A Minha Sanzala

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31 de julho de 2022

perguntas e respostas

Me sento no passeio à frente da minha casa. 
Deve ser por ser Domingo à tarde que não está ninguém na rua. Cansaram na praia, estão a fazer os trabalhos de casa ou somente estão a descansar parece é Domingo de tarde. 
Vadiamente estou sozinho na rua e me pergunto porque é que eu não desisto e automaticamente me respondo porque não sei desistir.
Assim num logo de imediatamente sai-me outra pergunta que respondo quase sem ter tempo de pensar: porque é que não desapareço? eu não sei fazer truques!
Olho para ambos lados e continuo sem ver viva alma nas redondezas. 
Decidi, sem mais nem menos: vou atirar tudo para trás das costas e ser feliz. 
Como se atira tudo para trás? me esqueci de que não sabia responder a esta pergunta que me fiz


Sanzalando



#lugaresincriveis


29 de julho de 2022

a velocidade do caminho

Se eu caminhasse à velocidade do meu pensamento eu voava. Acho eu ia andar o dia no ar. Eu me perdia no espaço porque tem vezes que a realidade me faz apressar as coisas e o meu eu quer fazer tudo ontem para amanhã descansar. No meu caminhar tenho sempre a sensação que me falta qualquer coisa. Eu espero o fim do caminho mesmo que eu não saiba onde ele fica, mesmo que eu não saiba como é que ele é. Nesta pressa de caminhar, tantas vezes em passo lento para ter tempo de desembaraçar o turbilhão veloz de pensamentos, eu me perco nas poucas ruas da vida, no tempo curto da mesma, no azul céu do meu sossego, no zulmarinho da minha calma e no celeste azul da minha impaciência.
Afinal das contas, as coisas boas da vida acontecem devagarzinho



Sanzalando

28 de julho de 2022

telefones e a minha rua

Todas as minhas ruas têm estórias para contar. Umas sei e outras não. Umas me contaram outras ainda não e tantas mais que nem me passam pela cabeça. Se na minha adolescência as minhas ruas eram poucas, na adolescência do meu avô nem quero nem pensar. Mas estou certo tinha muitas estórias que não me contou. Os meus tios têm as suas estórias. Os amigos têm as suas estórias. Que estória me falta contar das que sei? Deslembrada memória que me falta... 
Todas as minhas ruas vão dar a um porto seguro. Em todas as ruas eu tinha um abrigo, um amigo, uma família. Que pena eu não ter dado mais importância às minhas ruas quando brincava nelas. Se tinha tamarindos eu me lembro. Se tinha castanhas também e figueira nem se fala. Mas eu queria lembrar todos os amigos e ia fazer uma lista parecia a lista dos telefones do tempo em que não havia lista a não ser a escrita no livro do meu avô. 
- Bom dia. Faça-me o favor de me ligar ao 200.
Cortesia e os CTT faziam a ligação. Simpatia no serviço tantas horas tem o dia. Ou então era pedir para ligar para a casa do Sr. X e a ligação de pronto era feita. Uma estória contada ao telefone não era a voz corrente porque ele não servia para essas mundanas fofocas. Era um utensilio de utilidade e não de diversão. Às vezes servia para uma ou outra brincadeira, diria agora de mau gosto. Mas na altura era um alegre adolescente irresponsável. Mas as senhoras do CTT faziam a ligação pedida... Mas quase sempre era apanhado, mais dia menos dia lá vinha a reprimenda muitas vezes escondida num sorriso de quem também tinha achado piada, apesar de tudo. 
Todas as minhas ruas tinham nome, todos os nomes tinham uma rua. Ficaram na memória os que deixaram as minhas ruas e partiram já para parte incerta.


Sanzalando

27 de julho de 2022

meu silêncio

Me despi de palavras para fazer um silêncio. Um minuto ou o tempo suficiente para pensar no quão perdido posso ter andado pela vida passada. Não queria nem gostaria de repeti-los. Mas para isso preciso de os saber. Medito! Silêncio que não quero ser distraído. Quero ter a certeza que não perdi vida. Mesmo nas horas mais tristes, nos momentos de desabar o meu mundo, quero estar vivo, ver e sentir-me vivo. Assim saberei tirar alguma lição, guardar uma memória, ter saudades no futuro. Se não estiver vivo no presente não terei saudades no futuro, diria La Palisse e eu lapalissei.
Me dispo de palavras com vontade de estar em silêncio, o tempo suficiente para me ver por dentro, já que não me quero morto. Quero ver-me amar sabendo que às vezes o amor é só uma coisa interior, intima e secreta. Que melhor posso ter que o meu silêncio?


