A Minha Sanzala

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31 de outubro de 2023

estórias que deslembrei

Que tem óleo de palma, tem kiabos, tem caranguejo das hortas ou dos grandes da Torre do Tombo. Tem ginguba do Camonano e se calhar bananas da horta do Carriço ou compradas na Kitanda do Torres ou na da Laurinda. Tem tudo vais fazer falta mais o quê? Já sei, falta uma estória solta contada na Minhota, no Avenida, na Oásis ou mesmo no muro duma casa qualquer num fim de tarde. Pode ser a estória do Tobé e com Faria das Baleias, pode ser uma do Figueira das ameijoas ou mesmo só do Eurico ou do Artur Gomes. Pode ser uma do Catronático, do Virei ou do Mucuio. Quem sabe a que sabe o mar da Baia das Pipas e a temperatura da água do Baba? Faz só uma de lembrança, puxa pescoço até soltar a memória. Agiliza as ideias num saltar de lugares. Desconsegui lembrar uma agora. Fica para um depois se voltar a me lembrar que o meu mundo não tem raio maior que 10 km da minha casa..


Sanzalando

30 de outubro de 2023

o meu tempo

Me sento na esplanada e deixo tempo passar enquanto vou olhando para as minhas janelas de vida. Eu também tenho as minhas janelas do tempo. 
Tenho as que já fechei de vez, mas lhes olho só para me recordar, mas não as abro para entrar poeira nem outras poluições. São tempo irrepetíveis e que não podem de maneira nenhuma serem retomados, tocados ou retocados.
Tenho as que embora fechadas podem ser abertas, usadas ou retomadas. Janelas indefinidas, temporariamente encerradas. 
Tenho as que ainda estão abertas e prontas a serem usadas, modificadas, concluídas ou só vividas.
Portanto, eu não preciso estar todo o tempo a acertar o tempo, apenas me esforço pra fazer o meu melhor em cada tempo, sabendo que o erro faz parte dele e que é preciso saber viver com ele e saber que o tempo tem tempo para corrigir o seu tempo.



Sanzalando

29 de outubro de 2023

a crescer devagarinho

Eu ainda não tinha direito a andar de calças compridas, era os meus calções com suspensórios, sapatos de verniz a camisa branca, no traje de domingo. A minha avó vestia o seu saia e casado de xadrez branco e preto e punha uma cor nos seus olhos com um lápis, sempre sentada no pechiché de espelho ao alto e duas ou três gavetas laterais onde guardava o seu pó de arroz, a sua base e outros cremes que eu não sei para que eram. Matematicamente a sexta à tarde ou sábado de manhã era passada na casa da D. Carlota, primeiro em cima da Drogaria Rosa e depois ao lado do Colégio das madres, sua cabeleireira. Domingo lá íamos todos bonitos primeiro na missa e depois no jardim das buganvílias ou matiné do Eurico. Depois eu já usava umas calças de ganga, que não eram de marca porque essas só por encomenda e o dinheiro não havia para gastos assim. Então se mandava fazer à frente da Cimpor umas calças de ganga que não eram iguais mas fazia massagem na banga deste modelo dominical. A missa ficava para trás e o mais importante era o santo sacrifício da sua saída. Depois era um passeio até aos arcos ver se alguém tinha ido na praia, era almoço e como tinha havido dia de festa na véspera se comia a feijoada seguida do leite creme que arrefecia na janela da dispensa, longe das mãos gulosas. E foi depois de muitas dessas festas que eu passei a ter direito a usar calças e herdei as várias gavetas do pechiché da avó para guardar a minha roupa e todo o cuidado era pouco para a roupa dos domingos e outras festas. 
E foi assim devagarinho, ano após ano que eu voltei a ter o direito de usar todos os dias calções, chinelos ou sandálias e a não me preocupar que é que iam dizer.



Sanzalando

28 de outubro de 2023

o meu tempo

Hoje é dia de levar palmadinha nas costas, abraços e beijos. Uns falsos e outros sentidos. Lhes desconheço a diferença no dia de hoje. Eu estou bem e recomendo, se me perguntarem se o peso da idade não me verga as costas. Na verdade o corpo vai-se curvando com o lento chamar da terra por ele, mas teimoso que sou não lhe ligo e faço a minha vida sem me importar com o que impressão deixo neste caminhar anual para a idade avançada no tempo. O tempo será sempre o de JC, o meu, seja lá o que ele for.


