A Minha Sanzala

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30 de setembro de 2013

Palavreado solto.

De todos os mil dias que te dei, me lembro só de um. O que levaste contigo. Agora se calhar queria ter companhia e foi nesse que a levaste e nem 5 minutos deixaste para eu olhar um olhar que me olhava. Depois se calhar ia querer mais, e desilusão em desilusão chegaria à conclusão que todos os outros dias eram mesmo para esquecer outra vez.
Agora que me lembrei de ti fiquei triste porque já não me lembro a cor natural do teu cabelo sempre pintado, do teu sorriso sempre forçado e da tua companhia sempre cansada.
De tantos dias gastos a tentar esquecer pouco me lembro que valha a pena recordar. São os que levaste contigo e esqueceste de devolver mesmo em carta simples não registada.
Tantos dias tem uma vida que só recordo o que não devia.  Lembraste do relógio que te ofereci, era mesmo para te dizer que devias chegar sempre a horas. E o colar de ouro era mesmo só para esconder uma escapada de memória dum aniversário que tinha passado despercebido e que tinhas amuado. 
São coisas soltas assim que dão luta. 



Sanzalando

29 de setembro de 2013

Palavreado solto

A minha maior mágoa é já ter dito todas as palavras, mesmo as que podia usar para me xingar, mesmo as que podia usar só para dizer que passei neste mundo e ele nem sentiu, mesmo as que podia usar para te maltratar, mesmo as que usaria para me calar.
É que nem um papelzinho escrevi, que tenha amassado e enterrado para arqueólogos do futuro encontrarem e dizerem que eu estive aqui. 
Mas também quem é que queria saber da minha vontade de abraçar o mundo, de viver todos os instantes desde a noite à madrugada passando pelo dia a dia e terminando noite dentro?
Que palavras eu teria usado para dizer que dancei no baile a noite inteira se eu não fui ao baile?
Que palavras eu ia usar para descrever os sorrisos que me esqueci de sorrir só porque pensava que o mundo estava a cair e o culpado do eixo da terra ser inclinado era eu?
Que palavras gastaria para descrever o meu aspecto desajeitadamente tímido e sem pinta de gente gira como foto de publicidade?
Afinal de contas acho que eu fiz bem em guardar algumas palavras para uma ocasião especial, sem desmaiar, ser ser ridículo e nem me perder em beijos nervosos. É que as vou guardando e um dia pode ser as precise para contar estórias de encantar, enganar ou simplesmente empatar tempo. Eu as guardo, pode ser que um dia eu precise para descrever ciúmes ou estórias de letras grandes em grandes prosas que um dia possam ficar arrumadas em muitas folhas de papel.
Afinal eu as guardo para um dia escrever um texto meu sobre mim, quem sabe eu mereça e me recorde ainda quem sou.



Sanzalando

28 de setembro de 2013

Palavreado solto

Eu, declaro que o Amor se torne uma rotina de modo a não ficar enjoativo, melgado, ocupante e transbordante, gasto e repelente.
Mais declaro, em aproveitamento, que mais nenhum sorriso brilhe de modo a virar monotonia. Peço aos deuses e a quem de poder, que a vida nos pregue partidas sem avisar para que tenhamos ideia de ultrapassar obstáculos fora do dia a dia rotineiro.
Sorrir de vez em quando, não faz mal. Sonhar e planear futuros longínquos, não faz mal. Imaginar o passar horas seguidas num quarto escuro, deitado a planear o futuro, não faz mal.
Até conseguir imaginar o brilho das estrelas eu testarei a alma que um dia vendi a já quem não sei.
Eu provo que não vale a pena procurar o futuro perfeito porque o presente passa num instante e a gente mal tem tempo de o usar.
Não há mistério em ser feliz, o que acontece é que a gente se perde sem perceber atrás da infelicidade que finge sentir.
Ser feliz é ter um Sorriso mesmo que seja para esconder o entulho.
- Se ela, a felicidade, não chegar entretanto eu vou-me embora.
- E vais para onde?
- Para junto dela!
- Felicidade?
Sim, mais para onde mesmo?
Finalmente declaro que personalidade e autenticidade são importantes. A gente não pode esquecer quem é.



Sanzalando

27 de setembro de 2013

Palavreado solto

Troco palavras por frases, desembrulho o Mundo por fases e me embalo no que fazes.
Se pegasse na tua mão, numa mão qualquer, alguém descobriria que eu termia, de medo, porque o coração bate forte ou apenas porque sou um frágil ser intocável.
Meu nome me inquieta, a minha memória me torna calmante, analgésico ou tranquilizante e o meu modo de ser é nostálgico porque lhe pinto de cores aguadas sem saber sorrir a não ser ao pôr do sol.
Acho que vou ter muito que chorar para arranjar espaço para ter sorrisos, ter abraços e quem sabe carinhos, em troca das palavras que falo.
Talvez me ache que ainda não era hora de ter nascido, que o meu tempo tenha sido a destempo e que um dia vou dar ao eterno tempo o tempo de ser eu e com ele gastarei umas outras frases feitas.
Tremulo, vou ao espaço sideral procurar o que resta de mim ou encontrar o que me falta, para ser eu em letras maíusculas e não o bobo da malta.
Troco palavras gastas por novas a usar.