Sanzalando

26 de julho de 2022

beleza

O que é a beleza? Nesta caminhada, nestes caminhos percorridos para lá da imaginação e da memória, sempre estive rodeado de beleza, das pessoas mais formosas porque todos, para lá dos estados negativos, têm um lado lindo, assim como os melhores têm um lado horroroso. Claro que a beleza é subjectiva e sem parâmetros funcionais de qualificação. A virtude é beleza! A sinceridade é beleza! A alegria no olhar é beleza! O amor é beleza!
Nestes caminhos, mesmo nos defeituosos, há oportunidade de encontrar a beleza. Só preciso caminhar com imaginação e memória.


Sanzalando

#imbondeiro


25 de julho de 2022

eu e a imaginação

Me detenho no alto da minha imaginação, no ponto onde não há nem calor nem frio, alegria ou tristeza, ventos ou chuva, árvores ou deserto. Estou apenas eu e a minha estória inventada, mesmo que a tenha vivido. Eu e a imaginação moramos num andar dum lugar que não tem nem interior nem exterior, areia ou pedra, sem muros ou castelos. Temos que pôr lá tudo o queremos. Num resumo bem espremido: eu e a imaginação nos baralhamos no vazio. 
Já vi tranças no cabelo, cabelo curto, cabelo longo, castanho ou cinzentado, cabelos de rainha. Já a vi pisar a areia da praia e parece não deixa pegada, porque na minha imaginação não ficou lá o desenho. Já a vi correr mais forte que o vento que deixou para trás. Já a vi parada a olhar para lá da minha imaginação. Já a vi pensar e já a vi com ar de bravo mar que avança terra adentro.
Na minha imaginação ela tem tom de voz, mesmo que as palavras possam parecer um emaranhado de inacabados pensamentos que eu imagino ela teve.
Do alto da minha imaginação não há meninice nem velhice e lhe vejo igual que nem num ontem qualquer.
Daqui, donde eu posso inventar as minhas estórias, eu lhe vi boiar num zulmarinho de tempos, nas ondas dum mundo onde sem tempo nem que o tempo não pare.
Da minha imaginação ao mundo real vai um espaço que nem eu sei onde começa e acaba.


Sanzalando

21 de julho de 2022

#mangueira em casa nova


caminho

Cá vou eu por mais um caminho. Já imaginei que esta vida é o inferno duma outra. Eu ia ter de acreditar na encarnação, reencarnação, encadernação em novas roupagens. Eu ia ter que rever todo o caminho que tinha caminhado. Eu sei que não andei por caminhos errados. No meu ponto de vista que é o que mais me importa.
Mas nestes caminhos tenho de ter a mente aberta para novas páginas, novas palavras e discussões. Cada página lida é vida ganha. Eu fui os que sei, sou o que sou mas nada sei do que serei. 
Estes caminhos complicados que me levam a ver que emprego não é o mesmo que trabalho. No primeiro é ganho dinheiro e no segundo é prazer. Se juntar um no outro é que é virtude. Todos falam em trabalho de parto e não em emprego de parto. São caminhos simples que levam a lugares simples, pequenos passos para grandes caminhos.
Sigo caminhando.


Sanzalando

20 de julho de 2022

tem dias

Sigo o meu caminho. Umas vezes lento e outras correndo. Sigo mesmo que não saia do meu lugar, mesmo que os meus passos sejam estáticos. Pensamento em pensamento como se fossem pequenos passos dados em sentido certeiro, num carreiro de formigas mentais, num dançar de bando de pardais, sigo caminhando num cuidar-me, num resolver-me, ultrapassando dificuldade em dificuldade com a naturalidade da vida. Se tem dias que parece eu não consigo, eu me supero no seguinte, nem que eu tenha que ir na memória me ultrapassar, porque sei que nunca é tarde para recordar que dificilmente a gente se esquece das coisas ruins, mas deixa de se lembrar. Confundi? Lembra só que a memória é um registo que está lá gravado parece faz parte da essência, da circunstância e até da própria substância. Não tem dia sim ou dia não. Tem dias.


