e fui fluindo como um rio descontrolado descendo uma encosta. Quantas vezes deixo a minha porta aberta? Quantas vezes deixo as minhas chaves à vista de todos? Como é possível ter acumulado tanta coisa dentro de mim ao ponto de provocar uma efervescência tal qual eu vivia naquele instante? E o café? Arrefeceu. 
Tentei mudar de rota no pensamento mas a minha cidade Fantasma continuava a levar-me qualquer pensamento que fosse diferente do caos. Me apeteceu atirar o corpo vidraça fora e esborrachar-me na rua onde a confusão imperava. Nem que fosse para a parar. Mas lembrei-me que me podia magoar e manter-me-ia caoticamente crítico de mim. Resolvi pedir que fechassem a vidraça e ao menos o ruído diminuiu ao ponto de eu quase adormecer frente ao meu café frio.


Sanzalando

25 de março de 2021

#mangueira


primaverou-se o cérebro 4

Sobre mim ia caindo uma chuva de pensamentos, uma salada de ideias e um avinagrado sabor a saudade começava a fazer-se sentir. Para onde me levam os passos cada vez mais pesados e decididos? Muito caminhei, sem saber qual o cardeal a seguir até que cheguei à minha cidade Fantasma. Estava adormecida, talvez por ser madrugada, talvez porque fizesse frio, talvez porque eu estivesse desnudado de sentimentos que me poderiam ligar à minha cidade de Imaginação. Eu tremia e quanto mais entrava na cidade mais eu percebia o meu total desconhecimento dela. Procurei o ponto mais alto dela para melhor a ver com a luz do sol nascente. A minha cidade Fantasma não era quadriculada, era um cruzamento de assimetrias com altos e baixos sombreando-se sucessivamente. As casas mais perto da minha vista pareciam-me um castelo de pedras como que a defender a cidade da minha invasão ocular. Desertas ruas mostravam a cidade triste que cada vez mais se iluminava com o nascer do sol e seu crescimento. A cidade acordava muito lentamente. Via-se movimento e imaginava-se o caos a instalar-se. Indiscritivelmente não conseguia ver gente, sentir a existência de pessoas. Percebia o caos instalado mas descompreendi de quê. Foi o meu primeiro contacto com a minha cidade Fantasma. 

Sanzalando

24 de março de 2021

#selfie


primaverou-se o cérebro 3

Já tinha saído da minha cidade de Imaginação e parecia ainda eu estava lá. Chuvia-me e ventava-me como se fosse uma tempestade interior a revoltar-se contra a minha decisão de deixar a minha cidade de Imaginação. 
Acho fez um ano que ela já tinha saída da minha cidade de Imaginação. Eu não aguentei este tempo todo com o sorriso na cara, com a felicidade no corpo ou com a alegria de estar vivo. Contorcia-me na saudade e eu não conseguia bailar ao vento, não tinha capacidade de sorrir os risos arrepiantes de ser feliz. Acho tinha-me deixado cair num outono de existência. No abandono que ela me deixou dava-me uma sensação de frio permanente, uma culpa formada de frios indecisos da minha existência, do vazio dum fazer nada porque nada havia para fazer. Um ano gasto a esticar as pernas num vagabundar interno entrecruzado pelo medo e heroísmo. Nunca deu para perceber porque alguém me dizia que o bom estava na demora da incerteza, no morar na indefinição e no percorrer os refúgios duma viagem nunca feita.
As ruas da minha cidade de Imaginação entrecruzavam-se no meu pensamento como se fosse um mapa em constante mutação enquanto a distância crescia a cada passo, a cada pensamento.



