A Minha Sanzala

no fim desta página

31 de dezembro de 2006

Do tanto que te quero dizer ainda este ano (3)

Já não sei o que te dizer. Não sei se são os passos nesta areia desnivelada, solta e pesada de caminhar, que me tropeça na garganta com falta de uma birra estupidamente gelada de modo a lhe olear, não sei se é por pensar que tenho tanto para te dizer que as palavras se engarrafam num semáforo das cordas vocais. Não sei.
Olho para a superfície serena e calma do zulmarinho e não me parece o que era dantes. Sinto um estúpido sentimento de que tudo está perdido, que não há esperança, que o futuro é um carregamento de dor. Sinto-me então angustiado nessa angústia que me vai acompanhar durante o dia. O que vale é que já estou habituado e eu sei que o meu infinito um dia vai ter fim.
Volto a olhar essa superfície azul, enorme, carregada de vida, minha ponte, meu elo de corrente, escuto o marulhar. Fecho os olhos. Sinto-me traidor sem saber o que atraiçoei.
Volto a olhar o enorme azul deste zulmarinho.
Custa-me respirar. Acendo um cigarro. O mundo continua igual.
Saio de mim em busca de respostas e espero que as respostas cheguem a mim. Mas acho que para ter respostas tenho que fazer perguntas.
Volto a olhar o azul enorme deste zulmarinho.
Não quero que o infinito acabe.
Bom ano de 2007

Sanzalando

Do tanto que te quero dizer ainda este ano (2)

Ouvir a música de outras eras me faz recordar outras eras. Esta nostalgia me faz sorrir de forma humilde. Nesses momento despreocupados, apesar dos stresses e das pressões, me gosto de afastar da sociedade surda e dessolidaria.
Nessas recordações os detalhes são formosos, perfeitos, nítidos e os admiro maravilhado, límpidos como parece ser uma gota deste zulmarinho que aqui termina e que é uma ponte para o outro lado de lá da linha recta curvilínea que o parece delimitar.
Me dou conta que na realidade persigo-me perguntando o que eu pensava nesse pouco que lhe sabia, quando hoje lhes vejo em todos os detalhes e metáforas. Sei que já não tenho medo de pensar que as coisas acabaram porque ainda tenho o meu presente com os meus dias despreocupados.
E é neste momento que, logicamente, me pergunto o que eu vou fazer no futuro. E a resposta é sempre a mesma. Nada, vivo-o. Me deixo levar nesta corrente de luz suave do entardecer e de olhos fechados sigo-o.
Ouço a música de outras eras e danço misteriosamente sem pensar nos passos, movimentos e flexões que me impeçam de ser feliz. Se olhares para trás, verás marcada nesta areia de mil cores os meus passos assimétricos, de gigante e de anão, paralelas pegadas descontínuas. Verás os meus sonhos ali desenhados.
Te parece eu vivo em sonhos, te parece eu sou lunático que vivo levitado deste mundo. Mas na realidade os meus pés estão assentes no chão e eu atiro a minha vida para a realidade que parece assim jogada me liberta de muitas prisões, correntes e cadeados.

Sanzalando

Do tanto que te quero dizer ainda este ano (1)

Vamos caminhar neste último dia de 2006, antes de entrarmos no 2007, que noves fora é nada, logo ponto do princípio de uma nova corrida, uma nova viagem. Tu sabes que o meu cérebro expulsa, de forma sistemática, os impulsos que me guiam por algo controlado.
Tu sabes, que eu sei que tu sabes tudo de mim, mesmo carregando esse silêncio de anos à minha volta, que a luta da dualidade da minha cabeça é mais forte que nunca. Mas continuo a ter a serenidade do sereno tempo para olhar à minha volta e admirar. As inconstâncias têm aberto muitas portas, assim como fechado outras tantas, encostando-me à parede num KO de um combate entre o coração e a razão. Porém, como só tu sabes, eu rechaço os impulsos que me guiam para o controlo. A realidade chega num repente, inesperada e orgulhosa, de modo quase imperceptível, trazida pelo vento, como um sussurro suave. Eu abro-lhe a mão sem tristezas ou lamentos. Nesse instante eu penso, com magia e em forma de sonho e, vivo-a. Sorrindo e nostálgico lá vou eu flutuando nela com os olhos nos seus segredos e nos meus medos.
Vamos ouvindo o marulhar neste passo descompassado até desconseguir dizer-te tudo o que ainda tenho para te dizer este ano, que no próximo posso não ter tempo para te dizer. Olhas, cabisbaixa para a areia das mil cores como se tivesses vergonha de olhar para a linha recta que é curva que limita este terreno onde poiso os pés e não tenho a cabeça.
Te ouço pensar que para ti sou um indeciso, que não arrisco como antes, que tenho a mania que controlo tudo, que necessito de ajuda, que estou habituado a deixar que a realidade decida, que sou um espectador, que dependo demasiado dela. Te ouço os pensamentos escritos na tua caligrafia na areia molhada deste final de zulmarinho. Escreve-los enquanto caminhamos, de uma forma mágica.
Mas caminhemos sem deixar rasto neste final de ano.

Sanzalando

na volúpia


30 de dezembro de 2006

Caminhemos por outros caminhos


Anda, caminhemos por outros lugares, deixemos por hoje o perfume da maresia, o marulhar das ondas e o azul deste zulmarinho que é a minha ponte para o outro lado que fica para lá da linha recta que é curva.
Vamos mesmo, usando os mesmos passos, percorrer outros caminhos, ver outras vistas, sentir outros cheiros.
Olha como o céu se apresenta de azul radiante diferente do azul do zulmarinho, salpicado aqui e ali pelo branco das nuvens em que adivinhamos formas e geometrias anárquicas.
Já estás a dizer, se vê no teu olhar, que falta o perfume salgado. Mas hoje lhe esquece. Desfruta só este pequeno Sol de Inverno e descansa os olhos no borboletar das borboletas sobre a relva.
Eu me calo e tu pensa se vale a pena tanto sofrimento de pensar, pesar e medir. Consegues imaginar o que poderá ocorrer, o que vai acontecer? Não! Não podes fazer nada sobre um futuro que ainda é futuro.
Mesmo é melhor só aceitar o caminho que escolheste e caminhar sobre ele e ver onde ele te vai levar. Não tens a perpetuidade.
Tas a ver como hoje não nos fez falta o zulmarinho quando voamos por caminhos que escolhemos sem saber para onde vamos, porque vamos e como vamos. Simplesmente vamos e é isso que nos chega e nos afaga.


Sanzalando

kukiou


29 de dezembro de 2006

Início de uma carta para ti

Querida
Espero que estejas bem e feliz. Não penses que te escrevo para pedir desculpas, ainda que as necessite pedir, nem para me exorcizar. Escrevo-te estas linhas porque flúem na minha cabeça, desde há alguns dias sem razão aparente, talvez seja mesmo só pelo facto de eu recordar-me de ti.
Nesta carta não são os meus sentimentos que se desenvolvem, são só um curto relato de dias, do meu interior nesses dias.
Por muito tempo tinha sob controlo as minhas emoções. Te queria porém não estava apaixonado. Nunca me apaixonaria com o coração, pensava eu.
Há pouco tempo te voltei a ver, diferente do que eu te conhecia. Secretamente fui-me enamorando, aos poucos a paixão chegou.
Hoje já não quero viver isto que vivo agora. Dói muito. Enlouquece. Ceguei-me de amor. Fui feliz e quero voltar a sê-lo.
O meu futuro deixou de ter nexo sem a tua existência.
Pouco a pouco fui abrindo os meus olhos, não mudei desde que me conheço. Cresci. Amadureci. As quedas, as perdas, foram degraus que subi.
Agora espero muito mais de ti, como imagino que esperas muito de mim.
Não me arrependo dos caminhos que caminhei. Souberam-me a escola.
(talvez uma dia continue a escrever esta carta, ou não)