Sanzalando

#mangueira mudando de casa


19 de julho de 2022

#flores


me deixa ir

Deixa só ir por aí sem destino ou fim à vista. Vou pé ante pé, a correr ou só de olhar, mas me deixa ir ver sem pensar. Mesmo que eu não consiga, por egoísmo ou só porque me gosto, me deixa ir por caminhos da memória, pelas surpresas que vivi, pelas esperas que esperei, pelas ruas desertas ou cheias de gente, procurar o que já nem sei. Me deixa levar a minha visão até ao meu desligar, como se eu tivesse ganho memória dos sorrisos que me sorriram, das perdas que perdi, dos olhos que me olharam. Me deixa ir levar a minha beleza ou feiura pelos caminhos que eu entender, até encontrar a memória que nem sei que perdi. 
Quantas vezes dou por mim a pensar em algo que já não fazia parte da minha estória porque era uma folha solta do livro de memória?
Me deixa só ir por aí á procura das minhas páginas tantas, folhas soltas ou pontos parágrafos.


Sanzalando

18 de julho de 2022

mais logo

Hoje me sento nas pequenas bancadas do velho Atlético. Faz conta vai ter um jogo logo e isto vai estar que nem rebentar. Jogo importante neste velho e minúsculo campo não dá para esta criança entender. Faz de conta vêm jogar as estrelas dos patins que jogam nas importantes equipes de todo o território. Mas isso é só mais logo. Agora estou aqui a ver os meus botões, a recapitular os pontos negros, não os que alguma namorada mais tarde, um dia, vai forçar virem para fora. Mesmo assim, num só jeito de tentar ser feliz. Aqui sentado me tento viver sem pensar que não te tenho, que não existes num constantemente fervilhar de pensamentos. Que se existes és vento, chuva tropical, mosquito zunindo meu ouvindo ou ferrando minhas pernas desnudadas. Aqui sentado, me imagino mais logo, perdido, no meio da multidão que vai gritar os nomes, um a um das estrelas dos patins, enquanto me deslargo de ideias fixas em que tu não és corpo presente. Mais logo serei desapaixonado de todo.
Aqui, mais logo, imagináriamente, vou tirar-te da minha cabeça, afastar-te do meu coração e dizer-me que é um sonho ser feliz assim. Vou deixar de estar ocupado com pensamentos teus, com inexplicáveis razões de mostrar um rosto baço e não terei preocupações de procurar os motivos de sorrir escondendo as lágrimas da saudade.
Aqui, onde num logo mais tarde, gritarei golos, como se fosse eu o herói do jogo.

Sanzalando



#mangueira


17 de julho de 2022

#momentos dessalinização


quadricular

Eu nasci numa cidade e ainda com dias fui morar na minha cidade quadriculada. Eu me quadriculei na infância e na adolescência. Faz conta só adulto eu me desquadriculei, mental e urbanamente. Eu sou dum mato com muita estória e carregado de História. Mas quadriculadamente eu não gostava de incomodar ou contrariar quem quer que fosse. Eu tinha medo que elas fossem dizer eu era um quadricular chato. Eu sei que a quadriculada cidade me moldou nestes termos, mas era também no meu interiormente falado e calado assim. Culpa minha e não só da quadriculada cidade donde afinal eu sou sem ter lá nascido.
Na cidade onde realmente se ficou a placentaria parte de mim que me ligava à minha mãe não era quadriculada porque não sendo plana eles inventaram muitas curvas e rectas encurvadas. E só lá passava uma terça parte do ano. Era diferente. Nesse lugar eu arriscava mais, eu me importava pouco se me chamavam besta ou era só bestial. Eu estava de passagem e por isso não ia magoar ninguém, a não ser por esquecimento no ano seguinte.
Na minha quadriculada cidade era bem diferente. Eu tinha a minha máscara e com ela fui crescendo. E a máscara se quadricualizou-se à alma pelo que nem em adulto desquadriculei-me por inteiro. 
Talvez o consiga quando eu fôr velhinho com o corpo curvado porque a terra me está a puxar e eu quadriculadamente me vou mantendo à tona.


Sanzalando

#lugaresincriveis


16 de julho de 2022

#imbondeiro em livros e estantes


#flores


#zulmarinho


sentido

Vou só andar por aí. Sei lá recordar a minha infância, a minha adolescência ou simplesmente qualquer coisa sem importância. Eu sei que tem gente que adora ficar na cama, muitos apenasmente porque não têm para onde ou porque ir. Eu vou, nem que seja para me ver a mim nos meus ângulos vagabundos. Se encontrar alguém para conversar, converso ou dialógo pelo simples prazer de falar ou de dar assunto ao falador. Às vezes até tem conversas que já nem sei o que falei, foi um automático saudável conviver. Outras vezes o dialogo vai até às quinhentas voltas dum relógio sem tempo. Outras vezes ainda converso mentalmente com os meus fantasmas, meus sentimentos e meus sentidos. 
Faz sentido.


