A Minha Sanzala

no fim desta página

30 de novembro de 2023

beleza natural

Liberto de amarras, físicas e mentais, deixo-me ir ao sabor da vontade como que passeando num ao calhas mental.
Às vezes vou ver o mar, da falésia ou da praia, qualquer dos sítios posso dizer que é encantador e chega a ser relaxante. A vastidão do mar, o som das ondas e a brisa sempre presente, criam essa atmosfera tranquila, revitalizante e até apaixonante. Dependendo da hora do dia a miríade de cores embelezam um mental quadro que vai do azul celeste ao fogo laranja do pôr-do-sol.
Cada pessoa tem a sua hora e o seu lugar, a sua experiência única ao contemplar o mar.
É a beleza natural.



Sanzalando

29 de novembro de 2023

livre sou

Sigo as palavras como se elas fossem um caminho por onde navego sonhos e outras divagações. Por aqui vou mantendo a calma porque é assim que as palavras atingem o mais profundo do seu significado, a sua essência é mágica e a comunicabilidade chega ao ponto alto. A calma não é uma opção, é uma certeza. Na clareza das palavras se transperentizam sentimentos, emoções e desejos. Palavras pensadas, calma e serenamente ditas vão mais longe do que o interior de quem as pensa. As minhas palavras são soltas, saem dos meus abraços, soltam-se ao vento até se perderem no eco. 
Não deixo os meus sonhos e divagações se perderem no silêncio, no quarto onde durmo ou nos passos silenciados dum caminhas solitário. Escrevo-os para que eles se libertem, voem, se soltem e se sintam livres de serem ou não realizados. Livres sonhos e divagações livre sou.



Sanzalando

28 de novembro de 2023

sonhos e birras

Ouço uma música suave e vou pelos caminhos dos sonhos como quem vai flutuando num mar de ilusões. Algumas vezes a minha parte infantil, a criança existente dentro de mim, deseja sair e chorar por tudo o que não chorou quando devia, pelos julgamentos feitos ao longo dos tempos, pelas proibições sofridas, pelos gritos calados, pelas injustiças injustificadas. Mas eu, o adulto, repreendo-me e reprimo-me porque entendo que a idade do já era se foi e esses pequenos detalhes prescreveram nas coisas positivas que significativamente lhe foram dadas à criança interior. A realidade devolve-nos às prestações e nos enche o coração de brilhantes brinquedos imaginários para nos felicitar e nos tornar seres felizes. Esqueço as birras e levo-me ao jardim da imaginação andar de baloiço e escorrega, de carrossel e comer algodão doce num ar de felicidade interna.



Sanzalando

27 de novembro de 2023

do passado ao presente

Até ao presente eu me tenho sentado a olhar esse zulmarinho e vagabundado por pensamentos, sonhos e desejos como que eu precisasse filmar o conteúdo da minha memória.
De verdade que os sonhos são símbolos de aspirações, de esperanças ou desejos. Os meus filmes são palavras que associo ao mar angolano, num remetente de ligação profunda, numa cultura histórica que vem desde a placenta até aos sessenta. Esse mar não é mais a fronteira ocidental, física e intransponível mas é a minha real ligação de oportunidade e vivência ao solo natal.
Os sonhos poderiam ser apenas expressão poética dos meus devaneios, as imagens dos meus desejos e quereres, porém são mesmo o somatório do meu passado num chegar até hoje, dinâmico e variado na metáfora marítima da minha juventude.
É importante notar que várias vezes quis sair desse registo sendo que a interpretação de cada um pode variar e o contexto da expressão é inevitavelmente ligado a Angola. Hoje quero sair, uma vez mais. Quero deixar os sonhos e desejos para uns momentos esporádicos e queria ficar num texto livre, actual, recente, criativo e ao mesmo tempo divertido. A minha diversão é fazer filmes de palavras, com cortes e montagens ao meu gosto e sabor.
Vou tentar e ver como me safo nesta aventura...


