A Minha Sanzala

no fim desta página

30 de setembro de 2021

caminharei

Quantas vezes tropecei num caminho que me levou a lado nenhum? Não sei. Foram muitas para não exagerar no muitíssimas. Mas nem por isso deixo de caminhar, silaba em silaba até ao parágrafo final. Por ter em conta que eu não sei escrever finais eu vou caminhando palavras sem parar. Há tanto para dizer, tanto para percorrer que eu não sei se o meu futuro chega para isso. Tentarei. Aprenderei com cada palavra, tropeçarei em cada verbo, levantar-me-ei após cada erro, ortografia sublinhada se tiver que subir montanhas de ideias, seguirei caminhando.
Quando eu tiver maturidade suficiente, quando eu souber aceitar partidas, adeus, rupturas, quebras e continuar direito, mesmo que isso seja diferente do normal, quando eu for forte o suficiente para me calar, pode ser que me apeteça deixar de percorrer estes caminhos e levar-me para outros mais serenos  e quem sabe mais fotográficos. 
Quando as minhas palavras souberem a poesia será sinal que aprendi, que amadureci e posso dar por ter feito parte do caminho.


Sanzalando

29 de setembro de 2021

#flores


o que sou: gosto

Continuo a caminhar num caminhar sem fim que terminará na incógnita data do meu passamento. Por este caminho tive oportunidade de ver muitos olhos, muitos sorrisos, muitos rostos fechadas, muitos cabelos penteados das muitas diversas formas, porém sempre achei que os meus eram de todos os mais bonitos. Vaidade? Certeza absoluta. Como é que eu poderia caminhar se não gostasse deste caminho e deste caminhante?
Se penso demais? Se calhar sim, mas vou fazer mais como. Gosto de imaginar que as noites me dão alento para os dias, me traduzem os versos da vida em rimas certas e verdadeiras. São as minhas noites.
Como é que eu não poderia dar cor ao fascínio que sou?


Sanzalando

#imbondeiro


28 de setembro de 2021

agora

Quantas vezes me apeteceu apagar todas as palavras que disse? Incontáveis. Quantas apaguei? Nem uma. Palavra dita é palavra, som no ar que vai ser ouvida num lugar qualquer. Não posso aspirar as palavras que digo. Era-me incoerente. Mas tem vezes que não me apetece ouvir as minhas palavras. Silêncio. Faço-o. Às vezes as minhas palavras me recordam os anos, o peso da vida vivida e mesmo que eu me entristeça logo sorrio porque isso é vida. Se eu não tivesse usado essas palavras antes eu agora ia falar mais o quê? Eu ia-me ouvir mais como? Eu vou-me esquecer desse tempo todo usado? Nunca. Vou-me entristecer? Se eu galasse outra língua eu diria never, porém fico-me no jamais. 
As minhas palavras mostram momentos. Eu gosto desses momentos por isso eu gosto das minhas palavras mesmo que não me apeteça ouvi-las em algum momento.
Tantas vezes eu me pergunto se tem problema em usar as minhas palavras para me revitalizar. Nunca. Porque o problema não está nem na palavra nem na vida passada. A coisa está no agora, na vontade do agora em ouvir-me ou calar-me.

Sanzalando

#maracujás


27 de setembro de 2021

revitalizando-me

Lá vou eu caminhando sobre palavras soltas e tantas ideias vadias. Passaram-se os anos e continuo a mesma leitura, mesmo que as palavras não pareçam ter o mesmo significado que diz o dicionário.
O meu zulmarinho continua a estender-se para lá da linha recta que é curva, assim como uma pedra tanto pode servir como um tijolo ou um pau de giz, como avião que não bate assas e nem se parece com passarinho e voa, uma borboleta parece uma pétala esvoaçando e gente é tão minúscula quando olhada desde o alto dum arranha-céus. 
O meu sonho de sair por aí correndo caminhos de imaginação ou de memória é tantas vezes adiado que um dia eu vou pensar foi delírio ou alucinação. Um dia, quando me esquecer de acordar, todos os meus sonhos vão virar nuvens, rabiscos de pincel grosso pintados numa tela azul, restos finais de mim num sorriso que esqueci de sorrir.