Sanzalando

vou comprar


28 de dezembro de 2006

Balanço anual 4

Anda. Me acompanha mais neste passeio na borda do zulmarinho, assim como quem ver o tempo passar rápido para num brevemente ele passar devagarinho que nem mais que uma hora por dia.
Sabes, companheira silenciosa destas caminhadas porque é que a gente lamenta quando tem decepção, perdemos ou erramos? Tu sabes que quando isso acontece o mundo não acaba. Pode mudar de direcção se calhar, pode escurecer mais cedo, pode ficar com ar de chuva que não cai. Mas acabar ele não acaba. Ele dá tempo para a gente aprender com esses erros, com essas perdas, com essas decepções.
Já imaginaste se a gente fosse sempre coerente, sempre correcto e sempre sem falhas? Era a monotonia, a ausência da dúvida. Era triste mesmo.
Tas a ver o que é que eu te digo? As quedas fazem parte da nossa coisa de aprender a viver.
Não te vou dizer que não dói. Te mentiria se negasse isso, e às vezes, te digo, dói como dor insuportável de fim do mundo mesmo.
Mas te reforço que o humilhante não é a gente cair, mas é a gente ficar no chão enquanto a vida continua a sua vida.
Acho mesmo que o grande problema é que julgamos o mundo só segundo os nossos olhos e esquecemos que há milhentos olhos diferentes do nosso. Não está errado quem pensa diferente da gente só porque pensa diferente da gente. Mas também não está obrigatoriamente certo nessa certeza de ser diferente. É assim o ser normal.
Acontece que o nosso eu às vezes cega a gente e não vemos mais nada que não com os nossos olhos e esquecemos que algumas vezes acertamos e outras erramos.
Há muitos anos lá para trás eu acho que errei. Abri os olhos com outro olhar e acho chegou a altura de emendar esse erro. Estava certo antes ou estou certo agora? Te digo já que não sei. Mudou foi só a maneira de olhar e assim mudou a maneira de ver as coisas.
Que adianta, companheira de caminhada nesta areia de mil cores, pensar que temos sempre razão se aquilo que nos resta mais não é que a solidão? Tu sabes que a vida é partilha porque sabes que eu partilho contigo esta minha vida de caminhante. Sabes também que não há partilha sem humildade, generosidade e coração aberto. Se a gente se fecha, na alma e coração, o que é que lá vai entrar? Achas que a gente se basta a nós mesmo? Duvido soletrando cada letra.
Companheira de caminhada, nós andamos sempre no equilíbrio em cima do arame, único meio de atravessarmos esta ponte que é a vida. A gente precisa mesmo não ter medo de partir se ele balança, só precisa procurar o equilíbrio de novo.Nem que seja num brevemente outra vez.

Sanzalando

27 de dezembro de 2006

Balanço anual 3

Vamos continuar a nossa caminhada a te falar do balanço de um ano que está a acabar e, como toda gente, fazer os projectos do ano que está a chegar. Não é todo o mundo assim? Lista de promessas, desejos, metas e coisas e tais. Tu sabes os meus desejos foram adiados deste ano e por isso transitam já para o ano que vai chegar e ponto final nesse assunto que está arrumado.
Mas há outras coisas que eu quero, e não é só para o ano que vem. Eu me desejo amadurecimento para as coisas e para mim, sabedoria para lidar com as situações, ser mais duro mantendo ser justo, estar mais presente com as pessoas importantes da minha vida.
Não é só cuidar do corpo, há que cuidar também da mente. Tas a ver, né?
Já sei que respondeste yah! dentro do teu silêncio.
Tu sabes que o meu desejo adiado de mudar radicalmente faz parte da minha essência. Isso eu não quero perder e quero assim num breve já.
Anda, vamos continuar a apanhar esta maresia gelada enquanto ainda temos tempo.

Sanzalando

26 de dezembro de 2006

Sem palavras e com uma lágrima


Sanzalando

Natal Africano


Não há pinheiros nem há neve,
Nada do que é convencional,
Nada daquilo que se escreve
Ou que se diz... Mas é Natal.
Que ar abafado! A chuva banha
A terra, morna e vertical.
Plantas da flora mais estranha,
Aves da fauna tropical.
Nem luz, nem cores, nem lembranças
Da hora única e imortal.
Somente o riso das crianças
Que em toda a parte é sempre igual.
Não há pastores nem ovelhas,
Nada do que é tradicional.
As orações, porém, são velhas
E a noite é Noite de Natal.

(Cabral do Nascimento)


Sanzalando com MC

25 de dezembro de 2006

Deve de ser é Natal


Não caminho para fugir da vida, caminho para que a vida não se escape de mim.
Caminhar para conhecer outros sítios, outras gentes, para despertar sentimentos e imaginar outras vidas em outros sítios. Caminhar é mais que transportar-me fisicamente para outros sítios.
Às vezes sinto-me confundido e na verdade apetece-me parar, para recuperar energias, poder reencontrar-me, vasculhar-me sentimentos e vidas sonhadas em recantos de mim.
Às vezes, cansado, faço as coisas por inércia e outras vezes nem sei bem porquê. Às vezes estou perdido, despisto-me, repito e continuo sem saber onde estou. Caminho por caminhos que me levam sempre ao mesmo sítio num círculo de viagem sobre um ponto fixo.
E tu?
Segues-me como se a tua vida fosse a minha. Silenciosa e docemente procuras ouvir-me caminhar. Se eu caminho com destino ao fatal tu catalisaste-te comigo, serena e doce sombra do meu caminhar.
Sei que o meu caminho está à minha espera. Sei que o zulmarinho é a minha ponte, meu elo de ligação. Tu segues-me de ouvido à escuta, ansiosa por me ver fazer essa caminhada. E o medo de estar a caminhar para o abismo, para a queda fatal? Sentes como eu o sinto? Silêncio perturbador.
Vou ler um livro. Não me apetece. Estou tonto, tudo gira na cabeça na velocidade de um acelerador atómico.
Paro. Escuto o teu silêncio. Olho-te imóvel estendida ao meu lado.
Preciso parar para adquirir as forças que me façam reviver, para reencontrar o meu mundo, a minha cultura, o teu sol. Preciso da tua magia que tanta falta me faz.
Espero ser suficiente para ela, para a vida que eu escolhi e não quero deixar-lhe escapar como por entre dedos de uma mão não fechada e chorar por ter perdido a oportunidade de ser um caminhante de destino.Hoje caminho por altos e baixos. Deve de ser é Natal!



Sanzalando

O PAI NATAL (uma blogónovela para todos)


Sanzalando por Árthemis

24 de dezembro de 2006

Hoje falo pouco dizendo muito

Távas admirada de não me ver chegar? Pois, hoje passo aqui assim com uma velocidade que tu só consegues ouvir-me dizer:


FELIZ NATAL
Não, não tou com pressa, só não quero que te percas comigo no dia que deve ser de estar com aqueles outros todos.
Amanhã será outro dia e estaremos a falar de tantas coisas que até vamos esquecer que o tempo tem tempo
Sanzalando

O PAI NATAL (uma blogónovela para todos)


Sanzalando por Árthemis

23 de dezembro de 2006

Balanço anual 2


Me lembrei da casa, das conquistas passo a passo, dos valores que lhe dou. O meu refúgio aconchegante e embalador dos meus sonhos. Desejo-lhe deixar para trás. Adiado para brevemente. Outra casa se ergue nos meus sonhos, outro ar se respirará, outro perfume se sentirá, outra luz de dia, outras estrelas a iluminarão. Mas adiante.
Como num álbum vi passar na minha frente a família. Um a um. Eu me sinto que nem um privilegiado de ter uma família que nem a que eu tenho. Sempre me demonstrou, nos grandes ou pequenos gestos o quanto me gostam, o quanto me querem. Sei que esteja onde eu estiver, seja a que horas forem, eles estão comigo. Como sabem que eu estou com eles. Lhes trago sempre neste imparável pensamento de futuro.
De repente vi que tinha tudo o que queria. Nada me falta. Posso ser feliz! Quase. Falta só mesmo o quase.
Parece mesmo caiu uma estrela do céu a me dizer que falta só o quase. Falta completar o coração. Meu corpo estremeceu. Um arrepio que te transmiti. Até o zulmarinho mandou uma onda mais alta como que a querer me agarrar e dizer: quase.
Foi aqui que senti o que faltava mesmo. Faltava o início do zulmarinho. Sim, ainda afinal estou no final do zulmarinho.
Gargalhei e tu me olhas assim com ar de espanto, como que a pensar que ele quase podia ser feliz e ainda gargalha?
É! Tá na tua cara esse filme interrogatório. Mas não doidei ainda.
Basta-me acordar e dizer bom dia, no lado de lá. Vês que é simples?
O quase é um adiado breve. Acho parece mesmo fachada de cinema: brevemente.

Te olhei nos olhos e percebi que tu precisavas de receber um carinho. Te levo comigo nesse brevemente breve.


Sanzalando

O PAI NATAL (uma blogónovela para todos)


Sanzalando por Árthemis

22 de dezembro de 2006

Balanço anual 1


Com o som desse zilmarinho a querer embalar os pensamentos, os ritmos arritmados dos meus passos, hoje devia começar a reflectir sobre o ano que está a acabar, em todas as coisas alcançadas, nos sonhos sonhados e desejados, nas alegrias e tristezas que caminham tantas vezes num paralelo que até se misturam, nas coisas ruins que se escondem. No percurso efectuado de sorriso na cara.
Comecei por projectar os meus planos em erros e acertos, aprendendo com cada um,
frente ao zulmarinho e tendo como tecto as estrelas e como envolvência a maresia. Fiquei no silêncio dos pensamentos que tu ouves na tua concentração e no marulhar desse mar a se espraiar nesta areia onde me sento e escuto os sons que me chegam do lado de lá da linha recta que é curva.
Começo nos Desejos. Fiz um enter e comecei a busca do meu querer e do meu gostar. O sorriso se estampou na cara que até te olhei no teu ar de admiração. Fui enrolando um por um como um papiro. Todos os desejos foram adiados. Para breve, disseste-me tu como a me querer animar nesta caminhada sobre a areia mole de um dia de Inverno do lado de cá do zulmarinho.
Saltei para os amigos. Me lembrei de todos os momentos. Risos intermináveis nos lugares indescrimináveis por serem muitos. Os diálogos foram todos reproduzidos. Vi que tinha amigos de verdade, amigos que me apoiaram em todos os momentos, em todas as decisões e decepções. Vi que tinha os melhores amigos do mundo.
Continuámos a caminhada. Tu parecias tilintar de frio, de medo não era de certeza. Podia ser que tivesses medo que eu me voltasse atrás e falasse nos desejos que foram adiados. Mas sabes que os meus sonhos são futuro. Não precisas ter medo. Não volto atrás.

