A Minha Sanzala

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30 de dezembro de 2023

Mensagem de ano novo de sua excelência: eu

À medida que nos despedimos de 2023 vamos abrindo a esperança para 2024. Fazemos promessas e depositamos a nossa confiança de que será um ano repleto de oportunidades, de crescimento e momentos inesquecíveis. Olhando para trás recordamos os desafios que enfrentámos, as lições que recebemos e as superações que nos fortaleceram. Cada obstáculo foi um degrau, uma oportunidade de crescer, uma lágrima de coragem acrescida e cada sorriso compartilhado foi uma luz que se acendeu e iluminou cada dia.
Escrevemos numa qualquer página da memória que os momentos de alegria, as conquistas e objectivos atingidos nos permitiram transformar em sabedoria e capacidade para moldarmos o futuro num caminho luminoso.
Que 2024 continuemos com optimismo, cultivemos a compaixão e alimentemos a chama da esperança. Que continuemos fortes, inspirados e não nos esqueçamos da humanidade que fortalece os nossos laços. Que seja mais um ano de descoberta, de renovação e realização.


Sanzalando

28 de dezembro de 2023

eu de antes e de agora

Se eu me lembrasse da primeira vez que começámos a conversar, sem ser na escola, eu estaria agora a fazer um filme de riso e piadas ao mesmo tempo que te ia admirar como te admirava naquela altura. Os dias vão passando, as nossas conversas profundas e maduras para tanta adolescência, fizeram com que nascesse o que parecia um amor para a vida toda, numa eternidade que não começou. Primeiro foi a distância que nos torturou na forma de saudade. Depois a irreverência da juventude me levou a que a saudade fosse apagada na intensidade da vida, me afogasse em querer viver com tal intensidade que quase me esquecia de sobreviver, quanto mais amar. Quantas vezes não falámos porque o teu nariz empinado se recusava a olhar para a face terrena da minha existência?
Com o passar dos anos a distância nos foi separando ao ponto de um fragmento se ter tornado numa fenda inultrapassável.
Se eu me lembrasse da nossa primeira conversa sem ser no liceu, decerto lembrar-me-ia da última que tivemos. Não vou ser mais o bobo esquecido que levou o sentimento como se fosse vento. Vou só ser o eu que um dia te gostava e que a vida modificou..



Sanzalando

21 de dezembro de 2023

20 de dezembro de 2023

AQUELE ABRAÇO DE FESTAS FELIZES

Estou que nem a ir de férias. Que estou mesmo a precisas de deixar a cabeça a descansar e o corpo repousar sobre um olhar perdidamente no infinito. Sabes, mermão, se eu pudesse eu ia já na joia do sul de Angola, passear na areia de perder de vista no mais antigo deserto do mundo. Se desse para ver a fauna eu ia olhar e admirar assim num embevecimento de inveja libertina. Se desse eu ia fazer das dunas o meu carrossel, eu ia aprender geologia para poder identificar cada pedra. Eu ia me tornar um estudioso porque me ia perder a ver as figuras rupestres, ia deitar no Iona, me banhar nas águas termais do Virei, na Lagoa dos Arcos eu ia só ver as aves e na foz do Curoka eu ia fotografar sem conta os pores do sol. Ah, e se ainda tivesse tempo eu ia me perder nas Baía dos Tigres. 
Mas eu estou no ir de férias de mim e por isso não me posso levar a esses lugares. Vou só soltar-me deste corpo e ver por aí as coisas que eu preciso ir ver na alma, na diversidade do repouso. 
Mermão, só te deixo uns votos de felicidades e depois eu volto quando me sentir descansado e com vontade de te dizer como é que eu estou.
AQUELE ABRAÇO



Sanzalando

19 de dezembro de 2023

frases

Às vezes penso ter encontrado o meu conto de fadas mas não vejo mais que um confuso jogo de palavras

Sanzalando

18 de dezembro de 2023

frases

Vou aproveitar e recordar os bons momentos e te deixar dormindo em todas as lembranças ruins...

Sanzalando

16 de dezembro de 2023

frases

Quantas vezes vejo a lua durante o dia? Nesses dias será que ele dorme à noite? É que eu preciso do luar para imaginar as minhas fantasias.



Sanzalando

15 de dezembro de 2023

estória pessoal

Deixo-me ir pela vida e quando chego à idade adulta penso que o pior que aconteceu foi ter de recolher os meus pedaços, guardados na memória e escrever uma estória de vida cheia de coisas boas e assim ter de escolher para não cansar..


Sanzalando

14 de dezembro de 2023

Minha rua

Me sentei no topo da falésia a olhar o zulmarinho e me deixei navegar pela minha estória de vida. Na agitação deste dia a dia actual, onde a tecnologia domina o tempo de nada fazer, eu me lembro da alegria de brincar na rua, de desvendar o segredo da felicidade, das risadas infantis e dos jogos que brincávamos, alguns criativos e outros mais físicos. Essa recordação torna-se agora o palco da minha memória e o tempo da diversão genuína.
Foi na minha rua que os vizinhos se tornaram meus amigos, o estrada o meu campo de jogos, o passeio a minha pista de corrida. As gargalhadas e os gritos infantis eram a banda musical que abafavam o ruído dos patins, as caneladas dadas sem querer ou de propósito, o palavrão era arma de defesa ou grito de dor. O futebol improvisado com balizas marcadas com chinelos ou outro qualquer adereço, transcendia qualquer jogo dos actuais serões de televisão. Jogar à macaca mostrava a destreza, a flexibilidade e o equilíbrio, para além da mão certeira para acertar no quadrado querido. Tudo servia para celebrar a genuína amizade e camaradagem. Brincar às escondidas ganhava contornos de mistério conforme íamos ganhando idade, autonomia e coragem.
O simples facto de correr livre, sentindo o vento na farta cabeleira que então usava, era uma fuga revigorante comparado com a fuga digital de agora.
Ao entardecer, na hora cor de laranja, com o sol a se despedir, os tons quentes a se transformarem em escura noite, a rua tornava-se misteriosa e descompromissada, dando lugar ao sereno diálogo de fim de brincadeira, ao resgatar de estórias e anedotas criadas, ou ouvidas e contadas, que terminavam com o grito de jantar.
Brincar na rua não era apenas uma actividade física, era uma celebração à amizade, comunidade e simplicidade. 
Aqui sentado, longe de écrans iluminados me proponho redescobrir as minhas raízes, os meus tempos de crescimento, as minhas amizades conquistadas, na rua que era minha.


Sanzalando

13 de dezembro de 2023

palavreado solto

Quando dizemos palavras ao vento elas vão parar mesmo onde? Elas são biodegradáveis ou temporalmente se esfumam em nada? Elas ficam a circular até encontrar um ouvido que as ouça? E os silêncios? Qual o lugar de guardar silêncios? E os olhares que vemos no vazio da distração? Há tanta coisa para descobrir que não sei se tenho tempo para tanto.



Sanzalando

12 de dezembro de 2023

sentido das palavras

Me deixei levar por tantas palavras que delas fiz um caminho. Às vezes o caminho é estreito, assim como um precipício dum lado e um muro do outro, outras é largo que nem auto-estrada que até a gente nem sente vontade de caminhar mas sim correr. Mas correr sobre palavras a gente vai errar, vai sem soletrar uma frase e ela vai dar uma ideia que não foi a ideia que a gente pensou. Por isso é mesmo melhor escolher as palavras que deem um caminho seguro, sem palavras flutuantes, sem outras que voam e desaparecem, nem palavras que dizem tanto e tão pouco que a quem ouvir baralha.
Tenho palavras do passado, um lugar de reflectir, de me conhecer e levar cada silaba num edifício que tem ainda um hoje a construir.
Todas as palavras fazem sentido mesmo que o sentido lato da coisa seja insignificante. Não gosto de gastar palavras à toa nem de calar frases que poderiam levar a construir caminhos florestais tropicais ou desertos sem vias de acesso. 
Eu só gasto é de palavras que me digam por onde vou, como vou e com quem vou.



Sanzalando

11 de dezembro de 2023

Palavras

Vamos caminhando nos nossos passos compassados, sincronia da palavra e ouvidos, interrompidos aqui e ali pelo marulhar mais forte de uma onda se atirando num suicídio contra a areia de mil cores. O zulmarinho nos serve de pano de fundo, fonte de inspiração, elo de ligação, corrente de afastamento, aconchego de mimos.
Lhe olho e os meus olhos enxergam a realidade e descubro que as montanhas de sal se desfazem com o vento ou com a água. Convenço-me que as palavras são como setas que uma vez disparadas não voltam ao ponto de partida. Lhe sinto nas suas lágrimas salpicadas e empurradas pela brisa que a luz me atormenta e que os risos estejam abafados.
Caminhamos no teu passo que a passagem se vai encurtando e chego quando chegar ao destino não predestinado Somente caminho no teu caminho para que tu possas ouvir as minhas palavras, os meus silêncios, os meus gritos, o meu choro, minhas gargalhadas. Tu és a razão de eu estar onde estou, mesmo que eu queira estar onde estou a pensar em estar onde não estou
Caminho deixando pegadas na areia fofa desta praia, final de zulmarinho que começa para lá da linha recta que é curva.
Caminho nas palavras porque nada é certo na certeza de ter sempre razão.

Sanzalando


10 de dezembro de 2023

as palavras, os livros e a música

Ah, as palavras, os livros e a música – um trio encantador que nos envolve em mundos de imaginação, emoção e aprendizagem. As palavras têm o poder de comunicar, expressar sentimentos e construir pontes entre as mentes. Os livros, como portais mágicos, nos transportam para lugares distantes, nos permitem viver vidas diferentes e nos desafiam a pensar além dos limites do nosso próprio mundo. Os livros são como que uma escada de conhecimento. Para saber é preciso ir de degrau em degrau, de página a página e páginas tantas sabemos tão pouco que quase mete impressão numa impressora de papel pardo.
E, claro, a música, a linguagem universal que transcende barreiras culturais, é capaz de despertar emoções profundas e proporcionar conforto à alma. Cada nota, cada acorde, conta uma história única que ressoa conosco de maneiras incomparáveis. Encontramos nela e essência das palavras, o encanto dos livros e o prazer da vida.
Sendo assim, permita-se envolver por palavras bem escolhidas, mergulhe nas páginas de um livro que o transporte para além da realidade, e deixe a música ser a trilha sonora da sua caminhada.
Juntos, esses elementos criam um universo extraordinário onde a mente pode se perder e, ao mesmo tempo, se encontrar.