Sanzalando

23 de março de 2021

primaverou-se o cérebro 2

Ao sair da minha cidade de Imaginação, levando comigo o ornamento da noite, que para mim era escura, não sei se por não querer olhar ou simplesmente porque o era, levei comigo uma montanha de recordações e memórias. Tentei evitar olhar para trás, tentei esquecer as horas de felicidade e amor ali vividas. Era escuro e pareceu-me que cada vez ficava pior. Eu estava de saída da minha cidade de Imaginação e entrava na zona escura do mundo. Os sons que eu nunca tinha ouvido eram agora os meus acompanhamentos, eram a minha música de chorar. Com muita atenção ouvi as lágrimas a se rasparem na pele da minha cara num deslizar dos olhos para o chão, ouvi os gritos da gravilha que os meus pés pisavam a cada passo firme e a cada passo dado a minha cidade de Imaginação ficava mais lá para trás, como se cada um dado levasse metros de avanço à realidade. Eu chovia em mim enquanto me afastava. Aos poucos fui perdendo da vista a minha cidade de Imaginação.


Sanzalando

#memorias


22 de março de 2021

Pimaverou-se o cérebro 1

Chegados à primavera, descinzenta-se o cérebro, se auto-estima-se e se reencontra o brilho do sol na alma. Novos caminhos estão à espera de ser percorridos, novas estradas prontas a serem desenhadas e novos sonhos prontos a verem o seu retrato estampado nos meus olhos. 
Na cidade da minha Imaginação era noite quando de lá saí. Não faço a mais pequena ideia se o céu estava estrelado ou só escuro como as noites eram naquela minha idade. Se houvesse alguma constelação eu não faria a menor ideia porque eu não ia olhar o céu para decifrar os pontos cintilantes e uní-los com uma imaginária linha. Eu só tinha olhos para ela e tudo resto era imaginação dos mais velhos só para me darem o que fazer. Sei que na cidade da minha Imaginação o céu estava lá todo, a cair pelo horizonte, atrás da terra, onde eu já não via. Eu tinha uma abóbada em cima da cabeça. Era uma campânula escura o que eu tinha sobre a minha cabeça. O seu ponto central era a verticalidade da minha cabeça. Uns infinitos metros acima.
Tudo estava escuro. Nem me lembro se as luzes da cidade estavam acesas ou era mesmo só noite. 
Sai de lá sem olhar para trás, sem olhar para lado nenhum. Era escuro como era escura a minha alma de desgosto ou só alma.


Sanzalando

#comida


21 de março de 2021

#mangueira #imbondeiro


primaverou

E se fez sol ventado. Primaverou. Se eu ligasse a essas coisas diria que as andorinhas chegaram. Mas eu ainda não vi nenhuma e também não lhes procurei. Só vi que o sol brilha doutro modo. Não tenho noção do tempo mas parece foi ontem que era a primavera. Quando aprendi que era hoje lá nas aulas do Comandante Resende. Era outra época e eram outras datas para as estações. Naquele tempo eu deixava as pessoas a falar sozinhas e ia nos meu divagares pelos cantos do mundo e queria lá saber dessa matéria. Naquele tempo eu queria lá saber as horas que começavam as estações do ano. Saber os comboios só quando tinha interesse directo.
Hoje me complicam os neurónios só de saber que a primavera afinal foi a 20 e não 21. Importante e para realçar é que primavaverou.

Sanzalando

20 de março de 2021

imperfeitamente

E até parece contrariada por ir embora esta estação que lhe chamam de inverno. À noite faz frio a nos lembrar que ela ainda está aqui, mas de dia está brilhante parece vai ser aquecida a temperatura fria da noite. Assim, numa letargia fico à espera que qualquer coisa aconteça, que as minha palavras mais doces sejam faladas, que as minhas músicas surdas sejam assobiadas, os meus livros não escritos sejam lidos. Eu me moldei a este inverno. Eu saí da minha realidade e me tranquei no meu modo cinzento de estar, num canto imundo de pensamentos imaturos, numa infância tardia de complexos. Este inverno, confinado, me trouxe a imperfeição como normalidade. 
Mas como brilha o sol, durante o dia saio desse estado e navego por águas claras, mares calmos, sorrisos abertos e como quem diz que a cicatriz da noite foi apenas um sinal de estar vivo e ser humano.


