A Minha Sanzala

no fim desta página

31 de março de 2023

aposentado

Está brisa fresca que não me deixa olhar em frente com a vontade que eu queria. Obriga-me a fechar os olhos e é fria. Esta brisa não vem dos meus lados. Vem do lado de lá. Olhos fechados e vejo o horizonte imaginado. É igual aos outros, porem não tem o brilho do que é natural. E depois temos que cada pensamento é um mundo e a imaginação uma constelação de sons e imagens. 
Está fresca a brisa. Me aconchego nesta batalha de saudade de futuro e me sinto a repousar porque amanhã, quando amanhecer vai ser um novo ciclo a ser desenhado e espero não ter de estar a contar as batidas do coração que por agora está acelerado.
Como vai ser se é a primeira vez que me apanho nesta situação? 
Sorrirei e caminharei, com sol, brisa ou chuva. Só trovoada e diarreia é que me vai fazer parar. 


Sanzalando

30 de março de 2023

auto-reflexão

Se me sento e descanso enquanto olho para longe sem querer ver nada, é sinal que estou a aprender a ter paciência comigo, a querer estar tranquilo e ver o meu eu de uma outra qualquer forma. Se fosse outro eu ia dizer que está na hora de ter amor próprio, mas como sou eu que me digo, é só sinal que está na hora de fazer um refresco mental e saborear essa frescura.
O caminho é inclinado e não é fácil. Criei barreiras que são provisórias e por isso tem de desaparecer, criei laços que terão de ser alargados, hábitos que terão que ser deixados em pousio. Uma série de coisas que tenho de aprender, para além de estar comigo.


Sanzalando

28 de março de 2023

Entre as saudades de futuro e o ter de esconder a emoção, o tempo vai correndo lentamente.
Eu sei que um dia aqui chegaria. Não imaginava como, nem que dores podia sentir. Era um desejo que seria futuro que quase virou presente e que custa virar a página.
Há dores que não deviam doer, há momentos que deveriam ser saltados. Há estados de alma desconhecidos que deveriam ser substituídos por momentos de festa interior. Há, mas nem são verdes nem falam em silêncios surdos e pardos.


Sanzalando

27 de março de 2023

Até já, Terras do Infante

Não é de hoje nem de faz pouco tempo. Não gosto de despedidas. Digo até amanhã, sabendo que esse amanhã poder ainda hoje como pode ser um nunca. Não gosto de dizer adeus. Feitios de coisas simples que não complicam com o sistema nervoso. 
Na verdade eu vou ali. Num ali que nem eu sei bem onde é que é. Mas depois de tantos anos a fazer uma coisa a gente tem de parar e arranjar outra qualquer coisa para fazer. A destreza, paciência, acuidade e o gesto já não são iguais. Há que dar lugar aos novos e sem me meter em silêncios, em pontos finais, em parágrafos especulativos vou só por aí fazer uma caminhada nova por estrada desconhecida à descoberta de novos horizontes ou ângulos do mesmo. 
Não quero desculpar-me mas se custa dizer até já, imagina dizer até sempre se não sei até quando.
Tenho marcas. Deixo-as comigo, mesmo que esconda uma lágrima que teima em sair, um obrigado que tenho que dizer
Até já pessoal de Lagos, Terras do Infante.






Sanzalando

#flores


24 de março de 2023

reflexo

Eu nasci um dia para olhar olhos nos olhos das pessoas e dizer o que me vai na alma. Esconder o quê? Se me apetece elogiar eu faço-o. Se sinto que devo criticar critico. Não vou nem gritar porque isso era só falta de argumento e poluição sonora. A vida tem altos e baixos, certezas e dúvidas, porém há uma coisa que só o ser humano é capaz: compreender e ajuizar e consequentemente pensar. A Inteligência Artificial lhe falta a capacidade de sentir e compreender. Tem muita gente com inteligência artificial, mas não a das novas tecnologias, mesmo só artificial porque comprada num qualquer supermercado de produtos contrafeitos e sem capacidade de pensar com sabedoria.
Eu nasci para dizer o que sei e o que eu não sei vou ouvir ou estudar até aprender. Inventar não é o meu propósito, não é o meu destino nem a minha predisposição. 
Isto é ser intuitivo após ter pensado sobre mim.