Sanzalando

15 de julho de 2022

caminhar por aí

Não sei se hoje vou a algum lugar. Caminhar caminho. Chegar é que eu não sei nem onde vou. Ir longe não é o meu desejo. Ir a lugar seguro nem pensei. Ir só por ir hoje é o meu desejo. Mar aberto, perder de vista o horizonte. Ir-me por mim fora. Eu sei que falar é de borla, porém tem vezes que isso me sai caro. Por isso, com este calor do verão de cá, eu queria ir no silêncio do meu passo, embora saiba que me faz bem ter alguém com quem falar, ter alguém que me faça rir, alguém que me contrarie. Mas não tenho palavras para gastar na passada deste meu caminho.


Sanzalando

13 de julho de 2022

papel das paixões

Vou só atirar palavras para o papel de modo a formar memória das minhas paixões. Tantas foram as vezes que eu imaginei gostarem de mim, assim de borla, sem nada em troca, só por mim assim mesmo como é que eu sou. Gostar nas múltiplas formas de gostar, desde gostar para casar até ao gostar para dizer olá. Outros gostares foram a minha imaginação, as palavras que imaginei ouvir, os olhares que imaginei trocar, os sorrisos que imaginei ver, e eu de olhos brilhantes de contentamento.
Se na minha juventude houvesse essa coisa do Google, eu tinha procurados soluções na nuvem, confirmado promessas, procurado lugares e localizado momentos em vez de ter perdido noites a olhar o tecto, a contorcer-me de ciúme, a sentir ódio visceral de vazios solitários, ensurdecer nas insónias de silêncios, no sabor salgado das lágrimas que chorei. 
Hoje não sinto vergonha mas teria feito tanta coisa diferente que de certeza ia dar no mesmo. Hoje o meu olhar se perde nesse tempo com um misto de sorriso saudável e ar compreensivelmente de expert no assunto. Hoje consigo olhar sem preencher lacunas divagantes desses tempos tão distantes, esperando que a minha entrega de corpo e alma nesses amores perfeitos, tenham contribuído para o meu estado de felicidade.
Naqueles gostares não havia lugares para sexo. Eram estrelas cintilantes num equinócio de Jupiter e Saturno, de luzes e brilhantes bebedeiras de paixão.
Naqueles tempos eu fui amado pela imaginação, pela paixão platónica, pelo sol e pelo tempo decorrido até aos hojes de agora.
Toda a minha vida foi real, desde o quadriculado à confusão, desde o chinelo ao sapato de verniz, desde o calção rasgado ao fato e bata verde. 
Hoje tenho consciência que as minhas palavras são o espelho do meu fui, sou e serei, dos meus conflitos e baralhos. Estou e sou um apaixonado. Pelo menos nas palavras.


Sanzalando

12 de julho de 2022

inércia e outros caminhos

Me olho caminhando e sinto que me poderia matar só por me sentir inútil. Mas quem é que pode ser inútil em vida? Quem se afunda e se afoga na vida? Ela tem caminhos, atalhos, auto-estradas reais e virtuais, sonhos e fantasias, ela tem muito por onde escolher. Escolho o que mais me convém e depois sorrio, porque vivo posso ter esta capacidade. Se me afundasse, eu ia cair na inércia, me afundar e depois a força necessária para a combater seria inversamente proporcional à minha capacidade física e mental. Assim eu não me deixo afundar, escolho o atalho, caminho florido, escada ou escorrega, outro lado de mim que me leve pela utilidade de ser. Eu não sou de tudo ou nada, sou mais de sorrir com vontade de sorrir, de fazer com vontade de fazer.
Inércia não é da minha família e lhe quero o mais longe. Afundar nem por boas causas. Eu salto barreiras, muros e entraves, porque estou vivo e isso me leva por aí, pelos caminhos de mim.