Sanzalando

#lugaresincriveis


25 de setembro de 2021

#momentos doces


#comida


refazendo-me

Tantas são as vezes que me perco nos meus caminhos. Começo por pensar ir por ali e quando dou por mim estou noutro lugar, noutro caminho, noutro horizonte. Se quero ver o mar eu vejo-o, mas raramente do sitio onde pensei que o ia ver. Se quero ver-me, entro por mim a fora e sigo-me por caminhos que às vezes me levam ao medo. Ao medo de mim. Ao medo do que posso tornar-me. Ao medo do fogo que arde em mim e que me pode devorar tornando-me cinza dos meus pensamentos.
Quantas vezes pensei que era incansável, interminável, imprescindível?
Eu tenho medo de me tornar nesse buraco negro da minha existência permanentemente. Eu gosto de me ver ao espelho e me reconhecer. Detestaria um dia olhar-me e ver um vazio nos olhos. Eu tenho medo de descobrir que eu não existi, fui um bocado da minha imaginação.
E comecei eu hoje a pensar em seguir um rumo predefinido e já me perdi em vagabundagem mental.
Acho vou refazer-me por uns instantes.


Sanzalando

#comida


#zulmarinho #lugaresincriveis


#lugaresincriveis


24 de setembro de 2021

um dia divagando

Bateu chuva na estrada, correu rio no caminho, mas os caminhos seguiram em frente. Todos os caminhos vão dar a Roma, me diziam em pequenino, porém hoje acho que todos os caminhos vão dar a novos caminhos, a novas aprendizagens. Também me disseram que o tempo curava todas as feridas mas tem feridas que demoram mais tempo a serem curadas. E o tempo tem velocidades diferentes conforme o tempo que temos. Cada frase me contradigo na sequencia que me interpretam. Verdade só há uma: a verdadeira. Venha o diabo e escolha. Seja eu quem quer que seja, não deixo de ser o Eu que sou. 
Eu um dia vou aprender a escrever palavras bonitas, torneadas numa oficina de marceneiro intelectual. 


Sanzalando

23 de setembro de 2021

chegados ao outono

Chegados ao outono sorrimos e dizemos que sobrevivemos. O receio agora é chegar ao inverno, aos dias frios que corroem as veias, pouco ou nenhum espaço deixam para a realidade mental, já que o corpo gasta o seu tempo a tentar aquecer-se para fazer a caminhada escura dos dias cinzentos. No outono ainda teremos um ou outro dia de luz a doirar as copas nuas das árvores. No inverno os galhos se parecem mortos em luto cinzento carregado. No outono ainda não está frio e porque será que já penso no frio de inverno? Deve ser para ter tempo para aquecer-me com o calor da indiferença.
Começou o outono e eu já antecipo tempos longínquos.


Sanzalando

22 de setembro de 2021

#maracujás


caminhar motiva-me

A motivação sendo intrínseca vem do reconhecimento pessoal. Não vem do espaço nem cai do céu. Ela nasce dos brilhos exteriores, dos estímulos recebidos e da capacidade de cada um se rever dentro desse mundo despejadamente colorido. É o prazer reconhecido, é o projecto fazedor da alegria, é a palavra cheirosa que bate na alma, um gesto de amor. 
Tudo isto me leva a caminhar por sentidos latos para chegar a porto definido. Um gesto de amor neste caminho que escolhi. Não por nada e nem por ninguém, apenas por mim e para mim. Eu acredito que posso transformar o impossível nesse possível desejo.
Motivo-me caminhando por pensamentos carregados de afecto.
Limpo o meu cérebro dos pensamentos carregados de arestas e substituo-os por pensamentos puros. Não delírios porém sonhos.
Se erro, peço desculpa e recomeço. Não é humildade reconhecer um erro. É inteligência. Eu estou bem e consigo melhorar se souber do erro e emendar. Aprendo.