Sanzalando

25 de novembro de 2023

esse mar

Eu que conheço tão pouco a minha terra ando por aí a passear na terra dos outros que são mais outros que eu. Agora vou passear pela minha terra através da boca ou da escrita dos outros, através das fotografias dos outros. Mas antes assim que cristalizado nas ideias da memória que o tempo tenta apagar e que a realidade vai transformando.
Na minha terra o mar dança ao ritmo das marés numa sinfonia de marulhar na areia branca de muitas cores. Tem lugares de águas mornas e outras mais frias que as até arrepia só de pensar que o frio delas é o quente da terra dos outros. Quando olho qualquer mar eu vejo o que me chega no sabor das correntes o perfume, o calor e a simpatia da lá.
E quando se põe o sol e o céu fica parece é fogo de uma queimada que não arde? Esse mar é mais que um sustento, é mesmo a ligação do meu passado com o meu futuro neste presente.
Neste mar que um dia baptizei de zulmarinho conto as minhas estórias tantas vezes em silencio e meditação.


Sanzalando

24 de novembro de 2023

carta que não escrevi

Hoje, quando chega a hora do pôr do sol, recordo os dias que passeamos e se mistura bué de emoções dentro da minha cabeça, parece é comboio a vapor a subir a serra. Não sei se consigo te dizer em palavras os sentimentos sentidos por mim naquela altura em que os nossos caminhos se foram separando.
Sei de cor o brilho dos meus olhos polidos pelas lágrimas, a forma do teu sorriso sem sorrir e a aspereza do teu semblante a me fitar como quem corta uma corda de amarração.
Nunca tivemos passeios de mãos dadas nem sei se tivemos conversas profundas que durassem mais que alguns minutos. Não me lembro se alguma vez calhou estarmos assim de olhos nos olhos a escrever silêncios entre nós. Não me recordo de nenhum capítulo que tivéssemos trocado juras de amor ou eternos planos de futuro. Será que ficou escrito nas nossas almas algum tratado de distância ou memorização?
Às vezes penso nos ses da vida se não nos tivéssemos separados daquela forma e tivéssemos seguido a trajectória planeada segundo os teu parâmetros. Como posso eu saber como teria sido a minha vida sem a rudeza daquele teu olhar naquele dia?
Como eu te posso dizer que todos os meus silêncios são diálogos contigo? Como eu te posso recordar a cumplicidade dos nossos sonhos de criança? Como eu te posso mostrar as cicatrizes da minha alma?
Será que te lembras das estrelas do nosso céu? Do sabor do nosso mar, lembraste? Dos passeios de fim de tarde, recordas-te?
Os nossos destinos seguiram rumos diferentes, os nossos tempos foram tempos diferentes, os nossos olhares olharam coisas diferentes.
Te desejo alegria e amor para sempre.
Com carinho até ao dia que o cruzeiro do sul virar norte



Sanzalando

23 de novembro de 2023

zulmarinho desamor

Sentado na areia da praia, mais ou menos onde estará o chapéu de sol cor de laranja que daqui a pouco, adivinho, vai chegar, envolvo-me no sabor salgado da aragem que sopra e vagueio por desejos que se traduzem no simples abraço que queria dar. Esqueço-me que não sabes que eu existo, que a minha grandeza não tem comparação com a tua e só esta capacidade de sonhar faz com que a brisa do mar me leve para os teus braços.
Talvez no crepúsculo, quando o sol estiver a se deitar para lá da linha recta que se curva tu te recordes de me olhar, sorrires e dar oportunidade de me ver e sentires o que eu sinto..
Ver o zulmarinho e sonhar, uma actividade contemplativa que não é mais que uma celebração de amor que nem as sombras de chapéus de sol, barracas ou toldos, ruídos de gente saltando, correndo ou brincando nesta areia me faz despertar.
Quando tu aqui chegares o marulhar virará calema dentro de mim e a brisa marítima se tornará ciclone, os meus olhos verterão água salgada porque mais uma vez não saberás da minha existência e a fronteira seca do teu olhar será o meu muro de lamentações.