Sanzalando



27 de outubro de 2023

um dia de outono

Beberico a minha cerveja gelada, olho o horizonte de céu limpo e tento ver o que há para lá do que os meus olhos alcançam.. Deixo a imaginação vagabundar sobre memórias e certezas estudas em livros científicos, com a certeza que a minha incerteza é absoluta, que o meu estar é um passageiro que há de sair numa qualquer paragem mais lá para a frente e desde já com a reafirmação que sairei dela contra vontade. Porém agora, sei que não ando por aí a distribuir sorrisos, palavras de abraço ou olhar de beijo. Mas quando o faço é de coração, sem nada querer em troca a não ser o egoísmo de me sentir feliz. Não me dói não haver retorno, nem me entristece olhares secos, marafo-me porque não consigo fazer alegria. 
A minha vida não é ser palhaço, não é contrariar decepções, desconstruir castelos de tristeza. Talvez seja suavizar as lágrimas, esboçar sorrisos em rostos calcificados ou transportar soluções voluntárias para apagar fogos de alma. Talvez, mas nem eu sei a certeza. 
Beberico a cerveja suave e calmamente, sorrindo com a alma leve de poder sair por aí de imaginação e memória livres. 
O céu está limpo, o zulmarinho calmo e eu tranquilo num dia de outono




Sanzalando

26 de outubro de 2023

acasos

Quantas vezes dou comigo a pensar o que eu teria sido se não tivesse seguido o caminho que percorri? É um exercício meramente filosófico pois a incógnita e a dúvida permanecerão independentemente do que eu possa pensar. Eu nasci com um certo potencial, fui criando sonhos e desejos, fui alterando sonhos e quereres, fui vivendo ao sabor de tantos acasos que por acaso cheguei ao ponto de estar a perguntar o que teria sido se não tivesse seguido o caminho que segui. Eu tinha asas e voei. Umas vezes ao sabor dos ventos e outra contra tempestades e contrariedades. Não rastejei, não supliquei, porém, vezes sem conta também errei.
Aqui, neste agora, neste estranho momento em que me penso, nada me é estranho embora fruto de muitos acasos, por sortes e azares, cunhei a minha moeda, o meu eu de uma só cara e sem coroa. 
Aqui e agora, desamarrando muitas prisões, preconceitos e parece mal, cheguei ao ponto de me perguntar se estou satisfeito com a minha imensidão? Acho que ainda tenho imenso para outros acasos.


Sanzalando

25 de outubro de 2023

na marginal

Me sentei na marginal. Foi assim naqueles hexágonos que lhe fizeram para o mar não lhe comer a terra. Tinha uma linha que mais parecia era barbante de coser sapatos ou fazer joeira voar e lhe coloquei um anzol que me gozaram porque dava até para apanhar tubarão. Me importei quase nada e fui pescar. Me deram um bocado de mariquita para servir de isca. Me sentei e olhei o barbante. Ele não mexia. Uma tarde inteira eu ia pondo mariquita no anzol e quando puxava nem rastos, acho eu estava a servir couvert no mar. E eu não sentia nada. Como é que o Artur Gomes dizia que apanhava por ali moriangas? eu apanho mesmo é só perder-tempo, um peixe abundante nos pescadores de muito raramente.
Mas saboreei a marginal e amanhã ver se trago uma faca para apanhar uns burriés e descolar umas lapas
Sanzalando
21-11-2011


(recuperado depois de ataque viral no PC)


Sanzalando

amor próprio

Sentado na minha eterna e salutar esplanada, onde a brisa nunca é vento e a chuva não passa de borrifos agradáveis, a minha gelada cerveja sabe que nem um delírio a escorrer pela minha garganta, dou comigo a a escrever em letras grandes, visíveis até por qualquer satélite espião, que a inocência se me acaba quando me tentam roubar a ilusão, o sonho ou a vontade de ser feliz. Ainda que agora tenha feito muitos anos que a minha revolução teve início, consigo trazer em minúcia todos os passos, todas as trincheiras, todas as guerras internas e externas e continuo a sorrir por ter um amor próprio que me alegra a mente.


