A Minha Sanzala

no fim desta página

31 de agosto de 2012

Parado para balanço

Pelo sim pelo não, por algum talvez ou apenas porque sim me apetece parar de escrever. Parei aqui num até sem fim, sentido ou hora marcada. 

Sanzalando

29 de agosto de 2012

palavras bonitas

Percorri ruas, inventei carreiros, sentei-me em beirais e descobri passeios apenas para te falar. 
Tem dias que não consigo falar nem metade das palavras bonitas que eu gostava de te dizer. Aquelas palavras que apenas tu entenderias, que só tu saberias ler nas entrelinhas, que só tu poderias saber o significado dos silêncios e os códigos dos meus tiques, quando as palavras parecem não ter significado.
Mas a verdade é que dizer palavras bonitas não depende apenas de nós. Tem a sintonia. Tem a harmonia. Tem o tempo certo de ter tempo para trazer o tempo perdido. As palavras... os silêncios. Tu!

Sanzalando

28 de agosto de 2012

amor eterno

Acho estavam a nascer os meus primeiros pelos na cara e eu te prometi amor eterno de aço inquebrável. Acho escrevi na parede, cravei numa árvore ou apenasmente decorei na minha memória para nunca mais me esquecer. Eu sei que ao longo de outros tantos pelos eu fui apagando e reescrevendo promessas desse futuro. Me esqueci a parede, cortaram a árvore e a memória já não é mais como é que era. 
Sei só que chorei feito louco, afogado em amor, quando reparei que a eternidade tinha terminado. 
Hoje me passa uma tristeza fria no coração por assistir de longe À tua felicidade. Se eu conseguisse ouvir o teu sorriso, sentir o brilho do teu olhar, o ofegar da tua respiração... 
Cresceu a barba, caiu o cabelo e eu não me lembro mais da parede para ir lá a correr apagar definitivamente a minha escrita de eterno amor e assim tapar o buraco que ficou no meu coração.


Sanzalando

27 de agosto de 2012

me esqueci

Quantos anos eu tenho? Me esqueci. Me olho e estou vestido de calções que tem alças parecem suspensórios do mesmo pano dos calções. Acho o Sr. Olímpio cortou o meu cabelo à inglesa que já não me lembro mais como é que é. 
Que idade é que eu tenho? Me esqueci de verdade!
Tenho lembranças vagas como que assim vagamente eu me lembro de te ter abraçado. Sei foi um pouco mais que um décimo de segundo eu te vi, foi o tempo dum piscar de olhos. Me lembro que faz tempo eu ri parecia eu era feliz.
Se estou de calções, cabelo curto à inglesa, sandálias de cabedal... acho eu ainda não acordei num sonho qualquer. Vais ver ainda vou sonhar que tenho medo de ter crescido, se ainda não cresci vai virar pesadelo.
Acho vou chorar até me lembrar que idade eu tenho.
Acho vou chorar até saber onde estou.
Me esqueci. Quem é que eu sou mesmo?


Sanzalando

26 de agosto de 2012

errorre

Sanzalando
Me sento no passeio à frente da minha casa. 
Deve ser por ser Domingo à tarde que não está ninguém na rua. Cansaram na praia, estão a fazer os trabalhos de casa ou somente estão a descansar parece é Domingo de tarde. 
Vadiamente estou sozinho na rua e me pergunto porque é que eu não desisto e automaticamente me respondo porque não sei desistir.
Assim num logo de imediatamente sai-me outra pergunta que respondo quase sem ter tempo de pensar: porque é que não desapareço? eu não sei fazer truques!
Olho para ambos lados e continuo sem ver viva alma nas redondezas. 
Decidi, sem mais nem menos: vou atirar tudo para trás das costas e ser feliz. 
Como se atira tudo para trás? me esqueci de que não sabia responder a esta pergunta que me fiz


Sanzalando

25 de agosto de 2012

no clube náutico

Sentei~me na varada do clube náutico. Protegido do sol, do vento leste e da solidão. No silêncio da quase madrugada aproveitei para limpar a minha memória, apagar as minhas mensagens que não tiveram destino, matar os recados que não dei, estrangular as esperas que de mangas arregaçadas deixei apodrecer na minha solidão.
Sentado na varada do clube náutico, imaginando a ouvir a Pauta risquei todas as opções que marcaram-me o coração e agora estou pronto para mais do mesmo como é hábito.