Sanzalando

23 de março de 2023

eu estou aqui

Estou para aqui a olhar para lá da minha existência sem conseguir imaginar o fim. O fim é mesmo a última coisa que quero saber. Tenho muito intermédio pelo meio. Faz sol e isso me importa. Amanhã está cacimbo? Veremos e logo vemos o que vamos fazer, desde que eu não me junte a companhias vazias, porque para solitário já me basta a minha solidão.
Estou aqui a olhar para lá de mim e consigo imaginar tudo o que fiz para aqui chegar, porque eu hoje sou o somatório indivisível dessas partes todas, multiplicado pelo coeficiente das ideias não imaginadas porem vividas ao sabor doas coisas boas.
Eu não quero votar a ser pequeno, ao cambalear dos primeiros passos, às fraldas  e birras, a comer areia ou fingir doente para fugar à escola. Eu passei esse tempo e hoje posso olhar o mar, tranquilamente.


Sanzalando

#comida


22 de março de 2023

ver o mar

Me apetecia desenhar estrelas, todas com cores garridas e sei lá se alguma florida. Queria dar ar de festa, embelezar a tristeza da hora da despedida. Mas se não consigo sorrir como posso dar cor ao ar que me rodeia?
Acho vou ver o mar, lá, nada me chateia.


Sanzalando

21 de março de 2023

Olho desde aqui até lá no horizonte longínquo, até onde os olhos conseguem chegar, e só posso dizer que ser pai é uma coisa que nem sei como é que vou lhe dizer. Dois filhos que para além de serem bonitos enchem a alma de alegria. Um faz anos hoje. Primaverou até na estação. Soleou no dia que amanheceu parecia era dia de festa. Embeveci? Claro que sim. Babei? não porque sou discreto e só fiquei assim a modos de toma lá tudo. Sorri, gargalhei e me senti o gajo mais importante do império mental. Inigualável a sensação de paternidade, Primavera ou verão que até já me esqueci das fraldas, das birras e noites de insónia. E depois ele além de festejar a sua primavera ainda festeja os 20 meses das filhas. Beijinho filhotes. Sanzalando


ser pai

Olho desde aqui até lá no horizonte longínquo, até onde os olhos conseguem chegar, e só posso dizer que ser pai é uma coisa que nem sei como é que vou lhe dizer. Dois filhos que para além de serem bonitos enchem a alma de alegria. Um faz anos hoje. Primaverou até na estação. Soleou no dia que amanheceu parecia era dia de festa. Embeveci? Claro que sim. Babei? não porque sou discreto e só fiquei assim a modos de toma lá tudo. Sorri, gargalhei e me senti o gajo mais importante do império mental.
Inigualável a sensação de paternidade, Primavera ou verão que até já me esqueci das fraldas, das birras e noites de insónia.
E depois ele além de festejar a sua primavera ainda festeja os 20 meses das filhas. 
Beijinho filhotes.



Sanzalando

#momentos


20 de março de 2023

eu

Olho o zulmarinho como se hoje fosse a primeira vez. Me admiro do seu azulinho que se estende ao outro azul feito céu.
Eu, pequenino neste cantinho de quase nada, ser levado à glória parece fui herói doutras eras, que me levam a pensar este mundo loucou que nem parece mais o mesmo.
Eu, insignificante parte deste canto quase inexistente, louvado em aplauso de pé, até parece fiz milagre de santo.
Eu, analfabeto de letras pequenas e outras bancárias, enriquecido de afectos parece ganhei milhões.
Eu mesmo sou assim e ia ser mais como? Dizer obrigado e desconsigo dizer mais outras palavras


Sanzalando

#momentos Esqueleto


19 de março de 2023

Dia do pai

E lá vou eu tentar falar do meu pai que faz anos eu só tenho pequenos flash de memória. Começa só por ser saudade, a falta daquela mão amiga, aquela voz a me orientar, aquele segurar. Depois começa a lembrança das coisas lindas que me disseram e a tua ausência passou a ser um memorial constante, um porto seguro de inspiração e segurança mental. 
Te sinto falta sabendo que estiveste sempre a meu lado como ainda agora nestas linhas que escreveste que até parece fui eu.