Sanzalando

9 de dezembro de 2023

amor imaginário

Sentado no início da avenida deixando o meu olhar espraiar pela avenida toda dá para ver o filme da minha formosa, caótica e inexistente estória de amor. Se eu era sorrisos, poemas e olhares constantes em cada instante do dia, ele respondia com a total indiferença e nunca soube se secretamente dava conta da minha existência. Nossos corações se união na minha imaginação, nunca a realidade ouvir o que ela imaginava. O brilho dos meus olhos no imaginário beijo que lhe dava não se traduziam em luz estrelar na noite limpa da paixão. Não tenho memória do primeiro beijo que lhe beijei porque isso nunca existiu. Sempre fui um caos amoroso, um secreto apaixonado, um platónico amor. 
Todos os meus cânticos, quadras e sonetos, poemas de paixão nunca existiram porque nunca sairam da minha mente imaginária.


Sanzalando

8 de dezembro de 2023

a minha rua

No tempo em que eu ainda não usava calças e apenas uns calções, com quedes ou sandálias, a minha rua era animada. Tínhamos ali uma comunidade de miúdos saudáveis e alegres que brincávamos aos carros de rolamentos ou descíamos de patins em corridas dos malucos voadores. Tínhamos a nossa esquina onde por vezes o trambolhão era a certeza de não ir no meio da estrada atropelado por um dos raros carros que podia estar a passar. Os Santanas, o Corado, o Guedes, Os Fonsecas, apenas apelidos que colaram na calote craneana para mais tarde grafitar nos meus caminhos de palavras. Muitos mais tinha a minha rua. Ela era vida em fim de tarde, nas tardes quentes em que a trouxa-lavada, os picles ou o garrafão era a certeza que mais tarde íamos ouvir as mães gritar os nossos nomes porque era hora do banho e do jantar. Na nossa rua não havia diferenças. Todos éramos campeões e todos falávamos. 
O passeio liso que começava na casa da D. Maria e terminava depois da esquina dos Fonsecas era o nosso campo, a nossa pista, o nosso ponto central.
De vez em quando a rua era invadida pelos outros de outras ruas que se vinham aproveitar do nosso liso passeio. A gente deixava e lhes dava aula, quer nos carros de rolamentos quer na descida com patins. 
O uso das calças veio por um ponto final progressivo nesta rua.


Sanzalando

7 de dezembro de 2023

brilhos

Eu sou assim mais ao menos como as estrelas. Tenho energia que transmito cá para fora, cintilante e por vezes não visível. Essa energia não só nasci com um pedaço como fui gerando ao longo do meu caminho. pareço uma máquina das modernas que aproveita o seu movimento para gerar e acumular energia. Essa energia eu converto em palavras, nalgumas acções, em pensamentos e em obras que não são de arte mas tenho a arte de as fazer. 
É, os homens, eu incluído, somos como as estrelas, uns brilham mais que outros e a memória de uns durará para lá da sua extinção. 
Mas para além do brilho estrelado que sou às vezes sou mar das lágrimas que verto nos dias de tempestade. 


Sanzalando

6 de dezembro de 2023

olhar

Gosto de olhar o que vejo. Gosto do meu olhar quando ele se perde nos momentos que vivi, nos silêncios que admirei e nos horizontes que não vi. Gosto do meu olhar porque sabem a memórias dos momentos divagantes, das estórias que me contei, das imaginações que imaginei, mas fundamentalmente da vida que vivi. 
Gosto do meu olhar por saber onde estar mesmo que esperando um amanhã qualquer.
Gosto do meu olhar porque ele me conecta com cada momento do meu desconforto, da minha tristeza, das minhas gargalhadas, do meus dias felizes. Olho-me com gosto de me ver.


Sanzalando

5 de dezembro de 2023

caos de amor

Sentado na falésia a olhar o horizonte vou mantrando o teu nome porque tenho medo que o teu nome se evapore da minha memória e eu me esqueça do que tu me ajudaste a chegar aqui, mesmo nada sabendo de mim.
Eu podia julgar-te porque o teu corte foi radical porém desconsigo destruir de mim o bem que me fizeste, a tristeza que me tiraste, o caminho que me ensinaste. 
Jamais poderei esquecer o teres-me acordado para a realidade deste mundo no tempo antigo da minha existência. 
Afinal de contas, apesar de todos os amigos que me olhavam tu foste a única que deixaste uma marca na incógnita sabedoria do início da minha vida, quando o amor era o meu caos. 



Sanzalando

4 de dezembro de 2023

adeus estórias de antigamente

Deixo-me voar nos pensamentos como se fosse um ser fora do meu corpo. Sou pássaro que vê de cima a minha vida.  Sou átomo dum qualquer corpo que me vive.  Eu visto-me de fora, sou assim como que uma pessoa que não cresceu desde a adolescência e que se deixou ficar naquela paixão não correspondida, desafiadora e tantas vezes dolorosa. Corria a cidade às horas que eu sabia ela ia passar ali, naquele passeio de fim de tarde. Havia tempo para passear e o tempo aberto que chama o amor à superfície da terra. Eu sabia o que sentia e tantas vezes banhando-me na tristeza chorava no silêncio escuro do meu quarto os sorrisos que distribuía durante o dia. Ela era a minha paixão não correspondida e eu sabia que um dia ela ia ser o padrão das minhas escolhas. Então não cresci para não ser desonesto nem comparativo. O tempo nos afastou, possivelmente a idade lhe foi pesando o que não lhe pesou a consciência de não ter percebido que eu lhe gostava.
Falar destas coisas, para as paredes surdas ou para a minha alma que paira a me ver sorrindo e feliz, é a forma que eu tenho de manter acesa a chama dos limites infantis impostos na outrora vida que eu tinha. Investi em mim, apesar de não ter crescido, apesar de ter desaparecido do seu olhar, da sua forte influência e dos seus gestos orientadores, e me fiz gente.
Hoje, terminando esta aventura de me escrever estórias verdadeiras que nunca aconteceram ou que nunca foram importantes na hora da sua vivência, recordo com saudade todas as letras que deixei em forma de pegada na minha vida.


Sanzalando

3 de dezembro de 2023

ela

É tão giro parar para ver como é que as coisas são. Tudo pode ser irónico e tudo pode acontecer de forma diferente do que imaginamos. Tem momentos que a gente pensa que tudo é nosso, o coração, o olhar e o pensamento dela. A gente imagina mesmo quando sabe que não é. Há vontade que assim seja. Há desejo de ser assim. Mas sabemos que o olhar é mesmo dela assim como o bater do seu coração. Agente só quer mesmo é ser egoísta de amor. Não tenho direito de propriedade apesar de pensar que qualquer coisa é minha. Nem sei se o amor é, quanto mais o resto. Ela não perde a concentração por minha causa. Ela não sai da defesa por minha causa. Eu sei o que digo, apesar de ter gente que pensa é especialista na área. Eu sei tudo dela mesmo que ela nem saiba eu existo. Ela não relaxa e se me sonha deve virar pesadelo. 
Nunca mais vi o boca de sapo, nunca mais sentei na escadaria monumental para lhe ver de bancada. Mas eu sei tudo ela nada sabe de mim.
Me disseram que ela não sabe o que perdeu. Eu me ganhei, mesmo que eu trema lhe ouvindo o nome ou somente lhe imaginando.


Sanzalando

2 de dezembro de 2023

os mares

Continuando o caminho das palavras às vezes encontro-me em encruzilhada de expressões como mar calmo e mar revolto e tenho de parar para pensar. Tanto pode ser sinónimo de tranquilidade ou de agitação, como que palavras metafóricas, a dualidade da vida. A expressão das palavras nesta forma pode significar a coexistência de duas formas opostas, tal qual a vida. Uns dias caminhamos em mares calmos e outros em mares revoltos. Só precisamos de ter a mão no leme e olhar atento para vermos qual mar nos serve no momento.



Sanzalando

1 de dezembro de 2023

palavras infinitas

Estou a caminhar sobre palavras. Umas são ocas e outras pesadas demais para flutuarem. Tenho da arranjar palavras equilibradas para não me magoarem os pés na minha caminhada. 
As palavras são como os amores. Alguns são tão marcantes que ainda hoje saltam à memória à mínima coisa passada. Há palavras ouvidas ou faladas que se tornaram marcos na vida. Há palavras que deviam ter sido silêncios. Há palavras amadas e palavras que odiamos. Caminhar sobre elas dá desequilíbrio mental se não estivermos estruturados numa boa cadeira de abraços, afectos e carícias.
As palavras têm os seu peso específico, a sua marca e a sua cor. Tal como os amores não as há perfeitas e imperfeitas. 
Tal como nos amores há palavras infinitas.


Sanzalando

30 de novembro de 2023

beleza natural

Liberto de amarras, físicas e mentais, deixo-me ir ao sabor da vontade como que passeando num ao calhas mental.
Às vezes vou ver o mar, da falésia ou da praia, qualquer dos sítios posso dizer que é encantador e chega a ser relaxante. A vastidão do mar, o som das ondas e a brisa sempre presente, criam essa atmosfera tranquila, revitalizante e até apaixonante. Dependendo da hora do dia a miríade de cores embelezam um mental quadro que vai do azul celeste ao fogo laranja do pôr-do-sol.
Cada pessoa tem a sua hora e o seu lugar, a sua experiência única ao contemplar o mar.
É a beleza natural.