Sanzalando

24 de agosto de 2012

Reflexões facebookianas 22

Se não fosse por amor, não teria planos, nem vontades, nem ciúmes, nem coração magoado, nem mau feitio e nem sorria para te ver sorrir. JCCarranca reflectindo enquanto contorna uma rotunda a passo de caracol

A vida, quanto mais vazia, mais pesa na consciência. JCCarranca reflectindo enquanto tenta arranjar tempo para respirar

Eu chorava como se  a minha dor saísse com as lágrimas. JCCarranca reflectindo enquant0 tira a folha de hortelã do cocktail 

O maior erro que posso cometer é ficar o tempo todo com medo de cometer algum. JCCarranca reflectindo enquanto olha para o termómetro

Sempre nos fecham os olhos quando morremos mas ninguém nos abre enquanto estamos vivos. JCCarranca reflectindo enquantoprocura uma aspirina

O mundo precisa de gente apaixonada por si própria. JCCarranca reflectindo enquanto conduz sem destino aparente


Sanzalando

de mão dada

Passeio à beira mar. Às vezes parece vou a dançar ao som do marulhar. Gingo o corpo numa festa de quem foge da água fria. O corpo aquecido do sol se arrepia do gelo da água. 
Eu passeio à beira mar enquanto escrevo na memória palavras escritas à pressa. São palavras que saem dos dedos e se atropelam na memória à falta de papel. Coerência? Concordância? Sem sentido? Não importa. São apenas frases que intercalam as linhas dos sentimentos escritas em letras cor de sol e sabor de sal.
Eu passeio à beira mar escrevendo frases na memória como quem olha no retrovisor do passado, como quem recorda um amor separado no espaço, de tempo e distância, como quem saboreia um beijo adolescente gravado na memória como o início da vida.
Passeio na praia de mão dada com a saudade.

Sanzalando

21 de agosto de 2012

na praia ao sol

Estou na praia. Sei ainda não é calor de sufocar, de escaldar ou até morenar. Mas aqui o marulhar me deixa sonhar palavras, ideias e sonhos verdadeiros que um dia podem ser realidades. Em toda a minha volta está um vazio. Ninguém madrugou do hábito do é cacimbo. Assim me deixam até falar alto sozinho como eu fosse louco e surdo de mim.
Mas estou na praia, deitado a apanhar os primeiros raios de sol do dizem-me é calor. E sonho. E faço frases com palavras mentais. E tenho ideias que desenho na areia. E realizo sonhos mesmo que nunca os consiga ver.
De verdade disto tudo é que eu não gosto é de despedidas. Deixar para trás, ou deixar seguir em frente, quem me é importante, não é de facto um ponto forte para mim. Continua não sendo mesmo que eu me vá habituando aos poucos, à custa da repetição. Gosto mesmo é de quem vem e fica. De quem pode ir mas fica. De quem rouba sorrisos e os devolve ainda mais belos.
De verdade mesmo eu gosto é do eterno que acaba quando um morrer e não quando um diz fim só porque sim.
Estou na praia a apanhar os primeiros raios de sol.

Sanzalando

20 de agosto de 2012

faz conta

Faz conta cheguei do planalto onde fui visitar a família, onde fui vagabundear ideias e outros copos nas festas da Serra.
Cheguei e disse-me bem vinda seja a saudade. E espero que com ela não chegue outra vez a dor. Toda a gente fala de dor, de lágrimas, de saudade, de amor malvado e traiçoeiro, da dor da distância e etecetras mais não sei o quê que já não me apeteceu decorar.
Cheguei e comecei a fazer drama até que me olhei e pensei que não vale a pena sofrer se não é para morrer e isso eu não quero ainda. Para sofrer tem de ser por sofrimento verdadeiro, não mais de faz de conta que um dia vai passar. Sei que não sei ver o futuro e não sei qual a dor que me vai matar, mas que seja outra e não esta.
Saudade não é dor. Vá lá, pode ser dorzinha, faz parte do sofrer normal.
Cheguei do planalto e o sol já faz de conta quer brilhar baçamente no céu.
Cheguei e não vou procurar dramas. Jamais. Apenasmente vou-me lembrar suavemente de ti em cada segundo que passa.