Sanzalando

O PAI NATAL (uma blogónovela para todos)


Sanzalando por Árthemis

21 de dezembro de 2006

Sonhos

Vamos caminhando. Passo lento que o frio nos contrai e não conseguimos estar assim soltos como a gente gosta mesmo de estar. Te falo com a voz trémula, não por mais nada, apenas mesmo porque o frio gela a língua. Os sons que me chegam via esse zulmarinho não conseguem aquecer o corpo porque o frio está mesmo frio. Também quem me manda a mim vir para esta beira-mar com um tempo destes? Não tem a maresia engarrafada e eu sou um dependente total dela. E como mais eu ia vero ondular desse zulmarinho se marulhar espreguiçadamente nesta areia de mil cores?
E tu me segues na tua atenção total, ouvindo por vezes até o meu pensamento.
Sabes que todo o ser humano possui sonhos. Uns são sonhos grandes, outros mais pequenos. Os sonhos nascem a cada dia, a cada hora, a cada minuto. Sem nos percebermos, um sonho nasce. São esses sonhos que nos motivam a viver, a continuarmos caminhando aqui, lá, onde mesmo que a gente queira caminhar. Vivemos, na verdade, em busca da realização dos nossos sonhos.
Mas tu também sabes que às vezes, pessoas que estão à nossa volta tentam matá-los com palavras de pessimismo, com destímulos. Acham que se não podem realizar os seus sonhos, as outras pessoas também não merecem realizar os seus.
Puro egoísmo.
Muitas vezes achamos que não conseguiremos realizá-los. Que eles estão muito distantes de nós. Ou achamos que não merecemos, porque não somos ninguém. É a nossa parte fraca a dar de si. Mas se não acreditarmos neles de verdade, sabemos que os vamos perder e por isso era melhor não os ter sonhado. Outras vezes temos que tirar da caixa do sótão os sonhos, caso contrário eles envelhecem. E assim não conseguiremos realizá-los nesta vida curta de cada um.
A realização vem pela luta, esforço e persistência. Caminhar ao lado de pessoas que nos motivem a sonhar. E persistir nos mesmos é muito importante. É um passo para a realização deles.
Me ouviste bem?
A ti, que me acompanhas a toda a hora, em todos os instantes da minha vida ainda não te disse que te desejo um bom Natal e a realização de todos os teus sonhos.

Sanzalando

O PAI NATAL (uma blogónovela para todos)


20 de dezembro de 2006

Hoje estou em Lisboa


Não sei se isto vai chegar ao destino. Mas o blogger diz que eu posso 'postar' por e-mail.
Como estou aqui em Lisboa a tratar de inadiáveis assuntos, calculam que não tenho cabeça para escrevinhar uma fala.
Só mesmo não quero que tenham saudades minhas. Há de haver tempo para elas.
Abraços!

O PAI NATAL (uma blogónovela para todos)


19 de dezembro de 2006

Palavras

Caminho como se caminha num dia de ausência de mim. Alheio-me donde estou, para onde vou ou mesmo de quem sou.
Soletro palavras que sinto saírem do coração mas que sei são palavras ditadas pelo ondular zulmarinho que se espraia em mim. São palavras que voam livres sobre o azul do zulmarinho, sob o azul celeste do céu. Palavras que têm asas, não conhecem limites. Palavras vazias, palavras cheias. Em que ficamos? Não ficamos, simplesmente. São palavras que têm de ser ditas, porque se as não disser acabam mortas por não poderem ser livres e voarem nas suas asas. Nada quebra uma palavra que não o facto de a não dizer.
Olho à minha volta. Vejo-te como sempre a meu lado. Calada. Séria. Inexpressiva como são as sombras. Sabes que só lastimo não ter dito todas as palavras no momento certo. Matei-as ao calá-las.
As minhas palavras têm de voar alto porque são palavras com asas, expelidas do meu peito, sentidas com o meu coração. São palavras com desejo de serem livres, saborearem o sol, sentirem a maresia, acariciarem a brisa.
Ó dúvida!

Sanzalando

O PAI NATAL (uma blogónovela para todos)


18 de dezembro de 2006

24 - Estórias no Sofá - Era uma vez…

Era uma vez uma ilha habitada por tudo o que era sentimento. Não falhava nem um, ali naquela ilha rodeado por mar a toda a volta, como são todas as ilhas dos oceanos. A Alegria, a Tristeza, o Amor e todos os outros sentimentos ali moravam.
Um dia, como em todas as estórias há um dia, começou a circular num boca a boca, que a ilha estava prestes a ir ao fundo.
Um a um, os sentimentos se apressaram a sair da ilha. Meteram-se nos barcos os que tinham barcos, nos aviões os que aviões tinham. Certo certo é que cada um lá ia deixando a ilha cada vez mais pobre de sentimentos.
O Amor era o único que ali permanecia. Queria permanecer todo o tempo que lhe fosse possível com a sua amada ilha. Neste seu apego à ilha não reparou que a água subia e já cobria quase toda a ilha. O seu afogamento estava eminente. Começou a pedir ajuda, pois não tinha barco nem tinha avião, para ele só existia a ilha.
Avistou o barco da Luxúria e lhe gritou por ajuda. Esta lhe respondeu:
- Não posso ajudar-te. O meu barco está super carregado com ouro e jóias, não tenho lugar para ti.
Agarrado à sua amada ilha o Amor pediu ajuda à Vaidade.
- Não te posso ajudar, pois estás encharcado e ias-me estragar este belo helicóptero novo.
Já quase todo coberto de água, o Amor se dirigiu à Tristeza:
- Leva-me contigo, por favor.
Ao que a Tristeza respondeu:
- Infelizmente não posso. Estou tão triste que prefiro estar só.
Ali perto o Amor vê a barcaça da Alegria numa enorme festança:
O Amor gritava a todo o pulmão:
- Socorrooooooooooo
A Alegria nem para trás olhou, pois com toda aquela algazarra não lhe podia ouvir.
Desesperado, o Amor começou a chorar. As suas lágrimas mal saídas dos olhos se misturavam com as águas daquele mar. O fim do Amor estava próximo.
-. Vem, Amor, eu te levo.
O Amor olhou e viu um velho, muito velho mesmo. Nem lhe perguntou o nome. Subiu para o barco que lhe socorria e com lágrimas nos olhos se despediu da sua amada ilha.
Em terra firme, o Amor perguntou à Sabedoria quem teria sido o velho muito velho que lhe dera a mão quando já tinha perdido a esperança?
- Era o Tempo - respondeu-lhe a Sabedoria.
- Porque só o Tempo me ajudou, Sabedoria?
- Porque só o tempo é capaz de compreender e ajudar o Amor!

Sanzalando

O PAI NATAL (uma blogónovela para todos)


17 de dezembro de 2006

Me desculpem, hoje é Domingo


Hoje me desculpas mas não caminho. Hoje fico mesmo aqui sentado a aproveitar esse sol de Inverno que trás o calor de lá do verão.
Hoje me desculpas mas fico apenas a olhar o zulmarinho e lhe imaginar ele é a minha ponte para aquela margem.
Me desculpa só, hoje é domingo para mim também.


Sanzalando

O PAI NATAL (uma blogónovela para todos)


16 de dezembro de 2006

Fálo-te no meu silêncio

Hoje caminho numa vagareza que até dá dó. É, ontem caminhei e falei-te demais que até hoje ainda me dói a voz. Mas ia fazer mais como se tinha tudo para te dizer? Hoje me sento, vejo que te sentas a meu lado e esperas que eu fale. Mas como te vou eu falar com esta voz rouca que até dói nos ouvidos? Agarro no telelé e resolvo dizer que ligo só mesmo para dar um beijo ou um abraço. Uma dúzia de vezes repeti a frase, sempre com o sorriso na cara.
E tu me olhas com ar de desconfiada. Mas que queres que eu faça mesmo?
Neste silêncio do zulmarinho se espreguiçar na areia me dá uma vontade de fazer mais que nem ele. Espreguiço-me na voz e te falo apenas com o olhar de ver o coração. Hoje é dia de dizer nada, dia de falar dos silêncios interiores, das dores de alma que transpiram dos olhos cansados de lacrimejar.
Hoje é dia de ver os meus interiores e tomar as decisões que acabam de ser tomadas mas que não te digo ainda na voz doce que tás habituada a ouvir porque hojew ela ainda está rouca das palavras tantas que ontem te disse.
Hoje te falo só dos meus silêncios. Hoje ponho mais um X no calendário e olho para a linha recta que é curva e parece ela hoje está mais perto. Olho-a e vejo para lá dela. Sinto-a.

