A Minha Sanzala

no fim desta página

30 de junho de 2022

me deixa

Me deixa ir só por aí caminhar nas minhas memórias, louvar as minhas muitas paixões, desgastar os milhões de amores perfeitos que me deram na forma de carícias, mimos e beijos. Me deixa ir só sem necessidade de perceber se se passa alguma coisa, se passou algo, se irá acontecer, ou se é só a minha imaginação a usar as palavras que um dia eu aprendi a dizer e outras que vou ainda ouvindo como novas por ai.
Me deixa só olhar para todos os meus momentos, descontar os vazios, os possuídos e os roubados, descolorir os enganados e esquecer os envergonhados.
Me deixa só revisitar cada momento meu, cada silêncio ou grito, cada calor ou gelo, cara instante que já usei e que mais tarde poderei recordar.
Faz conta que esses instantes divagantes, fruto da imaginação ou da realidade, conseguem preencher todos os vazios do meu instante de vida.
Faz de conta esses momentos são um olhar não registado nem carimbado na minha realidade de contemplação futura mas deste agora, momento ou instante. 
Faz de conta eu me sinto confortável neste vagabundear mental, embriagado de alegria, embrulhado no papel cinzento da tristeza ou somente confortável por acreditar-me.
Me deixa só esquecer que se eu olhar para trás tem coisas que já não me lembro e o esquecimento é ensurdecer o cérebro de memórias que fizeram a circunstância de ser eu agora.
Sempre fui real, mesmo que por vezes possa ser ruim, fantasmagórico ou apalhaçado, e nesse sentido tenho os meus momentos por onde me passeio, mesmo que em passo trocado ou truncado.
Me deixa só ir por aqui, sem ter urgência em apagar desconfortos, lembrar desaforos ou desesperar tristezas.
Me deixa só ir.



Sanzalando

29 de junho de 2022

quantas

Pé ante pé lá vou eu fazendo o meu caminho. Tantas vezes o fiz à beira do zulmarinho, com os olhos postos para lá da linha recta que é curva, que até parece que não faz sentido ter vida para além deste olhar. Neste olhar há uma infinita amálgama de sentimentos cruzados, opostos, misturados e justapostos. pelo que tem vezes que é-me difícil me encontrar puramente, desvinculadamente agarrado a uma ideia pré-concebida. Quantas vezes sentindo medo de simplesmente pensar? Quantas vezes doridamente por esconder a dor dos meus olhos? Quantas vezes saltando de aleria por os meus olhos me imagiram para lá da linha?

Sanzalando

#mangueira


28 de junho de 2022

acho

Está na altura de transformar as minhas caminhadas em passeios de silêncios, meditações sem gastar palavras, introspecções na paz do vazio de significados ou interpretações. Não me apetece gastar palavras que me poderão ser preciosas para descrever estrelas, borboletas e outras insignificâncias muito significativas.
Acho vou aproveitar o tempo para congelar as minhas borboletas mentais num verão de praia, sol e caminhos vadios.
Acho vou descansar o corpo, caminhando sem parar em palavras, parágrafos e outras frases.
Acho vou por aí, desrumado, desarrumado ou apenas des.


Sanzalando

27 de junho de 2022

espuma de mar

Ponho-me a caminho dos caminhos das ideias e dou comigo a pensar que o amor é como a espuma do mar que surge do ondular e tem uma durabilidade demasiado delicada. São pequenas bolhas de ar que se juntam e se desfazem num momento incerto. Se tivesse o ouvido apurado, afinado para ouvir os intermináveis pufs, ouviria uma sinfonia desequilibrada e incessante de sons surdos, do desfazer da espuma, do desfazer de amores eternos que duram o tempo máximo de um mínimo indefinido.
A espuma do mar, o amor, pequenas bolhas de ar que se desfazem porque sim, em contacto com areia, com o próprio mar e desconseguem deixar marcas para qualquer eternidade para além do instante.


