A Minha Sanzala

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28 de fevereiro de 2023

Estória 07 - Amor descorrespondido

Destes meus desamores falecidamente vou sobrevivendo. As olheiras e as noites de insónia que se traduzem nuns pensamentos tristes entre as 22 e as 22:15, eu vou sobrevivendo. Antes eu me esquecia de ir estudar, despreocupava seguir a arte de ser estudante e ser olhado com admiração. Mas após tanto falecimento amoroso eu decidi, mesmo que tenha sido por acaso ou por distracção, seguir o rumo de ser o primeiro ou dos. Ser reconhecido por mérito já que não estava a conseguir por beleza ou charme, independentemente de eu não ter noção do que isso era naquela adolescência turbulenta dos 15 aos 19 anos, ou seja lá quando é que foi.
Estão para aqui a ver-me transparentizar e já tiveram a sensação de amar sem ser correspondido? Vou tentar explicar. É assim mais ou menos uma morte lenta, vagarosa, dolente que corrói todos os dias. Também dói, mas não passa com remédio ou saco de água quente. Ele é parece um yo-yo que vai da cabeça ao coração e parece que dá um coice na alma. É uma maldição infinita que infelizmente a gente naquela altura não sabe que vai passar mais dia menos dia. Faz conta é o inferno com chama a te queimar vivo mesmo que não tenha bolha na pele nem cabelo chamuscado. E tem mais, qualquer afeto parece faz doer mais.


Sanzalando

27 de fevereiro de 2023

salada mental

E se assim de repente eu tenho que ir ao recordatório mental buscar uma informação da minha vida faz tempo que nem lembro? Paro, olho-me para dentro, penso e a memória não sai daquele calculismo de faz de conta está na ponta da língua mas não chega à parte que se vê o filme num parece é actual. Será que eu tenho memórias que ficaram registadas a preto e branco porque eu ainda não pensava às cores? Será que a minha rua era de casas coloridas ou só mesmo cor de cimento ténue porque gastas pelo tempo que passou? As pessoas da minha idade não tinham rugas, nem andavam com alguma dificuldade e se era hora de correr elas corriam que nem gazelas. A minha mão me gritava e eu ouvia por mais longe que estivesse. Como é que posso colorir toda essa memória se eu não me lembro?
Como é que eu vou jogar perde paga de bilhar se eu já nem sei como é que fazem giz azul para pôr no taco e nem sei como é que eu via as bolas para lhes dar um fininho que quase nem se via?
Como é que eu vou ver a prova de ciclismo se só me lembro do Manuel da capitania e do Benfica, do Marreiros e Salgueiros do Ferrovia a pedalar?
O Leoplodo substituiu ou era suplente do Bitacaia no Sporting e o Travassos substituiu o Matela no Benfica? Uê, cabeça já não localiza o arbusto temporal desse recordatório mental.
Acho melhor me sentar no lancil, olhar para o deserto e deixar as coisas correrem sem ter que ir ao campo do Benfica ver o Bonvalot, o João Duarte, Jorge Brás, Amadeu e Nicolau a tentar chegar aos louros do Briguidé, Ascenso, Chalupas, Couto e Minas?
Desta vez foi mesmo uma salada mental que me servi para ver se o tempo coloria a mente.


Sanzalando

24 de fevereiro de 2023

Estória 06 - DUMA RUIVA ME APAIXONEI

E depois de mais uns tempo a navegar sobre imagens mentais me lembrei que uma dada altura eu estava a morrer de amores por uma ruiva. Era bonita? Para mim era e eu estava perdidamente morto de amor. Se calhar foi aqui a primeira vez que morri d'amores. A nublosa tempestade de tempo caída sobre a minha idade faz com que perca um pouco a noção do tempo. Ela me gostava e eu sabia que os seus sorrisos eram-me dirigidos. Integralmente! Um toque de mãos eu beijo na cara, um piscar de olhos e o namoro estava a ser levado muito a sério. Nunca nos abraçámos e nunca o sol foi coberto pelo corpo de outro. Tudo muito fugaz. Talvez ambos tivéssemos medo que o acelerar do coração nos fizesse mal. Éramos crianças, sei. Amos sabíamos que nos gostávamos e isso era-nos suficiente. Um dia, sem saber ainda hoje porquê, passei a ser um desconhecido, a ser ruado da rua como se fosse rafeiro e o amor terminou, depois de lágrimas e lástimas, se apagou a chama e se calmou a dor até que ressuscitei deste moribundo amor.