Sanzalando

26 de setembro de 2013

Re - Começar

Acabado de começar a reviver, depois de anos loucos de amnésia voluntária, parece-me que o Mundo é uma maravilha e se digo que não tenho olhos para ninguém, não o faço apenas para não dar em doido, nem me arrastar de joelhos num lambe botas, nem na ânsia de ouvir uma gargalhada ou ver o esboço de um sorriso, nem pelo conformismo de não poder olhar e ver se dormes ou estás acordada, nem se alguma vez te recordas de cada segundo dum passado que nem já nem deves saber se aconteceu.
Acabado de começar, julgo que não existe um nós em parte alguma a que o mundo esteja preso e que segreda aos ouvidos as minhas palavras vagabundas, como se abraçasse o coração, beijasse a boca e acariciasse o corpo que não sabe se existe ainda.
Acabado de começar, recuso envelhecer para não esquecer as estórias que vivi, inventei ou desejei e tento transformar em literatura o filme da vida, apenas para me livrar dela.
Acabado e porém já envelhecido, está na hora de dar cor às palavras e rever os filmes que passam nos cinemas ou na televisão, comer pipocas e quem sabe de vez em quando dar uma gargalhada para lembrar que estou aqui.
Acabado de começar e pronto para terminar sigo à risca o que em cada dia direi e riscarei em forma de silêncio, como se fosse o ponto inicial duma virgula gramatical.


Sanzalando

25 de setembro de 2013

Começar de novo

Tento regressar às origens e por isso rasgo todas as folhas de papel onde fui anotando as minhas mudanças, os meus quereres e os meus amores, os meus feitos e feitios, as minhas angústias e dores. Rasgo todas as folhas de papel. Inofensivamente vou rasgando em pedaços cada vez mais pequenos como se fosse um crescimento involuntário de progressão de coisas. Como é fácil rasgar as folhas de papel. Rasgo papel com borrões, frases imperceptíveis, letras ilegíveis como se tudo fosse um amontoado de lixo acumulado ao longo dos tempos.
Uma folha de papel pode ser rasgada, em teoria, infinitamente. É um tédio sem estória, momento de raiva ou o paradoxal sentimento de usado deita fora. Talvez interrompa o silêncio e me distraia. É sempre barulho característico do rasgar duma folha, duma página, quem sabe duma vida.
Tento regressar às origens e já me doem os dedos de tanto inválido trabalho.
Acho mesmo que é melhor pegar noutra folha de papel e começar de novo. Inofensivamente como se fosse um poema sublime, uma estória de letras grandes, uma obra completa dum Nobel futuro.


Sanzalando

24 de setembro de 2013

Adeus Zé Ninguém

Eu, Zé Ninguém, de nome e apelido, afirmo neste solene momento que estou de partida para parte incerta de mim. Deixo esse gajo que tem mania
que é meu autor inventar coisas, palavras ou estórias, enredos ou contos, segredos ou descontos. Pouco me importa. Ele que se amanhe porque eu estou de partida para não me partir como humano.
Levo a Neblina e a Nostalgia, deixo o Ódio, Ciúme e a Raiva. Tenho dúvidas quanto ao Remorso. Mas também não lhe quero levar tudo nem lhe deixar tudo. Os preservativos, mentais e intelectuais, levo-os para minha segurança futura. Quem sabe um dia reapareça numa outra forma ou com novos ingredientes de sabor a chocolate ou gelado de gengibre. 
Levo também a minha nudez assim como a minha solidão, levo a minha dor e o meu travesseiro assim como as lágrimas que tarde ou cedo por aqui secarão.
Eu, Zé Ninguém me despeço morrendo de solidão porque prefiro isso, a ser morto por julgamento.


Sanzalando

23 de setembro de 2013

Tudo tem FIM

Tudo tem FIM. O filme tem fim. A vida tem FIM. Zé Ninguém acho também tem FIM. Mesmo que eu tenha demorado uma eternidade a perceber isso. Se chocolate é doce tem FIM porque é que as minhas palavras também não têm direito a ter um FIM? 
Tudo tem FIM. Tem é dependência do tempo que demora a gente entender a filosofia do FIM. Quando um livro acaba a gente pode reler tudo. Se é chocolate que acabou a gente compra outro. Se é Amor a gente faz mais como? Se é a Vida vai fazer mais o quê? Não tem dvd para fazer um replay. É FIM com as letras todas. 
Já sei que eu Zé de nome e apelido Ninguém vou fartar de ouvir dizer que o Fim do Amor não é o Fim do Mundo. É facil porque não foi o Amor dele que acabou. Não são as palavras dele que acabaram! Aceito que não é o Fim do Mundo. Mas se calhar eu queria que fosse, nem que seja para justificar um drama qualquer. 
Fui para Intervalo.