Sanzalando

26 de junho de 2022

oculto

Acho virei sonambulo ou qualquer coisa assim parecida. Eu acho que os meus pensamentos se escondem num misterioso inconsciente, que pensa e manobra desde o oculto dos meus mundos e se transformam em letras que vos mando. Não acredito em inspirações ou acasos. As minhas letras são fabricadas num qualquer oculto interior de mim, a que eu não tenho acesso, a não ser para as pôr á fora assim elas saem.
Se eu já as teria esquecido mal as pensasse, como iriam elas colorir a minha jornada? Tem ocultismo nisso.


Sanzalando

25 de junho de 2022

#imbondeiro


Um dia fui criança

Sento-me a ver o zulmarinho. Tanto mar a me separar da realidade. Tivesse eu poder e mudava o meu mundo, mesmo sabendo-o redondo, encontrava o meu canto e ali ficava a admirar um amor de verdade. Ele não é palavra, ele é facto, acção, detalhe. Eu a olhar o mar sinto-o e as palavras que soletro transmitem-me esse amor, iluminam-me a escuridão da tristeza, e protegem-me dos medos que invento. O zulmarinho tem uma força de me levar aos recantos da minha infância. Se falo da Avenida do Bonfim, das Ruas dos pescadores, das Hortas e da Fábrica, eram porque serem as principais e porque há lá gente nova, da idade que eu já fui e que pode rebuscar as brincadeiras que eu lá brinquei. Naquele quadriculado onde se destacavam o Colégio das Madres, o Parque Infantil, o Liceu, A Escola Industrial, O pelourinho e as fontes da Avenida, a Rotunda da Aguada, as escolas primárias, o palácio do Governador, a Igreja de santo Adrião, a do Forte Santa Rita, O Cine Moçâmedes, o Impala, o Aeródromo chamado aeroporto por boa vontade, a Câmara Municipal, a sede do Benfica, o salão de Baile do Ferrovia e do Atlético, a inacabada obra do Sporting. E desde aqui sentado dei a volta à cidade sem me esquecer de Monumentos e outras obras de arte.
Sento-me a ver o Zulmarinho e posso dizer às netas que um dia eu fui criança numa cidade quadriculada, calma e serena rodeada de areia, muita e duma baía que arregalava aos olhos pelo diâmetro da sua circunferência. 
Um dia fui criança e hoje me recordo.


Sanzalando

#maracujá polpa de 1,5 kg


#imbondeiro


24 de junho de 2022

#comida , #sobremesa


#comida


os caminhos

Vou caminhando por aí, umas vezes sem rumo, outras com trajecto bem definido e outras seguindo o desenho mental. Sigo só, palavra sobre palavra, ideia sobre ideia ou sem ideia nenhuma. Detesto caminhar na passada da indecisão ou sobre promessas incompletas. Quando vou sem norte, ao deus dará, não vou indeciso nem vazio, vou só mesmo ver onde paro, onde encontro-me ou onde me esqueci de parar. Tem vezes que o fim é o meio de chegar a qualquer poiso nem que seja ao centro da minha alma.
Nos meus caminhos não tem lugar a fuga, o esconde só porque sim. O caminho leva-me nem que eu não faça ideia nenhuma para onde. Tem vezes que os passos, que penso perdidos, me levam a encontrar-me e a reconhecer imperfeições pessoais. Logo ganhei-me.

Sanzalando

23 de junho de 2022

calcorreei mundos

Já corri mundo. Forma errada de dizer que passei por vários locais deste planeta. Não corro e se o fizesse não conseguia ver nada de tão ofegante que estava. Já percorri alguns lugares desta Terra que os humanos tão maltratam e ela se esforça em sobreviver. Neste caminho, nesta procura de conhecer vi lugares lindos, senti perfumes intensos, enchi de alegria o corpo e a alma. Sem esquecer os mosquitos, os cheiros fétidos e os encontrões de tanta gente aglomerada no mesmo metro quadrado. Assim fui abrindo portas sem me importar por onde andava. Gosto de conhecer, gosto de saber e gosto de viver cada local como localmente se vive. Escolher para sempre é outra opção não enquadrada neste meu percorrer de mundo. 
Já tantas vezes rompi o coração, por desilusão ou falsa expectativa, que com propriedade poderei dizer que a ruptura do coração foi remédio santo para a cura. Local riscado de futuras visitas.
Já alegrei a alma quando estava convencido que aquele ponto deste planeta era escusado, que modifiquei por completo a visão, a minha intuição e aprendi que ver para crer também é uma opção para saber que há amores que nascem do quase nada.