Sanzalando

23 de fevereiro de 2023

Estória 05 - amor na cidade alta

Dou por mim a contar quantas vezes morri por amor. Engraçado que mesmo contando pelos dedos eu volto ao teu nome um número perdível de vezes. Eu já fui apaixonado pela cidade ao entardecer, ao amanhecer e noite escura. Não, eu fui apaixonado nessas horas todas e deambulei pela cidade. Esta é a verdade. Nesta verdade se esconde a vontade de te encontrar mesmo sabendo que estarias na tua cama a dormir. Quantas vezes te recontei. Na cidade alta te gostei, era férias de Agosto e não me dei ao desgosto de gostar de alguém. Eras magra como a que eu tinha deixado na cidade baixa, tal como morena e alta. Mas não tinhas nada a haver. Rias, eras pessoa e mostravas o que sentias. Gostei-te e trocamos palavras doces como quem faz carícias verbais. O teu irmão nos apoiava ou disfarçava outro descontentamento qualquer. Eras a minha constelação de estrelas destas férias de Agosto. Quando voltei à cidade baixa te esqueci e tu me esqueceste. Se não foi assim foi mais ou menos, porque não deixou cicatrizes, pelo menos no lado de cá. Se sofreste nunca me disseste e também nunca ninguém me disse. 


Sanzalando

22 de fevereiro de 2023

Estória 04 - amores imperfeitos

Poltrona onde me sento é falésia de rei, onde admiro o universo que cabe no meu olhar e, daqui deste alto, onde a cidade por trás é um quadriculado imperfeito com cheiro e sabor a mar, me deixa estórias de amor para contar. Se os ventos que sopram não fossem indelicados sopros que apagam memórias indesejáveis eu mais estórias teria para contar. As casuarinas que se replantam no declive da falésia seguram terras e escondem amores quase perfeitos e nem os ventos marítimos destapam os véus do silêncio, deixando-me ignorantes das novidades silenciadas. 
Aqui, onde não há poeira a me toldar a visão, onde vejo caminhos horizontais perdidos num oceano de conhecimento que os meus pés descalços percorreram ao longo da cidade para aqui chegar, revejo os teus cabelos longos, o teu ar atlético, as tuas costas direitas, o teu caminhar esbelto e seguro, a tua superior qualidade de receber um pobre perdido de amores e desanimo-me de futuro a teu lado porque de presente já me conformei.
Se fizesses tranças, os teus cabelos não dançariam ao vento, as tuas saias não curtas tapam-te de qualquer indelicado sopro e tu, altiva, caminhas sem dar olhares aos que se te cruzam.
Já sei que neste meu poiso cimentei amores em apenas na minha pessoa, esquecendo que toda a cidade fervilha de amores de pôr de sol, nocturnas fugas de amores noctívagos que frageis cordas bambas se equilibram num boca a boca quase em surdina calada.
Mas para quê falar de amores alheios se nem dos meus dou abono?
Este meu mar é um luxo que me afaga e acaricia como se eu fosse a proa dum barco navegando em rumo definido. Morro de amores mas não me afogo nos seus horrores nem me embrulho nas suas ondas revoltas.