Sanzalando

#lugaresincriveis


#lugaresincriveis


19 de março de 2021

dia do Pai

Na despedida do inverno ainda cabe lá o dia do pai. 
Para mim o pai devia ser eterno. Pai e mãe têm aquele ombro que a gente sempre precisa, mesmo quando não precisa. Por isso eles deviam durar enquanto a gente dura. Mas hoje vou só falar com o meu pai mesmo sabendo que ele não me vai ouvir nem ler.
Meu pai não estava lá no meu primeiro dia em que fui na escola. Nem quando entrei no Liceu. Nem quando fui na Universidade, nem quando comecei a usar os conhecimentos que fui aprendendo. O meu pai não estava nos natais de que me lembro. Em nenhuma festa que me recorde. O meu pai não estava lá quando estive doente. Também não estava nos momentos em que fui o mais feliz dos mortais.
O meu pai não soube das minhas paixões e desamores. Não sentiu o sal das minhas lágrimas de amor nem as de dor de alma de tanto desalento. 
O meu cabelo foi-se ralando e branqueando e o meu pai não estava lá. E no dia do pai o meu pai não está lá.
O meu pai não está em nenhum momento da minha vida, mas o meu pai está sempre comigo desde o dia que lhe levaram para parte incerta quando eu era criança de não me lembrar de quase nada.
Na verdade, em cada momento meu eu lhe sinto a me olhar e parece até me toca no ombro a me dizer se estou no caminho certo ou não. Eu sempre tenho o ombro dele mesmo quando é só para encostar a cabeça e vagabundear-me por aí.



Sanzalando

18 de março de 2021

no meu passado

E o inverno dá os últimos passos. Os dias cresceram, o brilho brilhou embora ao fim do dia a gente ainda diga que está frio. Com o tempo assim, sentado na lancil do passeio, tarde cedo ainda, me navego por sonhos de adolescência. Era mais ou menos nesta hora que ela ia dar o passeio dos tristes como se dizia. Não sei se a volta era sempre a mesma ou tinha variantes. Eu sei que passava naquela esquina e naquela esquina eu me sentava e divagava na espera.
Ainda nessa manhã a minha mãe me tinha perguntado por ela. Ela sabia o que é que me tinha acontecido? Esta doença de paixão era do conhecimento dela? Por pouco eu não deixara cair uma lágrima pelo desgosto de eu não ter coragem de lhe dizer, mas respirei fundo e segurei os olhos não respondendo. 
Hoje passado tanto tempo ainda me pergunto o que teria sido de mim se eu tivesse-lhe dito o meu estado de coração?


Sanzalando

17 de março de 2021

passado ao presente

Acordei era cedinho. O sol já tinha acordado bem primeiro que eu. Olhei na janela e vi que a cada do lado ainda tinha as janelas todas fechadas. Ela ainda não acordou, pensei devagar porque ainda não estava assim num modo de totalmente acordado. Me preparei com matabicho de café com leite e sandes de queijo, vesti fato de banho e abalei nas minhas chinelas de plástico para a praia. Lá chegado tirei uma perpendicular à porta do casino, ou clube náutico já que nunca descobri o nome verdadeiro porque nunca vi lá verdadeiro casino e nem nenhum barco, só mesmo um campo de ténis onde era habitual ver o Sr. Maurício e as suas calças brancas bem largas a mostrar a qualidade da raquetada que ela também às vezes ia lá jogar e eu espreitava. Na areia, nesse azimute marcado pela minha experiência diária, estendi a toalha e me deitei a esperar. Mais cedo ou mais tarde ela vai chegar mais a família, vai pôr o guarda sol azul bem ali ao pé donde eu azimutei. Se era assim nos outros dias porque não vai ser assim hoje?
Ela não sabe que eu gosto dela e eu nunca lhe vou dizer. É segredo meu e dos meus mil amigos. Ela não sabe e nunca vai saber, como pude constatar muitos anos mais tarde num futuro que adivinho longe daqui, depois de múltiplas peripécias, mudanças e convulsões, amores e desamores, alegrias e tristezas, anos e mudanças de século. Ela nunca soube porque eu nunca lhe disse.