Sanzalando

22 de junho de 2022

estórinha

Me deu para pedalar por ai, num faz de conta que estou a dar a volta a mim mesmo. Ele faz sol e frio e chuva e... eu só pedalo em direcção a pensamento nenhum. Troco voltas e vou ter sempre a estórias que um dia me contei ou vivi. 
Me lembrei de Maria. Garota sofisticada, rica de sonhos e ambições, plena de qualidades e educação. Tinha um sonho, só se apaixonar quando acabasse de estudar. 
Ele, João, arisco, crescido na idade de miúdo, esperto, inteligente, educado e modesto, desconheço seus sonhos se é que os tinha. Não deixava transparecer a sua revolução interior, a sua revolta constante. Seus olhos aparentemente serenos escondiam suas ambições e o desejo ardente de amar Maria.
Todos os dias se encontravam. Todos os dias se falavam e se pareciam namorados era só parecença. Maria dava atenção quanto baste. João era-lhe cavalheiro, simpático e fazedor de bons momentos de conversa e brincadeira. 
João sofria mas a ninguém ele dizia. Sofreria de depressão se naquela altura ele soubesse o que é que isso significava. Para ele era paixão, pura e simples. Ele morria de amor e ninguém sabia.
Para João, Maria era bela, criativa, exponente máximo dum teorema ainda não consciencializado. Perfume maravilho ele sentia ao lhe olhar. Maria nem imaginava o que ia na cabeça do João. 
Revejo as pedaladas e vejo que esta bicicleta não é minha, esta voltinha não é minha. Eu me contei esta estória e nem faço ideia como acabou, porque simplesmente nem começou.


Sanzalando

#comida


21 de junho de 2022

realidade e imaginação

Sento-me na areia da praia e deixo o meu corpo como se esparramar. Um relaxamento completo. Eu fosse água e depressa era absorvido numa mancha de areia. O calor se tinha abraçado a mim de tal forma que qualquer passo era um sacrifício, qualquer gesto um sofrimento. Eu precisava agora um arrepio de frio para temperar este calor interior que sinto. 
Aqui sentado sinto que as minhas articulações se vão derreter. É o calor e o peso que trago neste corpo. Eu devia ter mais cuidado com o que penso, pois peso na consciência pesa mais que o peso pesado em balança. Esse peso não suportado pelos braços, não altera a postura mas pode alterar a compostura. Eu não devia nem mexer o tapete da minha consciência porque para além de peso ainda levanta pó.
Acho mesmo hoje é melhor eu derreter-me feito água nesta areia de praia que imaginei estar. Às vezes eu já nem sei distinguir a minha imaginação e a realidade. Não me pesa a consciência porque é que eu vou sentir peso? A imaginação é que passou por onde não devia. Porque a realidade é que tem de pagar? 


Sanzalando

20 de junho de 2022

#imbondeiro


as minhas estórias

Eu estava a escrever uma estória. Pelo menos tentava. Ela passava-se na minha cidade quadriculada, feita de régua e esquadro. Uma pessoa ia no passeio, introspectivo era o seu caminhar. Monótono caminhar duma pessoa solitária numa cidade onde nada acontece e onde pouco há para fazer. A pessoa provavelmente até nem tinha amigos da sua idade com quem conversar, rir ou simplesmente estar. Na minha cidade quadriculada não havia sitio para estar a não ser na avenida onde se passeava para cima e para baixo e se cumprimentava os passeantes que por ali passeavam. Era giro ver as caras das pessoas num acenar múltiplo tantas quantas se cruzavam. Mas aquela pessoa não estava na avenida a fazer o seu passeio. Ela caminhava monotonamente, se calhar pela vida. Alguém a chamou porque ela para trás olhou.
Eu ouvi uma pergunta rasgando o silêncio daquele instante:
- comeste alguma coisa?
e a voz tímida da pessoa que caminhava solitária e monotonamente que parecia não ter amigos respondeu:
-não, não tinha fome
voltando-se ao silêncio do caminhar solitário e passada monótona da pessoa que se calhar não tinha amigos e por acaso não tinha fome, dou comigo a pensar que a minha estória até que não tem grande diferença da estória que eu estava a tentar escrever. 
Desisti e tentei me lembrar de todas as ruas da minha cidade quadriculada que não tinha estórias para contar.