Sanzalando

20 de fevereiro de 2023

Estória 03 - amor de passar tempo

Daqui sentado, onde o zulmarinho não me toca mas eu lhe vejo e lhe sinto, me perco absorto nos meus pensamentos e navego até uma qualquer outra paixão que não a primeira. Era simples e muito mais real. Ela gostava de mim assim de graça, sem favor nem esforço. Ela queria ter a minha presença e me conhecer no fundo da minha existência. Era ela simplesmente mulher e não deusa como a outra que eu me apaixonara pela primeira vez e pela primeira vez eu tinha morrido de amor. Agora não morria de amor mas gostava da sua presença porque ainda estava de meu luto anterior e no meu pensamento ainda morava a desilusão. Era bonita. Morena e não alta. Sorriso fácil e simpático, não mexia com a minha imaginação nem me levou a promessas incumpriveis. A caminho do lugar de trabalho eu parava lá e lá me perdia em conversa em conversa mole e sorridente. Um beijo de fugida não fosse alguém ver e me comprometer numa definitiva opção. A minha porta tinha que estar aberta porque qualquer ressurreição era-me bem vinda naquele luto que parecia eterno. Afinal eu não morria de amor e se calhava nem o sentia. O vazio estava custoso de encher e naqueles breves instantes eu estava bem, depois vinha o remorso. Quando saia do trabalho e se era cedo acontecia o mesmo e enquanto passava no parque infantil, na conversa agradável eu sentia aquele vazio interior, parecia tinha ocupado todas as minhas essências e vísceras. Lembrava sempre aquele rosto de Mona Lisa que parecia estava tatuado na minha memória com escopo e martelo. Sentia vergonha de mim mas no dia seguinte repetia a dose como se eu estivesse interessado em me curar da minha primeira morte que parecia era a definitiva. Mil vezes dizia hoje foi a última vez e não era.
Daqui, olhando para aquele tempo, saboreando a maresia do zulmarinho, eu penso brinquei com a sorte de ser feliz, momentos divagantes de rara inspiração, em que me entregava num fácil se deus quis assim eu serei. 
Se eu me tivesse apaixonado mesmo teria sido a minha segunda morte de amor, pois ela descobriu que o meu pensamento ainda não tina curado e que aquilo era um passatempo de faz de conta, um desconfortável momento de laser, uma derivação de conforto. Levei corrida de impopulares palavras que nem o meu sorriso boémio seria capaz de as repetir sem corar.
Olho bem para esse meu passado, bem passado, sorrio e num silêncio berrante, me lembro que usei esse tempo para confundir paixão, último degrau de amor, com doença incurável de querer um para sempre, quando ainda tinha idade para até logo à tardinha devia chegar. Eu me senti amado, realmente amado porem magoei nos flashes da minha fantasiosa maneira de ser feliz. Fui real e ruim e ainda hoje sinto-me mal por mim.



Sanzalando

19 de fevereiro de 2023

Estória 02- quando é que foi

Me deleito aqui a deitar os olhos pelos passados. Tenho muitos passados, uns bem e outros mal passados, porém como idos foram, idos me lembro. Estava eu sentado na varanda que dava para o quintalão e consequentemente para a tua casa. Era dia e eu não estava ali a olhar para as estrelas. Sim, eu via estrelas cada vez que te pensava, mas não era essas que eu agora falo. Eu queria mesmo era ver-te. Queria saber se ias na praia ou apenas ias jogar ténis no único campo decente que a cidade tinha. Era fácil encontrar-te na pequena cidade que era nossa.
Olhava para lá do terreno baldio e nada. Nem sinal que já tinhas acordado. Eu, mais uma vez a ver o meu amor passar pelo tempo. O tempo não mente. Ele passa e não volta atrás. E não é que depois, muitos anos depois eu me perguntei:
- onde foi que eu me perdi?
deixo o silêncio passar e a resposta não chega. Foi só num algures que nem o tempo memorizou.