Sanzalando

#lugaresincriveis


18 de março de 2023

inocentemente

Olho o zulmarinho em fim de tarde parece é verão com frio de inverno. Não tenho tempo para ir buscar a máquina e tirar um retrato ao Pôr do Sol. Fico só mesmo a lhe olhar como quem não sabe que este instante dura um minuto. É, a realidade me ultrapassa a inocência, pois quando sinto que estou no dia perfeito ele se acaba e há de aparecer outro. Daqui a pouco verei uma estrela, que até pode ser um planeta, e eu aqui a ver-lhes nascer. Eu, inocentemente a olhar o céu para lá do zulmarinho. Os meus olhos se habituam lentamente à escuridão da noite. Eu e a noite. Não parece haver mais nada em volta. Inocentemente a realidade me engana.


Sanzalando

#desportivamente Torneio


17 de março de 2023

#comida


hoje faz conta foi um adeus deste ciclo






Confissões sobre a vida de um Cirurgião - a tiróide e o zulmarinho

 

Começo por agradecer a presença de todos. Desculpem-me o incómodo, desculpem qualquer coisinha.

Tudo o que eu aqui disser é cientificamente provado, mesmo que não haja estudos, por quanto é verdadeiro.

Procurarei não referir nomes, porque são tantos aqueles a quem devo o que sou, que a omissão de apenas um seria para mim motivo de grande tristeza e imperdoável indelicadeza.

Enquanto vos falo, passam ali uns slides, maneira arcaica, antiga, de dizer que serei acompanhado por imagens no ecrã deste anfiteatro. Algumas imagens poderão ferir os mais sensíveis, mas foram captadas por mim, ou com as minhas máquinas, mesmo antes de haver estes aparelhos que agora também servem para telefonar. Outras slides são acasos, palavras ou momentos da minha História.

(A vida de um Cirurgião é penosa sob o ponto de vista físico, mental, familiar e social.)

Começando pelo nascimento. Fui nascer a 283 km de casa, onde vivia o meu avô paterno, enfermeiro chefe num Hospital. A razão foi simples: existência de maternidade nesse hospital.

Com esta polémica actual com as maternidades, nota-se que eu naquela altura já estava atualizado. Sou um dinossauro com software actualizado. Mas nasci em casa dum familiar porque havia futebol: Benfica -Sporting por Lisboa e o meu pai tinha de ouvir o relato, porque naquele tempo não havia ainda a TV.

A RTP dava os primeiros passos por cá enquanto eu gatinhava por lá. Em rodapé: Ela foi criada no dia que fui baptizado. Coincidências.

A primeira complicação do nascimento é a vida e esta é a primeira causa de morte.

Dai que eu diga que cada instante deva ser vivido com a intensidade que merece. Hoje, emocionado, agradecido, tenho até medo de dar intensidade ao meu coração já cheio.

Como sempre pensei, a monotonia é desmotivante, a leitura é inimiga da ignorância e o saber melhora a qualidade do pensamento. Este tem sido o meu mote, o meu mantra de vida. Eu sou assim!

A vida está cheia de ‘por acasos’, de momentos inexplicáveis, de pausas e ciclos. Assim é a História da minha vida.  Quase na hora de fechar mais um ciclo.

É possível apagar a minha história? A minha resposta é simples e categórica: Não! De todo impossível. Pode ser esquecida, pode ser até florida, diminuída ou aumentada, adulterada, porém nunca apagada e tenho dúvidas que possa haver uma segunda edição.

A amplitude da minha história é tão grande quanto é a minha vida, pelo que se torna impossível de conhecer neste instante de pausa. Pausa porque refletimos sobre mim, sobre o que fiz, o que faço e o que farei.

Este momento marca-me?

Só se eu fosse imbecil é que não me marcaria.

A imbecilidade é uma escolha e eu não a quero. Reflito, medito, penso e se for necessário corrijo. Não posso apagar o passado, mas tenho capacidade mental para corrigir e retificar num qualquer momento. No hoje de agora posso dizer que chego aqui com a consciência tranquila.

Como todos, também tenho dias complicados e dias simples, dias altos e baixos, dias no meio da multidão e outros na mais sólida solidão.