Sanzalando

21 de setembro de 2021

e continua a dar-me para aqui

Pensar diferente não é querer fazer inimigos. Maturar ideias, recordar vivências, cultivar amizades, contrapor pensamentos, perguntar, ouvir com ouvidos de escutar e depois analisar e votar. Processo natural em democracia. Por mais que eu queira fazer parte dum mundo diferente, deste mundo rodeado de conflitos, a realidade faz com que nos afastemos. Crescemos fora desse mundo embora por mais esforços que façamos ele persegue-nos.
Podemos assumir um deixa andar, um comportamento passivo, em que deixamos andar sem participar e vemos o mundo que nos rodeia a afundar-se, paulatinamente como um envelope a desfazer-se no mar, sendo que dentro dele estava a nossa esperança.
Podemos tomar um comportamento positivo, critico, sem cair em extremos, sem renunciar à nossa condição de cidadão e acreditamos na mudança, verdadeira, de cima abaixo e com pessoas a surpreenderem-nos e a nassa mente pensar, acreditar que afinal pode existir esse tal de mundo novo.
Mas na verdade, até esse dia, que me canso de esperar, permanece a duvida e a desacreditação dos políticos.
Assim, quando se aproxima uma acto eleitoral eu acredito que é desta que o impossível vai acontecer, mesmo sabendo que como impossível que é, nunca chegará. O voto é intransmissível porém o eleito tantas vezes é mutável, esquecido e de fraca memória.


Sanzalando

manhã cedo

É manhã cedo e o sol que já não é de verão timidamente vai aparecendo. Eu por cá vou caminhando, tropeçando em palavras, ideias, sonhos e delírios. Faço um esforço para que as preocupações e os desânimos não me provoquem grandes tensões. Caminho tentando saber para onde vou, inspirando profundamente para me inspirar para o caminho que há de aparecer pela frente.
Se eu agarrasse um livro eu só iria saber que tinha feito uma boa ou má escolha depois de o ler. Neste caminhar acontece exactamente o mesmo. Procuro caminhos que me levem o cérebro para um espaço de liberdade e se puder também de felicidade, subjectividade ao alcance de qualquer desejo, sempre acompanhado de conhecimento, porque esta bagagem não ocupa espaço e não pesa. 
Nestas caminhadas eu vou buscar o estímulo ao meu exterior mas a motivação é interna, minha, pessoal e intransmissível. As boas ideias não surgem do nada e todos os estímulos são para agarrar. A alma tem de estar feliz. 
É manhã cedo e me apetece caminhar sem comparar com caminhos já percorridos.

Sanzalando

#imbondeiro #mangueira


20 de setembro de 2021

adeus verão

Despedindo-me do verão, aquela estação do ano que é a mais quente, onde se vê à venda melancias e mais uma grande variedade de frutas, onde os mosquitos ao fim de tarde se tornam mais acordados e certeiros nas suas investidas, onde as pessoas mais se desnudam num agradar passear onde quer que seja, excepto aquelas que, por ser verão, têm mais pressa de viver e fazer coisas para terem mais tempo para não fazerem nada, onde todos pensam estar de férias mesmo aqueles que cá trabalham, escrevo umas outras coloridas palavras de adeus. 
O verão, as idas à praia, o gelado da tarde, o jogo de bola e as almoçaradas com amigos, num ciclo anual que se repete, está de abalada. 
Este ano, dirão uns, foi atípico. Outros disseram isso noutro ano. É sempre um verão atípico. 
A cada ano jogo à bola mais devagar, o jeito dos pés passou para os olhos e cordas vocais. Os almoços com os que estão de férias se tornam mais escassos, porque, não estando de férias, a digestão se faz cada vez mais difícil, necessitando de mais tempo para recuperar duma refeição para outra e também porque os amigos vão-se indo para parte incerta ou apenas estão fixos a um lugar da memória e com uma grande incapacidade para se deslocarem sem terem de trazer atrás todo uma parafernália de utensílios indispensáveis à sua vida.
Este ano o casaco foi acessório indispensável, bem como uma boa dose de laca a segurar o cabelo porque o vento norte não foi de férias para outra parte.
Este verão deu para recordar outros verões, da adolescência à idade adulta, ao mesmo tempo que vi a família crescer numa dupla dose de netas.
Este verão foi atípico mas foi um verão com memória