Sanzalando

#imbondeiro


18 de fevereiro de 2023

Estória 01 - talvez a primeira morte de amor

Se me apetece escrever, escrevo. Se me apetece chorar, choro. Se for hora de bailar, bailo. Aqui, em qualquer lugar e de preferência faça sol. Tudo isto porque me recordei do meu primeiro amor. Acho foi o meu primeiro falecimento, sem nota fúnebre nem aviso prévio. Morri de amor ao olhá-la, senti o meu coração como estivesse em explosão permanente e cada uma das minhas veias era insuficiente para transpor todo o meu sangue que me subiu à cabeça. Olhaste-me e do alto da tua segurança me perguntaste:
- Como estás?
eu, de tanta felicidade de ter sido visto por ti, balbuciei algo que nem eu entendi porque nem era estrangeiro nem a minha língua. Respirei fundo enquanto descorava e respondi num misto de silêncio e medo:
- bem... muito bem...
ao mesmo tempo que sentia o coração a ser despedaçado em mil fragmentos, enquanto ouvia um estilhaçar de morteiros no meu subconsciente convertido em pânico.
Na verdade eu achava que tínhamos sido feitos um para o outro, que o tempo te ia mostrar quem eu te era, ao ponto de te converter num ser tão mortal quanto eu.
Descomprimindo-me desta enorme emoção, tomando cada vez mais conta da minha consciência, pensei meter conversa para ver até onde tu me deixavas entrar na tua esfera protectora.
Cada vez que abria a boca na tua direcção, recebia uma resposta que não só mais me feria como mais me afundava na morte morrida de amor. Os teus lábio finos soletravam pétalas que eu via esvoaçar por entre a brisa e o vento que entrava pelos olhos. Era incrível ver-te ali a conversar comigo como um ser de sentimento e vida. Deixaras de ser a distância pesada da indiferença. Conversámos mundanamente naquilo que eu posso ainda hoje dizer que foi o primeiro dia do resto da minha vida. Todos os meus tormentos foram sanados, todas as minhas calemas eram pequenas ondas dum mar calmo, todos os meus medos era borboletas. 
A eternidade dos cinco minutos terminou quando me disseste:
- Não te conheço e nunca te vi na minha vida futura!
podia ter tido um falecimento real, com cortejo fúnebre e lágrimas, mas não. Passei a desfrutar a vida sem medos, sem tristeza e sem ansiedade de ter outras mortes futuras por amor



Sanzalando

#zulmarinho


17 de fevereiro de 2023

gastar tempo

Como é que passas o tempo a olhar o zulmarinho que até parece não fazes nada da vida? Me perguntam faz de conta. E eu nem dou resposta porque o que vejo é mais importante que o que me perguntam. Não é decepcionante a forma como eu gasto o meu tempo. Pouco a pouco vou absorvendo a vida e o que ela me trás. Não tenho forma nem modo de deter o tempo pelo que o uso olhando para lá de mim, para lá do que sinto, para lá da minha cabeça ou do peso que suportam os meus ombros. O tempo é frágil e não tem cantos paralisados, arestas desalinhadas nem se desvanece. Gastasse e como tal fica a memória dele. Eu uso a memória dele a olhar o zulmarinho e cresço de força e juventude. Eu gosto de usar o tempo da maneira como me apetece e me satisfaz. 



Sanzalando

16 de fevereiro de 2023

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toca um semba

Toca um semba no rádio e eu olho o zulmarinho. Corre uma lágrima no olho parece eu tenho vontade de chorar. Mas não é de tristeza, não é de dor nem de mágoa, é mesmo só de lembrar nome a nome as pessoas que cresceram comigo, brincaram comigo, nos separámos nos caminhos e nos reencontrámos na amizade que dura sem letra ou carta ao portador.
O semba fala de desamor e eu lacrimejo porque lhe tenho de todas as formas que vão da amizade até na paixão, essa parte sofredora da gente que faz perder a capacidade de pensar e de logicamente dizer chega ou de dizer quero mais.
O semba das nossa almas, aquele que entranha faz de conta é nosso sangue, me faz mexer a bunda parece estou a dançar e o ráio da lágrima continua a marcar presença no canto do olho.
O Zulmarinho parece é chão, faz conta é ladrilho porque tem partes brilha, até parece é eu em dia de sol, e o semba continua no seu desamor de ir mais além enquanto eu fico aqui a me recordar dos tantos beijos que não dei.


Sanzalando

Mar de Letras - Epoca 15 - 5º episódio

Eu a falar de mim, da minha vida e da minhas façanhas na escrita.