Sanzalando

29 de novembro de 2023

livre sou

Sigo as palavras como se elas fossem um caminho por onde navego sonhos e outras divagações. Por aqui vou mantendo a calma porque é assim que as palavras atingem o mais profundo do seu significado, a sua essência é mágica e a comunicabilidade chega ao ponto alto. A calma não é uma opção, é uma certeza. Na clareza das palavras se transperentizam sentimentos, emoções e desejos. Palavras pensadas, calma e serenamente ditas vão mais longe do que o interior de quem as pensa. As minhas palavras são soltas, saem dos meus abraços, soltam-se ao vento até se perderem no eco. 
Não deixo os meus sonhos e divagações se perderem no silêncio, no quarto onde durmo ou nos passos silenciados dum caminhas solitário. Escrevo-os para que eles se libertem, voem, se soltem e se sintam livres de serem ou não realizados. Livres sonhos e divagações livre sou.



Sanzalando

28 de novembro de 2023

sonhos e birras

Ouço uma música suave e vou pelos caminhos dos sonhos como quem vai flutuando num mar de ilusões. Algumas vezes a minha parte infantil, a criança existente dentro de mim, deseja sair e chorar por tudo o que não chorou quando devia, pelos julgamentos feitos ao longo dos tempos, pelas proibições sofridas, pelos gritos calados, pelas injustiças injustificadas. Mas eu, o adulto, repreendo-me e reprimo-me porque entendo que a idade do já era se foi e esses pequenos detalhes prescreveram nas coisas positivas que significativamente lhe foram dadas à criança interior. A realidade devolve-nos às prestações e nos enche o coração de brilhantes brinquedos imaginários para nos felicitar e nos tornar seres felizes. Esqueço as birras e levo-me ao jardim da imaginação andar de baloiço e escorrega, de carrossel e comer algodão doce num ar de felicidade interna.



Sanzalando

27 de novembro de 2023

do passado ao presente

Até ao presente eu me tenho sentado a olhar esse zulmarinho e vagabundado por pensamentos, sonhos e desejos como que eu precisasse filmar o conteúdo da minha memória.
De verdade que os sonhos são símbolos de aspirações, de esperanças ou desejos. Os meus filmes são palavras que associo ao mar angolano, num remetente de ligação profunda, numa cultura histórica que vem desde a placenta até aos sessenta. Esse mar não é mais a fronteira ocidental, física e intransponível mas é a minha real ligação de oportunidade e vivência ao solo natal.
Os sonhos poderiam ser apenas expressão poética dos meus devaneios, as imagens dos meus desejos e quereres, porém são mesmo o somatório do meu passado num chegar até hoje, dinâmico e variado na metáfora marítima da minha juventude.
É importante notar que várias vezes quis sair desse registo sendo que a interpretação de cada um pode variar e o contexto da expressão é inevitavelmente ligado a Angola. Hoje quero sair, uma vez mais. Quero deixar os sonhos e desejos para uns momentos esporádicos e queria ficar num texto livre, actual, recente, criativo e ao mesmo tempo divertido. A minha diversão é fazer filmes de palavras, com cortes e montagens ao meu gosto e sabor.
Vou tentar e ver como me safo nesta aventura...


Sanzalando

25 de novembro de 2023

esse mar

Eu que conheço tão pouco a minha terra ando por aí a passear na terra dos outros que são mais outros que eu. Agora vou passear pela minha terra através da boca ou da escrita dos outros, através das fotografias dos outros. Mas antes assim que cristalizado nas ideias da memória que o tempo tenta apagar e que a realidade vai transformando.
Na minha terra o mar dança ao ritmo das marés numa sinfonia de marulhar na areia branca de muitas cores. Tem lugares de águas mornas e outras mais frias que as até arrepia só de pensar que o frio delas é o quente da terra dos outros. Quando olho qualquer mar eu vejo o que me chega no sabor das correntes o perfume, o calor e a simpatia da lá.
E quando se põe o sol e o céu fica parece é fogo de uma queimada que não arde? Esse mar é mais que um sustento, é mesmo a ligação do meu passado com o meu futuro neste presente.
Neste mar que um dia baptizei de zulmarinho conto as minhas estórias tantas vezes em silencio e meditação.


Sanzalando

24 de novembro de 2023

carta que não escrevi

Hoje, quando chega a hora do pôr do sol, recordo os dias que passeamos e se mistura bué de emoções dentro da minha cabeça, parece é comboio a vapor a subir a serra. Não sei se consigo te dizer em palavras os sentimentos sentidos por mim naquela altura em que os nossos caminhos se foram separando.
Sei de cor o brilho dos meus olhos polidos pelas lágrimas, a forma do teu sorriso sem sorrir e a aspereza do teu semblante a me fitar como quem corta uma corda de amarração.
Nunca tivemos passeios de mãos dadas nem sei se tivemos conversas profundas que durassem mais que alguns minutos. Não me lembro se alguma vez calhou estarmos assim de olhos nos olhos a escrever silêncios entre nós. Não me recordo de nenhum capítulo que tivéssemos trocado juras de amor ou eternos planos de futuro. Será que ficou escrito nas nossas almas algum tratado de distância ou memorização?
Às vezes penso nos ses da vida se não nos tivéssemos separados daquela forma e tivéssemos seguido a trajectória planeada segundo os teu parâmetros. Como posso eu saber como teria sido a minha vida sem a rudeza daquele teu olhar naquele dia?
Como eu te posso dizer que todos os meus silêncios são diálogos contigo? Como eu te posso recordar a cumplicidade dos nossos sonhos de criança? Como eu te posso mostrar as cicatrizes da minha alma?
Será que te lembras das estrelas do nosso céu? Do sabor do nosso mar, lembraste? Dos passeios de fim de tarde, recordas-te?
Os nossos destinos seguiram rumos diferentes, os nossos tempos foram tempos diferentes, os nossos olhares olharam coisas diferentes.
Te desejo alegria e amor para sempre.
Com carinho até ao dia que o cruzeiro do sul virar norte



Sanzalando

23 de novembro de 2023

zulmarinho desamor

Sentado na areia da praia, mais ou menos onde estará o chapéu de sol cor de laranja que daqui a pouco, adivinho, vai chegar, envolvo-me no sabor salgado da aragem que sopra e vagueio por desejos que se traduzem no simples abraço que queria dar. Esqueço-me que não sabes que eu existo, que a minha grandeza não tem comparação com a tua e só esta capacidade de sonhar faz com que a brisa do mar me leve para os teus braços.
Talvez no crepúsculo, quando o sol estiver a se deitar para lá da linha recta que se curva tu te recordes de me olhar, sorrires e dar oportunidade de me ver e sentires o que eu sinto..
Ver o zulmarinho e sonhar, uma actividade contemplativa que não é mais que uma celebração de amor que nem as sombras de chapéus de sol, barracas ou toldos, ruídos de gente saltando, correndo ou brincando nesta areia me faz despertar.
Quando tu aqui chegares o marulhar virará calema dentro de mim e a brisa marítima se tornará ciclone, os meus olhos verterão água salgada porque mais uma vez não saberás da minha existência e a fronteira seca do teu olhar será o meu muro de lamentações.



Sanzalando

Machu Picchu 2022


Sanzalando

2 Dedos de Conversa - MEMÓRIAS DE UM REFUGIADO COM RÓTULO DE RETORNADO, ...

Sanzalando

22 de novembro de 2023

zulmarinho desejado

Me sento nos hexágonos da marginal, sem cana de pesca, linha ou anzol. Sou estou aqui a ver o zulmarinho e contemplar os meus sonhos que se estendem por ele e dançam ao sabor das ondas. Transcende a minha capacidade de sentir porque é um espetáculo de rara beleza e muito mistério. O marulhar é a banda sonora, melodia que me acalma e me convida a meditar.
Ao olhar para o infinito que daqui vejo, lá onde o céu toca no mar tem uma resma de sonhos e desejos, de visões e quereres, promessas de recomeços. Só esse mar para me fazer ver o que sou no meu imaginário, sem limitações ou prisões sentimentais ou materiais.
E o sol, fiel companheiro desse zulmarinho, pinta no mar reflexos que desenham a cor de ouro os contornos dos meus desejos e sonhos. Momento mágico que não palpável porém vivido, que realizo sonhos que a natureza embeleza.


Sanzalando

21 de novembro de 2023

a minha cidade

Quantas ruas tem a cidade? Nunca lhes contei e agora seria batota porque ela cresceu sem meu conhecimento. Eu já não tenho a cidade que era minha e que eu a percorria com as minhas sandálias feitas pelo Estregildo, com os meus calções feitos pelo sr. Lucas. Eu não apaguei nenhum registo mas não me apetece agora acrescentar os novos registos. Prefiro ficar mesmo parado naquele tempo em que eu conhecia a minha cidade. Se ia no carro com o Bacharel, se ficava na esquina a ver se o boca de sapo ia passar, se ia na praia com os chinelos de pneu feitos pelo Acácio, o empregado doméstico do Sr..Eng. Armand Martins, e que ele diz serem Nonkakos e eu assim decorei. É essa cidade que eu gosto que tinha os pastei de nata da Oásis, os gelados do Lã, os cachorros quentes do sr. Ferrão, a ginguba do Camonano, as ferragens do Passa Fome, os remédios da farmácia do Teles ou os aviados pelo Figueira. Da cidade dos versos do Zé Côco no semanário da cidade, a lotaria do Bauleth, os rebuçados da Mercearia do Sr. Jorge ou o pão do PapoSêco, os livros da Mirabilis ou os da Regina, as canetas do Couto ou da Drogaria do Rosa.
Quantas casas tinha a cidade? Nunca lhas contei e não é agora que as vou contar.
Meu amigo vai dizer que eu vivia no mato e ele na cidade, mas eu gosto é da minha cidade que tem três carreiras de autocarro, não tem engarrafamentos e ninguém se atrasa por causa do trânsito. 
Se calhar a culpa é minha por ter visto amor nesta cidade.