Sanzalando

22 de setembro de 2013

Presente


Zé Ninguém, de nome e apelido, prometo continuar a cometer erros, a não pensar muito, porque mal iniciei um pensamento ele já vai em mutação e tudo o que é encaixilhado é quadro de lembrança e esta se vai perdendo por desaforo ou por engano ou só porque é assim. Sim, cometerei erros e todas as corridas que tiver que fazer eu lhas vou fazer, nem que tenha de ir do passado ao futuro parando um instante apenas no presente. 
Se tiver que usar guarda-chuva para me proteger da timidez eu usarei, se tiver que conversar para afogar a melancolia eu conversarei. Te tiver que tirar a chave do bolso para abrir a porta eu a tirarei.
Pena é que não tenha livro de instruções para cometer erros originais sem pôr em dúvida a seriedade, para não roubar sorriso à alegria e para não tirar o ar a quem respira com vontade de viver. 
Erro faz parte do presente agora mesmo como a alegria é uma interrogação, a agenda uma preocupação e a memória uma recordação.
Vou cometer erros assim como vou cantar uma qualquer canção cuja letra ainda não inventei. É o presente e ele é agora e agora eu não tenho ainda estórias de lembrar. No futuro posso contar como foi este presente que será então passado. Passado a limpo pelo tempo, entenda-se. Ninguém mais se vai lembrar que o Zé Ninguém foi um gajo normal, presentemente.



Sanzalando

21 de setembro de 2013

BI completo

Tropecei na Vida e cai sobre um nó. Eu, Zé de nome e apelido Ninguém, podia juntar Nó ao apelido e ficava assim completo. Vulgarmente Zé, Ninguém por desconhecimento e Nó por emaranhado de ideias. Tenho a felicidade de saber palavras e de lhes buscar a transparência com essência e sem maledicência. Tudo depende da situação já que eu não tenho Sentimentos e elas, as palavras, não me afectam no afectivamente. Gostava de ter também um jeito para o Sentimento, essa habilidade de esquivar a consciência, fugindo de fininho ao nervo, à insónia, ao precipício e ao princípio da Esperança, numa misturadora de encanto fatal que podia levar ao Amor, que é mortal. 
Sei que se caísse num precipício alguma mão me iria buscar e eu não teria a fatalidade de morrer de amores.
Zé de nome e apelido Ninguém, continuo a buscar, nas palavras que gasto o significado da escuridão que é o futuro. Junto Esperança ao nome. Zé Esperança de nome completo, Ninguém de Nó como apelidos e fecharei as janelas para evitar ventanias que se constroem à minha volta. Assim sem detalhes e muitos entalhes, acenderei as luzes para esconder a escuridão e defenderei a tese embora pese o que resta de Consciência. Depois de desenvencilhar todos os nós que me amarram poderei substituir a Nostalgia por Alegria, a Neblina por Luminosidade, Raiva cairá por Riso e Remorso trocado por Liberdade já que perdidos os maus lençóis escreverei em novas Escrituras um rol de bens a distribuir pelos sonhos, pensamentos e ideias a criar.
Assim chegado ao fim da estória de Zé Ninguém, como autor e não protagonista, declaro vencida a tese que as palavras são abraços que se abraçam nos cantos da memória com trajectória que sem perfume de flor nos leva ao Amor.
Eu, Zé de nome e Ninguém der apelido, depois de dominar toda a desarrumação que me domina, de tentar preencher os vazios com silêncios sepulcrais, não conseguindo esquivar do que vem escritos em altas escrituras, parto para parte incerta, imigrando em mim, maquilhado de viajante em busca do perdido Amor, de olhares que falam e sinais que dizem tudo.