Sei que quem procura a felicidade de ‘per si’, só encontra nós, alguns aparentemente impossíveis de desatar, complicações e confusões. Porém digo que a felicidade é uma das mais raras e bonitas complicações desta vida. Mas é ela que nos encontra, e é através da esperança. Quem a perde a esperança raramente encontra a felicidade.

Ora, eu sempre tive e mantenho a esperança e é por isso que dou comigo tantas vezes a olhar o Zulmarinho, esse mar que me liga à minha terra natal, à espera dum sinal ou só à espera como se olhasse para dentro de mim.

Coisas simples simplificam-me a vida e eu mantenho a esperança de assim permanecer, simples, sorrindo e vivendo. Só morrerei em último caso e contra a minha vontade.

Outro complemento da vida é o ‘por acaso’.

Por acaso nasci e vivi onde o fiz. E também foi por acaso que naquela altura temporal fui um jovem ‘revolucionário’, que viveu coisas que por acaso não tiveram um outro desfecho.

Por acaso vim para Portugal estudar e mais uma vez, por acaso, fui parar ao Porto.  Lisboa era fervilhante de actividade política, de amizades complicadas e interesses que quase de certeza me levariam para outros caminhos que não o estudo de Medicina.

Como se vê, é fácil ter esperança e viver por acaso. Mesmo que isso dê muito trabalho.

Também foi por acaso que fiz a especialidade em Santarém, que tal como o Porto eu nem sabia que existia. Fui feliz e consegui atingir o objectivo traçado: Ser Cirurgião e ter o espírito aberto dos ‘velhos’ cirurgiões dos Hospitais Civis de Lisboa.

Por acaso não me torturo pelo que poderia ter feito, pelo que poderia ter sido nem por onde podia ter andado. Há tanto caminho ainda que posso percorrer. Não tenho feridas por cicatrizar.

Na Cirurgia aprendi que pode haver muitas técnicas, mas só há duas maneiras de operar: Bem e Mal. Opto sempre pela primeira. Tenho a capacidade mental de escolher, chamar ou dizer não, quando sei que não sou capaz.

Nunca procurei lugares de liderança porque para mim liderança não é um lugar, é uma atitude, é um modo de ser no estar. Eu sou apenas esta personagem que está aqui à vossa frente.

De 1984 a 2023 fui crescendo e hoje dou comigo aqui, para falar de Retalhos da Vida de um Médico, fosse eu Fernando Namora, distinto escritor médico que já saiu desta vida mas que a sua obra, vasta e bem feita, não o deixa ser esquecido. Meritoriamente.

Eu, por acaso, não tinha uma única tiroide operada quando acabei a especialidade, e muito suei no meu exame de saída por esse motivo. Por acaso desse exame, por esse problema, fez com que no Hospital de Santarém passasse a operar Tiroide em vez de as mandar para Lisboa.

Quando aqui cheguei, 1996, pedi ao então Director do Serviço que me ensinasse. Boa hora o fez. Agradeço.

A tiroide foi um gosto que aprendi a gostar. Não era a minha primeira opção, pelo que disse, era-me até muito amarga, mas na altura não havia escolhas. Cirurgião era o mais próximo do Supremo, só que o supremo não sabia operar. Cirurgião que se preze sabia tudo e tudo devia saber fazer.

Daqui a pouco falarei uns números que aqui são isso mesmo: números. Mas nunca me esqueci e nem me esqueço que atrás desses números existem uma pessoa que, para além da doença, tem sentimentos: de angústia, de raiva, de tristeza ou revolta; ou simplesmente carência afectiva. Isso também fez de mim quem sou.

Mesmo que digam que o mais próximo do psicopata seja o cirurgião, aquele que sente prazer em cortar um ser igual, que se vangloria do facto, que chega a casa feliz porque fez e aconteceu, eu nunca poderei esquecer aquele olhar no momento da alta, aquele sorriso quando estou à cabeceira, aquele mimo que recebo em qualquer lugar por reconhecimento.