Sanzalando

20 de novembro de 2023

Corim Tellado

Sento-me na cadeira de baloiço do meu avô, olho o quintalão e a casa da vizinha e me embalo em sonhos de adolescente apaixonado faz de conta é uma revista de Corin Tellado, uma fotonovela que eu lia quando ia com a minha mãe à Cabeleireira dela, à D. Carlota. Eu era paixão que via em cada fotografia daquele tempo que ali estava. Entretanto passaram-se anos desde essas leituras românticas, tantos foram eles que eu cá penso que foram dias. Mais ou menos assim como que o tempo não passou. Parou na memória e gravou os fotogramas dos tempos idos. Muita vida passou na minha vida, tanto que eu tenho uma vida antes de e outra depois de e elas não se misturam, embora eu as viva em simultâneo. A paixão de então é a paixão de então e nada tem a haver com as novas paixões. Não desconstruo para reconstruir, vivo-as. Impossível esquecer pelo que é melhor vivê-las. O tempo não as apaga e o baloiço suave da cadeira do meu avô não me esmorece nem entristece, suaviza-me o recordar e ameniza-me o reviver.
A vida não é simples, nem fácil. É vida ela própria. Eu sentado na cadeira a ver a minha mãe com rolos na cabeça e esta enfiada no ovo do secador, ensurdecendo com o sopro do vento quente e eu a ler Corin Tellado. Quantas vezes eu já peguei nesta revista? Tantas quantas as que acompanhei a minha mãe à D. Carlota. Quantas vezes eu me agarrei à estória e colei nesta minha adolescência a olhar para a vizinha que mora para lá do quintalão?
É, a leitura tem destas coisas, nos influência, nos molda culturalmente, e hoje revivo essa estória do antes de, como se ela fosse dum agora.



Sanzalando

19 de novembro de 2023

silêncios

Me deixo por aqui num vaguear de sonhos e desejos, olhos postos num horizonte sular, num ponto e virgula da vida, numa exclamação interrogativa das duvidas existenciais e concluo que foram lindas as etapas da vida vivida. Houve momentos incríveis, outros interessantes, alguns apenas de aprendizagem, outros sem essência, aperfumados, desconseguidos mas mesmo assim recordados pela sua inqualificável significância.
Voa vagabundar-se em silêncios que por o serem não têm palavras.


Sanzalando

18 de novembro de 2023

dor de saudade

Estou sentado sob as casuarinas ao lado do Clube Náutico. Me apetece ficar na sombra deste verão imaginário que me aquece a alma, ao mesmo tempo que vejo o comboio que vai no porto buscar carga que deve ser para levar lá no planalto. Ao lado ninguém está a jogar ténis. Me refugio, me protejo, me distraio e ao mesmo tempo vou pondo à superfície mental a minha vida em tempo real, sem falhas de passado a amarrotar um qualquer futuro ou um presente esquecido na lembrança apagada.
Será que tem bebida, comida ou carícia que apague a dor da saudade? Mesmo que seja a saudade da gente mesmo? Mesmo que seja a saudade imaginária?
Aqui sentado, perfumado de resina, me dizem é pinheiro, eu sei é casuarina, deslembro de pensar no dia de amanhã, esquecer a embriaguez do futuro sem as memórias do passado.
Aqui sentado, sob as casuarinas eu poderia dizer mil vezes que te amo porque o comboio a diesel não te ia deixar ouvir, por mais que eu gritasse.
Aqui sentado, ainda consigo imaginar-te a jogar ténis do outro lado da rede mal escondida pela trepadeira, respiro resina com perfume de pinheiro, vejo os comboios a passar um de cada vez e ainda aqueço a alma com o imaginário reinventado dos sonhos de menino que amenizam a dor da saudade. Aqui me deixo levar por sonhos vividos em cada segundo do meu passado. Aqui não tenho medo de não ter futuro neste presente.



Sanzalando
11-02-2012
revisitado

17 de novembro de 2023

aqui sentado

Me sento na escadaria do tribunal e deixo os meus olhos percorrerem toda a Avenida da Praia do Bonfim. Recordo só assim um domingo de tarde em que os mais kotas vão fazer da avenida o picadeiro de passeio em fim de tarde. Os mais kotas, as filhas e nós que ficamos sentados nos canteiros a ver a moda passar. com olhos de paixão.  Mas aqui sentado eu começo a fazer um filme na minha cabeça. O teu boca de sapo ainda não passou aqui mas eu já fervilho. O meu amor é assim como que um semba, para não dizer uma sina compassada de tons ritmados, ao ritmo do coração. Se eu soubesse escrever música eu ia dizer que tinha uma pauta de teu nome no meu batimento cardíaco. Se eu conhecesse eu ia te dizer que aos meus olhos tu eras uma praia do Mussulo, água cristalina e quente paixão, mas eu nunca deixei o meu sul e só posso dizer que és a água fria do meu pica-pica cardíaco.
Aqui sentado na esperança de te ver passar eu já imagino o calor de um abraço teu que nunca irei ter. És o meu porto seguro, seja só Amboim ou Alexandre, os portos que eu me lembro, porque da tua gália eu lhes desconheço. Serás a minha princesa planáltica do Lubango que me viu nascer e me descarregou aqui nas areias do deserto para eu te conhecer. Acasos do ocaso que agora me lembro. 
Aqui sentado, recordo tanto que até danço na pista da vida uma música que nunca fizemos.



Sanzalando

16 de novembro de 2023

sou assim e depois

Eu mesmo sou assim e vou fazer mais como para deixar de ser? Mudar sem mudança na essência tem coisa difícil de conseguir. Eu também tenho vários problemas comigo. Tem coisas que não me gosto e vou fazer mais como para mudar. Cinzentou o cabelo além de começar a rarear que até parece uma manifestação sem adeptos. Vou pôr peruca daquelas de cabelo castanho claro ou preto negro de mais preto que carvão? Me olho no espelho e vejo este jovem com cara de mais velho parece é nascido faz mais anos. Me vou fazer mais como? 
Adaptei os olhos ao que me vejo, sorrio e logo me vejo como eu gosto de me ver, sem necessidade de me encher o saco com dialéticas inconclusivas.
Sou mais ou menos assim: que quando me chamam eu vou, quando me olho já cheguei e quando chego acho não devia.
Vou mudar para agradar mais a quem sem ser a mim mesmo? Me deixo estar sentado a ver o mar e olhar para lá do meu mundo.




Sanzalando

15 de novembro de 2023

PROFESSOR(A)

Faz muito tempo, no tempo em que eu andava de calções novos feitos com as calças velhas do tio ou avô em que ir na escola era um frete. Tem pouca gente que isso não é verdade, na verdadeira verdade da palavra. Mas hoje, passado tempo sobre esse tempo toda a gente está marcada por esse tempo. Depois, já de calções transformados em calças, em que os calções não era moda e fazia a gente querer ser mais crescido que esse tempo, além das aulas do dia a dia ainda tinha a noite dentro para marrar livros e apontamentos, principalmente em certas alturas do fim do ano escolar que não era ao mesmo tempo que o fim do ano propriamente dito. e aí a gente já sentia outra vontade, embora houvesse quem mantivesse a vontade de antigamente. Outros poucos também. A verdade era que ninguém gostava do puxão de orelhas público ou a caracterização analfabética perante uma plateia de compinchas concorrentes da época. Então nas épocas dos exames ou simples testes ou chamadas orais, se esquecia o sono e era noite dentro fazer o que não se tinha feito no mês anterior. Independentemente do professor era o livro a importância maior da noite que nos transformava de crianças em adolescentes arrependidas das cabulações mensais.
O professor, normalmente personagem brincada no recreio e nas tertúlias inter-testes, passava a ser o monstro que nos obrigava a saber as coisas da chamada cultura geral. O professor ensinava durante a aula e a gente esquecia no intervalo. Ciclo vicioso que se quebrava na véspera do teste ou exame. A gente nunca se lembrou que o professor não estava só a dar a aula, estava a ensinar cultura para a vida. Hoje me lembro tanto dos professores que até dá vontade de voltar atrás e lhes pedir desculpa das brincadeiras feitas nas salas de aula e reviver tudo de outra forma. 
Tinha professores que nos obrigavam a ser do seu jeito embora a gente se esquecia que nos portávamos do nosso jeito e isso desequilibrava a paciência desse adulto que queria nos moldar.

Sanzalando

14 de novembro de 2023

dor

Como dói o passado não ser presente e o futuro esquecer o passado. Como dói eu não ser o que desejo ser quando o quero ser. Ardem-me os olhos das lágrimas que já chorei e me secam-se os lábios com os beijos que não dei. Dói-me o peito dos amores que amei, dói-me a alma dos segredos que guardei. 
Sabes, não me dói ver as cinzas da juventude voarem sobre os ventos da idade. Não me dó ver as memórias serem esquecidas, fruto do peso da idade. 
Dói-me o medo de não ver mais vezes as miragens do deserto, de não sentir os frios das noites longas dos descampados areais por onde andei.
Não me dói o silêncio nem a solidão.
Dói-me a loucura  das palavras ditas sem pensar, dos gestos feitos sem reflectir e das acções irreflectidas dos que passam na vida sem darem por ela.
Não me dói amar. Não me dói ver-te. Não me dói sonhar-te.
Dói-me a tua lágrima, a tua solidão e o teu silêncio. Dói-me ver-te sem brilho a navegar num mar insano sem destino nem rumo.
Meu doce amor não dói.



Sanzalando

13 de novembro de 2023

mar

Me deixo embalar ao som do zulmarinho. Calmeiro tempo de frio e ele ali sereno que nem uma onda parece que esboça. Eu se me deixasse a olhar eu ia ver parece-me uma aguarela azulinha vista desde aqui. Para ele eu sou invisível, inexistente ou um deixa para lá que há muitos. Para mim ele é um mais que tudo, a minha ligação ao outro canto do mundo.
Me deixo levar na musicalidade dos sons e silêncios deste lugar como se o seu som fosse um abraço que me abraça.
Eu sou mar, eterna paixão.


Sanzalando

11 de novembro de 2023

a gente tem, precisa é encontrar

Tem dias a gente acorda e diz que vai limpar a cabeça, vai esvaziar o coração e tudo vai recomeçar do zero. Conversa fiada. Tudo que ficou para trás está gravado que nem tem mais lixivia para limpar. Grudou na alma parece é tatuagem, queimadura de ferro em brasa. Não há forma de zerar o conta quilómetros da vida. Recomeça partindo dos pressupostos anteriores, das alíneas corrigidas e várias retificações. É começar a olhar sem comparar, é dar sem esperar receber e viver sem pensar em ser grande. A gente é do tamanho que é e a gente tem tudo para trás para aprender. A gente sempre encontra um bocado de beleza na gente. Precisa só procurar.