Sanzalando

20 de setembro de 2013

Morro

Eu, Zé de nome e Ninguém de apelido estou cansado de ouvir dizer que mudei. Mas ainda não ouvi uma única vez a pergunta a saber porquê. Mas também não faz mal. Estão perdidos a ver o futebol, hipnotizados nos erros e passes longos, nas raviangas e outras falhas. 
- Mete na cueca, grita menina histericamente da bancada enquanto outro mundo agita cachecóis e bandeiras.
Eu, Zé Ninguém, nem ouso dizer nada que futebois e cachecóis nada entendo. Pode ser ainda haver Esperança, pode ser por ainda ser criança de gatinhar nos ditongos e solilóquios. Assim me deixo embalar pelo cair estrondoso da noite solitária em que a lua cheia me sorri sem saber que para mim sorri. Podes dizer é Amizade, aldrabar é amor, acreditar é saudade e o final é mesmo só a vontade de saborear um pecado, da gula, da ambição ou se calhar não mas também. Nunca pequei nem volto a pecar, digo-me baixinho não vá mesmo acreditar.
Meu nome por ainda é Zé e tenho como apelido Ninguém, mudei desde que nasci faz pouco tempo e mudo de vez porque morri na pena das palavras caladas para renascer na Fénix dum outro corpo esbelto, bem delineado, torneado e quem sabe bonitamente ignorado.
Enquanto assim for eu me declaro pelo amor e recuso-me morrer dele. Morro de rir porque o esqueleto morre a reflectir a sombra da lua no cinzento mar sereno duma noite destas.
Eu, Zé, de nome, e Ninguém, de apelido, Morro por mudar mantendo-me igual.


neste momento apetecia-me apagar este texto pois acabei de saber da morte duma amiga grande, mas acho ela não ia gostar.
Belinha: até sempre!


Sanzalando

19 de setembro de 2013

Paraíso

Eu queria afogar-me. Queria deixar de ser o Zé Ninguém, aquele que não se irrita, que não sente nem magoa, que não sabe o que é tristeza, alegria, amor ou ódio. Eu Zé de nome e Ninguém de apelido, estou cansado de tocar as estrelas no céu e cintilar como elas nas noites sem lua, de abraçar a Nostalgia e cobrir-me de Neblina. 
Eu queria voar e não consigo, eu queria morar no céu mas sem ter que morrer, sem ter que perder as coisas reais que toco com as minhas mãos, sem ter que calar as palavras que soletro a rir ou a chorar. Queria ser Alguém, pelo menos uns breves instantes, sentir o prazer da carne sem ter que entrar no paraíso, se é que ele é distante daqui.
Zé de nome, apelido Ninguém, não quero esconder os meus sonhos em valas comuns, eu quero andar a pé, ser livre, ir embora ou voltar sem ter que pensar em gente morta de Saudade ou de Alegria. Não quero esconder a minha cara porque o tempo não está de feição, porque os poetas perderam as rimas e os outros me dizem eu falo para velho sofrido.
Eu, Ninguém de apelido e Zé de nome, deixo fugir-me dos interiores que consomem a minha cabeça, que pesa nos meus ombros, que esforçam minhas vértebras e arqueiam minhas pernas.
Eu Zé, de apelido Ninguém, carregado de Solidão porém Feliz, declaro guerra às páginas deserticas da tristeza, aos livros nunca abertos, à disenteria mental dos que sabem tudo.
Eu apelo à beleza carnal de falas absurdas, promessas de luas e céus infinitos que terminam num piscar de olhos.
Zé de nome e Ninguém de apelido, declaro-me antisocial embora não exista na sociedade em geral. 
Será que é hoje emigro para África, terra dos desconhecidos carregados de esperança? É, vou saber onde fica mesmo o paraíso, não tarda.



Sanzalando

18 de setembro de 2013

tecnológico

Fosse eu outro que não um Zé de nome e Ninguém de apelido e pediria mais amores e menos dores, mais passeios de fim de tarde, mais abraços e carinhos, beijos e afagos e gritaria bem alto que a vida é curta de mais para ter um Ódio como vizinho. 
Já estou a imaginar os nomes que me estão a chamar quando eu disser que a Vida é para ser preenchida e o sentimento não se propaga no vazio nem por semi-condutores, wi-fi ou bluetooth. Sentimento não é bom condutor e por vezes é redutor e gasta energia, transforme vento em brisa, chuva em cacimbo, dia cinzento em brilhante luz solar. É por isso que Vida não é feita de fita isoladora nem embrulhada em borracha.
Imagino as palavras que ouço em surdina quando disser que a Vida não pode ser um buraco negro dos filmes de ficção, mas é um campo magnético de atracção quase fatal que transfere calor de um corpo para outro.
Eu, de nome Zé e apelido Ninguém, virei um homem tecnológico porque não quero ter mais um coração gelado.