Sanzalando

#lugaresincriveis


19 de junho de 2022

eu e ela

Me deixo só embalar nos sonhos que um dia eu tive acordado. Vou dizer é saudade, vou dizer é recordação, vou dizer é memória ou vou dizer é sonho duma noite destas. O que importa é que é. 
Ela corria elegante pela rua, na sua mini-saia folhada de jogar ténis, se calhar com o sr. Maurício, era hora de ir para casa e eu era rosas que via. O branco da roupa contrastava com o moreno do mês de março que ainda perdurava, e eu era rosas que via. O seu cabelo comprido ondulava como se estive no mar e eu olhava especado como se visse sereias.
Acho eu só via passarinhos e borboletas na barriga. Era um quadro lindo se eu tivesse jeito para pintar. Era mais giro se fosse um quadro em movimento. O seu rosto sereno de quem estava neste mundo por puro prazer. E eu sorria feito cara de paisagem.
Ela não me olhou e eu não tirava os olhos dela. Se ela me olhasse eu ia fugir, fugir de mim deixando o meu corpo ali especado feito estátua. Faz tempo o meu cérebro tinha voado dali numa correria atrás dela. 
Um dia eu lhe vou dizer estas coisas e eu sei ela vai dizer eu as inventei na hora de lhe contar. Se calhar até nisso ela tem razão. Ela vai dizer eu enlouquei e me imagino num campo de rosas brancas.


Sanzalando

18 de junho de 2022

eu e a Kitanda


Eu estava a ajudar a tia Laurinda na sua Kitanda. Mesmo em frente da DTA. Eu sonhava andar de avião mas esse dia ia chegar um dia que eu não ia adivinhar. Eu olhava na montra e lá estava o Friendship, que eu procurei no balcão saber o nome próprio e me disseram era o Fokker F27, a fazer-se aos céus. Todos os dias ele trazia os jornais para a minha mãe vender: Jornal do Comércio e o Diário de Luanda. O província de Angola era vendido pelo Bauleth. Mas eu estava a falar de avião e não de jornais porque ainda não tenho idade para acompanhar as notícias que esses papeis trazem. Eu sei que servem também para embrulhar as panelas de arroz que a avó faz. Mas afinal também não estava a falar de aviões porque estava a tentar ajudar a tia Laurinda na Kitanda. Pesar e dar troco. Escolher as coisas é que não dava muito o meu jeito. Era o que estava à mão, mesmo se estavam a protestava que não estava maduro ou estava demais. Sei é que a tia Laurinda comprou uma arca para condicionar frescos os produtos e estava a ser instalado por técnico altamente qualificado, electrecista formado na escola industrial. Tanto fio para apertar, tanto parafuso. E ali diante dos meus olhos se erguia a arca. Assim se fazia acontecer modernidade na kitanda da Tia Laurinda.
É assim a vida. É preciso fazer acontecer.


Sanzalando

#maracujá #frutas


#mangueira


#zulmarinho


17 de junho de 2022

eu e a aula de desenho

Estou sentado na última sala do corredor superior do lado direito, na aula de desenho. Dr. Ezequiel Jorge, aquele mesmo que faz os cartazes das festas do Mar e que até faz inveja só de olhar, entra na sala e manda a gente fazer um desenho de natureza morta. Parecia estava a adivinhar o futuro, eu não gosto de morte muito menos na natureza. Vou fazer como assim? Tento desenhar uma paisagem que se não existir é porque não viram bem. Tudo ali é monótono e cinzento. Nem um boneco nem seus amigos animais. Rabisco ferozmente com o lápis de carvão número que já não lembro. Na minha cabeça se faz uma barulheira parece havia festa, mas não podia ser porque eu estava a desenhar uma natureza morta. Dr. Ezequeiel sem que eu desse conta se aproximou e disse na sua delicadeza:
- Miúdo, que desenhas tão pequenino que nem se vê?
Eu, timido que nem era respondi:
- A alma da natureza morta. 
Fui para a rua com uma falta disciplinar, um desenho por fazer e um tempo para arranjar uma desculpa para a respectiva falta.