Sanzalando

#comida


#lugaresincriveis


19 de setembro de 2021

hoje deu-me para aqui

Não nego a existência de uma ideologia na minha linha de pensamento. Não sou quadrado, retângulo ou circulo, área fechada de pensamento. Tenho uma linha e adapto-me à realidade. Não, não sou anarquista no sentido de ser contra tudo e querer deitar tudo abaixo. Simplesmente sou a favor de muito menos leis, obrigatoriedade de as cumprir e cada um é responsável pelo seu não cumprimento. Não vou dizer se sou Marxista, Trotskista, Maoista, I à IV Internacional, da Igreja Social ou Social Democracia. Repito, tenho uma base ideológica que adapto à realidade e manifesto essa minha posição. Não tenho é que estar aqui a explicar-me, juntar-me ou afastar-me de partidos e pessoas que se candidatam. Voto em consciência e quase sempre a pensar, repito, quase sempre, só no mal menor, por falta de quem com clareza e inspiração. Não votar seria uma opção, porém não me revejo a dar a quem vota a minha posição de decidir por mim.
Hoje acordei a pensar em política. A vida activa da minha adolescência, a minha extremada posição de mudar o mundo nem que fosse partir para a revolução armada. A ingenuidade teve o seu tempo, o preço a pagar foi integralmente pago, hoje sou livre para pensar o que penso e assumir a responsabilidade dos meus actos, sem constrangimentos e sem ficar com a sensação de incompleta certeza de ter dito o que tinha que dizer.
Não quero para amanhã um mundo igual ao de hoje nem o quero a pensar do mesmo modo que eu. Não quero é que se dirija qualquer discussão para assuntos de menor importância, de semântica, e tudo o resto seja mais do mesmo.
Os políticos vivem à nossa custa, na base do nosso voto, mesmo que de tempos a tempos haja uma ou outra mudança, que tantas vezes é só pura semântica, pura mudança de nome ou cor. Os políticos de hoje, revendo e extrapolando o passado recente, serão os réus da corrupção de amanhã, porque o sistema político continua a legitimar a continuidade, a pseudo-liberdade de voto esvai-se em fumo após a inserção do voto na urna.
Claro que sou democrata e assim continuarei a ser. Mas continuo sem saber que parte dos meus impostos vão de facto a votos porque tenho em consciência que hoje a ideologia em vigor é a de ser eleito agora e depois logo se verá o que faço, uma vez que tudo está na mão de quem tem realmente o poder...




Sanzalando

17 de setembro de 2021

#bebidas


um fado

Menina da rua
cantas o fado
com letra tua
sem música ao lado

Menina morena 
de olhar distante
és tão pequena
mas grande diamante

Voz poderosa
em letra triste
perfume de rosa
numa lança que existe

Cantas em fado
um amor sofrido
que passou ao lado
dum alegre sentido

As lágrimas que cantas
num silêncio musicado 
a todos nós encantas
com esse triste fado





Sanzalando

16 de setembro de 2021

palavra

Todas as palavras são de sentido único. São alma sentida e reflectida, som ecoado no coração. Não há palavras para usar ao desbarato, para encher, para desbaratar em conversa fiada. A palavra tem sentimento, pode provocar ansiedade e esta não retira problemas de futuro mas retira a paz do presente. A palavra sentida é aquela que foi dita com muito pensamento por trás, muita sabedoria de experiência, muita certeza. Não é palavra circunstancial, eco vazio num deserto de letras.
A palavra trás esperança, trás calma, segurança. É preciso saber usar a palavra. É por isso que eu treino e um dia eu sei vou saber usar.