Sanzalando

17 de setembro de 2013

Loucura

Depois de tudo o que já por mim disse, eu, Zé de nome e Ninguém de apelido, poderia escrever que a minha Vida é morta e que ando mais morto que vivo uma vez que não consigo ler nas entre-linhas de mim os defuntos sentidos das minhas palavras. É triste não decifrar os abismos das paisagens ilustradas de postais vividos. Dizem é cansaço. O pior é que não sou complicado que chegue para partir a cabeça das pessoas perdidas que não sabem onde estão, para onde vão e porque são.
Eu fui e voltei tantas vezes parece um Yo-Yo. Subi e desci tantas vezes parece fui Elevador. Saltei e pulei parece fui Elástico. 
Já fui palavra bonita, já fui tanta coisa que já não sei mais o que serei para além de Zé Ninguém.
Vou pintar o Sol de roxo, o mar de lilás e a terra de vermelho, vou viver ao contrário, vou caminhar à chuva e sentar-me ao vento. Vão dizer enlouqueci.
Deixem só ser assim, um eu igual a mim. Não encontrem mais nada que não vale a pena procurar. Eu, que vagabundeei palavras me retiro. Junto-me aos Ninguéns, amarroto as minhas palavras decifráveis, embrulho-as em pacotes de silêncios, atiro-as à Nostalgia e Neblina e sento-me num canto, a ver a paisagem passar e deixarei que me chamem de Louco.



Sanzalando

16 de setembro de 2013

Medo

Não me chamasse eu Zé Ninguém e estaria algures por um aí a ver se chovia. Mas como tenho nome, de baptizado e de Vida, não sei quase nada porém te vou dizer que não tenho Medo.
Sinto que eles, os Medos e Fantasmas, caminham muito devagarinho assim na minha direcção, parece me querem atropelar, abraçar, agarrar e absorver. Mas fecho os olhos, assobio para dentro e eles voam para não sei onde.
Mas se o assunto é eu, eu aí tenho Medo. Mesmo de olhos fechados e assobiando para dentro.
Tenho Medo que haja alguém que não o eu que sou eu, outro eu que eu não goste. Também tenho Medo de gostar e ser gostado, levado assim pela mão e não mais voltar a ser eu. Tenho Medo da distância, não a que se mede ao metro mas a que se dispara no olhar. Tenho Medo da Tristeza e não voltar a sorrir no eu que gosto de ser. Tenho Medo de não ter solução para o meu Medo de ter Medo.
Eu, Zé de nome e apelido Ninguém, só tenho um Medo e todos os outros são acessórios.
É assim porque tudo é ímpar. Imagina eu acordar e não ter nada no estômago, nada no coração, nada na alma. Tenho Medo de não ter espelho onde eu possa ver quem me faz feliz.
É assim que eu, Zé, de apelido Ninguém, me despeço num até mais Viver pois não vá o Medo de não ter letras aparecer e nem assobios nem olhos fechados me valham.
Eu fui e fiz o Medo ter Medo de mim e sorri, o que não significa que sou feliz, apenas que sou fortemente eu, um Zé Ninguém como muitos.


Sanzalando

15 de setembro de 2013

Velhice

Olha para mim Zé, diz o Ninguém como se falasse consigo mesmo.
Parece estou a conversar comigo a caminho dum passeio entre dois lugares nenhuns. 
Sabes, Zé, parece que todas essas coisas de Felicidade e de  Ser Feliz para Sempre estão cada vez mais longe como estão as estrelas que usam lux. 
Passado uma coisa que nunca aconteceu, diz-me o Ninguém como que não falasse com ninguém.
Sabes, Zé, o meu riso postiço, a minha cara parece pintada sobre máscara fúnebre, os meus olhos a desfazerem-se em liquidas lágrimas, não escondem mais a Velhice que trago sobre os costados marrecos do peso dos anos.
Quem está cego às vezes vê melhor a Vida, diz o Ninguém olhando para o céu.
De repente parece anoiteceu e a vida escureceu sem saber que aconteceu e o culpado ainda digo que fui eu.
Cabelos raros e brancos lembram que a Vida foi vivida e que a imperfeição é meio caminho de chegar à perfeição e que não preciso procurar o que nunca encontrarei. 
A Velhice foi o tempo que demorou a chegar aqui, diz o Ninguém como que se cambaleasse nas próprias palavras.
Sabes, Zé, era tão bom que as rugas fossem caminhos e as memórias lembranças. Mas as rugas são tristeza e a memória, acho esqueci. É, eu me perco e não me encontro. Acordo nos caminhos vazios e sou levado pelo vento mesmo que queira ir em sentido contrário e o vento uive ou silve ou apenas sopre, sempre parece está a pedir ajuda para me empurrar contra o destino desenhado na fraca imaginação. Daqui a pouco transbordo dores, o caminhar é pouco prático porque afogado no reumático e todos os miles corações que tive não sobrará um apenas que bata certo para me levar a alma
É a Velhice, diz Ninguém, sem papas na língua.
É aqui, na Velhice, que olho para mim e digo que a minha vida parece um monte papelinhos e que houve quem tivesse ligado a ventoinha...
Interrompe Ninguém, como se fosse alma do outro mundo e diz para eu arranjar alguém que me arrume novamente.



