A Minha Sanzala

no fim desta página

31 de janeiro de 2020

cacimba

Cacimba num chuvisco que nem sei bem já como é que é. Me lembro, no tempo dos calções e sandálias e sem pelo na perna, que o cacimbo não deixava ver cinco metros à frente. Agora, no cacimbo dos cabelos grisalhos, o cacimbo não deixa ver um palmo à frente do nariz porque me molha as lentes dos óculos. Com este cacimbo não me sento à beira mar a meditar sobre nada mas sim dentro duma sala a sonhar mares e ondas de outros lugares.
Eu sei. Sou complicado. Insatisfeito porque difícil de entender, infantil por rodopiar sobre fintas imaginárias. O meu sobrenome é Sonhador. Às vezes calmo, outras tormentas e calemas, tempestades sorrindo entre vertiginosas curvas arriscadas. Sempre sorrindo mesmo quando os olhos choram. 
Cacimba chuva miúda sobre mim, super-herói de domingos de sofá, leitor ávido de cenas românticas em livros de ciência ou romances negros. Tento salvar o insalvável. Eu, estrela de Hoolywood ou de filmes indianos ou de Hong-Kong, de revistas cor de rosa.
Cacimba sobre um ser feliz porque vivo cada momento de mim.


Sanzalando

30 de janeiro de 2020

adivinho

Hoje fui eu quem acordou nublado. Dormi sono profundo e não sei porque acordei nublado. Estava a adivinhar chuva. Digo eu que não sou intriguista. Ainda não choveu. Mas não tarda ela cai. Palavra de adivinho. Desde os tempos de menino pé de sandália e chuinga eu sou adivinho. Eu é que ainda não sei de quê. Mas um dia eu adivinho e não será tarde de mais. 
Um dia eu disse que amava. Um dia eu amei. Me desculpem, houve mais dias sim. Eu adivinhei e até que pedi desculpa por amar. É que é um acto solitário e muitas vezes pode não ter recibo de recpção. Amar é um sentimento constante, requer alimento e atenção. Não vale a pena jurar amor se não se amar. 
Eu sou adivinho. Eu disse que amava e ainda hoje me deixo levar pela aquela princesa do deserto através de sonhos e imaginação.



Sanzalando

28 de janeiro de 2020

#zulmarinho


#caminhos


#caminhos


nublou

Nublou porém desistiu de chover. O tempo tem razões para estar instável. O tempo costuma ter razão e por isso se diz que dá tempo ao tempo.
Assim, neste virar de página me sento com os olhos em nada, ouvindo maresias e sonhando nostalgias, vagueando por lugar algum.
É preciso saber desistir, deixar para trás sonhos, desejos, pensamentos e vontades e seguir em frente. É difícil não se importar, saber-se substituível, marcados temporáriamente pelo tempo e não somos seres únicos.. Óbvio que apenas vemos o que queremos. Mas há coisa que não vai para lá no esquecimento, a esperança de ser feliz



Sanzalando

24 de janeiro de 2020

#caminhos


penso

Se faz sol é porque faz. Se chove é porque sim. Se está vento é porque não. Tudo no mesmo dia é vida ou quê? Com toda esta instabilidade eu vou fazer mais como com os meus pensamentos? Se não os pensar eu os vou perder para todo o sempre e eles não vão ter futuro. O que seria de mim sem pensamentos? Que se lixe o tempo que eu tenho pouco tempo para perder com ele. Vou pensar mesmo assim, incontestavelmente no tempo.
 Eu não sei porque é que as pessoas às vezes desaparecem. Até ao dia em que eu desapareci. Foi difícil mas eu precisei de desaparecer. Deixei de me ver. Desaturei-me. Não me defuntei. Desapareci de mim. 
Foi só o tempo necessário para eu perceber-me, afastar-me amadurecidamente das angústias e dissabores duma vida pautada pela decisão constantemente certa, impossível de falhar. Conclui-me impossivel de concretizar, renasci e apareci em mim sem ninguém ter dado por nada. 
Coisas de pensamento.