Sanzalando

O PAI NATAL (uma blogónovela para todos)


15 de dezembro de 2006

Quem foi que disse que a vida é bela?

Caminho neste caminhar na beira do zulmarinho. Pouco importa é verão ou inverno, pólo norte ou pólo sul. Caminho por gosto de te falar das coisas que eu sei ou que me chegam no marulhar desse mar que nos perfuma da sua maresia e nos acompanha ao longo dos passos.
Tu que me segues, lado a lado, outras vezes à frente, outras atrás outras sei que estás mas não te vejo, já me ouviste falar de tudo, saudade, lágrimas, raivas, nostalgias, sentimentos sentidos e não escritos nas páginas de um jornal. De tudo. Vou falar-te mesmo mais de quê? Mas como sabes que eu gosto de falar, tu insistes em me acompanhar neste vagabundando de lá e para cá, deixando marcas na areia das mil cores.
A vida não é como este passeio. Ela não foi projectada para a gente ser feliz. Essa vida de felicidade só existe na publicidade. Não sabias? Então me ouve nesse teu silêncio cúmplice de quem parece sabe as coisas que eu irei dizer.
Mesmo antes da gente nascer a gente já está numa luta de corta, abafa e afoga. São as enzimas, macrófagos, proteínas e outras inas a marcarem o nosso destino. Depois que a gente põe a cabeça e o corpo de fora obrigam-nos logo a chorar. Ainda chamam a isso o choro da felicidade. Pode alguém ser feliz se chora? Depois é vacinas, injecções e mais não sei o quê para evitar estes e outros vírus, bactérias e outras espécies.
Já sei, estás a pensar que nos entretantos há momentos de felicidade.
Mamar deve ser um acto de felicidade. Mas naquela idade a gente nem está a pensar nisso. Depois não deixam. Só mesmo naquela idade. Isso é felicidade?
A gente para começar a andar dá cada bate cu que até que chora as lágrimas que escorrem na cara. Isso é ser feliz? Bem, depois a gente quer ser polícia, avestruz, bombeiro, artista de circo. E todos logo nos querem contrariar. Depois a gente quer explorar esse mundo e só se ouve gritos de não. Os dois buracos simpáticos na parede de casa, tão ali à nossa altura. Mas NÃO! Se se acatar esses nãos todos um gajo fica apático e sem nada para fazer.
Depois se entra na escola, logo alguém te põe alcunha, serás excluído por estes e por aqueles numa empatia empírica que acho nunca vais descobrir o porquê. Aquela colega que tu achas a mais linda de todas as lindas não te vai ligar nenhuma. Dá-se mal com uma ou outra disciplina e logo te vais achar um idiota, sem talento, sem saber se quer o que vai ser o plano inclinado da tua vida.
Na adolescência tem-se o pior pai e mãe do mundo. É mesmo azar ter estes pais que a gente tem. Todos te querem impor ideias e ninguém está aberto às tuas próprias ideias, mesmo que tu não tens a certeza absoluta delas. Nessa altura desejas todas as garotas do mundo sem saber que terás, se tiveres sorte, direito a uma.
Um dia descobre a vida adulta e os cartões, créditos, chaves, telefones, agendas, datas que são importantes e que tu nunca te lembras senão tarde de mais, que os dias são mais curtos do que eram afinal de contas e os meses mais longos do que a realidade.
Depois envelheces, aparecem as doenças que nem as injecções todas que levaste te salvam. Se aguentaste até aí ileso, tas feito porque te aparece tudo ao mesmo tempo que nem tens tempo de recuperar duma e já estás na outra, num destruir lento dos teus sonhos e pesadelos.
Me ouve só, que o que afinal conta mesmo são os intervalos, aqueles momentos em que a vida não está afim de te destruir nem enlouquecer. Era bom que a gente tenha aproveitado todas as janelas abertas, todos os amigos, os poemas escritos num esconderijo, o nome da garina escrita em todos os cadernos, o atirar pedras ao mar em momentos de descontracção e ver quantas vezes ela sobrevoa-o, as mesas dos bares na roda dos copos. Afinal a lista é grande e espero que me tenha aproveitado dessas janelas todas.
Como vês ainda há o que falar. Me acompanha enquanto eu tiver ainda forças.

Sanzalando

O PAI NATAL (uma blogónovela para todos)


14 de dezembro de 2006

Saudade

Devo ter feito algo de muito grave, para sentir tanta saudade assim...
Entalar o dedo numa porta dói.
Bater com o queixo no chão dói.
Torcer o tornozelo dói.
Um chapada, um soco, um pontapé, doem.
Dói bater com a cabeça na esquina da mesa, dói morder a língua, dói uma cólica, um dente e uma pedra no rim.
Mas o que mais dói é a saudade.
Saudade da infância. Saudade do gosto de uma fruta que não se encontra. Saudade do pai que morreu, do amigo imaginário que nunca existiu. Saudade de uma cidade. Saudade da gente mesmo, que o tempo não perdoa. Doem estas saudades todas.
Mas a saudade mais dolorosa é a saudade do que se ama.
Saudade.
Saudade da presença, e até da ausência consentida.
Podes ficar o dia sem vê-la, sem ela te ver, mas sabiam-se amanhã.
Contudo, quando o amor de um acaba, ou torna-se menor, ao outro não sobra mais que uma saudade que ninguém sabe como deter.
Saudade é basicamente não saber.
Saudade é não saber mesmo! Não saber o que fazer com os dias que ficaram mais compridos, não saber como encontrar tarefas que lhe cessem o pensamento, não saber como parar as lágrimas diante de uma música, não saber como vencer a dor de um silêncio que nada preenche. É não saber se ela está feliz, e ao mesmo tempo perguntar a todos os amigos por isso... É não querer saber se ela está mais bela.
Saudade é nunca mais saber do que se ama, e ainda assim doer.
Saudade é isto que eu estive a sentir enquanto escrevia e o que você provavelmente estará a sentir depois de acabar de ler.

Sanzalando

O PAI NATAL (uma blogónovela para todos)


13 de dezembro de 2006

Falando de Amor


Há quem acredite na teoria da evolução, outros na espontaneidade da criação do Homem por um ser controlador que não dorme e coisas e tal.
Mas na verdade o que temos de seguro e certo é que há todo um conjunto de fenómenos quando nos sentimos atraídos por…
Tu sabes a que me refiro.
Aliás, sabes sempre tudo, pois me acompanhas desde que nasci. Estás sempre à minha volta, carregada no teu silêncio. Às vezes vejo-te, outras não. Mas tu sabes… que enquanto caminho na beira do zulmarinho estas coisas passam-me na cabeça como uma mensagem que me chega através dele, desde lá do início dele.
Tu conheces o latido o coração, os suores e o embebedar dos pensamentos quando sentimos essa atracão. Alguns dizem que é essa a única razão da sua existência. Outros escrevem estórias de encantar, de ir às lágrimas, de embalar, outros escrevem poemas e outros ainda teorias científicas.
Sim, tu sabes que falo de Amor.
Mas hoje falo de AMOR, cientificamente falado.
O que é o AMOR?
Sempre se procurou respostas lógicas a esta pergunta. Eruditos muitos se debruçaram nesta temática pouco matemática. A Bíblia tenta demonstrar que é o Amor um mistério.
Eu, sabes, limito-me a dizer-te que o amor é um conceito complexo e de muitas dimensões que é de todo impossível definir em termos universais. Sente-se.


Sanzalando

O PAI NATAL (uma blogónovela para todos)


12 de dezembro de 2006

Os dias


Caminho neste zulmarinho carregando o peso de agasalhos, tilintando de medos e frios Os dias passam lentos e eu me fundo nesse ritmo suave com as minhas confusões mentais, virtuais, existenciais e outras palavras tais.
Os dias são desgarrados uns dos outros, mas ao mesmo tempo consolidam-me.
Dias há que são só imagens e palavras que se perdem na intrincada rede da minha viagem intergalática, do meu mundo da lua. E num momento inesperado eis que os dias se repetem, exactamente iguais.
Nessa acumulação de dias, que formaram o meu passado e formam o meu presente, separados por ilusões, sonhos e fantasias, se unem para formar o meu futuro, esse tempo ainda inexistente.
Afinal de contas sou um templo de sonhos, ideias, esperanças, que se misturam, numa vida em movimento, inconstante, agitado.
Não imaginam o que é estar metido em guerra de mundos tão diferentes, como os mundos que eu sou.
Caminho com medo de estar parado.