Sanzalando

22 de outubro de 2023

a vida

Lá fora chove que até parece nos quer alagar ou compensar dos tempos que não o fez. Aqui dentro conheço a paz que os meus olhos distraidamente encontraram a olhar-te.
Lá fora chove e na minha alma há um sorriso de nostalgia, um misto de agradecimento e saudade, um sabor doce de vida vivida.
Lá fora continua a chover e aqui, no meus sonho, observo deleitado uma obra de arte: a vida



Sanzalando

21 de outubro de 2023

olho

Olho para um horizonte que pode ser imaginário como ser real. Olho sem ver. Olho por sentir. Olho para ouvir que o silêncio é grande, tão grande quanto a grandeza das noites de luar que te serenatei sem nunca ter cantado, sem nunca conseguir compor o que quer que fosse melodioso. Afinal de contas o amor não se canta, não se dia: sente-se e mostra-se. É ele que se mostra, que se desnuda no dia a dia da vida. O meu olhar silencioso levo-o para qualquer parte, é alma rara que me elevou dos quadriculados infernais da vida metódica e me trouxe a paz da calma, a capacidade de sorrir e me transcreveu os silenciosos luares das noites tropicais que eu já não sabia de cor. 
Olho para saber que o horizonte termina onde acaba a minha capacidade de sonhar, onde o meu sorriso termina quando uma estrela nova brilha no céu, sendo que eu não sou de ver estrelas, sendo que eu não vou para lá da tristeza. Olho para me ver, nos dias antigos e nos que hão de vir.

Sanzalando

20 de outubro de 2023

liberdade até ao fim dos meus tempos

Quantas vezes me senti perdido e afinal era só porque estava livre? Tem gente que se prende porque não tem o que fazer. Está livre e pode inventar, sonhar, divertir. Há tempo menos para chorar e lamentar. O tempo perdido é que não. Estar livre é um dom à mão de semear que devemos aproveitar para isso mesmo: sermos livres. Há quem se afaste para refletir e quem se afaste após ter refletido. Não vale a pena perder a liberdade só porque não me afastei ou porque me afastei. Escolhi por ser livre, refleti por ser livre. Eu sou livre para o ser, mesmo que me alimentem para o não ser. Venenos palavrosos fazem doer mas sou livre para lavar a mais suja das palavras venenosas que se me jogam. Sou livre no tempo. Só me limita a liberdade o fim dos tempos. O fim dos meus tempos.



Sanzalando

19 de outubro de 2023

foi um dia

revisitando

Eu e mais alguns furámos às aulas. Não fomos à praia nada, não fomos ver a miúdas do Lubango que vêm sempre no mês de Março. Não senhora, fomos para o Aero Club - Rua dos Pescadores- jogar bilhar. Perde paga e não tem discussão. O Reis joga para caramba, eu também, o Zé Pedro, Victor, irmão do Fisga, bué de nós. Já disse nomes que se calhar não devia ter dito porque eles não sabem que eu me lembro. Mas antes fomos comer um pastel de nata à Oasis. Ué, alcatrão está quente e tem tampinhas soldadas que parece foram lá postas quando fizeram a estrada. Eu perdi e mais não sei quem ganhou. Cansados de boa vida resolvemos ir até ao Liceu que tem lá as garinas bonitas e é quase hora do recreio grande. Mas elas só ligam mesmos aos mais velhos eu vou lá fazer mais o quê?... Cresce e aparece, miúdo, digo-me em silêncio com medo que os outros me xingassem o dia inteiro. Quero parecer mais do que sou?. Que aconteceu mesmo no final do ano escolar?
Chumbou! E tudo isto foi no liceu e aconteceu mesmo... para eu crescer mais um pouco e aprender para chegar longe onde muitos não acreditaram que podia ser. Madalena se chateou que parecia tinha acendido o inferno na minha cara. Eu fervia com o sermão. Fui trabalhar, mas gente fina e de bom trato foi ser aprendiz de técnico de som do RCM. Sr. Ivo, o director me olhou de alto a baixo e perguntou: é só um dia? Não, disse eu. Eu quero viver esta vida. E lá fiquei uns anitos, com a paciência do Sousa Santos e do Mendes que me ensinaram a mexer nos botões e nas bobinas. Mas eu queria ir mais além mas isso é outra estória para outras letras soltas num dia destes que não sei.


Sanzalando
26-10-2003



18 de outubro de 2023

O artigo exposto é para consumo da casa.