Sanzalando

16 de junho de 2022

eu, desportivamente

Se acabaram as aulas. Houve um sarau de ginástica no campo de hóquei, em que eu estive presente como o louco que fica em cima da mesa alemã para os outros saltarem por cima em cambalhotas e saltos mortais. O Armando Xico de Olhão era perfeito no estilo e na apresentação. Outros havia e uns até faziam gala de me atirar de lá de cima para o colchão cá em baixo. Era 10 de Junho. E houve basquete mas eu apesar de ser alto ela sempre não convocado, acho me faltava jeito, mas também nunca me debrucei bem sobre o assunto. E também volei. Eu fiquei na ginástica porque acho era o único doido para ficar lá em cima. Ou era porque era a única coisas que eu tinha jeito? Liceu e Escola Comercial e Industrial. Guerra constante. Renhinda a rivalidade. A sorte do Liceu nos desportos colectivos era sempre baseada nos mesmos 5. A escola Comercial e Industrial era mais diversificada e mais soluções de banco, como agora se diz. 
Mas acabada a minha missão, era sentar-me na bancada e divertir-me. Tinha olhos para ela e olhava de vez em quando par o que decorria no ringue. O que sabia bem era que as aulas tinham terminado. Cacimbo não chegou e está quase a ir para o planalto passar uns tempos com a família. Essa era a parte pior porque me afastava dos olhos e do coração e lá teria que me apaixonar nas terras altas onde o respirar de início até custava. Eram os namoros das férias grandes. Mas lá tem chuva com trovoada que até parece flash de máquina fotográfica em dia de casamento. 
Eu estou de férias grandes e acabou o 10 de Junho e os kedes vão para o descanso. O Professor Cândido da Silva que me desculpe mas a minha falta de jeito não dá para mais. Talvez eu cresça e dê jeito para qualquer coisa.
Prevendo o futuro e porque gostava muito de jogar à bola mas a bola teimava em fugir-me dos pés, fui tirar um curso e passei a profissional da bola, sentado no banco e spray na mão.
Eis o meu resumo desportivo.



Sanzalando

15 de junho de 2022

#comida irlandesa


sem nada nasci e morrerei

Sabor a sal no ar que respiro. Junto ao zulmarinho onde deixo navegar os meus pensamentos, onde vejo a calema, onde a ouço bater nas rochas que me protegem de ser rebocado para lá do que me apetece. Eu sei que o meu coração gostava de voltar a ter a força de anos atrás. A minha mente não acompanhou este ritmo temporal que se abate por músculos e articulações. É por isso que eu sei que continuarei a pensar para lá do meu passamento.
Mas estava eu no sabor a sal, virado para o mar revolto, a navegar por pensamentos quando dou comigo a imaginar que nasci sem nada e sem nada um dia partirei. Tudo, desde as memórias, recordações, saudades e outras lembraduras ficam cá até alguém se esquecer que eu por cá passei.