Sanzalando

Um abraço Tobé

Livro a ser lançado no dia 14 de Dezembro em Coimbra
Sanzalando

O PAI NATAL (uma blogónovela para todos)


11 de dezembro de 2006

A areia do meu desejo


Procuro o teu lugar.
Esse lugar de onde tu vens, de onde estás, de onde és.
Procuro-te, nas areias da minha desilusão, um sentido adequado para dizer-te desta angústia desconectada do conteúdo de um disco rígido.
Estranhos medos dos silêncios que me devolves.
Caminho nesta areia das mil cores neste verão do meu interior, procurando o teu lugar.
Que lugar ocupas em mim?
Alucino-me na textura das tuas imagens, das tuas recordações, dos teus amigos. Tu tão terrena e para mim tão celestial.
Tento encontrar o caminho nas horas que passam, de modo a aprender a voltar para o teu encadeado silêncio.
Silencio-me também? Sabes que eu jamais conseguiria ser o teu silêncio, a tua boca fechada. És tu a minha lágrima.
Afinal somos feitos de areia, maleável e despretensiosa, mas ao mesmo tempo firme e serena.
Caminho ouvindo o marulhar arritmado das ondas do zulmarinho tentando abafar os teus silêncios.
Alucino-me!
As nossas partes infinitesimais sabem levar uma mensagem. Nostalgia, angustia, saudade.
Caminho de um lado para outro. De areia em areia à procura do teu lugar dentro de mim.
Se calhar era mesmo ao contrário o que eu devia procurar, o meu lugar dentro de ti.
Olho-te na minha imaginação. Subo os teus montes, desço as tuas colinas. Saboreio-te com a vontade de te possuir de uma forma frenética. Não encontro nada mais belo que o teu contexto. Não há nada mais belo em mim se não o caminhar-te nos pensamentos, procurar-te nos meus lugares comuns. Vivo-te ausente.
Eu sei que vou descobrir-te, um lugar novo onde possamos ser tu e eu num alucinado ritmo de utilidades reciprocaras.
O que eu sempre devia ter descoberto é que não te devia ter perdido nunca. Hoje não teria que te procurar, não estaria na dúvida dos nossos lugares em cada um do outro.
Te esculpo, em cada segundo de mim, numa imagem real de todas as dimensões e calores.
Procuro-te na minha desilusão cobardemente disfarçada de medos.
Construo-te na perfeição imperfeita de um ser perfeito.
Construo-te nas minhas cores e paladares.
Construo-te castelo de cartas enfadadas de sonhos.
Bebo à tua saúde.
Na nau da minha imaginação recolho as velas e deliro-me nas tuas areias, beijo-te a alma.
És a areia do meu desejo.


Sanzalando

O melhor blog 2006



1º lugar Blasfémias


3º lugar O Jumento

4º lugar Da Literatura

4º lugar Estado Civil

5º lugar O Insurgente


6º lugar Miss Pearls

6º lugar Rua da Judiaria

7º lugar Abrupto

7º lugar Corta-fitas


8º lugar Bitaites

8º lugar Miniscente


8º lugar Rititi


8º lugar Tugir

8º lugar Webcedário


9º lugar French Kissin'

9º lugar ivogomes.com

9º lugar Kontratempos

9º lugar ma-schamba


10º lugar Escrita em Dia

10º lugar Bloguitica


10º lugar Pululu

10º lugar Voz do Deserto



Sanzalando

O PAI NATAL (uma blogónovela para todos)


10 de dezembro de 2006

Num ritmo de antigamente

Mermão, senta aqui e escuta.
Sentes o cheiro de queimado?
Não é meu cérebro que ferve.
É mesmo a Sebenta de capa encarnada que ardeu numa fogueira de raiva.
Isto é eu a pensar que certezas nunca tive.
Faz vinte e muitos anos que deram a uma garina, uma sebenta encarnada onde Kafrondim escreveu o que na alma lhe corria. Tempos depois, assim como numa revolução de estudante que descobre que há outras coisas a fazer nos fins de semana, antes da época dos exames, te diria que na época dos enxames feitos momentâneas paixões, houve assim como que um flagrante delitro e meio, mostrando a ingenuidade do garino nas suas novas descobertas, que parece que virou inferno tal era o incendio que ia na referida alma da garina que era portadora de confissões poetico-românticas.
Mas manda vir a minha loira que eu não quero botar lágrima assim a seco.
Desconheço por esquecimento total e ausência de coisas modernas como copiadoras e similares, o que Kafrondim escreveu nessa referida dita cuja Sebenta. Mas vais ver inda era poesia cheia de cores de África e corações palpitando ao som do batuque que chamam coração.
Danço ao som do batuque
frenético
histérico
levantando pó
na sombra da mangueira
Danço ao ritmo da paixão
ardente
fervente
derramando sangue
no teu coração
Ou se calhar era mesmo só os deveres que ele devia cumprir com rigôr perante as razões da exigência dela.
Só mesmo as cinzas do inferno podem saber.
Ou será que a garina guardou no baú a sebenta e está a gente aqui a fazer conjecturas conjunturais de estruturas esbatidas na raiva.
Vou mesmo beber a loira e curtir as lágrimas com sabor de zulmarinho.

Sanzalando

O PAI NATAL (uma blogónovela para todos)


9 de dezembro de 2006

Escassez e Paraíso

Por vezes dou comigo a pensar que relação tem a escassez e o paraíso.
Não há aqui nenhuma coisa escondida. É mesmo um pensamento que me amola várias vezes, deixando-me uma dor de cabeça terrível. Eu sei que há coisas mais importantes para pensar, mas que é que querem, eu não tenho o controlo absoluto daquilo que penso.
Na verdade gargalhei ao pensar nesta relação. Houve como que um tsunami dentro de mim. Gerou-se a confusão no meu ser molecular.
Na verdade, escassez é aquilo que implica não ser possível conseguir-se todos os objectivos de uma só vez, condicionando por isso o subir-se degrau a degrau, conforme as prioridades. Todos nós temos necessidades e desejos ilimitados, mas sabemos que os nossos recursos são bem limitados.
E o paraíso? Dizem-nos que Deus o criou com árvores e nele colocou Adão e Eva. Era ordem Dele que ali reinasse o gozo, o prazer e a harmonia. Era ali possível viver eternamente, pelo que aprendi na catequese.
Nesta sociedade ideal não haveria prioridades? É claro que havia. Comer o fruto proibido era condição para a expulsão. Afinal de contas também no Paraíso não estávamos livres das relações meio e fim.
Na verdade a escassez, está em primeiro lugar, na limitação do nosso tempo de vida e na impossibilidade de produzir e transmitir toda a informação que temos a quem a possa usufruir ou necessitar.
O Éden está ali, estrangulado na nossa escassez.


Sanzalando

O PAI NATAL (uma blogónovela para todos)

8 de dezembro de 2006

O tempo

É o tempo um jogo sujo.
A noite passada só dormi um par de horas, parecia uma noite eterna. O relógio mostrava o tempo numa lentidão sofredora.
O tempo. A tempo. Estar a tempo.
Tudo se reduz à precisão de um cronómetro.
Cheiro interminável de tempo.
Tempo mais não é que uma dor humanamente sentida.
Tempo é um fragmento. Uma partícula que se desfaz no ar. Some-se.
Adoro dizer Bom Dia!
Bom dia!
Ao dizê-lo fico entusiasmado com a vontade de ter mesmo um bom dia.
Alguém me disse um dia que a única certeza que temos na vida é a morte e a única dúvida que devemos ter é o que fazer até lá chegarmos.
É uma falta de tempo o tempo que nos resta.
E a dúvida? É tudo uma questão de tempo.
Quanto ao tempo? Está de chuva.
Sanzalando

O PAI NATAL (uma blogónovela para todos)

7 de dezembro de 2006

O PAI NATAL (uma blogónovela para todos)

