A Minha Sanzala

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27 de fevereiro de 2010

Silêncios (2)

Que faria eu se não te tivesse? Afogar-me-ia em ruídos, suicidaria em gritos estridentes e lacrimejantes do dia a dia e deixava o sorriso escondido numa qualquer caixa de sapatos velhos lá de casa?

É o destino de quem ama, por vezes o impossível, por vezes o inatingível e outras vezes o arrogante amor simples de ser amado.

O que faria eu se não te tivesse? Como ouviria eu os gritos calados da dor, a dúvida de ainda ser dextro e a ruminação da impotência de ser menos válido?

Ao menos contigo ouço-me conversar, ouço o barulho de espadas na sua feroz luta do hei-de conseguir.

Silêncio, salvaste-me, porque consigo seguir-me nas recordações mentais sem sobressaltos, não cansando a minha gasta memória nem me deixando extravasar em suores de esforço e solidão atrás de tanta gente.


Sanzalando

26 de fevereiro de 2010

Silêncios

Me refugio no alto do meu buraco. Me encerro numa caixa de silêncios e me cubro de palavras soltas que ainda não foram ditas. Fujo do mundo, da realidade que os teus olhos vêem e que a minha alma não sente, das lágrimas e gargalhadas que finges soltar. Fujo para dentro de mim, real, palpável e esperável. Vejo por dentro as minhas lágrimas, ouço as minhas gargalhadas e releio as palavras que te vou dizer no dia que te encontrar fora desta realidade. Enfim, troco-me por silêncios transformados em imagens que não fotografei, paisagens que não vi, olhares que não senti, diálogos que não dialoguei.

Ouço o mar, persigo lesmas na sua parada correria, voo com avestruzes nos céus côr e laranja de pôr-de sol pintado numa tela que já foi uma queimada. Deixo os nervos espetados em alfinetes numa cortiça dum canto qualquer, embalo problemas num qualquer barco de papel.

Me refugio no alto de meu buraco, apenas para ouvir o meu silêncio.


Sanzalando

24 de fevereiro de 2010

instantaneamente

Foi um pequeno instante e apareceu a folha branca outra vez como passe de magia. Nesse instante, que perdi, a olhos vistos e sem querer acreditar, acho tinha te falado palavras de amor, acho te tinha contado uma estória de te fazer sorrir e de ter dado aquele brilho quente que me faz suar. Mas perdi. Como aliás tenho perdido tantos instantes assim num deus dará que eu não tenho nada a haver com isso.
Te recontar um instante perdido é o mesmo que aquecer água quente numa geleira. Desconsigo como a água dum rio desconsegue passar a mesma ponte duas vezes.
Olha, foi apenas mais um instante que se me varreu.

Sanzalando

23 de fevereiro de 2010

Parece um instante

Te fico com mais um instante, daqueles em que o tempo goteja como torneira mal fechada e acaba por ficar um charco, porque me falta força para secar o que parece são lágrimas que caem dessa torneira. Te digo que parece é falta de força de vontade o que falta. Parece é falta de motivação. Parece é habituação que solidificou na desvontade. Mas neste instante eu vou tentar fazer crescer uma outra força, imaginária ou virtual, olhos azuis de mar, calor quente de tropicalismo, canto dolente de festa na sombra da mangueira, que me vai ajudar a fechar o instante lagrimejo dessa torneira que charqueia o campo onde me instalo e afogo as promeças que não recebi.

Parece este instante é mais longo que a morte do tempo nos relógios da memória e as forças contrárias são mais fortes que a corrente do mar que me leva para lá da linha horizontal.


Sanzalando

21 de fevereiro de 2010

um instantinho


Apenas um pequeno instante, o suficiente para me matar as saudades que te sinto num ferver de desejo. Já não te vejo desde a outra ponta do sofá e já não te ouço desde o ultimo suspiro que te dirigi. Levanto o olhar e tento sustê-lo na horizontal na tentiva vã de te ver do outro lado do horizonte, para lá das nuvens que me encurtam a distância visual, para lá da minha alma dormente.

Foi apenas mais um instantinho, o suficiente para te dizer que te quero como ontem num amanhã de sol, que te desejo mesmo no enrolado frio com que me tapo das dores do corpo.


Sanzalando

14 de fevereiro de 2010

Faz conta eu ligo a S. Valentino

Te gamo um instante que o quero para poder sonhar-te. Imagino-me um jovem adolescente (muitas vezes posto de lado pelo seu aspecto vulgar, de irrequietude quase clandestina, medroso no enfrentar de frente mais velhos que tinham por hobbi irritá-lo, mas na sombra dos dias claros e noites escuras se vingava sem ser descoberto), na praia à espera daquela onda, a certa, a que tu estarias a olhar, para arrancar a correr, feliz e ululando como que a chamar-te a atenção, se isso alguma vez tivesse sido possivel, jogando-me para o mar em pose de super-homem, no mais perfeito estilo duma pontuação artistica, a onda a se arrepender e voltar para o mar, tendo restado apenas a areia molhada e um mero centímetro de água, e este ilusório heroi se estatela no mais estilhaçado estatelanço que tu poderas ter visto se tivesses olhado pelo menos dessa vez. Um beijo pelo dia de hoje, que nunca foste minha namorada mas não deixas de ser a minha amante, mesmo que não o saibas.