Sanzalando

23 de janeiro de 2020

invernamente

O sol brilha nos intervalos de chuva. O frio aperta nos momentos de ócio. Eu me envolvo em mantas, me retalho em prosas pensadas e me atiro a contas pagas por dias vividos. É só mesmo assim um dia de inverno contrastando com os calores de lá. 
Hoje, amadurecido, cabelo castanho esbranquiçado que já não mostra a tonalidade inicial, meditativo contrastando com o impulsivo doutras eras, chego à ideia que a vida já foi mais colorida, que os amores foram mais calorosos, que os minutos mais rápidos, as amizades mais fortes e mais numerosas e os interesses mais intensos,
Hoje me sinto mais esvaziado, céptico, analítico e sintético que noutras eras.
Hoje, olhando a linha recta que é curva, encontro tanto mais vazio como um sinto muito, se faz favor.
Hoje invernei-me porque faleci mais um dia


Sanzalando

#caminhos


17 de janeiro de 2020

#pordosol


Nietzsche por mim

O tempo parece andar a tricotar, ora são nuvens de algodão cinzento, outra pura lã virgem e outras vezes limpo de brilhar azul celeste. Eu, nestes novelos temporais, medito-me em vez de me deitar. Não quero gastar as horas que tenho em sonhos irreais ou pesadelos sobrenaturais. Medito-me para conseguir conhecer-me e saber-me em cada segundo onde estou e para onde vou ou se fico por aqui apenas. Tem momentos em que eu parece só muitos. Assusto-me com a multidão que me pareço ser. Quero ser criança. quero ser sábio, às vezes sou tolo e outras vezes parece nem sei quem sou. Medito-me até me sentir eu, constitucionalmente integro, único no meio de tantos.



Sanzalando

16 de janeiro de 2020

#comida


#desportivamente


#caminhos


#desportivamente


zulmarinho platinado.

Olha só esse brilhozinho de sol a platinar o zulmarinho que até parece joelheira natural. Assim me deixo levar por paragens mentais, vagabundar por infâncias vividas, adolescências curtidas numa transparência de cor e alegria. E já morri de amores tantas vezes e acabei por ressuscitar todas elas. Deve ser esse milagre joelheiro que me reanima em cada inanimação de amores. E nunca ninguém me disse que a vida é assim.Se calhar até devia ser ódio estas ressuscitações, uma vez que morrer não é agradável. Acho eu. 
Amar dá dor. Mas é tão bom.
Cada dia ressuscito de amor ao acordar para a vida que teima em gastar-se à velocidade furiosa dum tempo que não deveria passar.
Meditado resumo que ninguém passa indissoluvelmente pela minha vida. Ninguém nem nada me deixa sem deixar marca.
Está tudo carimbado pelo joelheiro solar nesse zulmarinho platinado.


Sanzalando

15 de janeiro de 2020

#caminhos


rebrilha o sol

E rebrilhou o sol que se reflecte no zulmarinho como se fosse brilho de prata. Aqui sentado, olhos postos dentro de mim, levito por pensamentos soltos como se corresse uma maratona de sonhos. Gosto de não ter medo de mostrar o que sinto, de revelar as minhas fraquezas e por a nú as minhas cicatrizes. Não pelo gosto, não pela compaixão do retorno, mas somente pelo poder de pôr tudo na palavra, de dar um sentido à frase, de dar uma alma à vida. Gosto de me complementar, de me manter por inteiro, desde a infância, em que calcorreei a minha cidade, até à idade madura que vagueio pela saudade e me revivo na imaginação.
Rebrilha o sol e eu me gosto demasiado de estar a olhar os reflexos de prata no zulmarinho.