23 - Estórias no Sofá - Conto de Natal

Eu tinha duas vizinhas que vivam em pé de guerra. Não se podiam encontrar que era guerra certa.
Um dia, acho que foi depois de um encontro com Jesus ou algo similar, numa hora assim de mais sofrimento em que se apelam aos santos todos mesmo àqueles que não se sabia existiam, dona Maria descobriu o verdadeiro valor da amizade e resolveu que iria fazer as pazes com dona Clotilde.
Ao encontrarem-se na rua, muito humildemente, disse dona Maria:- Minha querida Clotilde, já estamos nessa desavença faz tantos anos que eu já nem sei de nenhum motivo. Estou a propor que façamos as pazes e vivamos como duas boas e velhas amigas, que afinal nós éramos antes desta nossa casmurrice.Escusado será contar-te que a dona Clotilde, estranhou a atitude da velha rival, e disse:
Dona Maria vou pensar no caso e quando nos reencontrarmos eu dir-lhe-ei alguma coisa.Pelo caminho foi matutando, falando consigo, de modo que até os botões ouviram: - Esta dona Maria não me engana, está a querer alguma coisa e eu não vou dar assim de barato. Vou mandar-lhe um presente para ver a reacção.
Mal chegada a casa, preparou uma bela cesta de presentes, cobrindo-a com um lindo papel, mas encheu-a de esterco de vaca.
- Eu adoraria ver a cara da dona Maria ao receber esse maravilhoso presente. Continuou ele no seu diálogo interno:
- Vamos a ver se ela vai gostar desta, a safardana!
Mandou a empregada levar o presente à casa da rival, e fê-lo acompanhar com um bilhete que assim rezava:
“Aceito a sua proposta de paz, e para selarmos este nosso compromisso, envio-lhe este presente”.Dona Maria estranhou o presente, mas não se exaltou. Afinal de contas ela tinha tido um encontro de não sei quantos graus, e na sua alma só reinava a paz e a concórdia.- Que quererá ela dizer com este esterco de presente? Não estamos a fazer as pazes? Bem, deixa para lá, que mais cedo ou mais tarde eu verei o que isto dá...Alguns dias depois dona Clotilde ouve bater à sua porta e ao abri-la recebe uma linda cesta de presentes coberta com um belo papel.
- É a vingança daquela asquerosa da Maria. O que será que ela me mandou? Coisa boa não deve ser.
Qual não foi a sua surpresa quando abriu a cesta e viu um lindo arranjo das mais belas flores que podiam existir num jardim e um cartão com a seguinte mensagem:
“Estas flores é o que lhe ofereço em prova da minha amizade. Foram cultivadas com o esterco que você me enviou e que proporcionou excelente adubo para meu jardim.”

Cada um dá o que tem
Sanzalando

6 de dezembro de 2006

Estou nas tuas mãos

Estou nas tuas mãos

E no tecer do dia, acabadas as horas depois do sol-posto cor de fogo lá para os meios do oceano, a minha luz se acende num melancólico silvar esquecido nas palavras caídas por terra, as minhas pernas cresceram na alegria de uma véspera de nascimento de palavras vãs que me despertam no amanhecer de um ódio feito amor.
Ouço flautas ancestrais entoando sons de euforia enquanto as minhas mãos angelicais se preparam para uma guerra de séculos num lutar de ladrões que nos roubam o dia dando-nos a noite e, na minha cara, rolam lágrimas que choram os filhos da tristeza que ditosa paz se enchem de fúria por um amor que quer que sejamos iguais.
Ouço um cântico solene de lágrimas derramadas num torno de espadas fundidas nos pescoços de cabeças cintilantes que acabam de se levantar num acordar de sonhos em que o ódio foi trocado por amor.
Ouço um grito abafado dentro de mim, tentando evadir-se por campos abertos, vejo sombras sem objectos, pulsações pululam desritmicas.
Meu ódio por ti sabe a amor fervente, vassalo sem voz, sonho sem noite, dia sem luz, chuva sem nuvens, tempestades de calor interno.

Sanzalando

O PAI NATAL (uma blogónovela para todos)

5 de dezembro de 2006

22 - Estórias no Sofá - Porque dá trabalho- 2 de 2

Tinha desistido dos pesos pesados, 40 – 50, porque estes estavam quase todos ocupados e, os que não o estavam, era porque tinha defeito que se sobressaía a olhos dentro. Os 30 – 40 só estavam preocupados na subida dos degraus, na chegada do último andar com vista para o infinito. Por isso ela se colocou na categoria de menos de 30. Fiquei preocupado com ela, não vá ela um dia mudar para os pesos pluma.
Na verdade ela me fez, para além de bom ouvinte, criar uma outra característica, que é mesmo a observação apurada na busca do defeito da categoria dos pesos pesados ainda livres. Eu queria ter argumentos para lhe dar uma esperança, na categoria que eu pertenço afinal. Fui observando e numa espécime interessante que lhe apontei, ela me rematou com a protuberância abdominal. Estava de facto assim um bocadinho avantajada, mas nada que não pudesse ser corrigido. Ela negou de pronto e de forma categórica. Ter que passar horas no ginásio, sacrificar o seu corpo para dar estímulo e exemplo, era superior às suas forças. Ia ficar sempre um barrigudinho.
Lhe rematei que com amor tudo se ajeita, até uns pneuzinhos. Mas foi mesmo sem jeito.
- Não tenho paciência para desenvolver o potencial de ninguém.
Entendi o porquê. Até eu, Silvério dos Santos.
- Dá trabalho!

Sanzalando

O PAI NATAL (uma blogónovela para todos)

4 de dezembro de 2006

22 - Estórias no Sofá - Porque dá trabalho- 1 de 2

PORQUE DÁ TRABALHO!!!
Estava eu na conversa com a minha amiga de tantas horas perdidas no café. Pois claro que a gente pode ter amigas só de sentar no café e conversar. Mentes pecaminosas essas que estão desse lado daí.
Ela me dizia, no cruzamento de muitas conversas me lembro desta, que estava insatisfeita no trabalho. O seu chefe mais não era que simples corpo presente, em missa fúnebre constante. Corpo presente, mente ausente. Os seus colegas, bem, esses só lhes faltava o rótulo colado na testa a dizer que a motivação estava de férias e o pensar como grupo de trabalho era coisa que nem ao acordar lhes passava pela cabeça. A verdade é que ela falou, falou e falou. Eu, Silvério dos Santos, gente paciente que sou, ouvi, ouvi e ouvi.
Ela, aparentando já uma ligeira rouquidão, me rematou:
- Porque é que eles não fazem nada?
Respondi com o que me veio à cabeça sem sequer ter perdido tempo a pensar:
- Porque dá trabalho!
Na verdade nem era preciso mesmo pensar. Faz tanto tempo que estou habituado a ouvir falar da crise. Tudo tem crise. O tempo seco tem crise. O temporal está em crise. Tudo está em crise. Até há crise de valores. Independentemente do que é que isto queira dizer.
Uma outra amiga faz algum tempo me tinha dito que tinha desistido da categoria de referência, porque esta apresentava uma constante crise, tendo mudado para a categoria dos menos de 30. Devo dizer mesmo que o que eu pensei foi nas categorias das artes marciais. Mas então ela me explicou direitinho.
Sanzalando

O PAI NATAL (a blogónovela para todos)

3 de dezembro de 2006

21 - Estórias no Sofá - À beira de um ataque... 3 de 3

Mas afinal isto do telemarko tem estórias bem velhas.
- Tá, é da casa do Senhor Coelho?
- Sim. Quem deseja falar!?
- É só mesmo para dizer para ter cuidado, porque abriu a época de caça.
e se desligava o telefone após ouvir o outro lado da linha na sua 'alegria' de ter nome de peça de caça, com a gargalhada dos companheiros que não tinham ouvido a resposta do outro lado, mas se adivinhava.
Umas amigas, talvez por terem o número parecido, muitas vezes recebiam chamadas, que por estarem fartas dessas coisas começaram a alinhar:
- D. Eloisa, é para encomendar dois quilos de açúcar, dois de arroz, uma alface boa e fresca.
- Com certeza. Logo que podermos vai-se aí levar.
Lá ficava a D Eloisa sem uma encomenda, e um freguês, neste caso uma freguesa, sem as respectivas compras.
- Pastelaria Óasis, faça favor...
- Tem pasteis de nata?
- Temos sim senhor…
- Bem feito que não os vendeu.
e lá vinha a gargalhada dessa turma inofensiva.
Muitas estórias podiam ser contadas, mas como sou um sortudo e, mais dia menos dia, lá vai o meu número ser sorteado para um inquérito qualquer, é mesmo melhor estar na defesa dos telemarkos e das invasões domesticas desse aparelho chamado de telefone, cavalo de Tróia.

Sanzalando

O PAI NATAL - (uma blogónovela para todos)

PERSONAGENS:
PAI NATAL - apreciador do Zulmarinho e da linha recta que é curva, desocupado militante, e que só trabalha uma noite por ano.
GATO, CÃO E VEADOS - ilustres desconhecidos.
AUTOR : Raymond Briggs
REALIZAÇÃO: Árthemis (bloguista caloira, que procura sempre algo para fazer).
REVISÃO BLOGUISTA: Jotacê (bloguista com muitos anos de experiência e que não tem mesmo nada, nada para fazer)
PRODUÇÃO: A Minha Sanzala - espaço urbano que dá muito que fazer e onde se encontram os que não têm nada para fazer.