Sanzalando

10 de novembro de 2023

eu mesmo

Me sento por aqui e deixo o meu cérebro caminhar por aí. Vagabundo-me perdido no espaço e no tempo, sem pressa de chegar, sem tempo a contar e sem prisões para me limitar. Vou só assim, de pensamento em pensamento e verifico que é tão bom que as pessoas mudem, que as feridas sarem e as dores desapareçam. É tão bom olhar e não ter limites para o pensamento, encher o peito de ar num inspirar profundo e dizer que bela vista tenho desde aqui, mesmo que de olhos fechados consiga ver o poder da imaginação.
Me sento por aqui e não sinto saudades dum abraço, dum olhar ou simplesmente dum sorriso porque os tenho dentro dos meus pensamentos. Melhor para mim do que eu?


Sanzalando

9 de novembro de 2023

let it be

Ponho o rádio a tocar num som baixinho, ouço-o e isso é bastante. Não preciso de tremer, vibrar ao som da música. Ouço-a de forma melodiosa e se calhar também melancólica. É uma música dos meus tempos de adolescente, da discoteca da Igreja ou do Cardin ou só de ouvir no rádio. Não me canso de ouvir essa melancolia. Faz parte do meu amor, da minha existência. Eu levo-a por onde quer que vá mesmo que o rádio tenha ficado em casa. Lhe levo na alma. è a minha forma de estar na vida, o meu caminhar, o meu bálsamo, o meu antidepressivo. É essa música o meu antidoto para os males da vida. A vida tem males, engasga-nos, nos rasteira, nos entristece nos tira as estrelas cintilantes do céu. Essa minha música nos trás o sorriso, nos trás a saudade e a vontade de futuro. 
São as coisas boas da vida, ela mesmo: a vida. A vida tem música, mesmo que às vezes a gente não a consiga ouvir. 

Ouve essa música dos Beatles: Let it be

When I find myself in times of trouble, Mother Mary comes to meSpeaking words of wisdom, let it beAnd in my hour of darkness she is standing right in front of meSpeaking words of wisdom, let it be
Let it be, let it be, let it be, let it beWhisper words of wisdom, let it be
And when the broken hearted people living in the world agreeThere will be an answer, let it beFor though they may be parted, there is still a chance that they will seeThere will be an answer, let it be
Let it be, let it be, let it be, let it beThere will be an answer, let it be
Let it be, let it be, let it be, let it beWhisper words of wisdom, let it be
Let it be, let it be, let it be, let it beWhisper words of wisdom, let it be, be
And when the night is cloudy there is still a light that shines on meShinin' until tomorrow, let it beI wake up to the sound of music, Mother Mary comes to meSpeaking words of wisdom, let it be
And let it be, let it be, let it be, let it beWhisper words of wisdom, let it be
And let it be, let it be, let it be, let it beWhisper words of wisdom, let it be


(Quando me encontro em momentos difíceis, Mãe Maria vem até mim
Falando palavras de sabedoria, deixe estar
E na minha hora de escuridão ela está bem na minha frente
Falando palavras de sabedoria, deixe estar
Deixe estar, deixe estar, deixe estar, deixe estar
Sussurre palavras de sabedoria, deixe estar
E quando as pessoas de coração partido que vivem no mundo concordam
Haverá uma resposta, deixe estar
Pois embora eles possam estar separados, ainda há uma chance de que eles vejam
Haverá uma resposta, deixe estar
Deixe estar, deixe estar, deixe estar, deixe estar
Haverá uma resposta, deixe estar
Deixe estar, deixe estar, deixe estar, deixe estar
Sussurre palavras de sabedoria, deixe estar
Deixe estar, deixe estar, deixe estar, deixe estar
Sussurre palavras de sabedoria, deixe estar, seja
E quando a noite está nublada ainda há uma luz que brilha em mim
Brilhando até amanhã, deixe estar
Acordo ao som da música, Mãe Maria vem até mim
Falando palavras de sabedoria, deixe estar
E deixe estar, deixe estar, deixe estar, deixe estar
Sussurre palavras de sabedoria, deixe estar
E deixe estar, deixe estar, deixe estar, deixe estar
Sussurre palavras de sabedoria, deixe estar)

Sanzalando

Hoje na Rádio Portimão


Sanzalando

8 de novembro de 2023

Cusco Perú 2022


Sanzalando

foi um adeus eterno até agora

Sentado a olhar o zulmarinho, nesta parte curva da baía, olhos postos no horizonte como que à espera de um abraço ou de um ar de sua graça, de sentir o seu calor ou arrefecer no seu cacimbo. 
Já não consigo encontrar na minha memória o registo do teu rosto pois o tempo foi passando, as rugas te foram aparecendo e nesta que me resta ainda estás com aquela cara de jovem que não sorri, que não mostra o que sente apesar de saber que fez ferida no pobre vizinho da casa ao lado. 
Como eu posso me lembrar de ti se passaram tantos anos que o cruzamento de olhar se evaporou na frieza do teu ver-me. 
Lá, no início desta vida, onde faz calor ou cacimbo, dissemos um adeus que dura no até hoje, passado anos que já perdi a conta. O que a vida me deu nessa altura, a alegria e a felicidade ninguém me tira. Nem a música que ouvíamos vezes sem conta me faz esquecer que um dia dissemos adeus para sempre. Não fomos feitos para viver em primeira mão, para viver perto ou para sofrer longe. Desistimo-nos mas sem nos esquecer. Encontrar-nos-emos num breve dalgum lugar desconhecido em que olharás para o lado sem dizer que me viste. 
Nem tu nem eu alguma vez sentiu um vazio no coração, a partida foi querida, desejada e um ao outro foi vendo a distancia a crescer num até hoje interminável.
Cumpriste a promessa de nunca me falar, de procurar ou dizer olá. E eu me obriguei contrariado a fazer o mesmo, olhando apenas para a memória, para as palavras escritas nas folhas soltas da recordação.
Sendo que é impossível voltar ao passado, rasgar o tratado não escrito porem assinado na razão mental de cada um, não consigo esquecer que antes de adormecer te recordo, que nas minhas palavras soltas o teu ar de não sorriso, os teu porte altivo e o teu desejo de crescer e ser gente me acompanha. Vou fazer mais como sem faltar respeito a um tratado assinado e consentido, por ambas as partes aceite?
Na marginal o zulmarinho se estende calmo, no meu íntimo transparece tranquilidade vivo contente e feliz mesmo depois desse tal adeus eterno que um dia dissemos.




Sanzalando

7 de novembro de 2023

espero

Tem dias que fico á espera feito ingénuo e se calhar com cara de parece que é parvo. E que espero eu? Quantas vezes nem eu sei. Tem vezes que é um sorriso, outras uma palavra ou um cumprimento e a maior parte das vezes de um olhar. 
Quantos sorrisos guardo na memória? O teu, o dela e o dele, e daquele outro e outra. Um brilho de olhar um esboço de sorriso. 
E às vezes eu fico à espera em vão, que não é de escada nem escalada para um sofrimento que não sofro. É só porque esperei com cara de parvo e ar ingénuo. 
Não me fazem falta porque os tenho de sobra, mas espero sempre e me atormento no momento porque não gosto da minha cara de parvo.



Sanzalando

6 de novembro de 2023

crescer

Me sento aqui a olhar sem ver o mundo, a sentir sem tocar a essência deste mundo. Bebo uma cerveja gelada como quem sonha com o ideal feito festa, esquecendo as lágrimas tristes que se chora no silêncio da intrínseca vida de cada um. Vejo o horizonte e sorrio sem saber se de tristeza ou desolação. Na verdade a cada minuto que passa e eu cresço e eu sei mais sinto que perdi alguma coisa. Aos poucos vou perdendo aqueles que me afagaram quando eu era uma criança, os que me apararam as quedas enquanto fui crescendo e me mantiveram a salvo de tantas tormentas e adamastores. E não é que até hábitos vou perdendo? E depois digo que estou a crescer e a saber mais?!


Sanzalando

3 de novembro de 2023

mundo

Olha só como é lindo o mundo visto daqui para o horizonte. Esquece os ruídos, os pós e as guerras, a fome e a sede, o bom e o mau. Faz de conta estás aqui sozinho no meio deste vasto campo de visão, o teu horizonte real e momentâneo. É lindo e silencioso. Esquece as borboletas, o cantar dos pássaros, as gargalhadas, as lágrimas e as dores e vê só como é lindo. 
Te encontra só nesse recanto de olhar, tudo parece ter harmonia. Confia só em ti e vais ver o equilíbrio que se instala através desse olhar. Não tentes aliviar dores alheias sem aliviares as tuas e admira essa beleza de vista.
Agora, devagarinho acorda, olha em toda a tua volta, pensa e imagina como é possível estarem a destruir tudo o que daqui a tempos não verás.


Sanzalando

2 de novembro de 2023

minha caixa de tesouro

Daqui onde me sento o horizonte parece um já ali. Olho-o e lhe desejo chegar perto, como se tivesse vontade de largar este lugar e caminhar por aí fora até lá. Se me perguntares porque eu nem sei como te dizer. Só apetece ir ver o horizonte de perto. Como é que eu te vou dizer que às vezes custa comunicar o que sinto porque eu mesmo não entendo o que sinto. Se calhar eu preciso de alguém com muita paciência para me traduzir este silêncio sentimental, esta gritaria surda dos meus pensamentos.
Aqui, onde o horizonte é um quase ali, lhe sinto como esse futuro que me segura a alma e me aperta o coração. Acho que nesse horizonte eu vou guardar todos os meus passados como se ele fosse uma caixa de tesouro.