Sanzalando

16 de março de 2021

#flores


o sol e o hoje

Me olha só esse sol que até quer imitar o nosso outro sol. Mas o sol do sul tem outro brilho. Como é que eu vou explicar. Eu sei que os olhos eram mais novos quando olhavam esse sol, quando sentiam a sua luz. Vou fazer mais como? Como é que é? Vou só assim viver na constante preocupação do como vai ser esse de futuro e sentado esperar ver como é que é? Achas vou perder tempo a pensar como é que vai ser amanhã, próximo mês e afins?
Com esse sol eu não vou perder esse tempo. Recordar o passado sim porque ele é parte do eu de hoje. Não planeei chegar no hoje e hoje eu estou aqui. Não imaginei o sol como é que era e ele é. Seguir linhas imaginadas não é o meu lado forte. Acontecem.
😊😊


Sanzalando

15 de março de 2021

e se termina o inverno

E parece é mesmo desta que o inverno se está a despedir da gente, aqui neste lado norte. Com este tempo meio assim que nem é nada de jeito, dá para ir vendo, revendo e voltar a relembrar as coisas boas que o tempo me deu, mesmo que na altura certa eu tenha achado que não. Eu detestava mas uma coisa boa que aprendi é que o abraço é bom. Agora tenho saudades dum abracinho. Outra coisa foi que quando eu acho vou colapsar, páro, medito e logo vejo que estou só é a viver. Às vezes falo quando devia estar calado, grito quando devia falar ou calo-me quando devia falar e quando acho vou arrepender eu sinto que é melhor ter sido assim. Se não fosse este tempo eu não ia ter o outro tempo para pensar nestas coisas simples que complicam aquilo que é a vida.
Acho piada, quando eu não esperava nada e me digo que estou decepcionado. Complicómetro ligado tem essa vida que eu adoro.
Vou fazer mais o quê para além de esperar que este inverno acabe?

Sanzalando

#lugaresincriveis


14 de março de 2021

#flores


Parabéns Arthemis

E vou fazer mais como se a minha parceira neste blog resolveu que hoje fazia anos de ter nascido? Tenho de lhe escrever e é tão difícil escrever para quem já sabe o que é que eu acho. 
Se é arquitecta, pitora, imaginadora ou mentora, é.
Se é angolana, portuguesa ou apenas cidadã deste mundo real e virtual, é.
Se é escritora ou alinhavadora de letras e parágrafos sentido e com eles, é.
Se é amiga, silenciosa ou faladora, presente ou ausente, é.
Na verdade toda a gente entra na nossa vida para nos dizer ou ensinar alguma coisa. Ela é.
Vou então fazer mais como? Parabéns pá.


Sanzalando

13 de março de 2021

#momentos


#comida


#flores


sol na hora

Faz sol e parece aqueceu um pouco. Claro que não é o meu sol, mas tenho este e me contento. Com este sol já consigo vibrar com as minhas alegrias passadas, presentes e já a contar com as futuras. Os meus momentos, devido ao sol, de verão, de cá ou de lá, desde que seja sol, são diferentes e não é na aparência, aparentemente são diferentes porque são brilhantes, as personagens são alegres, as gargalhadas são felizes, o singular parece é colectivo. Não precisa ser palhaçada para me fazer rir. basta ter sol por trás ou por cima. Enfim, meditar, recordar ou simplesmente viver é melhor com o sol porque é melhor para a saúde. Assim, neste lugar, longe do meu lugar, aparecendo sol eu estou no lugar certo e na hora certa. 