Sanzalando

18 de agosto de 2012

rasgo de sol

Sol tímido rasgando o cacimbo como que a abrir uma brecha para me alegrar. Um vento me sussurra uma frase de Shakespeare que diz qualquer coisa como planta o teu jardim em vez de esperares que te ofereçam flores e eu sorrio porque ofereci tantas flores mentais que não sei onde foi que as perdi porque ninguém as recebeu.
Senti vontade de chorar mas nenhuma lágrima saiu. A tristeza se instalou afogando a esperança de alegria trazida pelo raio de sol que conseguiu abrir a brecha no cacimbo.
Olhei as flores que podia dar e deixei-as ficar no jardim que um dia vou plantar só para mim.


Sanzalando

17 de agosto de 2012

com sol

Caminho sobre a areia escaldante do deserto. Me apeteceu escrever escaldante para ver se esqueço o cacimbo que ainda teima em cacimbar. Mas se eu pensar é escaldante vou imaginar está sol e é nesses momentos assim que a vida da gente reflexos e sentimos o sentido real das coisas. No cacimbo tem névoa, cinzento céu de escuridão iluminando cinzentas ideias. Com sol a gente descobre as certezas e incertezas que a gente carrega nas costas. Com sol a gente revê princípios carregados nos oito meses sem brilho desse cacimbo. Mas hoje é escaldante a areia desse deserto e com sol a gente interage no seu próprio carisma e renasce na juventude que esconde na mochila da alma.
Com sol escaldante a gente cria filtros, brilho nos olhos e a saudade adocica-se.
Com sol escaldante a gente acorda e pensa que vai te amar até a flor de plástico te oferecida numa tarde de chuva mirrar.
Com sol a gente canta que amanhã será outro tomorrow.


Sanzalando

16 de agosto de 2012

sinto falta

Sinto falta de mim nos seus braços. Vem cá, sente a minha respiração. Ouve as batidas rápidas que meu coração dá. Estou aflito, com um certo medo de jogar tudo pelo cano e depois nunca mais ter notícias tuas. Mas eu preciso seguir, tu precisas seguir, a gente precisa ir. 
Para lados opostos até se encontrar num final feliz

Sanzalando

15 de agosto de 2012

acaba o cacimbo

Sentado na varada, na cadeira de baloiço do avô, olho o tempo carregado, mal enxergo o céu cinzento e deleito em pensamentos de entardecer num quase adormecer.
Me disseram que de calendário hoje termina o cacimbo. Assim sem mais eu vou guardar na mala os casacos, as mantas e outras coisas que me taparam neste frio e direi amanhã, te aguenta que o calor chegou.  Vais ver se o amor, aquele sentimento ardente, profundo e intenso que nos deixa cego, que realça qualidades e esconde defeitos, que nos faz sentir especial, continuar a me dizer que é cacimbo, eu lhe agarro, embrulho em lágrimas, lhe amarro em sorrisos, lhe atiro num vazio até ele ver que derrete no calor.
Eu vou mentir e dizer que nunca fui atacado desse mal e muito menos me fui abaixo por essa coisa. Na verdade é mesmo só o cacimbo que dói. Tenho-lhe medo pois os pensamentos podem me torturar e dizer que o cacimbo não vai acabar mais mesmo que digam que ele acaba oficialmente hoje.
Aqui na varada, abrigado pela sombra do Senhor Serafim, coberto pela ternura da D. Leovegilda, eu me revejo num mundo coberto de ternura, numa estória de encantar em que a princesa vai bater na porta, sapato na mão e me dizer que está ali, veio quando o cacimbo se foi, e, apesar de não ser a mais bela de todas as rosas, tem o perfume perfeito de encantar. Logo logo o romantismo vai acordar, o isolamento da varanda vai ser levantado, o sol vai brilhar, os olhos vão voltar a ver mesmo se se avermelharem de felicidade.