2 de dezembro de 2006

21 - Estórias no Sofá - À beira de um ataque... 2 de 3

Para ele, é uma dádiva que alguém permaneça ligado e em silêncio. E, assim, todos ganham. Eventualmente, quando tenho tempo, e, estou na solidão, dou corda para conversa. Mas o mais comum, é pedir para não me aborrecer uma vez que não estou afim.
E quando somos nós que temos que ligar para uns serviços de apoio? Normalmente a linha que quero está congestionada, se esperam horas e se ouve música de consultório dentário, assim para esconder o barulho da broca, aqui se ouve música para esconder as palavras menos próprias que vamos pensando na eternidade da espera. Mas não desisto, tal a necessidade de resolver o meu problema.
Quando finalmente consegui ser atendido, tive que gastar o resto da minha paciência num duelo com um robot. A minha arma eram as teclas do telefone, do outro lado era o todo o tempo do mundo, a perseverança dum burocrata que parece adora brincar comigo ao salta de poiso em poiso, pois não era naquela secção, teria que repetir tudo com o apoio técnico, que não era com eles mas sim que era com o serviço de pós-venda. Depois de muitas vezes teclar a tecla 1, martelar a 2 e partir quase o 0, encontro ali um ser humano que premiou o meu esforço e quase me dava a vitória.Aquela voz doce e feminina…
- Sr. João Gonçalo, está a ligar do número referenciado na sua conta?
Uma voz tão meiga a fazer-me uma pergunta tão inútil uma vez que ela tinha o computador aberto na minha conta e podia num relance confirmar esta enormidade. Ela sabia com certeza a resposta, mas a voz fez com que eu desse de barato por questões de segurança, e lá confirmei o número.
- 123 456 789
ela repetiu de imediato
- 132 465 798
- Não! gritei já eu ao mesmo tempo que repetia num pausadamente 1-2-3-4-5-6-7-8-9
- Estou a ouvir perfeitamente, dizia ela. 132 465…
- Bolas! Haja paciência. Deve ser da hora tardia que você se deitou ontem. disse-lhe eu no meu mais alto tom de voz conhecido.
- Por favor. disse ela no seu meigo tom de voz. Quer fazer o favor de repetir?
- Não repito coisa nenhuma. Já não quero nada. proferi eu, sem controlar as palavras seguintes que saíram e que fizeram corar a minha futura sogra.- Muito obrigado por ter-nos ligado e disponha sempre que precisar. respondeu-me ela sempre na sua meigamente e doce voz.Afinal não é pêra doce ser telemarko.


Sanzalando

kitsch (saturei de vez...ninguém suporta tanto mau gosto!!!)

1 de dezembro de 2006

21 - Estórias no Sofá - À beira de um ataque... 1 de ?

Entre as três coisas mais que aborrecidas do mundo, a terceira é ser importunado pelo telemarketing. A segunda é ser o importunador, aquela pobre alma que sai disparando ligações tentando vender alguma coisa idiota, tentando saber o que vai na alma do outro lado, sempre pronto a sofrer as maiores agressões verbais de pessoas como eu. A mais aborrecida fica mesmo ao critério de cada um.Dizem que o emprego da área de telemarketing é o que mais cresce no mundo. Pela quantidade de telefonemas que recebo, até acredito. É impressionante a minha sorte: eu sou sorteado há anos pelas empresas de sondagens. Algumas vezes já me engasguei com medo de deixar passar alguma oportunidade de comprar uma obra de nível, ou ganhar um prémio de um banco ou seja lá o que fosse. Mas depois de ter descoberto que sou sortudo resolvi esperar mais algum tempo. Assim como assim eles vão telefonar mais dia menos dia. O pior que me pode acontecer ao ser interrompido pela campainha do telefone duma ligação dessas é quando os telemarkos são insistentes, chatos mesmo. Nesse momento descubro que o telefone é um problema, um autentico cavalo de Tróia dentro de casa.
- De um a cinco como classifica…
- Já lhe disse que agora não posso…
- Mas isto não demora mais que três minutos. Como classificaria, de um a cinco, …
- Bolas, você é surdo?
- Passemos então adiante. De um a cinco como…
e ele fica a ouvir pi pi pi pi
Mando o meu maior sorriso e penso que já está alguém neste mundo com azia por minha causa. Triunfei e ele foi derrotado.
Quer dizer… o telefone toca de novo
- Estou…
- Parece que a ligação caiu. Dizia-me, de um a cinco como classifica…
- Não caiu nada. Eu é que desliguei. Não quero ser interrompido agora. OUVIU!?
- Pois bem, então diga apenas o que acha…
pi pi pi pi
lhe voltei a desligar o maldito aparelho no ouvido.
Quando tenho tempo e como as conversas são tão repetitivas que eu tenho as respostas sempre prontas.O que o gajo do telemarketing não entende é que, diferente dele, eu não tenho um robot para responder por mim.
Descobri que uma boa solução é pedir para eles esperarem um minutinho. O telemarko tem um tempo mínimo, marcado pelo computador que tudo vê e tudo ouve, para ficar em cada telefonema, o que prova sua garra e desinibição em ser chato e ouvir impropérios.
Sanzalando

kitsch (me estou quase, quase a saturar!!!!!!!)

30 de novembro de 2006

Desafio aceite

Aceite o desafio do Geração Rasca iniciei um processo maníaco-depressivo de selecção de seis em cada tema. Tirava, repunha e nunca mais acertava no seis. Cheguei aqui e disse-me, fica assim e depois tomo Kompensan. A ordem é arbitrária, todos levam ao que percebi um ponto pela nomeação, pelo que optei por me manter num desalinhado, tal como está, vai. Não é por desrespeito, mas porque iria fazer alterações, tirar um para pôr outro e nunca mais isto seguia no ‘correio’.
A quem aqui não está o meu pedido de desculpa, mas a culpa é do regulamento (havia de ser minha, não?)

Melhor Blog feminino:

Às vezes (des)organizo-me em palavras
Bocados de Azul
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Ana Luar
http://estiradorsemrima.blogspot.com/
As fadas não usam baton

Melhor blog masculino:

Estados Gerais
Porta Aviões
Escrita em Dia
Kachiba
TABANKA do HUAMBO
Kitanda

Melhor blog colectivo:

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ESQUADRIA EM DESASSOSSEGO
Expressãocultural
blogoperatório
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TUCOKWE.org
Mbanza Congo
Sabor a Sal
Copo de 3
AZUL DRAGÃO

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PULULU
Malambas
A Minha Matilde
Cogitar & Agir
A Razão tem sempre Cliente
Da Russia

Melhor Blogger:

Eugénio Costa Almeida
Miguel Brito
José Alberto Mostardinha
semrima
Ana Luar
Carlos Narciso


Sanzalando Posted by Picasa

Filosofia da Sex ta-feira

Sinto como que um peso na cabeça. As ideias não flúem, amontoam-se como um coágulo de sangue cada vez mais negro no seu vermelho.
Se eu conseguisse pensar claramente, desprender-me nesta cabeça de algum peso morto, tudo passaria a ter sentido e todos os argumentos pareceriam coerentes.
Se eu pudesse filtrar este acumulado de ideias, esta saturação de palavras que se sobrepõem na voracidade de sair eu estaria liberto das minhas grilhetas.
Mas afinal de contas, quanto pesa o vazio?
Um dos piores cansaços é o resultado de não fazer nada.
Para quem sente a falta de ter tempo livre, porque tem todo o tempo do mundo; para quem procura uma actividade que lhe agite a vida, basicamente porque pensa demais, que é algo que faz mal à estabilidade mental; para quem se sente ensimesmado com interrupções no seu fluxo de pensamento, saído num espaço oco e fora do tempo instantâneo, vivendo momentos de nada; para quem vive como borbulha claustrofóbica na sombra do seu eclipse, dou o meu conselho: Leia-me e leve depois o corpo a divertir-se, na contrariedade das opções obscuras entre pensamento e desejo.

Pois é, mais um dia que deu a preguiça de escrever uma estória, divagando-me aqui num enfileirar de palavras.
Admiro a paciência de quem me lê. Nem eu me consigo!

Sanzalando

kitsch

29 de novembro de 2006

Atirando-me ideias

Hoje encontro-me num mar aberto. No meio de um oceano, sem água sem comida, naufragado num oceano azul obsceno. Já não tenho forças para me mover. Nem forças para falar. Hoje encontro-me moribundo. Um moribundo de mim. A fraqueza do corpo rouba a memória a um náufrago. Resta-me um desejo enorme de sobreviver. Sinto a madeira dos destroços da minha nau rasgarem-me a pele.
Eu assim, moribundamente furioso e, o mar no seu azul obsceno, ondula com tranquilidade.
Tudo parece girar em velocidade inconstante e indefinida que escapa aos meus olhos. Mesmo assim não tenho medo do futuro, ainda consigo trazer comigo uma boa dose de ingenuidade e optimismo.
Na verdade eu não tenho medo. Estou moribundamente furioso, mas comigo mesmo. Eu sei que não tenho medo de portas abertas nem das que estão fechadas. Muito receio tenho das que estão entreabertas. Aquelas que parece que se esqueceram de abrir ou não se lembraram de fechar. E aqui, no meio deste meu naufrágio não tenho portas. Porque haveria de ter medo então? Sei que na pornografia desta ondulação serena há de aparecer uma onda que me arrastará a uma praia onde, estendido ma areia, apanharei um bom banho de sol, ao abrir os olhos verei coqueiros carregados, vegetação luxuriante, fontes eternas.
Na verdade vou fazer mais como então?