Mas voltando o fio à meada, não descurei nunca outra qualquer patologia, órgão ou sistema que faz parte do currículo do Cirurgião Geral. Mas se gostava do todo da cirurgia geral, fui acompanhando os tempos e aperfeiçoando a técnica, promovendo a ‘especialização’, o pormenor, a diferença, de modo que o doente estivesse consciente de que as complicações fossem cada vez menores, o seu risco mais atenuado e a sua qualidade de vida melhorada porque eu estava mais capaz. Tinha mais treino.

Tive a oportunidade de tutelar três internos da formação específica. Um, no segundo ano anunciou-me que a vida de cirurgião era muito mais pesada que a sua inicial ideia, pelo que mudou e foi para outra especialidade onde sei tem ganho o apreço dos seus pares. Dois foram-me seguindo e hoje são Cirurgiões que me orgulham. Não são a minha cópia, porque sou inimitável, único, mas posso garantir que estão aptos a me operar se eu necessitar.

Voltando ao título e não vos quero deixar defraudados.

O cancro da Tiroide representa 1 % das patologias oncológicas mas a sua incidência tem vindo a aumentar quer no homem quer na mulher, com predomínio nesta. Não se sabe a causa.

A patologia tiroideia, oncológica ou não, é muitas vezes silenciosa e outras vezes indirectamente sintomática, pelo que o tratamento cirúrgico pode levar o doente a pensar que é desnecessário, que é demasiado agressivo ou simplesmente ineficaz. Há que ter o bom senso e boa capacidade de comunicação para fazer entender o propósito do tratamento.

Não esquecer que o dever primeiro do cirurgião é manter a qualidade de vida, se a não poder melhorar. Como diz o povo: para pior antes assim.

Agora falo em números. Olhando para os registos do CHUA, unidade de Portimão, só a partir 1998 poderei considerar fiáveis.

Fiz  21.157 consultas, 7.868 são novos doentes.

Operei 5.365 cirurgias em Cirurgia Geral e cerca de 100 na Ginecologia ou Obstetrícia, Urologia, ORL e Ortopedia.

Para não maçar digo-vos que há um slide por aí com números de vários capítulos mas sublinho apenas 248 Tiroidectomias sendo que 197 foram totais e 151 lobectomias.

Nas cerca de 100 fora da cirurgia, algumas por solicitação da minha experiência, outras porque sempre me considerei o eterno interno e sempre estive disponível.

Se tive complicações? Claro. Só quem não faz não as tem.

Todas elas me marcaram, todas elas deixaram-me cicatrizes que jamais conseguirei esquecer, principalmente as que foram fatais para o doente. Poderia dizer aqui o nome de todos os que na cirurgia electiva complicaram de modo fatal mas guardo-os na memória e no coração.

Também quero que fiquem com uma ideia que sempre me norteou: Eu não sou aquilo que tenho, sou mesmo aquilo que fiz e faço.

Lembrem-se que quando partimos desta vida só levamos uma muda de roupa e não somos nós quem nos veste mesmo que tenhamos feito essa escolha.

Deixados os números e tristezas passemos ao zulmarinho

Esse Zulmarinho onde me perco nas palavras simples, nos trocadilhos, nos recados ou nas memorias e que me acaricia no seu ondular, me deixa continuar a ter os meus sonhos, a cumprir os meus desejos e, quem sabe um dia, será a minha estrada de imaginação.

 

Obrigado a todos


Sanzalando

16 de março de 2023

simples

Horizonte azul que se estende para lá do zulmarinho me trás um sinal, um raio de esperança ou apenas um sorriso. 
Sabes que tem dias que me apetece fingir que não me importa se valeu a pena ter feito todo este caminho até aqui e imaginar ter feito outro. Desconsigo desligar porque não dou credibilidade aos outros caminhos que não fiz.
É esta simplicidade das coisas que me fascina. Se não foi outra vida que vivi vou imaginar o quê? Vou sonhar mais o quê? Vou fazer mais como? Teria que me justificar ser outro. Complicaria. é simples ser simplesmente assim.