Sanzalando

14 de setembro de 2013

sem solidão estou sózinho




Sanzalando

retrato


Eu sei, não me chamasse eu Zé Ninguém, e tudo o que eu tenho não são mais que apenas estórias e que todas as fotografias que tirei mais não são que velhas fotografias. Eu sei, exactamente agora, que bani o Sofrimento, que enterrei a Saudade, que fugi da Nostalgia, que me embrenhei na Neblina, que todas as minhas velhas estórias são fotografias do Passado, mesmo que estejam a acontecer. 
Eu Zé, de apelido Ninguém, posso ver mesmo quando estou de olhos fechados na escuridão, que tudo o que fui não fui fruto da Tristeza, não fui risco calculado nem passei em vão pelas portas da vida, nem trambulhei em maravilhosos sonhos, nem me afoguei em Arrogância. Posso ver que neste momento sou igual ao infinito por mais bonito que ele seja, por mais longe ele esteja, por mais noite, escura seja.
Eu, Zé Ninguém, bem vestido mesmo nu, voz doce mesmo quando calada, um dia acordarei incompleto porque olhar-me-ei e verei que sem solidão estou sozinho, que sem lágrimas chorarei e num aparte lembrar-me-ei que já não me recordo de mim, já não me reconheço no reflexo dum vidro polido.



Sanzalando

13 de setembro de 2013

Memória

Eu Zé, de apelido Ninguém, conhecido pelos desconhecidos e lembrado por quem tem Memória, digo bem alto da minha voz que um dia todos se vão lembrar de mim, independentemente de quem serão os todos e quais serão as causas. Mas não é assim um mais ou menos como que passar os olhos pela lista de amigos e não sobrar nenhum para ligar a não ser eu, Ninguém de apelido e Zé de nome próprio ou apropriado.
É num assim ligar para ligar mesmo para mim. Tal e qual fizeste para me falares com a tua voz e me sentires real com os teus dedos.
Mas aí pode acontecer, e sei que vai porque sou assim um complexo de mistérios parecido com labirintos mentais, dá-se-me aquela coisa de dualidade mental. Atenderei ou não? Porque quem sabe eu terei ainda número, quem sabe eu ainda exista ou quem sabe me apeteça ser importunado, quem vai saber se saí a correr para abraçar assim num à toa só porque me ligaram?
Vá lá, pode ser que eu sinta o chão a fugir debaixo dos pés e me dê um toque de solidariedade e atenda com o meu sorriso infantil e o meu carinho paternal como se fosse uma amor de todos os tempos que a Memória ainda tenha uma vaga ideia. Pode ser que me lembre de uma qualquer música e lhe cante ao ouvido numa doce sinfonia de enganar e assim disfarce a chuva que vai na minha alma, os trovões que grito nos silêncios da lembrança e, ao mesmo tempo, lhe faça parecer que é importante, pelo menos naquele momento e se sinta feliz.
Eu, Zé Ninguém, pode ser que não tenha ninguém para brincar, nem ninguém ao lado para ver o pôr do sol, mas há de haver um todos qualquer, em lugar algum, que se vai lembrar de mim e ao sabor do vento consiga sentir o meu respirar, ouvir as palavras que soletrei em tempos idos e carregado de Saudade, me ligue e assim fique atenuada a minha dor de madrugada, a minha insónia de Vida o meu enjoo de tristeza e os meus dedos sentirão uma pele que não a minha.



Sanzalando

12 de setembro de 2013

NOSTALGIA, NEBLINA E RAIVA




Sanzalando

Vida


A Vida tem destas coisas, umas vezes parece é boa, outras nem tanto, pelo que eu, Ninguém de apelido e Zé de nome, declaro que é meu dever passar por tudo de cabeça erguida como se tivesse muita força e outra tanta de vontade.
Eu sei que tem dias que tudo parece é difícil, final e ficamos frágeis que nem papel molhado, mas mesmo assim a gente consegue chegar no outro dia, mesmo passando a madrugada difícil onde a humidade podia aumentar a fraqueza do papel.
Eu, Zé Ninguém, sou sozinho uma equipe de força e como equipe faço pela Vida mais que perfeita, mesmo se atacada de Nostalgia, abatida pelo Remorso ou avermelhada de Raiva.
Se tiver que secar lágrimas, ela me seca. Se tiver que ser protegido ela me protege. Se caio, ela me ergue. Se preciso socorro ela me socorre. É a Vida.
Todo o mundo precisa dum porto seguro como um prédio precisa de alicerces, como a Maria do Manuel,  o vice da versa e eu da Vida.
Na Vida tenho os amigos, assim como tenho amigos na Vida e outros que não deveriam ter deixado esta Vida. É a Vida
Eu, Zé de nome e apelido Ninguém, ficam a saber que depois do que eu disser, vou à Vida e não haja ninguém para me julgar. Não há coisa melhor do que termos pessoas na Vida. Nem Nostalgia, nem Neblina, nem Raiva, Ódio ou Ciúme são companheiros seguros e únicos para seguirmos na Vida.
Zé Ninguém, gente confiável e que lê pensamentos, diz que a Vida é caminho certo para a Liberdade e ponto de partida para não perder tempo em correrias e outras manias que nos levam ao Pecado da Inocência e ao Pesadelo do Sofrimento.
Quando se está sem Vida, o próprio não sabe que está morto, o que torna a Vida dos outros difícil. O mesmo é com a Estupidez.
A Vida tem destas coisas, obriga a viver. 