 Um obrigado ao Mário Carneiro e Imelda Monteiro que tão bem me receberam na PANAViDEO



Sanzalando

15 de fevereiro de 2023

presente e futuro

Deixa só respirar esta maresia que vem desde lá do meu sul e chega aqui branda e tão suave que até tenho de fazer um esforço de memória para ver que é de lá mesmo.
Daqui não vejo nenhum balão no ar nem olhos estranhos a me mirar ou espiolhar o que estou a fazer. Pensamento não tem transmissão eletrica detectável por aparelhos estranhos, não é pré-concebido por inteligências artificiais nem precisa de corantes nem carece de conservantes. Olho para o infinitamente longe, sinto o baque da saudade e um arrepio arrependido de não me fazer à estrada e lá chegar com a propulsão electrica não poluente nem barulhante.
Aqui, nas paz dos espíritos, ao som dos imagináveis barulhos africanos, perfumes de mar e brisas salgadas, me escondo das tropelias dos humanos que se desumanizam a cada acto consciente e deliberado. 
Aqui, navego por memórias e sonhos realizaveis no meu futuro mais próximo

Sanzalando

RTP Mar De Letras


14 de fevereiro de 2023

dia dos namorados

Olho de longe o zulmarinho que ondula calmamente espraiando-se na areia da praia. Subjectivamente me parece gelado porque do lado de cá inverna que nem no inverno que estamos. Acalmo a mente e deixo que o espírito a acompanhe. Hoje fui na Rádio falar dos delírios sobre as ondas, amanhã estarei no Mar de Letras duma televisão, a minha rotina se alterou porque cada silaba que eu pensava escrevia e desses escritos nasceram livros, que no dia dos Namorados podem ser rosas, ontem na Rádio podiam ser ondas hertzianas, amanhã serão imagens animadas em falas imaginadas. Respiro fundo e mentalmente beijo na boca a doçura mental dum amor, de mãos dadas e dedos entrelaçados passeio pela marginal imaginada dos meus encantos e recantos. Não escondo defeitos nem ponho nome nas diferenças.
Sigo mentalmente por mar adentro como se fosse uma nau à descoberta de novos amores imperfeitos, desafios uniformemente acelerados, coeficiente de incertezas, para mais tarde me arrepender. O dia dos Namorados, o dia da Rádio e o da minha ida à televisão, são incoerências do meu passado travestido de letras, transformados em livro por um amor quase perfeito. Incrível o que se pode ler e descobrir nas entrelinhas dum livro apaixonado, na música de fundo da superficialidade da solidão.
Gosto de ti, pá!


Sanzalando

13 de fevereiro de 2023

Rádio

Pi pi pi pi    pi são tantas horas agora. Assim começa uma hora x no rádio. Em qualquer rádio. Hoje é o dia dele. Faz tantos anos que entrei no RCM, Rádio Club de Moçâmedes, e sempre ouvi dizer que quem entra não sai. Por motivos que não interessa na estória eu sai mas o rádio nunca saiu. Dá prazer ouvir uma música, uma voz, vinda desde lá do outro lado que eles chamam de eter e entrar no aparelho e soar parece eles estão ali mesmo.
As colunas vibram, vem noticiário, vem as notas ou vem a música e as colunas parece treme e a gente ouve. 
Faz companhia, completa o instante, enche o espaço da solidão. Eu gosto da Rádio e de lembrar os meus tempos áureos da Rádio. Roda livre, Formula POP, A Voz do Subúrbio, as Ondas do Mar, Tic-Tac, uma série de programas com a plastia deste técnico de som.
Eu não sei se a genração novinha sabe o que é sintonizar um rádio, em que a gente vê uma linha vertical percorrer uma série ilegível de números que a gente até sabia de cor? Eu não sei se a geração nova sabe o que é ficar à espera, com ouvido colado, daquela música que a gente gosta e não tem para pôr no gira-disco?  Eu não sei se a gente nova sabe o que é desejar que o locutor não falasse em cima da música que a gente ansiosamente esperou tocasse? Eu não sei se a geração nova alguma vez soube que a geração do meu tempo namorava a ouvir uma estação de rádio?
Tanta coisa que eu tenho de aprender
Pi Pi Pi Pi   PIIIIIIIII são horas e o texto acaba aqui.