Sanzalando

15 de março de 2023

tem de ser

Se o sol brilha as cores têm logo outro colorido. Daqui do meu ponto de observação mental, donde observo a minha existência tento apagar os meus cinzentos, os lados opacos da vida sem me esquecer que também esses lados me fizeram gente.
Calculo que sempre trilhei o caminho certo, trabalhei os meus sonhos e empenhei-me no caminho diário sem nunca ter-me encontrado perdido. É, às vezes a gente se perde dentro de nós e faz só porque sim ou porque fica bem. Detesto e acho muito doloroso um dia assim.
Desde aqui me recordo que às vezes retrocedi, me encolhi e me calei num silêncio de dor e tristeza. Mas tão logo eu recuperei-me e de cabeça levantada regressei a mim.
Tem dias que alma dói, que o coração parece é pedra e os nervos são franja. Mas esses dias tal qual vem, vão. Tem de ser. Tenho de ser feliz e não há outra maneira.
Quando me perco me procuro e me encontro. 
Tem de ser

Sanzalando

14 de março de 2023

Dias

Olha só a saber que estou cansado de falar só coisas boas?!
Fico nessa inércia de saber que só existe coisas boas e tudo ri e gargalha. 
Hoje porque sim. Amanhã porque será?
Ontem foi porque estava feliz. 
Vou perder tempo com coisas ruins? Eu acho preciso de desfazer o cansaço, criativamente. Às vezes basta ir ver o zulmarinho e outras regar o jardim ou apenasmente olhar as flores e admirar a sua beleza. Ruim já basta só pensar que um dia tem fim. Ele que venha só mais tarde que agora estou ocupado na e com a vida.
Dias?!


Sanzalando

13 de março de 2023

felicidade imperdível

Olha-se a tranquilidade do Zulamrinho. Até me apetece dar um mergulho, mas eu sei ia sair um chapão daqueles de respingar água até quase nas nuvens e ficar com a barriga assim que nem tomate vermelho bem maduro. Vou ficar só aqui a lhe admirar e sonhar que ele é um retrato da minha juventude, um pedaço de mim feito relíquia para mais tarde adorar.
Aqui te olhando nem tenho vontade de abraçar tristezas, recordar melancolias ou suspirar saudades. 
Aqui te olhando vejo-me rebelde saltando muros, atirando pedras nos pássaros, sem lhes acertar que a mira não nasceu comigo, aqui sou eu, eternamente jovem atirando o pião, jogando à macaca ou ao garrafão. 
Aqui sou eu e tu nas nossas alegres memórias de felicidade imperdível.


Sanzalando

#comida


12 de março de 2023

pergunto-me

Me olho de dentro e boto um sorriso na cara. Como é que eu poderia explicar que o zulmarinho era mesmo esse azul que ele tem? Se há assim uns milhentos tons de azul como é que eu posso ser preciso no dizer do azul dele? É mesmo melhor não perder-me neste campo e ficar só assim a me olhar em tons de azul dele, nos muitos que ele tem, desde aqui até lá ao coração dele.
Me olho e vejo os amores perfeitos que fui tendo. Me desassossego nas palavras que não disse. Como posso estar tranquilo nesta intranquilidade? Sei que nunca me deixei de pensar em ti, esse amor perfeito desse momento. Tu tens tons vários, não tantos como o zulmarinho, porém como é que eu posso descrever esses tu que eu fui amando nas mudanças da vida? 
Pergunta sobre pergunta até um dia eu ter resposta para dar-me.



Sanzalando

11 de março de 2023

presente

Deito o olhar para a distância, lugar invisível desde aqui, e me deixo levar pelo sonho. À medida que a idade vai crescendo, que o tempo de sobra vai diminuindo, encontramos momentos do passado que nos fazem olhar para dentro. O tempo passa e não damos conta e as recordações vão-se desvanecendo e o impacto psicológico faz despertar desse sonho e regressamos ao presente. O tempo passado pode curar feridas mas as suas cicatrizes estão presentes. 
Deito o olhar para a curta distância e por aqui me fico a olhar.


Sanzalando

#lugaresincriveis


10 de março de 2023

me divago

Me recolho no alto da minha falésia em meditação ou só em pensamento de lá atrás para ver coisas velhas com os olhos de agora. Um dia aqui sentado eu desenhei na cabeça uma imagem de voar sob um triangulo, só que depois eu soube já tinham inventado a asa delta, mas não me importei. Continuei a me sentar aqui e a ter os meus sonhos ou pensamentos com os olhos de agora. Eu sei que a vida é uma mestre sãbia, que não nos dá a eternidade mas nos empresta passageiros de passagem para nos ensinar lições que a gente aproveita ou não. Acho a vida é assim como que uma sala de aula, de multifacetas e mutilugares em que tanto somos professores como alunos.
Me recolho aqui a meditar com os olhos de agora o meu futuro de amanhã.