Sanzalando

#lugaresincriveis


#lugaresincriveis


#lugaresincriveis


#zulmarinho


#lugaresincriveis


14 de junho de 2022

#flores


eu, o mar e o pensamento

Me sentei só assim a ver o zulmarinho. Faz conta eu estou triste e me apeteceu estar aqui num solilóquio com aminha pessoa. Inimizado diálogo a uma voz e pensamento. O marulhar e a maresia dão o som e o perfume perfeitos. Eu, de corpo presente e pensamento distante, sou o sujeito e o complemento directo. Falta o dois pontos parágrafo travessão, mas isso é literatura e aqui é uma intimidade intimidante. 
Olho horizontalmente para um infinito que os meus olhos conseguem alcançar. Desfaço as barreiras e alargo as defesas que possa ter inventado para me distrair. Faz conta plantei à minha volta um jardim, plantei a minha alma e agora espero floresçam as flores. Divago-me por espaços e mundos. Espalho saudades e nostalgias. Escondo contingências e sua metamorfoses. 
Eu, o mar e o pensamento. Me reencontro. Me falo, me insisto, me discuto. Olho-me e nada tenho a esquecer nem a chorar, só tenho de sentir os recordares todos sem dor. 
Eu sou esse aí desenhado nas minhas palavras de letra bonita, legível e pontuada.

Sanzalando

11 de junho de 2022

só palavras

Pelos meus caminhos posso pedir mil palavras. Umas verdadeiras e outras nem tanto. Não que sejam mentira, mas simples realidades que só por acaso não aconteceram. Podem existir dias frios, dias gelados porém no verão isso não pode acontecer e por vezes acontecem. Há coisas que até gelam o sangue do caminhante que por acaso sou eu. É evidente que isto não é verdade, mas também não é mentira. 
Há dias em que amanhece cacimbado, outros há em que o tal sou eu.
Há angústia, o beijo e a confusão.
Posso pedir tantas palavras que me confundam suficientemente. Ou não. São só palavras ditas enquanto caminho

Sanzalando

#comida chef Ricardo C para a gémeas


10 de junho de 2022

eu

Se eu escrevesse em verso havia rima que faltava. Eu caminho a direito para encurtar caminho. Eu sigo o instinto para não me perder. 
Eu, eu e tantos outros eu's. Tantos para tentar afastar-me do abismo que sou e em cada olhar lá estou eu a encontrar-me.
Parar não é fácil, quando encontro um stop, uma desmotivação, em desencanto, lá vem uma onda de zulmarinho a dar-se ao trabalho de me fazer mexer e desencantar um outro eu de mim.
Eu e a minha forma de ser. Vou fazer mais como então?


Sanzalando

9 de junho de 2022

despertenço-me

Me sentei na esplanada e deixei os meus olhos passarem devagarinho pelos atráses do tempo. Muito lá atrás eu era um rebeldezinho de trazer por casa. Eu acho que me perdi no tempo e tem um tempo eu já não sei onde é que eu estou, fui ou fiquei. Eu tinha uma paixão e por ela eu me armei em gente grande. Eu depois tenho uma fase em que não me pertenço, tenho uma vaga sensação de não me pertencer. Parece idiota, eu sei. Vejo fotos, lembro frases, ouço música, eu sei eu existia mas não me vejo ali. Desfiz de mim por um período de tempo. Só pode. Ou será que esse período de tempo da minha vida foi devorado por alguém que tinha o poder de fazer um despertenciamento total de mim?
Quem secou as minhas lágrimas de amor? Quem me ressuscitou quando eu morri de amor? Quem me fez sorrir na vida quando entristeci de amor?
Tem fase que despertenço-me totalmente.
Vou ver o mar e lembrar.



Sanzalando

8 de junho de 2022

prioridade

Às vezes penso que pensar é a ferida. Mas se a cabeça não está cheia de pensamentos ela vai estar vazia para coisas ruins lhe entrarem e desfazerem as sólidas memórias da vida que vivi no tempo em que eu era já feliz e sabia. 
Ah, mas coisa e tal?! esquece, foi opção!
Doidei? Nem um bocado quanto mais definitivamente.
Faz tempo passei a viver a vida tal e qual ela vem e não como eu gostava ela fosse. Eu afirmo com todos os afirmamentos possíveis e impossíveis que prioridade é singular. Quem tiver prioridades não vai nem chegar perto duma porque se divide para lá chegar. Uma de cada vez e se vai levando a fasquia até ao patamar final. No meu dia de finado eu chegarei a todas as prioridades passadas e desejadas. Eu agora tenho uma prioridade. Quando lá chegar eu arranjo outra. Acho Sr. Serafim, meu avô foi assim que me ensinou.
Passado é pesado? Nem um bocado. Passado é lugar de circunstância que me fez chegar a hoje. Esclarecimentos são precisos? desconsigo dar, não é minha prioridade.