Sanzalando

#momentos


15 de setembro de 2021

reaver memórias

Se me deito na areia húmida duma praia de sonhos viajo através da memória e outras vezes fico na dúvida se sou eu a imaginar realidades sonhadas ou delírios da idade avançada. Pertinho da minha casa, à frente da nova Casa de Saúde, há a casa Do Sr. Martins. Sonhei ou é realidade do tempo em que eu guardo na memória? Lá tinha duas figueiras que davam figos brancos de pingo de mel. Desconheço se é nome verdadeiro ou nome de baptismo dado por nós. Quem é que nunca os foi lá gamar às escondidas do Sr. Domingos, velho guarda que já não tinha idade para trabalhar num trabalho sério. Para agravar a situação ,no passeio havia as castanheiras com castanhas, cujo o nome não deve ser esse porque neste lugar as castanhas são outras coisas. Mas quem é que está interessado nos nomes quando lhe sabe bem o que é que era? Quem foi que nunca lhes tentou tirar com pau, trepando ou atirando pedras? Ninguém responde? Eu me lembro de um só nome que nunca foi lá. O Rui Miranda. 
Coisas fantásticas há na memória da gente. Imaginação, sonho ou delírio? Pouco importa, é o meu passado passado a pente fino


Sanzalando

14 de setembro de 2021

delírio de amor

Refastelado numa praia, mais ou menos à hora do pôr-do-sol, embrulhado no marulhar e embebido em maresia, desfilo-me pensamentos à velocidade que ardem os corações. 
Na verdade o amor é coisa não visível, arte de sentir, sentimento, não palpável, mas porém ardem corações por ele. De verdade que não sei se há amor de chama eterna, gosto de imaginar que sim. 
O amor dói. basta romper com ele para sentir essa dor imensa. 
Afinal de contas o amor é palpável porque dói, porque queima, porque arde. 
Gosto do amor.


Sanzalando

13 de setembro de 2021

#flores


passados imaginados

Ouço lá fora o som da chuva que cai copiosamente. Aqui dentro ouço os meus silêncios. Contrastes. 
Lá fora, imagino eu, não passa ninguém. Cá dentro, na minha memória passam multidões. Uns tens nome e outros tiveram. Uns tiveram existência, outros têm. Uns viveram, outros passaram por cá e levaram a vida que tiveram. As memórias, algumas ténues, outras carregadas de cor e garridas, pulam na minha imaginação como se estivessem em festa. É uma festa imaginar baseado na memória. Acho entrei no ciclo vicioso de imaginar memórias para ter memórias para imaginar.
Lá fora chove chuva que faz barulho. Cá dentro memorizam-se passados imaginados.

Sanzalando

#momentos


11 de setembro de 2021

recordando passados reais

Eu e mais alguns faltamos às aulas. Não era normal mas também não era mesmo comum. Tinha dias. Não fomos à praia nada, não fomos ver a miúdas do Lubango que vem sempre neste mês de março ganhar uma cor para o tempo agreste do planalto e azucrinar a cabeça destes pacatos membros desta pacata cidade. Elas vêm sempre de nove horas armadas em importantíssimas e bonitas. Bonitas são... e armadas em duronas também. Desligam-se da gente que até parece a gente tem feiesa na cara.
Não senhora, fomos só para o Aero-Club - Rua dos Pescadores- jogar bilhar. Perde paga e não tem discussão. O Reis joga para caramba, eu também, o Zé Pedro, o Victor, irmão do Zé da Fisga e mais uns quantos que às vezes aprecem vindo dos Magriços desafiar a gente parece é rivalidade de rua. Se instiga e vai novo jogo. Já disse nomes mas ainda falta uma camioneta deles. Tem mais velhos e tem mais novos. Eu estou nestes últimos mas jogo bué. Quer dizer, tem dias. Mas antes fui comer um pastel de nata à Oasis.  O sr. Reis põe na vitrine cerca das 11 horas um tabuleiro deles bem quentinhos que marcham que até parece é do outro mundo. Ué, alcatrão está quente e tem tampinhas soldadas a quase desaparecer na quentura. Se eu andasse descalço ia ser bonito. Mas nonkacos me protegem. 
Hoje o jogo não me está a correr de feição. Dou tão finas que até parece passam ao largo. É cada viela que hoje só sorte nos amores. Vou mas é até ao Liceu que tem lá as Garinas bonitas das de cá que nos olham como gente, mesmo as que só ligam mesmos aos mais velhos... 
Cresce e aparece, miúdo. Filho da Lavadeira tem destas coisas, se eu fosse sanguito tinha outra visão e conhecia mais que as ruas da minha cidade. Quer parecer mais do que é. Que aconteceu mesmo? Chumbou! E tudo isto foi no liceu e aconteceu mesmo...