Faz tempo parei de correr. Se tenho de ir vou, nas calmas, um passo seguro seguido de outro e por aí fora. Se medito, ou falo ou escrevo não vou ver se houve leituras. Já passei essa fase, assim como deixei de perguntar o que acham de mim. Eu pergunto muito é o que eu me acho, como é que eu estou e o que faço para estar ou deixar de estar. Eu escrevo ou falo é porque gosto. É tão bom gostar-me de mim.
Se me gostam, optimo, se não, paciência e temos pena. Eu me gosto e em primeira e ultima instância a aprovação mais importante é a minha. Não é difícil. Detesto comprar carinho, bajulação ou impotência. Já tenho à minha volta muita e até é de mais.
Bebo um copo, converso-me, olho-me e continuo a minha vida num valorizar-me para contentamento próprio. O artigo exposto é para consumo da casa.


Sanzalando

17 de outubro de 2023

É

É, às vezes pareço sou idiota tal é o brilho da esperança que transporto. Vou fazer mais o quê se é assim que eu vejo o dia que passa, o que passou e o que vai chegar? Não sei matar o sorriso nem apagar o brilho dos olhos. É poesia? Não, é real que nem fantasia, é vida em cada dia, sorriso de alegria que me alumia na penumbra da sabedoria. É, eu vivo na sombra do saber e na esperança de saber ainda mais. Escrevo para não esquecer que numa manhã qualquer dum próximo ano eu poderei ia por outros lados que nem o sorriso nem o brilho existirão e depois quem se vai lembrar que eu vivia na nostalgia de um dia voltar ao meu ia de vez ao lugar da minha placenta, com uma vermelha sebenta escrita à mão, em caligrafia de ler fácil?
É, eu sou assim, sorridente e brilhante que nem um poema luzidio de vida.


Sanzalando

16 de outubro de 2023

Lubango onde nasci faz 67 daqui a dias




Sanzalando

quantas

Quantas vezes nesta caminhada por mim adentro me dou de cansado, sabendo que ninguém vai dar por nada e nada me perguntará? Se paro para beber uma gelada birra me hão de nomes chamar, porém ninguém indagará o que leva a descansar relaxadamente naquele exacto momento. Não, não carrego os males do mundo à minhas costas, nem tenho presunção para tal. Os meus males, tantas vezes mentais e raramente físicos, chegam-me. Tentar mudar uma pessoa que seja, tentar convencer uma única pessoa, é inglória tarefa nos dias de hoje, onde tantos especialistas em tanta matéria se contradiz a cada frase proferida que o melhor é olhar com os ouvidos quase encerrados para balançar uma música ou ouvir um livro dos tantos que há para ler.
Quantas vezes pensei desistir por puro egoísmo de pensar e aconselhar sem nada esperar na troca? Mudar nunca, porém aconselhar desinteressadamente e sabendo que pode nada valer as frases pensada na experiência da vida. Mas é intrínseco e nada me faz ser diferente. Escrevo, falo, quase sempre pelo lado positivo que os meus olhos vêm, que a minha experiência me ensinou. e deixo-me levar na conversa cansando-me porém já sem ilusões nem outras decisões. 
Quantas vezes sigo caminho por mim adentro com vontade enorme de ficar sentado a um canto escuro absorvendo a vida vivida num sonho que não posso esquecer porque foi a minha realidade num dado momento?
Quantas vezes me apetece chorar amores antigos e recordar felicidades passadas e deixa-me ficar num descanso aparente?
Quase nunca, diria eu do alto do meu umbigo.


Sanzalando

12 de outubro de 2023

parei de correr, porque sou assim

Já reparaste que eu parei de correr, parei de querer saber como me olham, como me veem, como me querem? Sigo por aqui, umas vezes sentado contemplando, outras caminhando meditando e outras ainda apenas estando. Não vou comprar afectos, carinho ou respeito porque eu não controlo a opinião dos outros sobre mim e logo desfaço-me desses sucessos adquiridos artificialmente. Me ouve lá e me diz qual o filme que só teve sucesso e não teve crítica negativa? A minha vida ia ser diferente? Desconsegui coisas, alheei-me ou desconcentrei-me também, porque tentei poupar sofrimentos ou não criar ilusões. É, por poder parecer mentira, eu te reafirmo, que sou humano e um dia os problemas todos vão desaparecer. Porque vou estar agora preocupado em embelezar o redor só para comprar público? Eu sei que tento não magoar ninguém, mas podes ter a certeza que não quero me magoar nunca. Não vou me adequar às expectativas que me querem. Eu sou que nem eu e ninguém melhor que eu para me dizer como sou. Como tudo tem preço ainda me vão cobrar se eu tentar ser como me querem. Sou assim e vou fazer mesmo mais como?