Sanzalando

kitsch

28 de novembro de 2006

Hoje não me apeteceu mais que isto

Há momentos em que me sinto como se estivesse numa Montanha Russa. É um ascender de forma lenta, um subir pouco a pouco, depois, num repente, é a descida vertiginosa, simultaneamente com a subida da adrenalina. É a plenitude que se repete no tempo, numa vida que nada tem de parque de diversões.
Enquanto estou neste sobe e desce desta Montanha Russa sinto-me na felicidade suprema, como uma criança que se diverte sem pensar no amanhã, esse futuro incógnito. São momentos de puro prazer, autênticos.
Porque é que eu não tenho uma Montanha Russa?


Sanzalando

kitsch

27 de novembro de 2006

20 - Estórias no Sofá - A vida à beira da morte - 1 de 1

Jacinto sente uma perigosa atracção pelas situações extremas. Assim como se a vida se convertesse num jogo em que a vitória consiste em atingir os limites de ter tudo sobre o controlo. Imagina que a vida é como derrapar um carro numa curva com a estrada molhada. Busca em todos os seus actos o limite da vida, própria ou alheia, recebendo como recompensa a satisfação de ter controlado a situação.
Tem dias em que os limites são a própria moral.
Estava um dia na casa de um amigo. Amigo de muitos anos. Não se lembra o que nesse dia fazia. Estava lá, isso é que é relevante e estava sentado num banco alto com um martelo na mão. Conversavam sobre algo que pelos vistos não era importante. Conversa de amigos são como as cerejas. Assuntos uns atrás dos outros. O amigo de Jacinto saltou do banco e foi apanhar algo que estava no chão. A sua cabeça ficou à mão de semear de Jacinto. Por uns instantes, breves, Jacinto se deu conta do que estava a vida à beira da morte. Pensou que naquele instante tinha o controlo da vida do amigo nas suas mãos. Ele podia decidir se ele vivia ou não. Um único golpe e era ponto final na vida do amigo. E não era difícil. Estava ali a cabeça mesmo a jeito e Jacinto tinha na mão um martelo. Faria? Era capaz? Porém não o fez. Pensou que tinha que comprovar algo ainda antes do golpe final.
Jacinto, levanta o martelo no mais que pode e num gesto rápido acerta no meio das costas de um amigo de tantos anos. Ele respondeu com um grito, gemido de dor, estendendo-se ao comprido no chão.
Acho mesmo que não teve tempo para saber o que é que estava a acontecer. Atordoado, volta-se para Jacinto como a perguntar o que é que se tinha passado. Ele jamais desconfiaria que Jacinto, amigo de tantos anos, lhe tivesse feito algum mal.
Olhos nos olhos e estava Jacinto de braço levantado pronto para o golpe final. Jacinto viu uma cara de terror. Martelo erguido, pronto para numa fracção ínfima de tempo descer até à calote craniana que lhe espera ali, imóvel no chão. Num ápice viajou até ao bordo do abismo, teatro da vida.
Jacinto tudo isto imaginou enquanto o amigo apanhava alguma coisa que deixara cair no chão. A rapidez do pensamento mostrava-lhe o quão perto estava a vida da morte. Seria ele capaz de o fazer? Se ele o pensou é porque era capaz. Ele sentia que se fosse necessário ele o teria feito. Seria atingir o limite. Pensava-o e sentia-o. Recordou-se dos tempos em que a honra era discutida em duelo, em que morriam homens todos os dias.
Estamos habituados a ver a morte de longe e não como uma parte integrante do quotidiano. A verdade é que ela está sempre próxima. Jacinto sabe-a. Teve a vida do amigo na ponta do seu braço.

Sanzalando

kitsch

26 de novembro de 2006

a14 - Estórias no Sofá - Sun Simão e sua amiga

Te conto com a voz original, nem vírgula, nem ponto mais ou menos lhe coloquei.
Aqui ninguém diz a ninguém:
"Vê lá se cresces, se és ajustado, compensado."
Nesta terra tendo em conta a sua longa idade, transmuta toda a gente, salvo demolidores de sonhos, ganha-se anos de idade e muitos anos de conhecimento, é como ter sempre coração de criança e não há manhã nenhuma que se acorde mal disposta.
Criança tem a capacidade rara de encantar-se consigo própria e com os outros, com a natureza que a envolve, sem o saber. E, assim, começamos a entender a importância milenar das histórias, a "história" das histórias.



Lá para os lados da praia das conchas, houve uma grande seca. Nos campos não havia nem um cacho de bananas. San lagaia andava muito magra, suas costelas pareciam que iam saltar, e sem gosto nenhum na vida. Girava de roça em roça, à procura de qualquer coisa para comer, mas nada havia.
Certo dia, já farta de andar, foi parar a um riacho, a ver se por acaso encontraria por lá algum caranguejo distraído. Deu logo de focinho com sun macaco, que estava muito leve-leve a gozar a sombra de coqueiro.
A lagaia arregalou os olhos. É que amigo macaco estava gordo, bonito, tinha mesmo ar de quem tinha comida para encher a pança. E san lagaia disse:
- Tardê sun Simão! Tu tá gordo, bonito!
- Leve-leve, san lagaia: o suficiente para livrar este tempo de carência…
- Não amigo Simão: você está bem alimentado. Veja como estou. As minhas costelas parecem cordas de violão, inté dá pra tocar puita.
Simão era muito esperto e sabia que a lagaia queria conversa e saber onde é que ele comia. Fingiu não entender e tentou desviar a conversa.
- San lagaia, há muito tempo que eu não a via…Lembraste da última festa que fomos lá prós lados da montanha? Havia fartura de tudo, ai que saudade!!!!
Mas san lagaia não desgrudava os olhos de Simão, aquele olho tristinho, cheia de fome.
Simão ficou com dor dela
- Eu digo onde é que ando a comer, mas tu tens que me jurar que hás-de fazer o que faço quando contentar o estômago.
A lagaia jurou tudo quanto o Simão quis. E Simão disse que costumava comer numa mangueira que ficava lá na roça de água grande.
Mas recomendou:
- Quando tu tiveres agarrada no tronco da mangueira, diz: "mangueirinha, tique, tique" – e a mangueira sobe; quando tu estiveres farta e quiseres descer, tu dizes: - "mangueirinha, toque, toque" – e ela desce.
A mangueira subiu muito alto e a lagaia comeu, comeu, até ficar farta.
Lembrou-se de que já podia descer, mas pensou na sua cabeça:
"-Ainda não comi para mim, quanto mais para o meu pai, para a minha mãe…"
Continuou a comer, até novamente reparou que era tempo de descer.
Mas disse:
"-Ainda não comi para os meus avós…"
E continuou a comer. Quando já não tinha mais parentes, resolveu descer.
Mas, com a overdose de mangas, esqueceu-se do que é que devia dizer para a mangueira descer: se"tique, tique, se "toque, toque" e disse à toa:
- Mangueirinha, tique-tique!
E a mangueira toca de subir.
Mas a lagaia era muito teimosa e continuou com a mesma lenga-lenga.
Quando deu conta, estava no céu.
Quando S. Pedro viu a lagaia, disse:
- Que cá vens fazer, lagaia?
Logo a lagaia inventou uma grande mentira, contando os dramas da escassez e dizendo que estava em jejum porque tinha visto uma pele de borrego a ficar ao sol.
Arreganhou a dentatura e S. Pedro reparou que os seus dentes estavam todos sujos de restos de manga.
Tu és uma mentirosa, lagaia!
Mas S. Pedro, na sua bondade, teve pena da lagia e disse-lhe:
- Vou-te mandar novamente para baixo. Mas antes tens que ir lavar esta pele, para eu te mandar fazer um tambor. Quando voltares podes ganhar a vida tocando.
Lá foi a lagaia lavar a pele, mas esfomeada como era, acabou por comer a pele dizendo que a ribeira muito brava, e ela muito fraquinha, a correnteza levou.
Bem, S. Pedro com a sua infinita paciência lá lhe arranjou outra pele e deu-lhe a mesma ordem.
Lá se fez o tamborzinho, S. Pedro amarrou uma corda no tambor e lá foi descendo san lagaia. No entanto, S. Pedro combinou com a lagaia que só tocasse o tamborzinho quando chegasse para ele largar a corda.
Quando a lagia chegou a meio encontrou uma quitandeira que lhe pediu para tocar.
- Se tocares o teu tamborzinho dou-te todas estas sucarinhas.
A lagaia que era muito gulosa, pensou se eu tocar muito baixinho o S. Pedro não vai ouvir e essas sucarinhas estão a rir para mim!!!
Combinado amiga, passa para cá as sucarinhas que eu vou tocar um pouco para ti, mas muito baixinho para sair um som bem docinho como tu!!!!
Quando S. Pedro ouve o tambor larga a corda que a lagaia estatela-se no chão, mas pouco antes disso viu o seu amigo Simão, e gritou-lhe:
- Chê, amigo Simão! Tu não disse que eu sou um grande artista?
eheheheheheheheheh

Sanzalando com MC

CAIXINHA DE SOM

recomeça o futuro sem esquecer o passado