Sanzalando

11 de setembro de 2013

Solidão

Eu, Zé Ninguém, companheiro da Neblina e da Nostalgia, sócio do Remorso e da Raiva, amigo do Ódio e do Ciúme, sei que existe um lugar entre o céu e o inferno onde habita a minha alma. Esse lugar recôndito (bonita palavra soletrei agora), é mais nem menos que na Solidão, para onde fui um dia jogado pela minha natureza esquisita, pelo meu desconforto e pelo meu desejo de estar por entre as estrelas na nocturna noite sem lua.
Solidão palavra sem exclamação, admiração ou adoração, lugar perfeito para soterrar a minha alma, as minhas lembranças e todas as características que sabes que eu, Zé, de apelido Ninguém, jamais suportaria ver em alguém, quanto mais em mim. Desculpa eu ser assim, honestamente assim, nem mais nem menos que assim. Não quero voltar atrás, abandonar a Solidão e dizer que és coisa e tal assim como especial.  Deixa só lá estar a minha alma, que do resto trato eu e se conseguir evitar uma guerra, um grito ou apenas um ai, mudo de rumo, mais para sul, este ou oeste, mas levo comigo a Solidão mesmo que feita em pó e sem o cintilar das estrelas da noite sem lua onde um dia joguei fora a minha alma.


Sanzalando

10 de setembro de 2013

Silêncio

Adormecida a Nostalgia e coberta a Neblina; esquecida a Raiva e empacotado o Remorso, sobraria o Ciúme ou Silêncio. Escolhi este último, por ser último e eu ter pena dos últimos.
Se eu soubesse cantar, cantaria à tua janela músicas de engalar, como um pássaro dizem cantar. Mas o Silêncio é o meu Sofrimento, por medo, ou por desinteligência ou por um milhão de outras tantas razões. Daí me chamar Zé e ter como apelido o Ninguém. 
Assim, mais sem sentimentos do que pedido por mim aos deuses, calo-me do pessimismo como se esse fosse uma lente de aumento ou íman de atracção. Conto até dez sem respirar, tento ver o mundo e guardar as palavras para não lembrar a Raiva nem desempacotar o Remorso. Não é poético nem artístico, nem trágico nem cómico é Silêncio, salvo erro.
Talvez eu entenda o Suicídio e o coração sangrento dos que sofrem por erro de Amor, mas não entendo o Silêncio. O que dói o dobro de tantas outras dores e ainda por cima leva Olheiras como companheira num Sofrimento apagado de palavras. No fundo do Abismo, reino do Silêncio, aprisiono as minhas palavras e canto em pensamento música de engatar.
Ó Silêncio que me fazes calar os versos que eu queria declamar e as fotos que eu queria descrever como se fossem palavras duma estória que não me sai da memória ou não me chamasse eu Zé, de apelido Ninguém, que brinca com a sorte até na hora da morte, salvo seja, calado e mudo.


Sanzalando

9 de setembro de 2013

Ódio

E foi então que apareceu o Ódio, como se fosse uma flor libertando odores na noite que nasceu. A porta range, o relógio se atrasa e as roupas frias dum inverno passado são penduradas no cabide de Presunção e mostradas na praça pública como se nunca tivessem sido usadas. Tudo parece fazer um esforço para não arder, para que as gotas de orvalho, que ainda estão fora de tempo, não congelem em minúsculas lágrimas choradas duma qualquer face cinzenta na vida. 
Eu, Zé Ninguém, tenho-o quanto baste para me cobrir nos dias de sol e proteger no rigoroso inverno da Solidão.
Para alguns o Ódio ilumina, lhes energiza o dia e lhes faz sorrir como se fosse canto de passarinho no beiral duma janela. Me disseram que o Ódio não é como o carteiro. Ela nunca toca antes de entrar e se sai vai doer à volta. Meu Ódio é de estimação, não é esse vulgar que tenta romper a Neblina, que faz tudo para rasgar a Nostalgia e ainda pontapeia o Remorso.
O meu Ódio é como o amanhecer, silencioso, mesmo que rasga a aurora, solitário mesmo que no meio duma multidão apetece estrangular a Solidão e abra a cortina do palco como se fosse sufocar o espectáculo da vida.
Todo o Ódio é desprezível, fatigante, inútil que até seca a garganta e tolda os pensamentos em caimbras de raciocínio.
Meu Ódio virou rotina que fica na retina apenas para olhar e saborear frio em jeito de vingança, não fosse eu Zé, de apelido Ninguém.