Sanzalando

9 de março de 2023

#livros


Estórias 10 - tem dias

Se tem momentos de laser tem momentos de muito fazer. Hoje o meu avô fazia só 121 anos se não tivesse partido faz muitos anos lá atrás. Hoje tive que dizer muitas palavras, umas de conforto, outras de resposta a pergunta feita e alguns silêncios pela desfeita. Esse tempo assim de chuvisco parece é infértil, feito de lágrimas com bolor com uma discreto sabor a fel. 
Hoje até me apeteceu fazer um refresco na memória e apagar as cinzentas lembranças que necessitam grande esforço para serem lembradas. Eu não preciso lembrar nomes, eu sei-os. Eu me embebedei de nomes que vivi nestes anos longos que levo que até me chamam de idoso e acho não esqueci nem um. Será que os nomes que tenho na memória corresponderão aos corpos que fixei faz tanto tempo? Desacredito-me. Os corpos não são como as estátuas nem os corpos celestiais. Deformam-se com o engolir dos tempos, com o desperdiçar dos dias, com os romances sonhados e com a embriagues da felicidade.
Nem eu já vejo com os meus olhos como via com o meu coração, deixo rascunhos perdidos, sonhos desenhados em papel pardo e folhas vazias por não ter paciência de ir buscar memórias quase apagadas. Lembro-me de cada linha do meu índice, contradigo bulas de complicações e pinto-me de corres garridas para esconder desacertos de felicidade.
Tem dias de muito fazer e de muito socializar.





Sanzalando

8 de março de 2023

momento de amor

Me sentei no parapeito duma falésia a olhar o zulmarinho sem ter ideia que o tempo passa. A minha cabeça não costuma sair em viagem e se perder em caminhos de divagação. 
Aqui, no silêncio da admiração, formulo frases feitas como quem declama um poema, com palavras soltas e silêncios quebrados, como estivesse a fazer uma declaração de amor, sem focar nenhum lado particular, sem escrever palavras difíceis que possam ter significados rasurados, sem esquecer que o raciocínio, parte integrante do ser humanos, não pode causar mal estar ou falsa esperança. 
Olhar assim o zulmarinho, como se fosse um amor interminável, um ouvir compreendido num cruzamento de palavras doces e afagos, eu acaricio todas as recordações que me lembro, todos os pensamentos aleatórios, todos os devaneios e seguro com força todos os meus sonhos. Se não fosse assim, seria diferente. 


Sanzalando

6 de março de 2023

passados em presente

Do alto do meu miradouro, deste lugar onde me olho e reaprendo a viver em cada segundo que passa, dou comigo a navegar por memórias ou apenas lembranças vagas que se espumam na areia duma praia feita de tempo. Tem momentos que nem sei como lidar com quem levanta a voz para imperialmente se impor. É tão mais fácil e inteligente impor com argumentos do que com decibéis. É assim mais ou menos como que a falta de peso num corpo ao vento, vai!
Do alto deste lugar eu tenho vezes que me apetece confrontar ideias com esquecimentos voluntários, apagar circunstâncias com equações matemáticas e cimentar paciência com sensibilidade iludida.
Também tenho consciência que os meus fracassos e desilusões não dariam para fazer um museu nem decorar uma casa de chá.