Sanzalando

11 de outubro de 2023

letras soltas

Bebo uma cerveja gelada e me deixo ir ao sabor do pensamento. Não escondo nem me escondo. Divago feito vagabundo por ideias, sonhos e desejos. Exorcizo medos ou adio decisões. Pouco me importa porque ao chegar a este ponto eu tenho bagagem para dizer que estou acima desse degrau. Medos perdi e decisões poucas tenho de tomar. 
Medos a vida deu-me e me foi mostrado como controlá-los.
Decisões são cada vez mais alicerçadas na experiência e no conhecimento adquirido. Faz tempo deixei de pensar com o coração. Ele é só a caixa controladora, a humanização, o regulador da emoção - a harmonização da decisão.
Bebo porque é uma forma social de estar. Na verdade não bebo, saboreio com prazer de estar. 
É, eu tenho destas coisas de me deixar levar pelas palavras soltas e tantas vezes vagabundas.
A vida é tão curta que nem vale a penas ter pontas soltas, Escrevo-as nas minha linhas e as solto por aí.


Sanzalando

10 de outubro de 2023

modo de ver

Me deixo levar por caminhos mentais em cujo final não sei nem onde é que é. Bebo uma ou outra cerveja, assim num modo de estar descontraído e não ter limites a me amparar. Vou só, levado por ideias, sonhos e pensamentos. Podia eu ser árvore ou pássaro que pouco me ia importar, se mantivesse esta capacidade de voar mental. Eu sou demasiado pequeno para conseguir ver este mundo grande que se auto destrói ao sabor da inverdade, do dessentimento e do desacerto moral. Só viajando por pensamentos e sonhos, ideias e profecias, eu consigo me aproximar dessa grandeza, antes da destruição total. Cansado de ver corações feridos,  hemorragias mentais, diarreias intelectuais, refugio-me na minha esplanada virada para o mar e imagino que o amor me salva e a esperança se multiplique num acto osmótico levado por ventos e marés para todos os cantos deste redondo mundo. 
É, se calhar é por não haver cantos e apenas quintais e quintas que isto é como nunca foi.

Sanzalando

9 de outubro de 2023

idade adulta

Me sento na esplanada e me deixo levar por pensamentos e sonhos. O que é o tempo? Pensava eu que fazia pouco tempo que eu me perdia em lágrimas de amor, em dores de alma adolescente sem futuro devido ao isolamento que fora votado por uma solidão amorosa e sofredora. Hoje, passado em pressuposto pouco tempo, olho no reflexo da barreira de vento e vejo-me grisalho, sorridente mas já sem a força facial dos olhos brilhantes daquele tempo que eu pensava era um ontem recente.
Peço uma cerveja super gelada, olho-me na cor âmbar da garrafa e o mesmo reflexo me transmite que aquele ontem faz tempo que foi há muito. Beberico um pouco para ver se melhora a nitidez do meu olhar. Em ambos reflexos estou igual.
Eu sofro de idade adulta



Sanzalando

8 de outubro de 2023

fragmentos

beberico a minha gelada cerveja e vagueio pelos caminhos do passado e me pergunto o que posso eu fazer com os pedaços de papel que rabisquei ao longo do tempo. Eles são fragmentos da minha vida, pedaços de mim feitos em rascunho. No todo eu sou mais que eles porém eles são tudo de mim. Há pedaços que são lágrimas, fragmentos que são dor, resmas que são reconstrucções, todos sou eu embora eu seja mais que todos eles. Também tem gargalhadas, festas e outras folias. 
Na verdade não me doa a cabeça por não saber o que fazer com tantos fragmentos já que eles são apenas sinónimos da minha existência


Sanzalando

7 de outubro de 2023

felicidade

Me sento por aí, numa qualquer esplanada e me deixo observar a vida. Na verdade se eu romantizar a vida, se eu olhar para as cores garridas, dar-lhes luz nem que seja apenas com o brilho do olhar, se eu ler um livro e encontrar respostas às perguntas que ainda não fiz, se eu caminhar por melodias e silêncios, eu sou um gajo podre de rico porquanto a felicidade me transporta.
Em abono da verdade eu me sinto bem, mesmo que às vezes te pareça um perdido nos acontecimentos que se sucedem a velocidades vertiginosas, mas se não me deixar enrolar nas ondas dos caos mentais, não trocar os pés pelas mãos e tiver recordações do passado que perdi no futuro, eu sou um gajo vivo e por isso ricamente feliz.