Sanzalando

14 de agosto de 2012

tempo de continuar a ser criança

Me disseram que quando é para dar certo até os ventos sopram a favor. Mas aqui na esquina do Liceu sopra vento e é do contra. 
Recordei cara a cara, nome a nome, tique a tique, todos os que se cruzaram comigo e o engraçado é que cada nome, cada cara, cada tique era intercalada com o teu nome, a tua cara e o teu tique. Fiquei zangado e coincidentemente soprou vento de rajada. Mais zangado fiquei porque a laca que segurava a minha franja não foi suficiente para a segurar e lá se me vieram os cabelos para os olhos e me toldou a vista. Desconcentrei-me. Misturei nomes, caras e tiques e estava quase a reiniciar tudo outra vez, quando decidi que seria ignorante refazer-me, machucar-me só para te intercalar no nome dos outros. 
Olhei para o Liceu, eu sei é férias e está cacimbo e não está lá ninguém, nem tu que já deves ter estudado os livros todos do próximo ano, mas dizia, que olhei no Liceu e me ocorreu que até eu morrer eu não vou nem te esquecer nem se quer cansar-me de te pensar. 
Eu sei tu querias atenção e eu distraidamente te dei amor. Tretas, me dizes em silêncio. Eu sei, acabei de inventar para me ocupar. Tu querias carinho e eu nada te dei. Também deves estar lembrada que nunca deixaste. O vento continua forte. E é do contra. Mais fácil mesmo é eu caminhar até ao outro lado do parque infantil e ver se tem com quem conversar coisas de miúdos mesmo que ainda não é tempo de crescer e sofrer dessas coisas de adultos.


Sanzalando

11 de agosto de 2012

hoje tem dia

Aproveito o cacimbo para pensar. Ele não me deixa ver com olhos de ver mais longe do que já ali, assim eu matuto ideias, memórias, sonhos e se ainda sobreviver até sou capaz de ver realidades que ainda não aconteceram e me contar como se estivesse a conversar contigo.
Tem dias que eu te ia dizer que a minha vida não passa dum conto de falhas, em que dá vontade de desistir mas não desisto, em que dá vontade de desaparecer mas não desapareço. Tem dias que dá mesmo vontade de jogar tudo para trás das costas e ser feliz, mas que nunca jogo.
Tem dias que o cacimbo me tolda a vista e me aclara o cérebro e tem outros dias que ele faz com que me apeteça voar apenas porque tenho medo de ficar aqui fechado a sucumbir ao cacimbo sem vontade de pensar. Tem dias que o cacimbo faz medo de pisar o chão em falso de tão cerrado que está.
Hoje aproveito o cacimbo porque me apetece voar como se eu fosse um pássaro e vôo nos pensamentos à solta dentro da minha cabeça.

Sanzalando

10 de agosto de 2012

na areia da praia

Sento-me na areia de mil cores da minha praia de sempre. Eu sei que vais dizer que está cacimbo, que de casaco eu não devia estar na praia a fazer papel de parolo, a me encher de areia. Não importa. Aqui neste silêncio de apenas marulhar eu estou comigo a meditar. Faz conta já tinham inventado o telemóvel, que veio substituir o se faz favor me ligue para o número xxx, que só tinha três dígitos. Toca o sinal de que chegou mensagem. O coração acelera, parece bate mais vezes que aquilo que ele aguenta. Me estendo na areia fazendo com que o casaco de malha se encha de areia, mas adio ler a mensagem porque o meu corpo libertou doses extras de dopamina e outras aminas mais e há que dar tempo antes de lhe ler. Afinal de contas era só mais uma mensagem da companhia a dizer-me que tá na hora de mudar de tarifa. Mas quero lá saber de tarifas, promoções e promessas de me sacarem massa. Eu queria mesmo que o telemóvel, que ainda não tinham inventado, me desse uma mensagem dela a me dizer:
- estou aqui!