Sanzalando

1 de novembro de 2023

os eus

Me deixo estar aqui sentado a pensar  como vou dar a volta ao meu escrever. Na lógica eu sou assim e vou mudar mais como e porquê? É que às vezes eu me sinto cansado de me procurar e num tem como me achar de outro modo. Às vezes eu até que gostava de ser de outro modo. Tás a ver assim rezingão como aquele um dos sete anões? Ou ser como o outro e falar apenas silêncios. Mas na minha essência eu não ia ser mais eu e ia ser outro e ficava difícil fazer diálogo entre esses dois.eus.
Uma birra, um silêncio e um copo para três. Os dois eus e mais algum que entretanto apareça. Afinal de contas eu vivo naquela linha assim quase que invisível do não dizer nada para evitar o conflito ou dizer tudo e desconflituar num encolher de ombros, porque a vida é só conflito, interior e exterior ao nosso eu.


Sanzalando

31 de outubro de 2023

estórias que deslembrei

Que tem óleo de palma, tem kiabos, tem caranguejo das hortas ou dos grandes da Torre do Tombo. Tem ginguba do Camonano e se calhar bananas da horta do Carriço ou compradas na Kitanda do Torres ou na da Laurinda. Tem tudo vais fazer falta mais o quê? Já sei, falta uma estória solta contada na Minhota, no Avenida, na Oásis ou mesmo no muro duma casa qualquer num fim de tarde. Pode ser a estória do Tobé e com Faria das Baleias, pode ser uma do Figueira das ameijoas ou mesmo só do Eurico ou do Artur Gomes. Pode ser uma do Catronático, do Virei ou do Mucuio. Quem sabe a que sabe o mar da Baia das Pipas e a temperatura da água do Baba? Faz só uma de lembrança, puxa pescoço até soltar a memória. Agiliza as ideias num saltar de lugares. Desconsegui lembrar uma agora. Fica para um depois se voltar a me lembrar que o meu mundo não tem raio maior que 10 km da minha casa..


Sanzalando

30 de outubro de 2023

o meu tempo

Me sento na esplanada e deixo tempo passar enquanto vou olhando para as minhas janelas de vida. Eu também tenho as minhas janelas do tempo. 
Tenho as que já fechei de vez, mas lhes olho só para me recordar, mas não as abro para entrar poeira nem outras poluições. São tempo irrepetíveis e que não podem de maneira nenhuma serem retomados, tocados ou retocados.
Tenho as que embora fechadas podem ser abertas, usadas ou retomadas. Janelas indefinidas, temporariamente encerradas. 
Tenho as que ainda estão abertas e prontas a serem usadas, modificadas, concluídas ou só vividas.
Portanto, eu não preciso estar todo o tempo a acertar o tempo, apenas me esforço pra fazer o meu melhor em cada tempo, sabendo que o erro faz parte dele e que é preciso saber viver com ele e saber que o tempo tem tempo para corrigir o seu tempo.



Sanzalando

29 de outubro de 2023

a crescer devagarinho

Eu ainda não tinha direito a andar de calças compridas, era os meus calções com suspensórios, sapatos de verniz a camisa branca, no traje de domingo. A minha avó vestia o seu saia e casado de xadrez branco e preto e punha uma cor nos seus olhos com um lápis, sempre sentada no pechiché de espelho ao alto e duas ou três gavetas laterais onde guardava o seu pó de arroz, a sua base e outros cremes que eu não sei para que eram. Matematicamente a sexta à tarde ou sábado de manhã era passada na casa da D. Carlota, primeiro em cima da Drogaria Rosa e depois ao lado do Colégio das madres, sua cabeleireira. Domingo lá íamos todos bonitos primeiro na missa e depois no jardim das buganvílias ou matiné do Eurico. Depois eu já usava umas calças de ganga, que não eram de marca porque essas só por encomenda e o dinheiro não havia para gastos assim. Então se mandava fazer à frente da Cimpor umas calças de ganga que não eram iguais mas fazia massagem na banga deste modelo dominical. A missa ficava para trás e o mais importante era o santo sacrifício da sua saída. Depois era um passeio até aos arcos ver se alguém tinha ido na praia, era almoço e como tinha havido dia de festa na véspera se comia a feijoada seguida do leite creme que arrefecia na janela da dispensa, longe das mãos gulosas. E foi depois de muitas dessas festas que eu passei a ter direito a usar calças e herdei as várias gavetas do pechiché da avó para guardar a minha roupa e todo o cuidado era pouco para a roupa dos domingos e outras festas. 
E foi assim devagarinho, ano após ano que eu voltei a ter o direito de usar todos os dias calções, chinelos ou sandálias e a não me preocupar que é que iam dizer.



Sanzalando

28 de outubro de 2023

o meu tempo

Hoje é dia de levar palmadinha nas costas, abraços e beijos. Uns falsos e outros sentidos. Lhes desconheço a diferença no dia de hoje. Eu estou bem e recomendo, se me perguntarem se o peso da idade não me verga as costas. Na verdade o corpo vai-se curvando com o lento chamar da terra por ele, mas teimoso que sou não lhe ligo e faço a minha vida sem me importar com o que impressão deixo neste caminhar anual para a idade avançada no tempo. O tempo será sempre o de JC, o meu, seja lá o que ele for.


Sanzalando



27 de outubro de 2023

um dia de outono

Beberico a minha cerveja gelada, olho o horizonte de céu limpo e tento ver o que há para lá do que os meus olhos alcançam.. Deixo a imaginação vagabundar sobre memórias e certezas estudas em livros científicos, com a certeza que a minha incerteza é absoluta, que o meu estar é um passageiro que há de sair numa qualquer paragem mais lá para a frente e desde já com a reafirmação que sairei dela contra vontade. Porém agora, sei que não ando por aí a distribuir sorrisos, palavras de abraço ou olhar de beijo. Mas quando o faço é de coração, sem nada querer em troca a não ser o egoísmo de me sentir feliz. Não me dói não haver retorno, nem me entristece olhares secos, marafo-me porque não consigo fazer alegria. 
A minha vida não é ser palhaço, não é contrariar decepções, desconstruir castelos de tristeza. Talvez seja suavizar as lágrimas, esboçar sorrisos em rostos calcificados ou transportar soluções voluntárias para apagar fogos de alma. Talvez, mas nem eu sei a certeza. 
Beberico a cerveja suave e calmamente, sorrindo com a alma leve de poder sair por aí de imaginação e memória livres. 
O céu está limpo, o zulmarinho calmo e eu tranquilo num dia de outono




Sanzalando

26 de outubro de 2023

acasos

Quantas vezes dou comigo a pensar o que eu teria sido se não tivesse seguido o caminho que percorri? É um exercício meramente filosófico pois a incógnita e a dúvida permanecerão independentemente do que eu possa pensar. Eu nasci com um certo potencial, fui criando sonhos e desejos, fui alterando sonhos e quereres, fui vivendo ao sabor de tantos acasos que por acaso cheguei ao ponto de estar a perguntar o que teria sido se não tivesse seguido o caminho que segui. Eu tinha asas e voei. Umas vezes ao sabor dos ventos e outra contra tempestades e contrariedades. Não rastejei, não supliquei, porém, vezes sem conta também errei.
Aqui, neste agora, neste estranho momento em que me penso, nada me é estranho embora fruto de muitos acasos, por sortes e azares, cunhei a minha moeda, o meu eu de uma só cara e sem coroa. 
Aqui e agora, desamarrando muitas prisões, preconceitos e parece mal, cheguei ao ponto de me perguntar se estou satisfeito com a minha imensidão? Acho que ainda tenho imenso para outros acasos.


Sanzalando

25 de outubro de 2023

na marginal

Me sentei na marginal. Foi assim naqueles hexágonos que lhe fizeram para o mar não lhe comer a terra. Tinha uma linha que mais parecia era barbante de coser sapatos ou fazer joeira voar e lhe coloquei um anzol que me gozaram porque dava até para apanhar tubarão. Me importei quase nada e fui pescar. Me deram um bocado de mariquita para servir de isca. Me sentei e olhei o barbante. Ele não mexia. Uma tarde inteira eu ia pondo mariquita no anzol e quando puxava nem rastos, acho eu estava a servir couvert no mar. E eu não sentia nada. Como é que o Artur Gomes dizia que apanhava por ali moriangas? eu apanho mesmo é só perder-tempo, um peixe abundante nos pescadores de muito raramente.
Mas saboreei a marginal e amanhã ver se trago uma faca para apanhar uns burriés e descolar umas lapas
Sanzalando
21-11-2011


(recuperado depois de ataque viral no PC)


Sanzalando

amor próprio

Sentado na minha eterna e salutar esplanada, onde a brisa nunca é vento e a chuva não passa de borrifos agradáveis, a minha gelada cerveja sabe que nem um delírio a escorrer pela minha garganta, dou comigo a a escrever em letras grandes, visíveis até por qualquer satélite espião, que a inocência se me acaba quando me tentam roubar a ilusão, o sonho ou a vontade de ser feliz. Ainda que agora tenha feito muitos anos que a minha revolução teve início, consigo trazer em minúcia todos os passos, todas as trincheiras, todas as guerras internas e externas e continuo a sorrir por ter um amor próprio que me alegra a mente.


Sanzalando

22 de outubro de 2023

a vida

Lá fora chove que até parece nos quer alagar ou compensar dos tempos que não o fez. Aqui dentro conheço a paz que os meus olhos distraidamente encontraram a olhar-te.
Lá fora chove e na minha alma há um sorriso de nostalgia, um misto de agradecimento e saudade, um sabor doce de vida vivida.
Lá fora continua a chover e aqui, no meus sonho, observo deleitado uma obra de arte: a vida



Sanzalando

21 de outubro de 2023

olho

Olho para um horizonte que pode ser imaginário como ser real. Olho sem ver. Olho por sentir. Olho para ouvir que o silêncio é grande, tão grande quanto a grandeza das noites de luar que te serenatei sem nunca ter cantado, sem nunca conseguir compor o que quer que fosse melodioso. Afinal de contas o amor não se canta, não se dia: sente-se e mostra-se. É ele que se mostra, que se desnuda no dia a dia da vida. O meu olhar silencioso levo-o para qualquer parte, é alma rara que me elevou dos quadriculados infernais da vida metódica e me trouxe a paz da calma, a capacidade de sorrir e me transcreveu os silenciosos luares das noites tropicais que eu já não sabia de cor. 
Olho para saber que o horizonte termina onde acaba a minha capacidade de sonhar, onde o meu sorriso termina quando uma estrela nova brilha no céu, sendo que eu não sou de ver estrelas, sendo que eu não vou para lá da tristeza. Olho para me ver, nos dias antigos e nos que hão de vir.