Sanzalando

Machu Picchu 2022


Sanzalando

2 Dedos de Conversa - MEMÓRIAS DE UM REFUGIADO COM RÓTULO DE RETORNADO, ...

Sanzalando

22 de novembro de 2023

zulmarinho desejado

Me sento nos hexágonos da marginal, sem cana de pesca, linha ou anzol. Sou estou aqui a ver o zulmarinho e contemplar os meus sonhos que se estendem por ele e dançam ao sabor das ondas. Transcende a minha capacidade de sentir porque é um espetáculo de rara beleza e muito mistério. O marulhar é a banda sonora, melodia que me acalma e me convida a meditar.
Ao olhar para o infinito que daqui vejo, lá onde o céu toca no mar tem uma resma de sonhos e desejos, de visões e quereres, promessas de recomeços. Só esse mar para me fazer ver o que sou no meu imaginário, sem limitações ou prisões sentimentais ou materiais.
E o sol, fiel companheiro desse zulmarinho, pinta no mar reflexos que desenham a cor de ouro os contornos dos meus desejos e sonhos. Momento mágico que não palpável porém vivido, que realizo sonhos que a natureza embeleza.


Sanzalando

21 de novembro de 2023

a minha cidade

Quantas ruas tem a cidade? Nunca lhes contei e agora seria batota porque ela cresceu sem meu conhecimento. Eu já não tenho a cidade que era minha e que eu a percorria com as minhas sandálias feitas pelo Estregildo, com os meus calções feitos pelo sr. Lucas. Eu não apaguei nenhum registo mas não me apetece agora acrescentar os novos registos. Prefiro ficar mesmo parado naquele tempo em que eu conhecia a minha cidade. Se ia no carro com o Bacharel, se ficava na esquina a ver se o boca de sapo ia passar, se ia na praia com os chinelos de pneu feitos pelo Acácio, o empregado doméstico do Sr..Eng. Armand Martins, e que ele diz serem Nonkakos e eu assim decorei. É essa cidade que eu gosto que tinha os pastei de nata da Oásis, os gelados do Lã, os cachorros quentes do sr. Ferrão, a ginguba do Camonano, as ferragens do Passa Fome, os remédios da farmácia do Teles ou os aviados pelo Figueira. Da cidade dos versos do Zé Côco no semanário da cidade, a lotaria do Bauleth, os rebuçados da Mercearia do Sr. Jorge ou o pão do PapoSêco, os livros da Mirabilis ou os da Regina, as canetas do Couto ou da Drogaria do Rosa.
Quantas casas tinha a cidade? Nunca lhas contei e não é agora que as vou contar.
Meu amigo vai dizer que eu vivia no mato e ele na cidade, mas eu gosto é da minha cidade que tem três carreiras de autocarro, não tem engarrafamentos e ninguém se atrasa por causa do trânsito. 
Se calhar a culpa é minha por ter visto amor nesta cidade.



Sanzalando

20 de novembro de 2023

Corim Tellado

Sento-me na cadeira de baloiço do meu avô, olho o quintalão e a casa da vizinha e me embalo em sonhos de adolescente apaixonado faz de conta é uma revista de Corin Tellado, uma fotonovela que eu lia quando ia com a minha mãe à Cabeleireira dela, à D. Carlota. Eu era paixão que via em cada fotografia daquele tempo que ali estava. Entretanto passaram-se anos desde essas leituras românticas, tantos foram eles que eu cá penso que foram dias. Mais ou menos assim como que o tempo não passou. Parou na memória e gravou os fotogramas dos tempos idos. Muita vida passou na minha vida, tanto que eu tenho uma vida antes de e outra depois de e elas não se misturam, embora eu as viva em simultâneo. A paixão de então é a paixão de então e nada tem a haver com as novas paixões. Não desconstruo para reconstruir, vivo-as. Impossível esquecer pelo que é melhor vivê-las. O tempo não as apaga e o baloiço suave da cadeira do meu avô não me esmorece nem entristece, suaviza-me o recordar e ameniza-me o reviver.
A vida não é simples, nem fácil. É vida ela própria. Eu sentado na cadeira a ver a minha mãe com rolos na cabeça e esta enfiada no ovo do secador, ensurdecendo com o sopro do vento quente e eu a ler Corin Tellado. Quantas vezes eu já peguei nesta revista? Tantas quantas as que acompanhei a minha mãe à D. Carlota. Quantas vezes eu me agarrei à estória e colei nesta minha adolescência a olhar para a vizinha que mora para lá do quintalão?
É, a leitura tem destas coisas, nos influência, nos molda culturalmente, e hoje revivo essa estória do antes de, como se ela fosse dum agora.