Sanzalando

9 de setembro de 2021

reacendi-me na memória

Bebida a imperial na Minhota subi até ao tribunal e nas suas escadarias me sentei. 
O tabaco me tirou o folgo e eu deixei-me cair no vazio dos campos minados da tentação e nos brilhantes sonhos fantasmagóricos que a imaginação me foi oferecendo. Recupero o folgo buscando palavras que me levem por trás do palácio, até aos terrenos da Igreja Paroquial onde a música me embalará numa tentativa de engatar a miúda mais gira da minha geração. 
Penso eu, desejo eu, sonho eu.
Mais uma vez falhei. O ar ofegante me aconselha a ficar aqui sentado e deixar essas estórias para os mais velhos, porque o meu tempo há de chegar.
Acendo outro cigarro como que me socorrendo duma bala de oxigénio, atiro pensamentos para o firmamento enquanto faço círculos de fumo num gastar de tempo perdido. Me fizeram feitiço, tenho a certeza. A miúda mais gira da minha geração não me sai da cabeça, nem com as minhas promessas de que mais tarde recuperarei.
É o meu vazio de sonhos ímpares, entrelinhas da palavras soltas, falhanço total que juro, aqui na escadaria deste tribunal, um dia vou recuperar todos esses sonhos, desejos e quereres.
Agora, repousado, caminho por trás do palácio em direcção à discoteca da Igreja Paroquial onde ouvirei o Because I Love you pela centésima vez este mês.


Sanzalando



7 de setembro de 2021

silêncio de hoje

Hoje ganhei um dia de não caminhar. Alguma coisa me fez mal e só apetece estar de olhos fechados e procurar o silêncio total. Com base nisso, hoje não ia fazer nenhum trilho de palavras, não ia brincar aos últimos dias de verão. Ia mesmo só ficar assim quieto que nem pedra fora da estrada. Hoje para além das palavras não saírem, o sorriso também se esconde atrás duma face de dor. Hoje quase esqueço o mundo real e procuro o ficcional, o silêncio de estar parado na quietude total, os olhos desbrilhados aprecem fúnebres vazios de solidão.
Mas vejo um restinho de sol porque penso que há um amanhã que vai tapar este hoje.