Sanzalando

9 de agosto de 2012

7 de agosto de 2012

aéro-club

Carambolo bilhar sozinho no Aéro Club. É, ando assim como que meio oco. Vá lá, a meio passo da loucura que é a única forma de apagar este fogo de solidão ordinária que me queima. O taco, o giz e a mesa verde que já esteve nivelada e agora está como eu, descaindo para um lado, mais ou menos o lado esquecido.
É a vida. Me dizes sussurrando no pensamento que ouvido só é silêncio.Tudo se vai perdendo, tudo se esquece nos passeios quadriculados de lages cujo nome da pedra eu não sei e nem sei se faz parte dalgum daqueles cristais que aprendi no Liceu, sem ser o triclinico. Sei que era rapaz de sonhos, rodeado de esperanças e carregado de sorriso lindo.
Grisalhei, mudei e o coração grande e generoso mais não é que um mar de lágrimas choradas numa noite de chuva tropical.
Acerto uma carambola, com batota, porque estou só, sorrio e mergulho num oceano de dúvidas, incertezas e até parece que o céu se escureceu para me ilustrar a tristeza.
Ninguém chega para me acompanhar num perde paga, ou num jogo com pin, ou noutra batota qualquer. É apenas entre mim eu, quer o jogo quer a dialética.
Me cravo um sorriso e finjo um tudo bem.
É difícil sentir saudade e com um sorriso encontrar palavras para dizer sem que se notem, cicatrizes.
No Aéro-Club troco-me silêncios por toques de bola de massa parecem são de marfim.




Sanzalando

6 de agosto de 2012

travessia no deserto

Me atiro deserto dentro. Literalmente me apetece fazer a travessia no deserto. Preciso mudar. Melhor, acho tenho mesmo de mudar. Não posso depender assim de pessoas, não preciso acreditar assim nas pessoas. Acho mesmo meu destino é ficar perdido no deserto, deixar de acreditar nas falsas palavras ouvidas e não me encontrar depois de usado. 
Vou mesmo me atravessar no deserto, onde não tenho de virar costas porque não tem quem as veja, onde não tem silêncios para retribuir porque só ele existe, onde não tenho que dar nada em troca porque é deserto e como tal não tem nada.
Me enjoei de mim assim como que é que sou?
Deixei de querer ser como sou. Apenas. Simples. Quero ser simples como o deserto. Cansei das idas e voltas da vida. Faz conta eu sou criança que cansou de brincar com um velho brinquedo apenasmente porque cresceu. Quero mudar para crescer. 
Enfim, quero poder estar sempre a teu lado, mesmo quando tu não vês, mesmo quando me levei a atravessar no deserto.


Sanzalando

5 de agosto de 2012

por aqui

Me sento no muro da casa. Ainda bem que fizeram o muro direito na rua que é a descer. Mas iso é assunto que não me interessa. Importa é que estou sentado a olhar para lado nenhum e a ver quem não passa que a esta hora não é habito passar quem quer que seja. 
Mas eu estou aqui só para me dizer que é bom poder segurar a tua mão, olhar os teus olhos, atirar pedrinhas de brincar, serenatar fingindo serenatas e se tiver oportunidade te pedir que me sorrias. Quem mais ia ficar aqui sentado a ver se tu estás e mentalmente te oferecer uma rosa. Linda por sinal. Quem ia ficar aqui só para te perguntar se queres ajuda para levar o saco em troca dum sorriso?
Afinal de contas estou sentado no muro direito da rua que é a descer só pelo simples prazer de estar a te esperar e ver sorrir numa ligeira troca de olhares.