Sanzalando

19 de novembro de 2023

silêncios

Me deixo por aqui num vaguear de sonhos e desejos, olhos postos num horizonte sular, num ponto e virgula da vida, numa exclamação interrogativa das duvidas existenciais e concluo que foram lindas as etapas da vida vivida. Houve momentos incríveis, outros interessantes, alguns apenas de aprendizagem, outros sem essência, aperfumados, desconseguidos mas mesmo assim recordados pela sua inqualificável significância.
Voa vagabundar-se em silêncios que por o serem não têm palavras.


Sanzalando

18 de novembro de 2023

dor de saudade

Estou sentado sob as casuarinas ao lado do Clube Náutico. Me apetece ficar na sombra deste verão imaginário que me aquece a alma, ao mesmo tempo que vejo o comboio que vai no porto buscar carga que deve ser para levar lá no planalto. Ao lado ninguém está a jogar ténis. Me refugio, me protejo, me distraio e ao mesmo tempo vou pondo à superfície mental a minha vida em tempo real, sem falhas de passado a amarrotar um qualquer futuro ou um presente esquecido na lembrança apagada.
Será que tem bebida, comida ou carícia que apague a dor da saudade? Mesmo que seja a saudade da gente mesmo? Mesmo que seja a saudade imaginária?
Aqui sentado, perfumado de resina, me dizem é pinheiro, eu sei é casuarina, deslembro de pensar no dia de amanhã, esquecer a embriaguez do futuro sem as memórias do passado.
Aqui sentado, sob as casuarinas eu poderia dizer mil vezes que te amo porque o comboio a diesel não te ia deixar ouvir, por mais que eu gritasse.
Aqui sentado, ainda consigo imaginar-te a jogar ténis do outro lado da rede mal escondida pela trepadeira, respiro resina com perfume de pinheiro, vejo os comboios a passar um de cada vez e ainda aqueço a alma com o imaginário reinventado dos sonhos de menino que amenizam a dor da saudade. Aqui me deixo levar por sonhos vividos em cada segundo do meu passado. Aqui não tenho medo de não ter futuro neste presente.



Sanzalando
11-02-2012
revisitado

17 de novembro de 2023

aqui sentado

Me sento na escadaria do tribunal e deixo os meus olhos percorrerem toda a Avenida da Praia do Bonfim. Recordo só assim um domingo de tarde em que os mais kotas vão fazer da avenida o picadeiro de passeio em fim de tarde. Os mais kotas, as filhas e nós que ficamos sentados nos canteiros a ver a moda passar. com olhos de paixão.  Mas aqui sentado eu começo a fazer um filme na minha cabeça. O teu boca de sapo ainda não passou aqui mas eu já fervilho. O meu amor é assim como que um semba, para não dizer uma sina compassada de tons ritmados, ao ritmo do coração. Se eu soubesse escrever música eu ia dizer que tinha uma pauta de teu nome no meu batimento cardíaco. Se eu conhecesse eu ia te dizer que aos meus olhos tu eras uma praia do Mussulo, água cristalina e quente paixão, mas eu nunca deixei o meu sul e só posso dizer que és a água fria do meu pica-pica cardíaco.
Aqui sentado na esperança de te ver passar eu já imagino o calor de um abraço teu que nunca irei ter. És o meu porto seguro, seja só Amboim ou Alexandre, os portos que eu me lembro, porque da tua gália eu lhes desconheço. Serás a minha princesa planáltica do Lubango que me viu nascer e me descarregou aqui nas areias do deserto para eu te conhecer. Acasos do ocaso que agora me lembro. 
Aqui sentado, recordo tanto que até danço na pista da vida uma música que nunca fizemos.