Sanzalando

12 de fevereiro de 2010

instistente instante

Desculpa a insistência, mas dá lá o meu instante, aquele que tu sabes que eu mereço. Dá-me um sorriso, um brilho do teu brilho, um olhar dos teus olhos. Dá-me apenas, num dar sem esperar nada em troca, que nada tenho para te dar. Tudo o que tinha te tenho dado ao longo dos tempos e não recordo de ter recebido nem um olhar. De que cor são os teus beijos? Qual a estrela do teu sorriso? Que voz têm as tuas palavras?

Dá-me um instante, um brilho de sol em chávena de café, um tropical sabor quente do teu hálito.

Olha, tenho medo que quando decidires dar o instante que insistentemente te peço, o meu coração esteja sólido e branco como um ovo acabado de cozer, mole, flexível, porem não deformável, apenas estilhaçável.



Sanzalando

11 de fevereiro de 2010

instante pequenino

Olha, dá-me um instante. Pequenino. Qualquer um me chega. Sabes que fazes parte de mim, por isso estar contigo fisicamente um instante é sempre bom. Não interessa o tamanho do instante. Mas eu preciso dum que me dê tempo de acariciar-te o brilho, sentir a tua luz sobre mim como que se fosse uma indelével carícia, cheirar o teu perfume como se isso fosse a minha essência de vida.

Anda lá, dá-me este pequeno instante.


Sanzalando

10 de fevereiro de 2010

os sonhos eternos

Às vezes os sonhos são tão reais que até custa acordar, é um desperdício. Esses sonhos deviam ser eternos, deviam encravar os ponteiros do relógio, deviam roubar os minutos e fazer repetir a canção infinitamente. Lá fora chovia que eu bem ouvi, enquanto que aqui, no meu sonho, estava um sol daqueles de tirar a pele aos do planalto, adivinhando-se uma noite de estrelas e todas as constelações, incluindo tu, reluzente, brilhantemente iluminando a noite e os meus olhos luzidios de lágrimas que sempre me apetecem chorar quando te sinto assim linda, a meu lado, em todo o lado. Não havia pecado, nos meus sonhos não há pecado, há apenas reflexos da minha mente, espelhos que se reflectem nos sonhos que se acabam num instante. Amei-te, amo-te e sei que faças o que fizeres eu amar-te-ei sempre.

Se eu pudesse andar com o meu coração sobre ti, perdendo o sentido lógico da paixão e sem fazer uma única pergunta, dir-te-ia que o sonho é quem me governa no caminho sem norte, derivativo dum depois e seguido dum sei lá.

Os sonhos tinham de ser eternos para eu não estar agora num eclipse dunar, embrulhado em papel parvo e atado com fita de raivas escondidas. Os sonhos tinham de ser eternos para eu não estar na solidão.



Sanzalando

9 de fevereiro de 2010

roubei um instante

Hoje roubei um instante à vida e fiquei com ele para mim. Nesse pequeno instante, agarrei nos meus sentimentos e arquiveio-os em parteleiras onde os meus olhos os possam permanentemente vigiar, onde nos meus silêncios eu lhes possa dialogar e nos meus momentos de raiva eu lhes consiga condenar. A traição deixei-a bem alto, onde eu não lhe consiga chegar sem ajuda dum escadote, assim como que lhe castiguei das muitas vezes que ela me agarrou e me abriu brechas na alma que ainda não sararam. As minhas virtudes, deixei-as na parteleira de baixo, não só porque são leves, frágeis, mas porque as quero sempre limpas de erros e imperfeições. Nas parteleiras do meio deixei tanta coisa, umas por etiquetar, outras sem saber onde as colocar e outras para ver se naufragam nos meus medos e nas minhas ilusões.

Não encontrei lugar para deixar as palavras vazias dos instantes que não me tiveste.



Sanzalando

8 de fevereiro de 2010

deserto instante

Por um breve instante, fracção de tempo que nem me lembrei de medir, estava eu a caminhar nas areias escaldantes do deserto, aquele que eu tomei como meu e que praticamente não conheço, tentando desidratar esta ansia, que por vezes me devora, que me cria miragens no imaginário cenário da minha ilusão, que me leva a alucinações que nada têm a haver com insolações, seguias-me lado a lado, indiferente um ao outro, como que a observares-me com medo de seres notada. Olhei-te, todo eu transpirava, tu serena, sabias que eras a minha ansia, hidratada, senão até inchada, de vaidade. Corri pelas areias escaldantes do deserto, ansioso que o instante não terminasse e tu me seguisses lado a lado eu já sem vontade de perder a ansia.