Sanzalando

12 de fevereiro de 2023

#comida xerem de cogumelos


perfeição

Me olho no horizonte como quem tirar uma selfie. A minha cara virou de paisagem, sorrindo, colorida e simpática. Não deixo transparecer a ansiedade que me envolve porque quero tanto ser eu que às vezes me esqueço de mim e isso deixa marca no pensamento, assim como uma cicatriz que não desaparece. Me esqueço que para ser eu, eu tenho de me cuidar, senão passarei a ser uma memória do eu que fui. Eu sei que somos notas soltas dum universo que se move no caos da improvisação, que cada instante é uma incógnita, que cada momento é único. Mas a perfeição é inatingível e eu só me posso aproximar, mesmo assim com muitas feridas e arranhões pelo caminho. Eu sou o mais perfeito que posso.
Será que penso em mim quando estou a sorrir?

Sanzalando

11 de fevereiro de 2023

rumo das palavras

Olho lá longe como quem procura um rumo. Desconheço o destino onde quero chegar. Esqueci a hora que gostava de partir. Mas eu quero me mover? O zulmarinho bate calmo na falésia parece está a fazer a sua sesta, e eu aqui preocupado em seguir um rumo ainda sem ponto final marcado? Eu sei que a única coisa que tenho é a palavra, o poder da palavra escrita ou dada. Palavra dada é palavra honrada, diz o povo do alto da sua popular sabedoria. Quem entende o poder, o peso da palavra, sabe que um rumo não se traça assim de régua e esquadro, bússola ou astrolábio, mas com pensamento e acordo mental. 
É, daqui de cima, o rumo das palavras se afunda nos pensamentos que não rabisco para mais tarde me lembrar. 


Sanzalando

10 de fevereiro de 2023

deslembro o que não sei

Faz frio porque lá faz calor. Me sento aqui e imagino que o zulmarinho para lá está no dobro da temperatura do daqui. Apetecia mergulhar e só voltar à superfície lá. Sei que o ar me ia faltar logo mergulhasse mas imaginar é mais fácil e inventar é possível.
Falta-me a coragem. A minha maior cobardia é olhar-te e fingir que não te vejo, é desejar-te e nada fazer para de voltar a ter. Eu sei que o calor lá aperta enquanto aqui tremelico de frio. Eu sei tanta coisa que não consigo nem lembrar o que não sei.


Sanzalando

Mar de Letras 15-02-2023


Sanzalando

9 de fevereiro de 2023

mares e marés

Me perco a olhar o zulmarinho e navego por pensamentos e mares infindáveis. Se às vezes não tenho tempo é porque eu faço assim num propósito de estar ocupado. Outras vezes, derrotado pelo pensamento ou absurdas ideias ganho tempo de nada fazer. Às vezes fraquejo e me apetece sair correndo atrás dum ontem qualquer. Hoje, forte, sento-me a navegar sobre tudo e sobre nada, e me lembro dos meus brinquedos favoritos e de tudo o que eles representam no hoje de agora. Não consigo dizer adeus à minha camioneta de plástico cor de laranja que tinha um guincho e que me levava horas infinitas de construção virtual no quintal da casa da avó. Não consigo esquecer os Dinky Toys que me levavam a semanada mas que serviam para eu ter os meus sonhos de grandeza.
Não, não tive abismos, mesmo quando a terra se me fugia dos pés. Eu tinha confiança e aconchegava-me nas coisas simples. São estes os meus mares e as minhas marés.

Sanzalando

8 de fevereiro de 2023

tempo que não tenho

Tento sentar-me a ver o zulmarinho num descanso total, desconstruindo pesadelos que se foram acumulando ao longo dos tempos, desmanchando ideias concebidas e recompor-me peça a peça, porem o tempo não me dá tréguas e a sua ansiedade me rouba a musicalidade do silêncio. Se estivesse a escrever um romance eu libertaria as personagens para elas irem à sua vida e deixarem de estar presas à minha narrativa, só para ver se ganharia algum tempo de me reconstruir na fluidez dum discurso fácil e simples. 
Tento sentar-me com os pés no zulmarinho de modo a refrescar-me porém o tempo escasso não me dá tempo de o fazer.