Sanzalando

12 de março de 2021

#comida


#flores


sou

E na noite faz frio que me confirma eu estou no lado norte da vida. Lá no meu sul deve estar um calorzinho danado, uma noite de caminhar num picadeiro de lavar a mente das ideias absurdas e escuras da vida. Aqui está um tempo de recordar infâncias, memórias sofríveis e boas. Quem se vai lembrar dos joelhos esfolados da queda da burra na descida da escola comercial? Pelo menos eu, que sou um atractivo pescador de memórias sejam elas quais forem. Quem se vai lembrar daquela noite que choramingaste calado na noite escura do isolamento do quarto? Eu, que me lembro das vezes que ela fazia-me desconhecido de existência. Quem se vai recordar das reguadas do professor Amaral porque subiste nas casuarinas e atiraste pedras na janela da sala de aula quando andavas na segunda classe? Eu que ainda me doem as mãos de vergonha.
Mas hoje só quero recordar as coisas boas e nem me lembrar que também houve as outras como a noite dos copos em que vomitei até nascer o sol e só porque recebi um ordenado. Não quero saber das viagens de noite inteira até na Chela sendo que neste mês era ao contrário, elas vinham cá para o mar nos mostrar outro lado do mundo. Não faço a mínima ideia se fui excluído da equipa dos karts porque era um nabo dos diabos e culpava porque não tinha uma cunha. Não quero saber se no campeonato de hóquei eu não alinhava porque patinar feito artista não dava para meter golos que era o mais importante no jogo.
Hoje eu só quero recordar as coisas boas que me fizeram chegar até no hoje que sou.


Sanzalando

11 de março de 2021

#flores


a minha cidadezinha

A cidade era um quadriculado perfeito. Rua que tem sentido norte sul é paralela com a sul norte e intervaladamente é assim deserto dentro. As perpendiculares é o mesmo sistema e só é pena eu não me querer dar ao trabalho de contar uma a uma, esta minha cidadezinha. Só não sei mesmo se cada quarteirão era a quarta parte de um cento de qualquer coisa  ou apenas unidade elementar da geometria da malha urbana. Possa que a frase anterior até parece dum gajo que percebe disto. Mas que eles eram simétricos, disso na minha infância tenho a certeza. Era assim a minha cidadezinha. Depois apareceram os mais afortunados e modernos e começaram a construir, ao que me pareceu uma cidade justamente ao lado, outra cidade com curvas e assimetrias que parecia estava noutro planeta. Já não havia esquinas, eram curvas as próprias ruas. Mas esta parte da cidadezinha eu já não visitei ao ponto de decorar. Ia para lá das minhas posses e gosto. Coisas de infância
Mas esta, a parte que lhe vou chamar histórica é que era a minha parte, a que eu conheço em cada esquina, cada porta e qualquer passeio. Lhe percorri a pé ou na bike que comprei por 100 paus ao Paulo Jorge sem ninguém saber porque não queriam eu me perdesse nas minhas vagabundagens. Como era possível eu me perder nesta cidadezinha


Sanzalando

#flores


9 de março de 2021

um bocado de mim

Neste frio gelado, neste mundo que virou pandemónio, neste norte que um dia adoptei como meu, vou vagabundando por trilhos e caminhos desenhados na minha mente como se fosse uma prova de fundo, a percorrer lentamente.
Em boa verdade, nestes momentos de meditação ou simples buscar de memórias eu vejo que em cada canto do meu olhar encontro uma parte do meu sul como se eu fosse um poeta flagelado pela saudade. Tantas vejo para lá de mim que nem percebo se alguém me observa, se alguém está triste ou alegre à minha volta, ou se está apenas alguém ao pé de mim.
Neste frio, neste lugar, tornou-se mais fácil ausentar-me do meu corpo físico e sair por aí numa sentimental viagem por mim, pela vida, pelo passado e pelo futuro brilhante duma primavera que aguardo.