Sanzalando

6 de outubro de 2023

sigo

Sigo o meu caminho com vista a chegar a lado nenhum. Vou por aqui meditando, pensando ou simplesmente passeando o meu ar de felicidade. Estou preocupado com o mundo e do modo que isto vai não me vejo com possibilidade de o modificar, pelo que me talvez com meditação e a minha santa paciência ele tenha compaixão de mim e melhore. Se não o fizer é um problema que eu só posso assistir. Há milhentas perguntas e todas elas sem respostas adequada e cientificamente comprovadas, pelo que a imaginação tem de trabalhar e encontrar as palavras que satisfaçam a resposta. Para isso há que pensar e é o que eu faço. Meditando penso.
Sigo o meu caminho e sorrindo vejo. Pouco me importa se agrada a quem me vê desde o agradecido seja eu. Sorrio porque já tentei outras coisas e esta é a mas feliz. Sinto-me bem sorrindo e faço-o com gosto mesmo que alguém me dê o desgosto de me dar um gosto que eu não goste, diria a canção.
Sigo por aqui e por ali com vontade de chegar a lado nenhum um dia qualquer, quanto mais tarde melhor.


Sanzalando

4 de outubro de 2023

vagabundo-me em frente

Se vagabundo-me é porque sou um solitário perdido no tempo com tempo para girar pensamentos e fazes de conta sem fim. Desde o mais profundo pensamento até à parestesia dos membros cansados, imundo a alma num quase afogar de responsabilidades escritas ou simplesmente faladas em voz surdina para não me julgarem louco. 
Às vezes paro numa esplanada, bebo uma cerveja estupidamente gelada e outras caminho sem destino ou rota prévia. Os pensamentos é que me motivam, são o meu combustível, o meu preencher de coisas mentais. Podia escrever uma estória, mas ainda não me apetece. Prefiro pensar sem responsabilidade de ter um princípio e um fim, só vagabundar por frases soltas e afectos por vezes não correspondidos e outros mimos mais que merecidos. Não são traumas infantis que quero exorcizar, nem adultas incertezas que quero afogar. Não são coincidências da vida ou com ela parecidas, são só palavras soltas num passo por aí se calhar noutro lugar também.
É esta a minha forma de amar, de andar, de vagabundar e fazer-me em frente.


Sanzalando

3 de outubro de 2023

outono-me

As folhas se soltam das árvores porque parece é outono e eu piso-as a caminhar. O barulho cranchado dos meus passos parece é estalido ritmado de quem não tem pressa de ir. Vou só à procura do meu lugar na esplanada e esplanar-me em pensamentos e meditações, em ideias e sonhos sonhados numa realidade que pode ser só imaginada, mas que é fazível. 
Mas este pisar de folhas amareladas, que os ventos e brisas fazem cair das árvores, não me mostram o frio que seria suposto eu estar a sentir. Será que sou eu que estou aquecido no meu interstício e esqueci que o frio cá fora era o frio que a minha mãe sentia e me mandava vestir o casaco? 
Este meu caminhar, podendo parecer, não é uma ida sem rumo nem um vaguear para afastar-me de pesadelos ou de pessoas erradas. Não é para criar distâncias nem é fuga de sonhos ou quimeras. No outono me conservo para na primavera e verão não ter um mar nos olhos nem insónias de noites tropicais. Nestes outonos, neste passo lento, vou buscar forças no meu dentro, nos meus secretos esconderijos e os trago para a memória de forma a me aquecer, a alegrar nos invernos de cada dia.



Sanzalando

2 de outubro de 2023

Outubros

Chegou um Outubro e com ele cheguei a um lugar. Faz anos que isso se deu. O primeiro lugar foi mesmo no lugar que eu cheguei quando nasci. Depois foi onde eu escolhi e decidi ia ser o meu lugar. Mas de todos os lugar eu me acabo por me despedir, não ficando em nenhum lugar até ao dia da partida final e definitiva. Mas custa despedir, principalmente se agente sente o afago do abraço e até tem vontade de reficar. Partir sem despedir não é bonito porque depois a gente vai ficar a remoer as coisas tantas e boas que deixou para trás. 
A cerveja aquece, o tempo passa e a vontade de ficar se instala. Mas a despedida foi feita, o abraço deslargado, as tristezas largadas e a hora de partir rumo a outro lugar, a outra paragem se aproxima. Chegado este novo outubro eu me pergunto vou mais para onde? 
Acho fico mesmo por aqui a ver o tempo que deixei para trás noutros outubros. 


Sanzalando

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