Sanzalando

6 de fevereiro de 2023

regresso ao zulmarinho sem dele ter saído

Olho o Zulmarinho como quem contempla a obra prima criada por um pintor maior. Sinto-lhe um perfume a mar e ouço-lhe uma marulhar. Estou longe para me molhar. Deixo-me levar pelos tons de azul, entro num sono sem que tenha adormecido, relaxo-me sem me deixar cair e a integridade do meu pensamento foi muito para lá de mim.
Não, não quero ser superior ao que já fui, basta-me saber o que fui e a semente que deixo. Fui momentos e todos juntos são a minha vida, independentemente da importância de cada um.
O Zulmarinho é o meu fio condutor, mesmo que parte desses momentos ele nem esteja presente em pensamento ou na real grandeza da sua existência. Obra prima de pintor maior, poesia de poeta sem par, canto de voz impar, literatura de palavras tantas vezes trocadas por silêncios é o meu lugar de observação e meditação, ponto de encontro ou refúgio. Ele é um todo de mim, mesmo que eu seja um quase nada dele.



Sanzalando

4 de fevereiro de 2023

Abecedariamente Z - Zebra

E no Z vou fazer mais como? Zangado? Não consigo por mais que às vezes esteja. Vai para Zarzuela, modernices doutros cantos. Fiquei na facilidade de zebra que tanto pode ser animal como passadeira para peões. Animal listado que nem código de barras ou barras a dizer que é ali que se atravessa. No animal listado até tem algumas que são diferentes das outras. Elas são brancas com listas negras ou são negras com listas brancas? As zebras para peões são para atropelar ou atravessar com todo o cuidado? Sei que estou complicado. Mas na zebra para peões tem gente que passa a ler, e nas zebras animal tem gente que tenta domesticar. Mas fica só nesse tentar porque eu não conheço quem tenha conseguido. Mas eu também não sei tudo.


Sanzalando

2 de fevereiro de 2023

Abecedariamente X - XEROX

Podia ser um triplo X que ficava mais fácil, mas isso não é a minha maneira de ser ou estar. Foi mesmo XEROX porque me lembrei da publicidade á primeira. E fiquei a pensar. Xerox, fotocopiadora ou cópia em 'brasileiro'. Lembrei-me assim que estou muito usado. Já não se usa. Manda-se em pdf e fica lá guardado. Uma ou outra fotocópia mas já não é como era. Já não é foto, é digitalização. Estou mesmo muito usado para saber dessas coisas de ficar na fila para tirar e pagar uma fotocópia. E havia casad de fotocópias com a xerox ultramodernas que tiravam n cópias numa rapidez que agora eu ia dizer muito lenta. 


Sanzalando

1 de fevereiro de 2023

Abecedariamente V - Vertigem

E eis-me chegado à letra V. Ordinariamente me apeteceu escrever sobre Vagina mas ia falar-me género, sexualidade ou ritmo. Senti uma vertigem e parei. Por aí me fiquei: VERTIGEM, que mais não é que a sensação de que eu próprio, ou o meio que me rodeia está em movimento, quando não o está na realidade. 
Vertiginosamente caminhei para a adolescência e me perdi na vertigem da ausência. Eu não sei quem fui. Será que eu sou da Idade da Pedra? Assisti à Revolução Industrial? À Primeira e Segunda Grande Guerras? Eu não existo. Sou uma impressão de mim. Desisto da minha existência ou me mantenho nesta vertigem de ser um gajo porreiro?

Vertiginosamente caminhei para a adolescência e me perdi na vertigem da ausência. Eu não sei quem fui. Será que eu sou da Idade da Pedra? Assisti à Revolução Industrial? À Primeira e Segunda Grande Guerras? Eu não existo. Sou uma impressão de mim. Desisto da minha existência ou me mantenho nesta vertigem de ser um gajo porreiro? Vertigem me fico no sossego do meu lugar a ver o mar.


Sanzalando

#imbondeiro e #livros


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