Sanzalando

8 de março de 2021

ainda não está perfeito e não é normal

E apesar de no lado sul estar céu azul, do lado norte parece vem por aí trovoada. Brilha o sol, ainda. Faz frio, ainda. Mas a luz está optima para uma fotografia. Pena é que não tenho aqui à mão uma paisagem das de postal ilustrado sem moscas e mosquitos e sem o perfume do lixo. Tenho as ruas desertas por uma doença misteriosa que vai derrubando árvore a árvore num silencio atroz. É por essas e por outras que fico em silêncio, atrás da minha janela a ver o mundo mundar num novo caminho que ninguém ainda sabe qual é que é. O dia continua a ter 24 horas, ainda. A noite ainda tem a lua, quando as nuvens deixam ver a mudar os seus quartos no ciclo que aprendi na escola com a frase que ela aqui é mentirosa. Faz conta o novo mundo vai ter tudo direitinho, não vai ter polícias e ladrões, assaltos e assaltantes, homens e mulheres, grandes e pequenos. Faz conta o mundo vai ser diferente, mais igual para todos. Faz conta o lixo vai ser todinho reciclado, até aquele que ainda não foi feito mas apenas pensado por qualquer mente que não compreende que o mundo se mudou para outro lugar de paraíso. Faz de conta que não é preciso haver o dia disto e daquilo porque a perfeição se chamou normalidade

Sanzalando

#comida - quando as amigas nos mimam


#lugaresincriveis


7 de março de 2021

#comida obrigado


festas do mar

Queres ver que esse tal de inverno se está a querer ir embora? Hoje solarou que até parece tropicalizou-se este lado norte da vida.
E com este sol, sentado no muro da minha infância fui deambulando por aí, perdidamente sem ter  perdido o meu pessoal norte. Por muito que eu tenha mudado, por muito que a vida me tenha mudado, feitio e forma, eu mentindo para mim mesmo digo estou que nem igual ao tempo ganho na infância. Eu deixei toda a minha vida para trás, considerando tê-la vivido bem, machucando-me de quando em vez, machucando outros pouco, espero. Fui e sou feliz mesmo que a meio tenha períodos indefinidos. Essa infância que sempre trouxe a meu lado, as rifas da festas do mar, os passeios nos picadeiros das noites quentes de namorar, os carrinhos de choque e as barraquinhas de bifanas e cachorros quentes, tudo são presentes que vivo na minha memória mesmo que às vezes eu brigue com ela por pormenores cinzentos que nublei ao crescer.
Eu sei que em muitas alturas eu não estava preocupado com coisas que hoje são sérias e podia ter feito diferente, dando outro rumo. Mas não seria a mesma coisa hoje. As brigas que não tive, as vozes que não levantei, os gritos que calei ou um ou outro murro que não dei as recusas que não fiz podiam ter modificado muita coisa nesse passado infantil, mas não seria a mesma coisa hoje. 
Vou só dar uma volta nas cadeirinhas mesmo que possa parecer perigoso andar ali a empurrar a cadeira da frente mas nesta idade não existe o perigo que a minha mãe vê e os mais velhos persentem.
Eu era feliz antes, eu sou feliz agora e me agradeço por ter feito a minha infância quase uma perfeição se tivesse tirado as coisas que hoje sei eram imperfeitas.
Vou só comprar uma rifa pode ser saia um animal de peluche.
Eu era feliz antes. Eu sou feliz hoje. Eu vou nas festas do mar, nem que seja de memória.


Sanzalando

6 de março de 2021

#imbondeiro


sol de inverno

E não é que hoje brilhou o sol de inverno num brilho sem vento nem frio de estragar o meu olhar? Pudesse eu percorrer as minhas ruas, os meus caminhos e os meus sonhos, toda a infância, e hoje estava um dia óptimo para isso. Não sei se ia chegar mas ao menos eu tentaria. Hoje até esconderia o meu egocentrismo, punha os pés na terra e ia ver as ruas e os caminhos dos outros também. 
Eu sei que é difícil ter uma vida minha a suportar toda a minha estória, percorrer os meu cantos, recantos e encantos, os meus sabores, dissabores e horrores, ter vivido os meus amores e desamores. Mas num dia de sol, em pleno inverno deste lado do mundo, que até seria mais fácil e até eu, do alto da minha fraqueza iria conseguir.
Mas deixa lá o sol se pôr que vais levar com o frio que não tiveste.