Sanzalando

TIRA 57

Sanzalando

4 de agosto de 2012

Bicicleta 53

Sanzalando

A minha cidade faz anos

Me viste gatinhar, andar cambaleando e cair em choros sem dor enquanto aprendia a andar. Viste ser criança e adolescente. Viste os meus segredos e conheceste os meus medos. Testemunhaste as minhas alegrias e cúmplice das minhas tristezas.
Passados muitos anos, eu que penso sou o mesmo apesar das muitas mudanças, tentei esquecer, mesmo sabendo impossível, não tenho como deixar de ser assim. Não tem mais forma de viver de dizer sim e fazer não, de adiar e criar sonhos nas palavras que te digo. Não tenho mais forma de viver estas dores e engolir estas lágrimas carregadas de nostalgia e saudade. Sou o mesmo que tenta achar uma maneira de me fixar em ti quando diz que te esqueci.
Hoje fazes festa e eu me digo que dou mais uma chance a mim de apagar culpas, de afastar sentires, de abafar cansativos suspiros de monólogos soliloquiados.
Hoje fazes festa e nessa festa eu não tenho lugar porque te sou irreconhecível, porque te esqueceste de abrir os braços e me gritar quando eu estava distraído nas horas de juventude a fazer as coisas que me foram aparecendo e fazendo feliz num preço alto de pagar.
Me viste triste, grisalho, exausto, torcido de lembranças e sobrevivendo pela metade e te mantiveste calada.
Me viste chorando nos meus rasgos de neo-romantismo desabados em impulsos desequilibrados e te mantiveste serena.
Reconheço meus erros, pequenos e grandes e me redimo perante eles de modo que me curvo sobre ti num beijo de parabéns.


Sanzalando

3 de agosto de 2012

foi assim

Sentado nas arcadas da praia, esquecendo que é cacimbo mas sabendo que não faz vento, me deixo, sentado, sonhar. Não sei se adormeci ou se foi mesmo sonho sonhado acordado.
Foi assim que eu vi que às vezes eu preciso que alguém me abrace forte, me segure na mão e me diga silêncios doces ao ouvido, conte piadas sem graça ou apenasmente me atire um sorriso sem pedir nada em troca.
Foi assim que eu vi que tem altura que eu preciso que alguém me salve da melancolia, das velhas canções e da nostalgia.
Foi assim que eu vi que às vezes eu preciso de alguém que entenda o meu silêncio, antes de mudar de estação de rádio ou de frequência.
Foi assim que eu vi que às vezes eu preciso de alguém que guarde as minhas palavras caladas.
Sentado nas arcadas da praia, esquecendo é cacimbo e a jangada está em terra, que eu vivi um pesadelo que não tem disfarce e que em qualquer altura pode desabar como falésia sobre o mar. 
Foi assim que eu acordei dum sonho que não sei se estava a dormir ou se sonhava acordado que eu percebi que nem sempre se é feliz sozinho.
Foi assim que eu olhei o zulmarinho e me levantei com um sorriso de regresso a casa.

Sanzalando

1 de agosto de 2012

parágrafo sem ponto final

Ponto final parágrafo. Era hoje o dia que eu tinha decretado em papel selado e assinatura reconhecida o fim dum ciclo e começo de outro.
Estava testamentado que eu deserdava tudo aquilo que me fez mal e passava a ser o presente do agora sem ontens nem amanhãs.
Estava com as letras todas escrito que eu ia esquecer e apagar algumas passagens, alguns erros de actos e atitudes, de palavras e silêncios e que ia ser o agora presentemente.
Estava solidamente definido quem eu ia apagar da memória e quem eu queria que fizesse parte dela.
Mas trespensado tantas vezes quantas a exaustão, eu me conclui que isso não é possível porque tem gente que a gente nem sabe como entrou na nossa vida e não tem ponta por onde pegar para deitar fora. Tem momentos que nos doeram que a gente já não lembra mais como foi que aconteceu para poder fazer um format memória dois pontos.
As coisas não funcionam assim como eu tinha decretado no papel selado e assinatura reconhecida.
Tudo acontece simplesmente e as decepções misturadas nas alegrias, num batido de vida, nos faz seguir em frente, cabeça erguida, sorriso aparente porque amanhã vai nascer o sol outra vez, quem sabe.


Sanzalando
recomeça o futuro sem esquecer o passado