Sanzalando

11 de julho de 2022

#flores


se me lembro

Me lembro de percorrer as ruas da cidade como quem quer conhecer o mundo. Mundo pequeno o meu porque pequeno era o meu horizonte. Hoje me lembro das ruas, das esquinas, dos passeios, por onde ela passava atirando-me o sorriso contagiante, sem nunca lhe ter passado pela cabeça que o fazia. Quando eu tocava no rádio clube a música preferida dela eu lhe imaginava na sala da sua casa a dançar feito bailarina dos filmes que eu vi nas matinés. Quando lhe nasceu a irmã, passeávamos parecia era uma jovem casal apaixonado, sem nunca lhe passar pela cabeça tal imagem. E passeávamos de carro nos fins de tarde eles pareciam os meus sogros e eu feliz via da estrada os passeios que percorri, que corri e decorei, e eles nunca o pensaram.
Me lembro parece é hoje que gostava de ver hoje o que foi ontem de muito tempo lá atrás as películas dos filmes que  fiz na minha imaginação.



Sanzalando

10 de julho de 2022

#lugaresincriveis


sigo

Seguindo o meu caminho, à direita o zulmarinho, à esquerda uma floresta de pensamentos e ideias. Aqui, eu de passo certo, olhar decidido, sorrindo ao ritmo de cada passada, Sou incapaz de medir a felicidade, a dor, tristeza ou alegria com uma régua cientificamente calibrada. Analiso, justifico, contradigo e penso e desconcluo com a certeza absoluta que não é essa a minha missão. A cada passada penso dividir com alguém o peso mental que carrego. Saudade, nostalgia, memória e talvez uma dose de esperança ainda consigo dividir desigualmente por aí. 
Sigo o meu caminho com a certeza de não querer dar nenhum passo em falso, mas um ou outro falha. Sigo feliz assim, fazendo de cada caminho um processo de chegada.


Sanzalando

9 de julho de 2022

#lugaresincriveis


pensar

A gente tem sempre um motivo pelo menos para mudar. Se a gente não se lembra, a vida nos dá. Faz parte dela, da vida. O poeta disse que a vida é feita de mudança e ele sabia. Não foi ao calhas que ele disse. Ele pensou muito antes de dizer. O que às vezes faz falta é mesmo só pensar. Até nem cansa o físico. E tem gente que parou de pensar porque se cansou ou, por outra palavra, enloucou. A vida até parece mais feliz quando paras de pensar e ages. Mas te enganas cedo ou tarde porque cedo ou tarde pensarás. O único pensamento que perdes é mesmo o teu. Tem gente que se pensa demasiado lhes dói a vida, porque pensam para outros. Tem gente que pensa absurdo e até dá medo só de chegar perto. Mas pensam. Tem gente que se envenena com o próprio pensamento.
E eu continuo a caminhar pensando.


Sanzalando

8 de julho de 2022

#comida


ser eu

Vou deixando os meus passos à beira do zulmarinho. Um pensamento, uma ideia, uma memória, uma notícia, um lugar comum, uma tristeza, uma gargalhada, são resultado de cada meu movimento, cada deslocamento da massa de ar que eu movimento em cada passada. 
É loucura, é irracional, faz de conta é sair dum carro em movimento eu deixar de pensar. Depois de morto terei muto tempo para isso. A minha dependência de mim acaba por criar um vazio de memória, uma falta de sensação de futuro que imagino me torno chato. M
Mas se gosto de ver o zulmarinho vou fazer mais o quê? Se crio as minhas ilusões também alimento os meus medos e afasto os meus fantasmas. Caminho pelos caminhos da minha mente e agarro-me às lembranças com a saudade de ser feliz, com a certeza de ser seguro, com a vontade de partir ficando. 
Tudo o que me resta é ser eu, embora isso dê trabalho!


Sanzalando

7 de julho de 2022

férias grandes

Estamos nas férias grandes. É bom ainda ser novo adolescente e ter 3 meses de férias. Logo na noite eu vou apanhar o comboio, o Sr. Alves no seu fato imaculadamente branco vai assobiar no seu apito e dar a partida, e eu vou subir a Chela no lento caminhar duma locomotiva que sofre para subir. Como é costume ele vai parar no Caraculo, em Vila Arriaga, na Umbia e depois vai sofrer até que vai parar no bairro Santo António da cidade mais alta da terra, da minha terra. Antes parava na estação velha que até parecia era palácio. Agora para debaixo do Cristo Rei parece é modernice sem pinta nem circunstância. Aqui vai ter uma tia ou um avô a me buscar. Quem me for buscar me vai gramar esses quase 3 meses. Família é assim e eu não escolhi mas fiquei feliz por a ter. Tem gente com sorte e sortudo sou eu. 
Na cidade, para além das festas da Senhora do Monte no mês que vem, tem festas de garagem, tem ruas para conversar e caminhadas para divertir. Não tem dias monótonos. Tem namoradas se elas forem na conversa dum gajo do deserto, tem jogos de bola mesmo que o campo da Pousada seja inclinado para um dos lados. Aqui tem tudo para fazer e às vezes até falta tempo para dormir. 
Vivam e revivam as ferias grandes.