Sanzalando

7 de junho de 2022

#frutas


fui no aeroporto

Hoje me apeteceu caminhar e fui até no aeroporto. Novo ou velho? Nesse meu tempo só tinha um. Não era novo, mas também não posso dizer era velho porque tinha recpção novinha em folha e hangar de chapa acho era mais velho que eu, e eu era ainda novo. Não parece mas até lá chegar é sempre a subir, num subir suave que de carro ou mota nem parece. Quando se desce a gente até dizia era Salazar quem estava a pagar a gasolina porque o carro vinha em ponto morto.  Quando cheguei na curva desenhada naquela pseudo auto-estrada, na última que até tinha pintado uma protecção de vermelho e branco em listas que não era de zebra, os bofes já me saltavam da goela. 
Eu não era o mesmo que tinha parado na ultima vez no Impala. Era a versão cansada e semi-perdida de mim. Que é que me deu para caminhar até aqui tão longe sem parar no campo de futebol que estão a fazer nem na carreira de tiro que é de gente fina?
Acho me perdi por querer encontrar-te e então me enchi de passos caminhados até aqui chegar.
Será que hoje tem avião da DTA?


Sanzalando

6 de junho de 2022

#flores


ao fim de tarde

Nas voltas que o mundo dá, dei comigo a navegar-me pela minha adolescência. Eu gostava de Citroen, se chamava boca de sapo e subia a traseira antes de arrancar. Era lindo e linda era a sua elegância na estrada. Eu me sentava nas esquinas onde sabia ele ia passar. Eu lhe admirava até no silêncio do motor. 
Hoje, passados tantos anos, já nem sei se aquele boca de sapo tinha motor ou andava só com a força da minha ideia de o ver passar. Ele era dourado mas pouco importava a cor aos meus olhos. Só olhava para o interior e imaginava aqueles acabamentos. A suavidade da subida ou descida dos vidros traseiros, Eu via ali o sorriso da Mona Lisa. Era uma paixão de fim de todas as tardes. Sentado no lancil do passeio e ver o Citroen passar, suave e delicadamente com os seus interiores de luxo.
Um dia cresci, muitas luas cheias depois, deixei de ver o boca de sapo, e hoje me lembrei de o ver na minha memória. 
Como será hoje o andar daquele interior que outrora eu achava luxuoso?



Sanzalando

#lugaresincriveis


#lugaresincriveis


5 de junho de 2022

as corridas da minha meninice

Eu estou na curva contra curva do tribunal. Não é a parte mais interessante do circuito nem a mais espetacular. Mas não me apetecia andar a correr na falésia para ver a marginal e a frente da Igreja. Eu estava só ali sentado na escadaria do tribunal para ver a curva e contra-curva do tribunal. Não estava longe de casa. Passa em primeiro o Novais no seu Porsche qualquer coisa, depois vem o Emílio Marta que trouxe de Benguela o Ford GT40 e o Herculano Areias no Lotus quarenta e sei lá mais o quê. Depois, depois o Capri do Helder de Sousa, o Glass do Tino Pereira, o Cooper do Teles e WV do Abel e o não sei quantos do Moinhos. Ah! e o SAAB da Dina Chalupa e o NSU não sei quantos da Dina Cavaco. E como é que se chamava o carro branco da senhora de Sá da Bandeira? O Santos Peras já entrava no Subaru ou ainda andava de mota? 
Depois vieram o Nicha Cabral e o Peixinho, o Mabílio de Albuquerque. Eu sei tinha miúdos ai a ver que depois iriam ser corredores mas por enquanto eram só entusiastas e sabiam cada coisa que eu nem imaginava era preciso saber tanto sobre uma corrida de automóveis que eu nunca ia conduzir.
E quem é que corria no Volvo marreco? E quando era perto do parque infantil foi o Ressurreição quwe testou a integridade do muro do Colégio das madres?
Acho vou só na casa do Pinheiro da Silva fazer corrida de Dinky Toys...