Sanzalando

7 de fevereiro de 2010

6 de fevereiro de 2010

hoje sonhei

Sei que é um sonho. Sei que foi um sonho. Mas sei que um dia esse sonho vai ser realidade. Um dia, um mês ou um ano, que importa a quem já esperou tanto, a quem já sonhou tanto? Mas no sonho desta noite, que foi uma noite de entrega, em que o meu corpo parece ter sentido a tua presença e esqueceu-se de me acordar com dores, de me obrigar a voltas e revoltas em busca da posição perfeita, fazendo-me dormir o sonho dos justos, fazendo-me sentir que passei uma noite sem dar por ela e acordei como se tivesse dormido uma eternidade, corpo leve, alma solta e sorriso na cara.

Nesta noite, pelo menos pelo sonho, eu senti o teu perfume, o teu quente abraço. Olha, parecia que era o nosso primeiro encontro em que eu te chorei numa mistura de lágrimas e gargalhadas, de tremores de saudade e de medo. Para mim esta noite foi um romântico soneto.



Sanzalando

5 de fevereiro de 2010

pequeno instante

Há dias em que o tempo passa lentro, contrastando com outros em que passa mais rápido que bala perto do ouvido em que a gente só ouve o zumbido. Afinal de contas o tempo passa segundo o estado de ânimo, as rotinas e as suas cores, o sentirmos ser um pequeno grão de areia ou a praia inteira, o sermos nada ou a força duma multidão. São assim também os instantes, fracção de tempo variavel, por exemplo, entre o sinal ficar verde e a buzina do carro de trás tocar como a nos acordar, ou pedaços de tempo em que até a respiração incomoda. Outras vezes o instante dura uma vida, sem altos nem baixos, monotonamente vivida nas dores caladas dum vazio anónimo.

Hoje só tive direito a este pequenino instante.


Sanzalando

4 de fevereiro de 2010

instantaneamente retratado

Se tu tivesses um rosto era com ele que eu estaria sempre a pensar, a sonhar pelos caminhos da vida, recantos duma esquina, sombras duma saudade. Por instantes, pareceu-me avistar-te pala lá do mar que vejo desta minha solidão, deste deserto inundado de lágrimas que fiquei por chorar. Mas tu não tens um rosto porque o que eu sei já deve estar mais que muito mudado. Até eu quando me olho ao espelho já nem me reconheço. Só sei de mim quando caminho e, desligado da sombra larga, penso que ainda sou o menino tímido, calado, deixado de lado que fora noutros tempos. Para ti já não tenho rosto nem corpo, amalgama de gente que um dia conheceste e rapidamente esqueceste. Outrora pele e osso, hoje muita pele para o mesmo osso. Outrora calado agora quezilento, amuado quando não zangado.

Neste breve instante até parece que acordei a alma adormecida dum qualquer desenho animado, pintando um auto-retrato, caricaturado é certo, porém reconhecível ou quase. Ai, instantes que instantaneamente me recordam as águas que passaram por este rio de memória.


Sanzalando

2 de fevereiro de 2010

Adolescencites

Acordei como por instantes, dum sono profundo, e apeteceu correr a abraçar-te, atravessar mares, escalar montanhas, saltar rios, voar, tudo o que é possível fazer em sonhos. Nesses instantes soube que tinha embalsamado memórias, tinha enumerado numa escala cronológica amores impossíveis. Não estavas nem num nem noutro lado. Por brevíssimos instantes arrepiei-me de solidão mental até que me lembrei que não te tinha arrumado em lugar nenhum. Andas sempre em mim, no meu colo, no meu olhar, no meu ar, na minha lágrima.

Visto do lado de fora ninguém dará nada por nós. Visto do teu lado não se consegue ver absolutamente nada. Vito do meu é um só visto nostálgico de adolescente que teima ser eternamente assim.

Nem mais nem menos.


Sanzalando

1 de fevereiro de 2010

és assim, num instante

Pequeno instante em que eu decidi que já não existias. Sorri, fui feliz e cai em depressão. A mentira nada me valeu, a solidão permanecia porque ao meu lado permanecia o espaço que é teu, como que a dizer-me que tu és, existes e fazes sofrer porque não me queres ao lado. Noutro pequeno instante eu decidi que já era eu que não existia. Que ilusão a minha querer ter felicidade de modo fácil. Tu sofreste, tu choraste, tu sangraste. Eu diverti-me saltapocinhando em paixões, noites de farra, música de luta, discurso inflamado mas corpo descansado, mente livre, olhos a quererem domar o mundo. Adolescencites. Hoje, tantos instantes depois, não me arrependo excepto do que eu sei que devia e quando ter feito.

Afinal de contas o que tem graça são os instantes saltibancos da vida, fácil e tão dolorosa, doce e tão amarga, alegre e tão penetrante na ferida da alma.

Mais um instante em que foste o meu centro, de gravidade, de pensamento e de lágrima. És assim!


Sanzalando
recomeça o futuro sem esquecer o passado