Sanzalando

16 de novembro de 2023

sou assim e depois

Eu mesmo sou assim e vou fazer mais como para deixar de ser? Mudar sem mudança na essência tem coisa difícil de conseguir. Eu também tenho vários problemas comigo. Tem coisas que não me gosto e vou fazer mais como para mudar. Cinzentou o cabelo além de começar a rarear que até parece uma manifestação sem adeptos. Vou pôr peruca daquelas de cabelo castanho claro ou preto negro de mais preto que carvão? Me olho no espelho e vejo este jovem com cara de mais velho parece é nascido faz mais anos. Me vou fazer mais como? 
Adaptei os olhos ao que me vejo, sorrio e logo me vejo como eu gosto de me ver, sem necessidade de me encher o saco com dialéticas inconclusivas.
Sou mais ou menos assim: que quando me chamam eu vou, quando me olho já cheguei e quando chego acho não devia.
Vou mudar para agradar mais a quem sem ser a mim mesmo? Me deixo estar sentado a ver o mar e olhar para lá do meu mundo.




Sanzalando

15 de novembro de 2023

PROFESSOR(A)

Faz muito tempo, no tempo em que eu andava de calções novos feitos com as calças velhas do tio ou avô em que ir na escola era um frete. Tem pouca gente que isso não é verdade, na verdadeira verdade da palavra. Mas hoje, passado tempo sobre esse tempo toda a gente está marcada por esse tempo. Depois, já de calções transformados em calças, em que os calções não era moda e fazia a gente querer ser mais crescido que esse tempo, além das aulas do dia a dia ainda tinha a noite dentro para marrar livros e apontamentos, principalmente em certas alturas do fim do ano escolar que não era ao mesmo tempo que o fim do ano propriamente dito. e aí a gente já sentia outra vontade, embora houvesse quem mantivesse a vontade de antigamente. Outros poucos também. A verdade era que ninguém gostava do puxão de orelhas público ou a caracterização analfabética perante uma plateia de compinchas concorrentes da época. Então nas épocas dos exames ou simples testes ou chamadas orais, se esquecia o sono e era noite dentro fazer o que não se tinha feito no mês anterior. Independentemente do professor era o livro a importância maior da noite que nos transformava de crianças em adolescentes arrependidas das cabulações mensais.
O professor, normalmente personagem brincada no recreio e nas tertúlias inter-testes, passava a ser o monstro que nos obrigava a saber as coisas da chamada cultura geral. O professor ensinava durante a aula e a gente esquecia no intervalo. Ciclo vicioso que se quebrava na véspera do teste ou exame. A gente nunca se lembrou que o professor não estava só a dar a aula, estava a ensinar cultura para a vida. Hoje me lembro tanto dos professores que até dá vontade de voltar atrás e lhes pedir desculpa das brincadeiras feitas nas salas de aula e reviver tudo de outra forma. 
Tinha professores que nos obrigavam a ser do seu jeito embora a gente se esquecia que nos portávamos do nosso jeito e isso desequilibrava a paciência desse adulto que queria nos moldar.

Sanzalando

14 de novembro de 2023

dor

Como dói o passado não ser presente e o futuro esquecer o passado. Como dói eu não ser o que desejo ser quando o quero ser. Ardem-me os olhos das lágrimas que já chorei e me secam-se os lábios com os beijos que não dei. Dói-me o peito dos amores que amei, dói-me a alma dos segredos que guardei. 
Sabes, não me dói ver as cinzas da juventude voarem sobre os ventos da idade. Não me dó ver as memórias serem esquecidas, fruto do peso da idade. 
Dói-me o medo de não ver mais vezes as miragens do deserto, de não sentir os frios das noites longas dos descampados areais por onde andei.
Não me dói o silêncio nem a solidão.
Dói-me a loucura  das palavras ditas sem pensar, dos gestos feitos sem reflectir e das acções irreflectidas dos que passam na vida sem darem por ela.
Não me dói amar. Não me dói ver-te. Não me dói sonhar-te.
Dói-me a tua lágrima, a tua solidão e o teu silêncio. Dói-me ver-te sem brilho a navegar num mar insano sem destino nem rumo.
Meu doce amor não dói.