Sanzalando

14 de janeiro de 2020

desintoxicadamente

Olha esses pingos a imitar um dia de inverno. É mesmo só para eu não ir meditar para os lados do zulmarinho e vir de lá com baterias parece eternamente ligadas. Assim acho vou entrar num processo de desintoxicação. Vou despaixonar-me de ser assim tal e qual sou. Vou-me despachar para outra pessoa, tranquila, sem pensamentos, sem consciência para não ter que transportar o peso dela, ser o centro do universo mesmo que escrita em prosa ou em silêncio matreiro. 
Não vale preocupar que eu vou fazer tudo isso com calma. Assim uma coisa cada mês ou ano. Sou estou querendo viver a minha vida desintoxicadamente.


Sanzalando

#desportivamente


#flores


13 de janeiro de 2020

#zulmarinho


incertezas

E por cá se mantém o frio quente gelado. Explico, no termómetro está a dizer que está frio, debaixo do sol se aquece que até parece é verão e no andar gela-se com a brisa fria a entrar até ao tutano. E assim se vai passeando os dias nesta meditação a dar lugar ao gélido tempo da certeza sem dúvidas. É, a idade cada vez mais nos vai dando certezas e confirmando as dúvidas até que elas deixam de as ser. Se é sobre mim, perguntem-me a mim. Não teorizem nem divaguem. Perguntem que ninguém leva a mal. Levo a mal a afirmação silenciosa, o calar reprovativo ou o certeza negativa retroactiva.
Olha, nem dá para procurar semelhança entre as nuvens e objectos ou animais. Não dá nem para passar o tempo viajando na imaginação por tempos tórridos. As incertezas ainda são muitas, mesmo nesta idade.


Sanzalando

11 de janeiro de 2020

#caminhos


sol de inverno

E se mantém o frio azul que reflecte o sol no zulmarinho parece é postal de inverno a convidar a ficar. Assim, olhando-o deste ponto interior de mim decido que amar é andar de mãos dadas com esse labirinto caminho que é a vida. Por mais agruras e azares que sinta ou veja é não perder de vista que o amanhã é diferente deste hoje e que por isso respiro para lá chegar e o confirmar. Amar é ter forças para abraçar a trsiteza com a mesma força que abraço a alegria, jubilar com os sucessos e curar as dores das tristezas.
Este é o sol de inverno no seu calor frio.

Sanzalando

9 de janeiro de 2020

por aí

Por aqui teima em não chover e noutros lugares chove, nuns água e noutros bombas. Nalguns lugares faz sol quente, aqui faz sol frio que arrefece a vontade de estar a olhar o zulmarinho por horas a fio. É que eu precisava dessas horas para me abraçar, para me envolver no meu pensamento e me acolher numa forma íntima de ser. Não me posso negligenciar de mim nem me deixar levar por ideias insossas ou mágoas salobras. Preciso olhar-me e sentir-me vivo na vida que escolhi, rever prioridades e se necessário dar a mão à contra-mão,
Os dias meditativos, os dias de chuva e os dias de sol quente fazem parte duma vida, da minha que quero viver com olhos de ver, ouvidos e sentidos apurados, porque se há rio que corre a vida é um desses.
Não me quero ver a ser levado por aí quando me apetece ficar aqui, nem ficar aqui se me apetecer ir por aí. 
Opto por usar cada segundo segundo a minha ideia, a minha opção ou o meu desejo.
Deslevo-me por aí à solta num cavalo de imaginação.


Sanzalando

8 de janeiro de 2020

transparentizado

Azulzinho inverno. Ficou assim o zulmarinho num outro dia deste inverno por bandas de cá e não na banda onde a chuva abunda-se de calor.
Tanto olhar nesse zulmarinho dá para descobrir a pessoa que teve de enfrentar a vida desde que nasceu até agora. É sinal que não desisti, resisti, lutei, contrariei, birrei, resmunguei, gargalhei, brinquei e fui vivendo a vida apesar das dores, dissabores, suores e outros horrores.
De tanto olhar esse zulmarinho eu sei que não mereço pouco. Eu me mereço, mesmo com os meus defeitos e as minhas virtudes. Transparentizei-me.