Sanzalando

5 de março de 2023

deslembro lembrar

O zulmarinho me leva a todos os cantos deste redondo planeta. Eu me navego de mar em mar até lugar mais nenhum, mesmo que seja um vazio de memória. Neste matéria imaterial que é a memória quantas vezes eu encontro penas cinzas porque alguns passados foram apenasmente queimados pelo tempo. Acho que deve haver um limite de capacidade dessa memória, pois ao tingir ela se funde numa escaldante melancolia de esquecimento. Como é que eu posso ir buscar essa obliqua linha de pensamento apagado? Acho no Natal vou pedir um recuperador de bites e afastar-me de ondas magnéticas que se usava para apagar as fitas dos gravadores de som. Se calhar eu caí num poço dessas ondas e me apaguei, só que ainda não me dei conta. A visão não está turva, a audição não está surda porém a memória está cinza. Acho cai no absorto do meu absurdo momento de laser. Acho me apago num fogo lento e me deslembro de lembrar sorrir ou recordar


Sanzalando

3 de março de 2023

me afasto de tristeza

Caminho pelos meus caminhos mentais, como se tentasse perceber quem sou, não me conhecendo. Pode parecer que se falo coisas tristes é porque quero afastar a minha tristeza, mas não, aumenta a minha pena de mim. Por isso, falo de coisas alegras, da vida que gosto de viver, do que gosto de sentir. falar de coisas tristes parece-me querer abraçar a tristeza, segurá-la e eternizá-la. Tristeza dói. Eu não gosto de dor nem de a transformar em palavras. Eu sou alegria mesmo que às vezes chore. Eu sou gargalhada, mesmo que às vezes pareça triste. Transformo-me em transparência volátil e etérea. Desapareço se a tristeza me pegar.



Sanzalando

2 de março de 2023

Agradeço. Espetacular


Estórias 09 - uma carta de amor

Aqui, no alto da falésia, onde o mar bravo não me apanha, onde recordo amores e desamores faz tempo eu vivi, me lembro que altura houve onde escrevi cartas. Cartas de amor que se perderam no tempo ou no tempo foram absorvidas, assim numa espécie de reciclagem, num apagador de memória selectiva. Se alguma pena tenho desse passado não ser presente é porque não me lembro os lindos poemas que lhes escrevi. Se eu escrevi cartas é porque estava longe desse amor e dói ser amado de longe, dói beijar sem boca, dói o silêncio do abraço e a insensibilidade da carícia. É através dessa dor que se escrevem os mais bonitos poemas de amor. Dói perder o ardor da juventude nesse amor desfisicado, nesse trocar de olhares cegos, desses beijos sem saliva. 
Teria sido mais fácil ter atravessado um deserto nesta minha idade de agora que ter passado esse tempo sem esse amor presente. Por muito que eu soubesse que que ia ser eternamente teu, enquanto durasse, sentia o corpo vazio num amar errado, numa doce fim de tarde trovejada. Era duro esse tempo porém gostava que fosse presente para me reler nos sonetos e poemas vários com os sentimentos de hoje. Aí tola juventude ganha que recordo neste presente como uma ressaca dum copo bebido no tempo da irresponsabilidade.
Quem me dera recordar de todas as cartas de amor que alguma vez possa ter escrito.



Sanzalando

1 de março de 2023

Estória 08 - reconstruindo-me

Me olho só assim dum de fora para dentro e mesmo que eu pareça estar todo partido dos carretos ainda consigo reflecir a luz da minha essência ao ponto de embelezar qualquer noite cerrada. Quem morre de amores fica assim esfrangalhado que nem copo de vidro que foi ao chão. Mas meus pedaços, porque são-me importantes, desconseguem ficar cacos soltos e se encaixam na minha existência como se fosse um puzzle de muitas mil peças. Entre cortes e colagens reconstrui-me, envernizei-me na forma de tornar impermeável a novas intempéries e carregado de muitas esperanças parto para novos horizontes, sem medos, temores ou outras questões. Nas minhas peças saradas, sem rachaduras perceptíveis fui-me reconstruindo fortaleza, ainda que haja noites em branco.
E com a contagem dos tempo a se desfazer, fui criando outros rumos, uns mais sólidos que parecia granito, outros mais arenosos que que nem a fina areia da praia ficava na peneira.
Foram bonitos momentos, coloridos, alegres e carregados de fanfarras que nem baile de sábado à noite. De tantas mortes de amor fui recuperando-me que nem viúvo alegre, até à morte seguinte. 
Do caos do caco até à solidez do presente muito poderia contar, mas jamais conseguiria dar o colorido misturado com o cinzentismo desse intervalo.
Me olho e me gosto mesmo que tenha dado desgosto a quem me gostava.


Sanzalando

Podcasts

recomeça o futuro sem esquecer o passado