Sanzalando

20 de outubro de 2023

liberdade até ao fim dos meus tempos

Quantas vezes me senti perdido e afinal era só porque estava livre? Tem gente que se prende porque não tem o que fazer. Está livre e pode inventar, sonhar, divertir. Há tempo menos para chorar e lamentar. O tempo perdido é que não. Estar livre é um dom à mão de semear que devemos aproveitar para isso mesmo: sermos livres. Há quem se afaste para refletir e quem se afaste após ter refletido. Não vale a pena perder a liberdade só porque não me afastei ou porque me afastei. Escolhi por ser livre, refleti por ser livre. Eu sou livre para o ser, mesmo que me alimentem para o não ser. Venenos palavrosos fazem doer mas sou livre para lavar a mais suja das palavras venenosas que se me jogam. Sou livre no tempo. Só me limita a liberdade o fim dos tempos. O fim dos meus tempos.



Sanzalando

19 de outubro de 2023

foi um dia

revisitando

Eu e mais alguns furámos às aulas. Não fomos à praia nada, não fomos ver a miúdas do Lubango que vêm sempre no mês de Março. Não senhora, fomos para o Aero Club - Rua dos Pescadores- jogar bilhar. Perde paga e não tem discussão. O Reis joga para caramba, eu também, o Zé Pedro, Victor, irmão do Fisga, bué de nós. Já disse nomes que se calhar não devia ter dito porque eles não sabem que eu me lembro. Mas antes fomos comer um pastel de nata à Oasis. Ué, alcatrão está quente e tem tampinhas soldadas que parece foram lá postas quando fizeram a estrada. Eu perdi e mais não sei quem ganhou. Cansados de boa vida resolvemos ir até ao Liceu que tem lá as garinas bonitas e é quase hora do recreio grande. Mas elas só ligam mesmos aos mais velhos eu vou lá fazer mais o quê?... Cresce e aparece, miúdo, digo-me em silêncio com medo que os outros me xingassem o dia inteiro. Quero parecer mais do que sou?. Que aconteceu mesmo no final do ano escolar?
Chumbou! E tudo isto foi no liceu e aconteceu mesmo... para eu crescer mais um pouco e aprender para chegar longe onde muitos não acreditaram que podia ser. Madalena se chateou que parecia tinha acendido o inferno na minha cara. Eu fervia com o sermão. Fui trabalhar, mas gente fina e de bom trato foi ser aprendiz de técnico de som do RCM. Sr. Ivo, o director me olhou de alto a baixo e perguntou: é só um dia? Não, disse eu. Eu quero viver esta vida. E lá fiquei uns anitos, com a paciência do Sousa Santos e do Mendes que me ensinaram a mexer nos botões e nas bobinas. Mas eu queria ir mais além mas isso é outra estória para outras letras soltas num dia destes que não sei.


Sanzalando
26-10-2003



18 de outubro de 2023

O artigo exposto é para consumo da casa.

Faz tempo parei de correr. Se tenho de ir vou, nas calmas, um passo seguro seguido de outro e por aí fora. Se medito, ou falo ou escrevo não vou ver se houve leituras. Já passei essa fase, assim como deixei de perguntar o que acham de mim. Eu pergunto muito é o que eu me acho, como é que eu estou e o que faço para estar ou deixar de estar. Eu escrevo ou falo é porque gosto. É tão bom gostar-me de mim.
Se me gostam, optimo, se não, paciência e temos pena. Eu me gosto e em primeira e ultima instância a aprovação mais importante é a minha. Não é difícil. Detesto comprar carinho, bajulação ou impotência. Já tenho à minha volta muita e até é de mais.
Bebo um copo, converso-me, olho-me e continuo a minha vida num valorizar-me para contentamento próprio. O artigo exposto é para consumo da casa.


Sanzalando

17 de outubro de 2023

É

É, às vezes pareço sou idiota tal é o brilho da esperança que transporto. Vou fazer mais o quê se é assim que eu vejo o dia que passa, o que passou e o que vai chegar? Não sei matar o sorriso nem apagar o brilho dos olhos. É poesia? Não, é real que nem fantasia, é vida em cada dia, sorriso de alegria que me alumia na penumbra da sabedoria. É, eu vivo na sombra do saber e na esperança de saber ainda mais. Escrevo para não esquecer que numa manhã qualquer dum próximo ano eu poderei ia por outros lados que nem o sorriso nem o brilho existirão e depois quem se vai lembrar que eu vivia na nostalgia de um dia voltar ao meu ia de vez ao lugar da minha placenta, com uma vermelha sebenta escrita à mão, em caligrafia de ler fácil?
É, eu sou assim, sorridente e brilhante que nem um poema luzidio de vida.


Sanzalando

16 de outubro de 2023

Lubango onde nasci faz 67 daqui a dias




Sanzalando

quantas

Quantas vezes nesta caminhada por mim adentro me dou de cansado, sabendo que ninguém vai dar por nada e nada me perguntará? Se paro para beber uma gelada birra me hão de nomes chamar, porém ninguém indagará o que leva a descansar relaxadamente naquele exacto momento. Não, não carrego os males do mundo à minhas costas, nem tenho presunção para tal. Os meus males, tantas vezes mentais e raramente físicos, chegam-me. Tentar mudar uma pessoa que seja, tentar convencer uma única pessoa, é inglória tarefa nos dias de hoje, onde tantos especialistas em tanta matéria se contradiz a cada frase proferida que o melhor é olhar com os ouvidos quase encerrados para balançar uma música ou ouvir um livro dos tantos que há para ler.
Quantas vezes pensei desistir por puro egoísmo de pensar e aconselhar sem nada esperar na troca? Mudar nunca, porém aconselhar desinteressadamente e sabendo que pode nada valer as frases pensada na experiência da vida. Mas é intrínseco e nada me faz ser diferente. Escrevo, falo, quase sempre pelo lado positivo que os meus olhos vêm, que a minha experiência me ensinou. e deixo-me levar na conversa cansando-me porém já sem ilusões nem outras decisões. 
Quantas vezes sigo caminho por mim adentro com vontade enorme de ficar sentado a um canto escuro absorvendo a vida vivida num sonho que não posso esquecer porque foi a minha realidade num dado momento?
Quantas vezes me apetece chorar amores antigos e recordar felicidades passadas e deixa-me ficar num descanso aparente?
Quase nunca, diria eu do alto do meu umbigo.


Sanzalando

12 de outubro de 2023

parei de correr, porque sou assim

Já reparaste que eu parei de correr, parei de querer saber como me olham, como me veem, como me querem? Sigo por aqui, umas vezes sentado contemplando, outras caminhando meditando e outras ainda apenas estando. Não vou comprar afectos, carinho ou respeito porque eu não controlo a opinião dos outros sobre mim e logo desfaço-me desses sucessos adquiridos artificialmente. Me ouve lá e me diz qual o filme que só teve sucesso e não teve crítica negativa? A minha vida ia ser diferente? Desconsegui coisas, alheei-me ou desconcentrei-me também, porque tentei poupar sofrimentos ou não criar ilusões. É, por poder parecer mentira, eu te reafirmo, que sou humano e um dia os problemas todos vão desaparecer. Porque vou estar agora preocupado em embelezar o redor só para comprar público? Eu sei que tento não magoar ninguém, mas podes ter a certeza que não quero me magoar nunca. Não vou me adequar às expectativas que me querem. Eu sou que nem eu e ninguém melhor que eu para me dizer como sou. Como tudo tem preço ainda me vão cobrar se eu tentar ser como me querem. Sou assim e vou fazer mesmo mais como?


Sanzalando

11 de outubro de 2023

letras soltas

Bebo uma cerveja gelada e me deixo ir ao sabor do pensamento. Não escondo nem me escondo. Divago feito vagabundo por ideias, sonhos e desejos. Exorcizo medos ou adio decisões. Pouco me importa porque ao chegar a este ponto eu tenho bagagem para dizer que estou acima desse degrau. Medos perdi e decisões poucas tenho de tomar. 
Medos a vida deu-me e me foi mostrado como controlá-los.
Decisões são cada vez mais alicerçadas na experiência e no conhecimento adquirido. Faz tempo deixei de pensar com o coração. Ele é só a caixa controladora, a humanização, o regulador da emoção - a harmonização da decisão.
Bebo porque é uma forma social de estar. Na verdade não bebo, saboreio com prazer de estar. 
É, eu tenho destas coisas de me deixar levar pelas palavras soltas e tantas vezes vagabundas.
A vida é tão curta que nem vale a penas ter pontas soltas, Escrevo-as nas minha linhas e as solto por aí.


Sanzalando

10 de outubro de 2023

modo de ver

Me deixo levar por caminhos mentais em cujo final não sei nem onde é que é. Bebo uma ou outra cerveja, assim num modo de estar descontraído e não ter limites a me amparar. Vou só, levado por ideias, sonhos e pensamentos. Podia eu ser árvore ou pássaro que pouco me ia importar, se mantivesse esta capacidade de voar mental. Eu sou demasiado pequeno para conseguir ver este mundo grande que se auto destrói ao sabor da inverdade, do dessentimento e do desacerto moral. Só viajando por pensamentos e sonhos, ideias e profecias, eu consigo me aproximar dessa grandeza, antes da destruição total. Cansado de ver corações feridos,  hemorragias mentais, diarreias intelectuais, refugio-me na minha esplanada virada para o mar e imagino que o amor me salva e a esperança se multiplique num acto osmótico levado por ventos e marés para todos os cantos deste redondo mundo. 
É, se calhar é por não haver cantos e apenas quintais e quintas que isto é como nunca foi.