Sanzalando

#imbondeiro


6 de julho de 2022

pensar sim, mas devagar

Se me ponho ao caminho levo comigo os pensamentos, arranjo-os novos e chego a pensar neles. Há coisas que não queria nem pensar, mas como poderei controlar a minha mente se a considero livre? Tem vezes que me apetecia ir para outro lugar, outros sons e calores, para ver se haveria outros pensares. Mas cada um tem o merece e a mais não é obrigado e por isso cada pensamento tem o que merece.
Há dias que acordo, penso desistir de pensar mas logo à partida quebrei essa tarefa. Mas vale a pena ser assim. Um pensamento de cada vez e já estou cansado de pensar os caminhos que ainda gostava de ser levado. Vou devagar por aí


Sanzalando

5 de julho de 2022

#lugaresincriveis


sou o maior de mim

As minha imperfeições fazem de mim um ser perfeito. Irrito-me?! Claro! Grito? Claro! Sou doce e melancólico, caminhando de passo firme, porem não certo o passo militarmente. Nesta minha perfeita imperfeição curo-me, curvo-me e sigo em frente como se o amanhã fosse o ponto final. 
Caminho perfeito fi-lo ontem, antes do hoje, num passado de passo curto. Fui só por mim adentro, curvando-me em curas de alma, sabendo que um dia vou ser o maior. Eu sou o maior de mim. Quem me disser o contrário se equivoca.


Sanzalando

#mangueira


4 de julho de 2022

caminhos

Me levo por ai. Meus passos pequenos, lentos e apreciativos, me fazem caminhar a ver as coisas que estão no caminho. Acho não fazia qualquer sentido caminhar sem sentido ou propósito. Jamais caminharia por um caminho que não me desse nada em troca. Às vezes só o descanso que ele me dá é mais eficaz que mil remédios tomados. Quantas vezes troquei o caminho todo em troca de todo o caminho? Jamais caminharia por um caminho que não posso caminhar. Todos os meus caminhos, por mais à sorte os escolha, são conquistas de alma e coração, que os faço completamente desarmado porque os faço em paz. 
Os meus caminhos não precisam ser antecipados, idealizados,  mas sim caminhados, apreciados e tantas vezes memorizados


Sanzalando

3 de julho de 2022

#lugaresincriveis


o que

Eu não sei o que os outros sentem. Eu ainda sei menos o porquê que os outros sentem o que sentem. O que eu sei mesmo é que o que eu digo pode provocar um sentimento no outro diferente do que eu queria. Estando atento posso corrigir, retificar, esclarecer ou simplesmente ficar em silêncio.
Estando eu atento a isso pode não parecer fazer sentido o que eu sinto que os outros sentem.

Sanzalando

2 de julho de 2022

infância

Vejo lá longe, onde parece que acaba o zulmarinho, o que resta da minha infância. 
Desculpa só ó infância eu ser agora o que sou, cansado, tímido porém seguro, idoso porem não velho, ágil porem não elástico, maduro porém não apodrecido, assertivo porem com dúvidas do que fiz de errado nas certezas efémeras. 
Ó infância que sobra de memórias, sandálias de pneu feitas em casa, calções rasgados e joelhos esfolados, olhos chorosos de amores desrespondidos, alma destroçada porque me esqueci de me amar ao amar-te. É, infância, foste o primeiro amor da minha vida.
Saudade não tem que ser tristeza porque são recordações agradáveis de algo passado. Também tenho saudades de ter mais futuro.


Sanzalando

1 de julho de 2022

#pordosol


#comida


dou-me

Dou tanto de mim nestas caminhadas que às vezes até parece estou cansado. Mas é agradável não só porque sinto que libertei-me de amarras e que tem gente que gosta de me ver caminhar. Tem dias que parece eu engelo-me de ver que não tem quem me veja e tem outros que o caminho é iluminado pelos olhares que me olham. Vaidade? Uns dirão que sim, outros como eu, dirão que é só mesmo os passos certos para o caminho que escolhi. Quando quero fazer alguma coisa, faço, não espero que as circunstâncias estejam de feição.
Afinal de contas o que eu gosto é de caminhar pelos meus caminhos, uns interiores e outros tão fora da minha existência que já só tenho memória.


Sanzalando
recomeça o futuro sem esquecer o passado