Sanzalando

6 de setembro de 2021

serenidade introduzindo o posfácio

Na verdade, nos últimos tempos, tenho aproveitado as minhas caminhadas para pôr em ordem uma prateleira da minha cabeça. Os tempos passam a correr e não sendo eu adivinho, sei que tenho mais passado que terei de futuro e o presente tem de ser usado bem. Assim sendo, tento evitar preocupações a mais do que aquelas que dão pica ao dia a dia, tensões que possam causar dano a um sistema nervoso calmo e sereno. 
É neste propósito que as minhas caminhadas podem passar por letras soltas e palavras vadias que vou dispersando por uns aquis e outros alis. Leio um livro, normalmente recomendado e poucas vezes ao acaso, sobre temas que no momento me despertam e que podem ir desde a História, ao Romance ou ao Conhecimento. Um bom filme, tal como no livro, que após a visualização, eu classifico como fui bem ou mal aconselhado, mas não glorifico nem crucifico a fonte, porque isto de gosto tem muito de subjectivo e como tal é variável. Mas ganhei opinião e isso é já uma forma de enriquecimento de conhecimento.
Nestas caminhadas também me motivo, também recordo os tempos em que qualquer medalha, oral ou física, fazem ainda como que eu olhe o à frente sorrindo, passado arrumado e cor nos olhos que olham o mundo.
Nestas caminhadas ainda tenho tempo para ver o que me dá gozo, o que é fazível, o que é ideal, sonho ou delírio, sentir o perfume ou o mau cheiro e fazer as minhas escolhas sem ter necessidade de comparar passado com futuro neste presente que me é vital, nem com o vizinho do lado e nem com um histórico cujo passado só conheço a virtualidade transmitida. Eu ainda tenho capacidade que posso transformar o mundo, nem que seja apenas o meu.
Vá lá, nestas caminhadas também posso encontrar os meus erros e enganos. Não tenho a mínima duvida em pedir desculpa quando acho que o devo fazer, sem ter necessidade de transferir esse peso para outro. Afinal de contas um erro é uma poderosa forma de aprendizagem e de recomeço.
Finalmente estas caminhadas servem para não estar parado, nem enferrujar o intelecto nem o físico. Ouvindo os Rolling Stones, pedras rolantes, concluo que até as pedras se movimentam, porque não eu fazer o mesmo, caminhando por escadas de pensamento ou passeio de ideias, voos de sonhos e navegações sobre correntes frias e quentes?
E assim terminando, começo a introdução de todas as caminhadas que fiz até este presente que daqui a pouco foi-se em passado.
É tempo de cultivar-me em serenidade e ser feliz



Sanzalando

#lugaresincriveis


3 de setembro de 2021

#lugaresincriveis #estremoz


Caminho

E continua-se a caminhar, uns dias com mais pressa e outros lentamente. Não me quero cansar nem cansar as minhas palavras. Como soará uma palavra rouca escrita num caminho? Também não sei se quero ouvir a rouquidão entrar em mim, numa voz feita boba, num jeito de bem comportado, num modo de estar tranquilo. 
Eu sou um assim natural, sem gelo nem quente de fazer chá, num meio modo de estar, recém nascido faz muitos anos, falecido tardiamente qualquer dia espero eu, que escrevo as minhas palavras pelos meus caminhos de pensar, de ver ou apenas idealizar. Não deixo os dias correrem, vivo-os. Intensa ou naturalmente mas marcando cada um com uma assinatura mental.
Caminho para deixar as pegadas para quem vier a seguir saber por onde andei.


Sanzalando

2 de setembro de 2021

inutilidades

E cá ando eu de inutilidade em inutilidade. A minha escrita é inútil. Uso-a como um inutensílio. A única razão que a uso é porque não preciso de me justificar. Gosto e pronto. Qual haveria de ser outra justificação? A minha escrita não tem um porquê ou uma razão de ser. É. Eu existo e nunca perguntei porquê. Sou. Gosto de caminhar, caminho. Gosto de me ler, escrevo. Gosto de viver, vivo. Jamais precisarei de uma outra justificação. Sou assim e depois? Inútil? E eu com isso?
Pouco me importa se quem nasceu primeiro se o ovo ou a galinha. Ambos, diria eu de que os gosto. Ontem faz parte do meu passado, amanhã do meu futuro, hoje é que é importante. Ontem foi inútil? Não, hoje sou assim porque tive um ontem. Muitos ontem. Cambada de inutilidades mantenho no meu passado. E espero ter no futuro. Eu quero ter futuro.


Sanzalando

1 de setembro de 2021

Centro-me

Respiro solto, atiro para o ar toda e qualquer dor, livro-me de cansados pensamentos, delírios e outras impossibilidades, de pesos mortos que cansam e nenhuma falta fazem. Não guardo pesos dentro de mim, incluindo as preocupações absurdas ou mentais que apenas cansam a alma e atrasam o físico no seu riso gargalhado de viver. Por momentos esqueço o mundo e as suas tempestades, reais e ficcionadas, liberto-me dos cinzentos céus da consciência, dos medos reais e ficcionados.
Por momentos sou eu e o resto do mundo porque por momentos mereço ser o centro do Universo.


Sanzalando

#imbondeiro


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