Sanzalando

13 de novembro de 2023

mar

Me deixo embalar ao som do zulmarinho. Calmeiro tempo de frio e ele ali sereno que nem uma onda parece que esboça. Eu se me deixasse a olhar eu ia ver parece-me uma aguarela azulinha vista desde aqui. Para ele eu sou invisível, inexistente ou um deixa para lá que há muitos. Para mim ele é um mais que tudo, a minha ligação ao outro canto do mundo.
Me deixo levar na musicalidade dos sons e silêncios deste lugar como se o seu som fosse um abraço que me abraça.
Eu sou mar, eterna paixão.


Sanzalando

11 de novembro de 2023

a gente tem, precisa é encontrar

Tem dias a gente acorda e diz que vai limpar a cabeça, vai esvaziar o coração e tudo vai recomeçar do zero. Conversa fiada. Tudo que ficou para trás está gravado que nem tem mais lixivia para limpar. Grudou na alma parece é tatuagem, queimadura de ferro em brasa. Não há forma de zerar o conta quilómetros da vida. Recomeça partindo dos pressupostos anteriores, das alíneas corrigidas e várias retificações. É começar a olhar sem comparar, é dar sem esperar receber e viver sem pensar em ser grande. A gente é do tamanho que é e a gente tem tudo para trás para aprender. A gente sempre encontra um bocado de beleza na gente. Precisa só procurar.


Sanzalando

10 de novembro de 2023

eu mesmo

Me sento por aqui e deixo o meu cérebro caminhar por aí. Vagabundo-me perdido no espaço e no tempo, sem pressa de chegar, sem tempo a contar e sem prisões para me limitar. Vou só assim, de pensamento em pensamento e verifico que é tão bom que as pessoas mudem, que as feridas sarem e as dores desapareçam. É tão bom olhar e não ter limites para o pensamento, encher o peito de ar num inspirar profundo e dizer que bela vista tenho desde aqui, mesmo que de olhos fechados consiga ver o poder da imaginação.
Me sento por aqui e não sinto saudades dum abraço, dum olhar ou simplesmente dum sorriso porque os tenho dentro dos meus pensamentos. Melhor para mim do que eu?


Sanzalando

9 de novembro de 2023

let it be

Ponho o rádio a tocar num som baixinho, ouço-o e isso é bastante. Não preciso de tremer, vibrar ao som da música. Ouço-a de forma melodiosa e se calhar também melancólica. É uma música dos meus tempos de adolescente, da discoteca da Igreja ou do Cardin ou só de ouvir no rádio. Não me canso de ouvir essa melancolia. Faz parte do meu amor, da minha existência. Eu levo-a por onde quer que vá mesmo que o rádio tenha ficado em casa. Lhe levo na alma. è a minha forma de estar na vida, o meu caminhar, o meu bálsamo, o meu antidepressivo. É essa música o meu antidoto para os males da vida. A vida tem males, engasga-nos, nos rasteira, nos entristece nos tira as estrelas cintilantes do céu. Essa minha música nos trás o sorriso, nos trás a saudade e a vontade de futuro. 
São as coisas boas da vida, ela mesmo: a vida. A vida tem música, mesmo que às vezes a gente não a consiga ouvir. 

Ouve essa música dos Beatles: Let it be

When I find myself in times of trouble, Mother Mary comes to meSpeaking words of wisdom, let it beAnd in my hour of darkness she is standing right in front of meSpeaking words of wisdom, let it be
Let it be, let it be, let it be, let it beWhisper words of wisdom, let it be
And when the broken hearted people living in the world agreeThere will be an answer, let it beFor though they may be parted, there is still a chance that they will seeThere will be an answer, let it be
Let it be, let it be, let it be, let it beThere will be an answer, let it be
Let it be, let it be, let it be, let it beWhisper words of wisdom, let it be
Let it be, let it be, let it be, let it beWhisper words of wisdom, let it be, be
And when the night is cloudy there is still a light that shines on meShinin' until tomorrow, let it beI wake up to the sound of music, Mother Mary comes to meSpeaking words of wisdom, let it be
And let it be, let it be, let it be, let it beWhisper words of wisdom, let it be
And let it be, let it be, let it be, let it beWhisper words of wisdom, let it be