Sanzalando

4 de junho de 2022

parque infantil me nascera

Fui sozinho no parque infantil, era ainda manhã quase madrugada. Eu queria aprender a fazer piruetas e outros malabarismos no escorrega grande, como tinha visto os mais velhos fazerem. Eu queria andar no cavalo de madeira no balancé de quase esticar até ao máximo, como tinha visto os mais velhos fazerem. Eu queria andar no ring de patinagem nas piruetas dos patins velhos como tinha visto os mais velhos fazerem. 
Era manhã bem cedo porque não queria ninguém fosse rir das minhas asneiras e falta de jeito. O Sr. Sousa ainda não tinha chegado por isso não ia mandar vir comigo por estar a estragar os brinquedos de todos com a minha perigosidade desleixada.
Fui sozinho porque não queria testemunhas que eu não nascera para brincar como os mais velhos no porque infantil que o Sr. Sousa tão bem guardava.
Era manhã bem cedo, pouco depois da madrugada que eu nascera adolescente sem jeito para malabarismos e outros arriscar físicos.


Sanzalando

#imbondeiro


3 de junho de 2022

leveza de caminhar

Caminho e neste caminhar por vezes encontro encruzilhadas. Não assobio para o lado nem viro costas. Enfrento, quase sempre sorrindo e algumas vezes contrariado, aborrecido ou zangado. Realmente enfrento com amor. Amor próprio quase sempre. Amar caminhando ou caminho por amor até nos cruzamentos mais perigosos, nos momentos mais cinzentos, nas palavras mais obscuras. Caminho com a leveza do vento feito brisa neste caminhar pela vida que vivo.



Sanzalando

2 de junho de 2022

palavras cruzadas

Caminho em passo solto, faz conta estou a caminhar nas areias da minha infância, e sigo em direcção ao futuro que é o hoje. Todos os passos ficam marcados na areia fina. Todos os passos dados ficam para sempre marcados na areia fina do meu deserto, mesmo que temporal. Pode haver duna, pode haver chuva que verdége a bege areia, mas o passo dado lá está marcado. Cada passo foi dado com ou sem qualquer intenção. Fez-se passo firme em direcção ao futuro do hoje.
A vida é feita desses passitos, trambulhão aqui e acolá, desacordar a todas as horas, esquecer sinais de alarme, obedecer a todas as regras, seguir a direito por rotinas, cruzar placas de xadres brincando à cabra-cega e jogando ao garrafão, ter medo de perder e perder-me sem dar grande importância. A vida é feita de intenções, de fracassos e victórias. Sermos nós em ponto e virgula, exclamação ou reticências. Sobreviver ao fracasso, cozinhar a gula num não me apetece mais e seguir em frente. 
A vida faz-se caminhando no decorrido tempo certo. O caminho são palavras cruzadas, livres e regradas, doridas ou alegradas, feridas ou confiscadas. 
Não há acordo ortográfico na vida. Vive-se


Sanzalando

#flores


1 de junho de 2022

#imbondeiro


#flores


visto de cima

Às vezes apetece-me bater as asas e voar, ver de cima os caminhos caminhados, saborear os passos dados e ver os resultados. Lá de cima ver que não calei o que senti, que avancei porque assim decidi e que não fiquei amarrado lá nos atráses do caminho.
As pegadas marcadas no chão, quando vistas de cima, podem mostrar hesitações porém ressaltam que os caminhos foram feitos. Uns a direitos e outros por portas e ruelas, ruas e janelas, travessas e becos de saída.
Visto de cima até parece que a caminhada foi tranquila, que a gargalhada superou a tristeza, que a escuridão foi sempre iluminada. Mas a verdade é que fui e cheguei pelo menos até aqui.
Visto de cima não dá para perceber as vezes que me apeteceu desistir, as dores que senti, os cinzentos que pisei.
Visto de cima até parece que foi fácil. Mas o que conta é que cheguei aqui e não esqueci a criança feliz que fui.


Sanzalando

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