Sanzalando

9 de outubro de 2023

idade adulta

Me sento na esplanada e me deixo levar por pensamentos e sonhos. O que é o tempo? Pensava eu que fazia pouco tempo que eu me perdia em lágrimas de amor, em dores de alma adolescente sem futuro devido ao isolamento que fora votado por uma solidão amorosa e sofredora. Hoje, passado em pressuposto pouco tempo, olho no reflexo da barreira de vento e vejo-me grisalho, sorridente mas já sem a força facial dos olhos brilhantes daquele tempo que eu pensava era um ontem recente.
Peço uma cerveja super gelada, olho-me na cor âmbar da garrafa e o mesmo reflexo me transmite que aquele ontem faz tempo que foi há muito. Beberico um pouco para ver se melhora a nitidez do meu olhar. Em ambos reflexos estou igual.
Eu sofro de idade adulta



Sanzalando

8 de outubro de 2023

fragmentos

beberico a minha gelada cerveja e vagueio pelos caminhos do passado e me pergunto o que posso eu fazer com os pedaços de papel que rabisquei ao longo do tempo. Eles são fragmentos da minha vida, pedaços de mim feitos em rascunho. No todo eu sou mais que eles porém eles são tudo de mim. Há pedaços que são lágrimas, fragmentos que são dor, resmas que são reconstrucções, todos sou eu embora eu seja mais que todos eles. Também tem gargalhadas, festas e outras folias. 
Na verdade não me doa a cabeça por não saber o que fazer com tantos fragmentos já que eles são apenas sinónimos da minha existência


Sanzalando

7 de outubro de 2023

felicidade

Me sento por aí, numa qualquer esplanada e me deixo observar a vida. Na verdade se eu romantizar a vida, se eu olhar para as cores garridas, dar-lhes luz nem que seja apenas com o brilho do olhar, se eu ler um livro e encontrar respostas às perguntas que ainda não fiz, se eu caminhar por melodias e silêncios, eu sou um gajo podre de rico porquanto a felicidade me transporta.
Em abono da verdade eu me sinto bem, mesmo que às vezes te pareça um perdido nos acontecimentos que se sucedem a velocidades vertiginosas, mas se não me deixar enrolar nas ondas dos caos mentais, não trocar os pés pelas mãos e tiver recordações do passado que perdi no futuro, eu sou um gajo vivo e por isso ricamente feliz.


Sanzalando

6 de outubro de 2023

sigo

Sigo o meu caminho com vista a chegar a lado nenhum. Vou por aqui meditando, pensando ou simplesmente passeando o meu ar de felicidade. Estou preocupado com o mundo e do modo que isto vai não me vejo com possibilidade de o modificar, pelo que me talvez com meditação e a minha santa paciência ele tenha compaixão de mim e melhore. Se não o fizer é um problema que eu só posso assistir. Há milhentas perguntas e todas elas sem respostas adequada e cientificamente comprovadas, pelo que a imaginação tem de trabalhar e encontrar as palavras que satisfaçam a resposta. Para isso há que pensar e é o que eu faço. Meditando penso.
Sigo o meu caminho e sorrindo vejo. Pouco me importa se agrada a quem me vê desde o agradecido seja eu. Sorrio porque já tentei outras coisas e esta é a mas feliz. Sinto-me bem sorrindo e faço-o com gosto mesmo que alguém me dê o desgosto de me dar um gosto que eu não goste, diria a canção.
Sigo por aqui e por ali com vontade de chegar a lado nenhum um dia qualquer, quanto mais tarde melhor.


Sanzalando

4 de outubro de 2023

vagabundo-me em frente

Se vagabundo-me é porque sou um solitário perdido no tempo com tempo para girar pensamentos e fazes de conta sem fim. Desde o mais profundo pensamento até à parestesia dos membros cansados, imundo a alma num quase afogar de responsabilidades escritas ou simplesmente faladas em voz surdina para não me julgarem louco. 
Às vezes paro numa esplanada, bebo uma cerveja estupidamente gelada e outras caminho sem destino ou rota prévia. Os pensamentos é que me motivam, são o meu combustível, o meu preencher de coisas mentais. Podia escrever uma estória, mas ainda não me apetece. Prefiro pensar sem responsabilidade de ter um princípio e um fim, só vagabundar por frases soltas e afectos por vezes não correspondidos e outros mimos mais que merecidos. Não são traumas infantis que quero exorcizar, nem adultas incertezas que quero afogar. Não são coincidências da vida ou com ela parecidas, são só palavras soltas num passo por aí se calhar noutro lugar também.
É esta a minha forma de amar, de andar, de vagabundar e fazer-me em frente.


Sanzalando

3 de outubro de 2023

outono-me

As folhas se soltam das árvores porque parece é outono e eu piso-as a caminhar. O barulho cranchado dos meus passos parece é estalido ritmado de quem não tem pressa de ir. Vou só à procura do meu lugar na esplanada e esplanar-me em pensamentos e meditações, em ideias e sonhos sonhados numa realidade que pode ser só imaginada, mas que é fazível. 
Mas este pisar de folhas amareladas, que os ventos e brisas fazem cair das árvores, não me mostram o frio que seria suposto eu estar a sentir. Será que sou eu que estou aquecido no meu interstício e esqueci que o frio cá fora era o frio que a minha mãe sentia e me mandava vestir o casaco? 
Este meu caminhar, podendo parecer, não é uma ida sem rumo nem um vaguear para afastar-me de pesadelos ou de pessoas erradas. Não é para criar distâncias nem é fuga de sonhos ou quimeras. No outono me conservo para na primavera e verão não ter um mar nos olhos nem insónias de noites tropicais. Nestes outonos, neste passo lento, vou buscar forças no meu dentro, nos meus secretos esconderijos e os trago para a memória de forma a me aquecer, a alegrar nos invernos de cada dia.



Sanzalando

2 de outubro de 2023

Outubros

Chegou um Outubro e com ele cheguei a um lugar. Faz anos que isso se deu. O primeiro lugar foi mesmo no lugar que eu cheguei quando nasci. Depois foi onde eu escolhi e decidi ia ser o meu lugar. Mas de todos os lugar eu me acabo por me despedir, não ficando em nenhum lugar até ao dia da partida final e definitiva. Mas custa despedir, principalmente se agente sente o afago do abraço e até tem vontade de reficar. Partir sem despedir não é bonito porque depois a gente vai ficar a remoer as coisas tantas e boas que deixou para trás. 
A cerveja aquece, o tempo passa e a vontade de ficar se instala. Mas a despedida foi feita, o abraço deslargado, as tristezas largadas e a hora de partir rumo a outro lugar, a outra paragem se aproxima. Chegado este novo outubro eu me pergunto vou mais para onde? 
Acho fico mesmo por aqui a ver o tempo que deixei para trás noutros outubros. 


Sanzalando

30 de setembro de 2023

com ou sem nexo

Não deixo aquecer a cerveja. Entre goles vou vendo as fotografias que fui memorizando ao longo dos tempos. Tem memórias que são a preto e branco a dar para o amarelecido e tem memórias que estão frescas que nem planta acabada de colher. Mas olhando umas e outras eu sei que ainda não acabei de viver, que ainda há muito para fazer, muito para olhar, muito para dizer ou apenas recuperar.
Quando faço os meus quilómetros de bicicleta, percorrendo estradas ou caminhos, simplesmente pedalando, eu vejo os registos e me ponho a pensar. Não é como as fotos que eu tenho e onde eu estou. Nessas eu existo ali, prova física. Nos registos da bicicleta como eu ouso dizer que os fiz se eles já estão lá faz tempão. Eu os percorro e não os faço, não tenho marca física apesar de me doer o físico. Esta vida tem coisas que levam um gajo a pensar sem nexo ou com todo ele.


Sanzalando

29 de setembro de 2023

amor ódio

Saboreio a minha gelada cerveja e deixo-me passear por pensamentos e ideias. Estou assim num modo vagabundo de viver a vida, sem pressas ou pressões. Um modo de sentir-me como que com gosto, descontraído e feliz. Não preocupado com sentimentalismo de amor e ódio. Só mesmo saboreando o meu gosto de estar. Deixei-me de ir ao profundo sentimentalismo, aquele que provoca arrepios e inundam a alma de responsabilidades e pesos mentais. Deixei-me de culpas e desculpas e fiquei no entender, no afecto de saber, na exposição de compreender. 
Bebido mais um gole digo-me que nada é minha culpa e nada tem culpa, nada depende da demência, incompetência e incongruência dos outros. Vou só mesmo compreender e perceber para saber. É suficiente para não ter traumas nem sofrer de colaterais danos. É um viver simples. Não é superficial porque para aqui chegar mergulhei fundo nos passados da vida. É ser feliz sabendo que não posso reprimir sentimentos, ideias, decisões nem deixa-me invadir por emoções que minam a leveza do pensamento. 
Responsabilizo-me de acções e tenho como estandarte que a felicidade é ser simples e feliz, compreender e fazer-me compreender.


Sanzalando

28 de setembro de 2023

dúvidas

Neste delírio em que me perco tantas e tão pouco que já nem sei se sou imaginação ou se eu existo para lá deste pensamento. Nesta eterna dúvida em que me ponho, quase posso dizer que me apoderei do silêncio e o transformei em vida. Imagina a distância que o amor tem de percorrer para unir dois corações. Às vezes nem a medida humana tem capacidade para tanto, quando esse amor é feito de silêncios. Os intervalos de palavras podem ter anos, décadas, mas o amor feito em silêncio não é possível ser mensurado. Platónico, medida escondida entre lágrimas e silêncios, poderia ser uma, mas seria sempre subjectiva e não real e objectiva. 
Há amores de fantasia, de imaginação e de paixão, meio caminho para a loucura. Os amores de silêncio duram a vida toda. Quanto tempo é a vida? Outra dúvida ganha nesta mesa de esplanada enquanto olho para a garrafa  de cerveja gelada.
E na noite quase madrugada, estes silêncios se convertem em ecos de melancolia, em sorrisos de tristeza ou lágrimas de saudade.

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