(Quando me encontro em momentos difíceis, Mãe Maria vem até mim
Falando palavras de sabedoria, deixe estar
E na minha hora de escuridão ela está bem na minha frente
Falando palavras de sabedoria, deixe estar
Deixe estar, deixe estar, deixe estar, deixe estar
Sussurre palavras de sabedoria, deixe estar
E quando as pessoas de coração partido que vivem no mundo concordam
Haverá uma resposta, deixe estar
Pois embora eles possam estar separados, ainda há uma chance de que eles vejam
Haverá uma resposta, deixe estar
Deixe estar, deixe estar, deixe estar, deixe estar
Haverá uma resposta, deixe estar
Deixe estar, deixe estar, deixe estar, deixe estar
Sussurre palavras de sabedoria, deixe estar
Deixe estar, deixe estar, deixe estar, deixe estar
Sussurre palavras de sabedoria, deixe estar, seja
E quando a noite está nublada ainda há uma luz que brilha em mim
Brilhando até amanhã, deixe estar
Acordo ao som da música, Mãe Maria vem até mim
Falando palavras de sabedoria, deixe estar
E deixe estar, deixe estar, deixe estar, deixe estar
Sussurre palavras de sabedoria, deixe estar
E deixe estar, deixe estar, deixe estar, deixe estar
Sussurre palavras de sabedoria, deixe estar)

Sanzalando

Hoje na Rádio Portimão


Sanzalando

8 de novembro de 2023

Cusco Perú 2022


Sanzalando

foi um adeus eterno até agora

Sentado a olhar o zulmarinho, nesta parte curva da baía, olhos postos no horizonte como que à espera de um abraço ou de um ar de sua graça, de sentir o seu calor ou arrefecer no seu cacimbo. 
Já não consigo encontrar na minha memória o registo do teu rosto pois o tempo foi passando, as rugas te foram aparecendo e nesta que me resta ainda estás com aquela cara de jovem que não sorri, que não mostra o que sente apesar de saber que fez ferida no pobre vizinho da casa ao lado. 
Como eu posso me lembrar de ti se passaram tantos anos que o cruzamento de olhar se evaporou na frieza do teu ver-me. 
Lá, no início desta vida, onde faz calor ou cacimbo, dissemos um adeus que dura no até hoje, passado anos que já perdi a conta. O que a vida me deu nessa altura, a alegria e a felicidade ninguém me tira. Nem a música que ouvíamos vezes sem conta me faz esquecer que um dia dissemos adeus para sempre. Não fomos feitos para viver em primeira mão, para viver perto ou para sofrer longe. Desistimo-nos mas sem nos esquecer. Encontrar-nos-emos num breve dalgum lugar desconhecido em que olharás para o lado sem dizer que me viste. 
Nem tu nem eu alguma vez sentiu um vazio no coração, a partida foi querida, desejada e um ao outro foi vendo a distancia a crescer num até hoje interminável.
Cumpriste a promessa de nunca me falar, de procurar ou dizer olá. E eu me obriguei contrariado a fazer o mesmo, olhando apenas para a memória, para as palavras escritas nas folhas soltas da recordação.
Sendo que é impossível voltar ao passado, rasgar o tratado não escrito porem assinado na razão mental de cada um, não consigo esquecer que antes de adormecer te recordo, que nas minhas palavras soltas o teu ar de não sorriso, os teu porte altivo e o teu desejo de crescer e ser gente me acompanha. Vou fazer mais como sem faltar respeito a um tratado assinado e consentido, por ambas as partes aceite?
Na marginal o zulmarinho se estende calmo, no meu íntimo transparece tranquilidade vivo contente e feliz mesmo depois desse tal adeus eterno que um dia dissemos.