Sanzalando

5 de março de 2021

fracassos quem os não tem

Chove intensa e intermitentemente. Fechado no cubíco, protegido da intempérie porem não de mim, vagueio por caminhos passados em passos anteriormente dados. Arrepio-me duma lembrança. gargalho com outra e lembro-me das tantas vezes que tentei, doutras tantas que fracassei, umas bem e outras ainda melhores. Nos fracassos aprendi, nas vitórias festejei, por isso e por cada fracasso eu melhorei e tivesse eu tentado tantas outras muitas vezes e não estaria aqui a cantá-los.
Se me apetece partir a cabeça a vagabundear por estes momentos menos bons da vida? Sim. Claro que foram eles que me ensinaram a ser, a olhar o tempo como tempo e ao modo como tal.


Sanzalando

4 de março de 2021

irónico

Nem assim nem assado o tempo não desembrulha. O tempo não tem culpa porém eu culpo-o porque não me apetece ficar calado no em mim mesmo. Se o sol brilhasse, o casaco vestido dava para andar no meio de mim, das minhas imagens e memórias, dos meus pensamentos e estórias. Assim, apetece enrolar na manta e ficar de olhos fechados a gastar o tempo frio. Eu prefiro mil vezes a dor da nostalgia, o sabor agridoce da saudade ao marasmo deste estar cinzentamente sentado a gastar-me. Sinto uma agonia desgarrante, invisivelmente decapante, mudamente despedaçante a consumir-me neste inverno.
Eu sei, que estou a desgastar-me porque não aceito a realidade temporal desta tempestade que promete chegar mas não chega, deste ar de chuva que não cai, deste vento que venta inconfortavelmente. É irónico estando eu com tudo para ser feliz.


Sanzalando

#mangueira - 4 gerações home made


3 de março de 2021

festas do mar

Por ai começam as festas 3M. Mocâmedes, Mar e Março. Por aqui cinzenta-se o céu e com o sol desbrilhado caminho por paragens da vida por onde já fui. Andei por sítios para me esquecer de ti e em todos eles eu vi um bocado de ti. Fugi-te e em cada lugar aumentei-te em mim. 
Será que tu te lembras de mim? Será que eu deixei-te alguma coisa para que possas lembrar-te de mim? Eu sei que se algum dia pudesses ler o que eu escrevi na minha mente, o que pensei ou imaginei, ias sorrir e dizer-me que nunca devias ter deixado partir.



Sanzalando

2 de março de 2021

#comida


a primavera ao fundo

Vá, despede-te inverno. Quero ver a primavera sorrir no seu brilho de hemisfério norte. Já estou cansado de tempo cacimbado. Estou saturado de ar cinzento casmurro. estou cansado de mostrar o lado frágil do meu coração, de viver no taciturno ar de auto destruição. Vem primavera com o teu ar revolucionário, ar gingão porque estou com vontade de desfrutar o brilho do sol enquanto me arrependo dos tempos perdidos num passado que já nem recordo.
Vem lá primavera, trás o teu sorriso florido, o teu ar de criança e salva-me deste propósito humano de destruição porque o tempo não é de feição.


Sanzalando

1 de março de 2021

branqueando

Hoje tomara que chova. Acordei com vontade de ficar aqui sentado a olhar pela janela e ver o inverno passar. Aparentemente não sei qual a razão pelo que não me quero contrariar e ficar em casa só porque sim. Se chover já posso dizer foi a chuva de inverno que me confinou. 
Daqui consigo imaginar a praia deserta, o barulho das ondas do mar se espraiando na areia, trazendo-me lembranças dos tempos antigos, quando nós crianças pulávamos sobre elas neste mês de março.
Eu sei que o tempo passa rápido, o inverno daqui a pouco primavera-se e eu para matar a saudade vou morrendo de amores. Num piscar de olhos o tempo passa, passa-se e eu, cabelos ao vento, braqueando-me.


Sanzalando

#lugaresincriveis


#zulmarinho


#lugaresincriveis #lagos


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