Sanzalando

7 de janeiro de 2020

#zulmarinho


#caminhos


preso sem prisão

Já andei pelos quatro cantos do mundo. Coisa difícil de eu entender pois se o mundo é redondo como é que andei pelos cantos. Mas como figura de estilo até que me parece bem. Já ouvi tantas línguas que nem sei às vezes como os povos se entendem. Mas na verdade em todos os cantos onde estive me safei. 
Mas por estar cansado desses cantos acho hoje vou ficar em casa, abrigado de palavras soltas e diálogos mudos, amigos de pacotilha e mentes fixadas em teorias quadriculadamente rígidas. É que aqui fechado não terei oportunidade de me deixar afectar por emoções absurdas e decepcionantes.
No somatório de ideias eu não sou mais que um inquilino do meu corpo em cuja renda está incluída a fuga à solidão rodeada de gente vazia. O inferno é grande, a injustiça é tamanha e eu começo a sentir-me prisioneiro deste mundo sem rumo nem rei, sou um prisioneiro sem prisão.
Vai melhorar, diz-me a consciência vazia.

Sanzalando

5 de janeiro de 2020

calor gelado

Faz sol de inverno. É um quente gelado que não sei como explicar nas minhas palavras simples. Acho vou ter que ir buscar num autor clássico a definição deste sol de inverno. Acho que hoje me sinto vazio para carregar a capacidade de explicar esse fenómeno natural. Pessoas vazias não conseguem explicar sentimentos. Hoje não me dou ouvido.
Este quente gelado até dói. Está a me parecer que estamos quase na segunda-feira.
Hoje estou vazio. Não tenho palavras, nem tenho autor clássico e sinto-me com um calor gelado.


Sanzalando

#zulmarinho


4 de janeiro de 2020

#imbondeiro


No ferro, ferradura e saudade

O céu azulou e o zulamrinho azulou de brilhos. E os meus olhos também. A minha alma nem se fala. E com estes raios de sol a me azularem eu fiquei com uma saudade de não ter acordado feito criança ou adolescente de pouca idade sem parvoeira no meio. Essa saudade corta no peito porque não consigo lembrar mais as palavras, as cores, a aspereza do toque da minha rua. Faz tempo esqueci os rostos, os corpos, as portas e janelas da minha rua. Eu não sei o motivo dessa saudade assim num dia destes. Não tenho motivo. Mas eu queria ter acordado nessa tenra mas sabedora idade. Eu queria saber dos meus amores de então, das estúpidas decisões de amar na clandestina fase de só eu saber. 
Mas na verdade eu não acordei nessa idade, acordei na minha idade e dá para ver quem ainda há pouco bajulava, idolatrava e santificava hoje atira pedras aos antigos santos. Eu não gostei de acordar hoje na minha idade.


Sanzalando

#zulmarinho


2 de janeiro de 2020

#comida


#caminhos


#zulmarinho


meditação

Cinzentamente o zulmarinho se transformou. Deve ser do frio que sinto, da névoa que se forma, do tempo de inverno que se instala. Acho é a corrente desse mar a me puxar para o fundo, cada vez com mais força. Eu quero fugir desse mar mas ele me puxa cada vez mais para ele. Irresistivelmente. Na verdade a minha força vem dele, do tempo que lhe medito, do caos que ele me organiza no seu marulhar de ondas quase nulas, no apagão de memórias que a maresia me provoca. Ele é essencial para a minha sobrevivência. Eu acho sem ele eu não respirava, eu não sentia o ar a me entrar nos pulmões e me mostrar o mundo na forma de gás. 
Será que sem mim o zulmarinho existia? Não sei e não sei se quero saber. Eu lhe preciso meditar.



Sanzalando

#zulmarinho


Podcasts

recomeça o futuro sem esquecer o passado