Sanzalando

7 de novembro de 2023

espero

Tem dias que fico á espera feito ingénuo e se calhar com cara de parece que é parvo. E que espero eu? Quantas vezes nem eu sei. Tem vezes que é um sorriso, outras uma palavra ou um cumprimento e a maior parte das vezes de um olhar. 
Quantos sorrisos guardo na memória? O teu, o dela e o dele, e daquele outro e outra. Um brilho de olhar um esboço de sorriso. 
E às vezes eu fico à espera em vão, que não é de escada nem escalada para um sofrimento que não sofro. É só porque esperei com cara de parvo e ar ingénuo. 
Não me fazem falta porque os tenho de sobra, mas espero sempre e me atormento no momento porque não gosto da minha cara de parvo.



Sanzalando

6 de novembro de 2023

crescer

Me sento aqui a olhar sem ver o mundo, a sentir sem tocar a essência deste mundo. Bebo uma cerveja gelada como quem sonha com o ideal feito festa, esquecendo as lágrimas tristes que se chora no silêncio da intrínseca vida de cada um. Vejo o horizonte e sorrio sem saber se de tristeza ou desolação. Na verdade a cada minuto que passa e eu cresço e eu sei mais sinto que perdi alguma coisa. Aos poucos vou perdendo aqueles que me afagaram quando eu era uma criança, os que me apararam as quedas enquanto fui crescendo e me mantiveram a salvo de tantas tormentas e adamastores. E não é que até hábitos vou perdendo? E depois digo que estou a crescer e a saber mais?!


Sanzalando

3 de novembro de 2023

mundo

Olha só como é lindo o mundo visto daqui para o horizonte. Esquece os ruídos, os pós e as guerras, a fome e a sede, o bom e o mau. Faz de conta estás aqui sozinho no meio deste vasto campo de visão, o teu horizonte real e momentâneo. É lindo e silencioso. Esquece as borboletas, o cantar dos pássaros, as gargalhadas, as lágrimas e as dores e vê só como é lindo. 
Te encontra só nesse recanto de olhar, tudo parece ter harmonia. Confia só em ti e vais ver o equilíbrio que se instala através desse olhar. Não tentes aliviar dores alheias sem aliviares as tuas e admira essa beleza de vista.
Agora, devagarinho acorda, olha em toda a tua volta, pensa e imagina como é possível estarem a destruir tudo o que daqui a tempos não verás.


Sanzalando

2 de novembro de 2023

minha caixa de tesouro

Daqui onde me sento o horizonte parece um já ali. Olho-o e lhe desejo chegar perto, como se tivesse vontade de largar este lugar e caminhar por aí fora até lá. Se me perguntares porque eu nem sei como te dizer. Só apetece ir ver o horizonte de perto. Como é que eu te vou dizer que às vezes custa comunicar o que sinto porque eu mesmo não entendo o que sinto. Se calhar eu preciso de alguém com muita paciência para me traduzir este silêncio sentimental, esta gritaria surda dos meus pensamentos.
Aqui, onde o horizonte é um quase ali, lhe sinto como esse futuro que me segura a alma e me aperta o coração. Acho que nesse horizonte eu vou guardar todos os meus passados como se ele fosse uma caixa de tesouro.



Sanzalando

1 de novembro de 2023

os eus

Me deixo estar aqui sentado a pensar  como vou dar a volta ao meu escrever. Na lógica eu sou assim e vou mudar mais como e porquê? É que às vezes eu me sinto cansado de me procurar e num tem como me achar de outro modo. Às vezes eu até que gostava de ser de outro modo. Tás a ver assim rezingão como aquele um dos sete anões? Ou ser como o outro e falar apenas silêncios. Mas na minha essência eu não ia ser mais eu e ia ser outro e ficava difícil fazer diálogo entre esses dois.eus.
Uma birra, um silêncio e um copo para três. Os dois eus e mais algum que entretanto apareça. Afinal de contas eu vivo naquela linha assim quase que invisível do não dizer nada para evitar o conflito ou dizer tudo e desconflituar num encolher de ombros, porque a vida é só conflito, interior e exterior ao nosso eu.


Sanzalando

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