Sanzalando

8 de setembro de 2013

abraçada a Nostalgia





Sanzalando

mantendo a Raiva por ainda

Pensando que tinha me livrado da Raiva, pequeno roedor que corrói a alma e que leva ao emaranhado de pensamentos irracionais e a actos irreflectidos destravados, meio passo a caminho do Ódio, fazes com que eu me afogasse no inesquecível e partisse em direcção à mentira numa mágoa de lágrimas de mar morto. Pensando ter-me livrado da Raiva, encontro degraus de mágoa, frios eternos, ásperos e secos e se cruzo com o teu sorriso, julgado por ti inesquecível, sinto uma dor no coração, mais forte que o Remorso que é no estômago, e lá vêem mais lágrimas dando vida ao mar morto. Esta dor, dizem é Ciume e eu já chorei um quadribilião de vezes e em nenhum momento tive capacidade para travar os pensamentos e juntar os pequenos pedaços de mim e atirar-te à cara como se fosses um alvo fácil, um corrimão de escada que eu pudesse segurar e apertar com as minhas mãos como se fosses um pescoço fragilizado de ruindade. Já sei, vais dar-me uma aula e dizer que não é Raiva mas sim Rejeição a dor que sinto bem no coração. 
Afinal de contas eu, Zé, de apelido Ninguém, acho nem isso tenho porque já o deixei escapar, faz tempo que a neve derreteu nos trópicos e eu não estou doente, nem mental nem fisicamente.
Raiva e Rejeição até que faziam um casal jeitoso, ambos começados por R e se calhar do mesmo signo, seriam leais, sofreriam de amor e não teriam lembranças de esperanças vazias e de Saudade travestida de Nostalgia em panos de Neblina.
E eu sem rasto, sem pegadas para seguir deixo escapar algumas palavras que não caíram no lixo, que não foram atropeladas pelo Ódio nem escurecidas pela Raiva.
Eu, Zé, de apelido Ninguém, acho maltratas quem te gosta e não sabes que o Amor não é um jogo para se jogar sem medo de perder, não te falo as palavras cheias, recheadas de lições e em cama de cultura
porque eu não sinto saudade das lágrimas que chorei, dos sorrisos que sorri nem dos Ódios que possa vir a sentir.
Eu mesmo, antes de adormecer vou pensar em acordar sem ter conhecido todos os erres que fazem doer e pensar nas coisas que acontecem sem ter alguma vez pensado nelas e que me mudaram para sempre.


Sanzalando

7 de setembro de 2013

La recette

Sanzalando

Raiva vermelha mar

Pondo o Remorso de lado, disfarçando-me para passar despercebido à Nostalgia e sem ligar à Neblina, sigo o meu caminho em direcção ao destino do ponto e vírgula, onde possa falar palavras vagabundas sem intenções ou contenções.
É certo que nunca fui um gajo perfeito e até pelo meu ponto de má vista e mau olhado, já que cometi erros a mais, me pergunto se eu posso ter sentimentos, dos mais simples como o Amor aos mais complexos como a Raiva.
Eu, Zé, de apelido Ninguém, me respondo que não ao mesmo tempo que aceno com a cabeça num indisfarçável sim. Eu já olhei no fundo de olhos e acho já me apaixonei sem saber era paixão. Já gritei e era Raiva, que até os vasos do pescoço parece iam saltar de mim e espalhar sangue até no que o ver alcança. Já lhe falei de cabeça baixa, ar distraído ou ar pensativo, já lhe disse coisas sem nexo e sem qualquer anexo fiquei sem lhe falar.
Acho de mim nunca ninguém sentiu Raiva excepto aqueles que já me disseram que sim. Raiva e Ódio, dois primos afastados, que às vezes trazem um conhecido chamado Ciúme, tem dias rondam por aqui, mas as minhas vacinas têm-lhes afastado e eu sigo impenetrável, chamando chato aos chatos e coçando micoses nas horas de fazer coisa nenhuma, apenas para não lhes dar confiança e não me porem a rebolar de Nostalgia na frescura da Neblina e com dores de Remorso.
Com a Raiva as coisas tomam outro jeito, sem defeito e de rapidez impossível de parar e eu me pergunto baixinho, com estranheza, se consigo ver com os olhos toldados de lágrimas raivosas as coisas doces que me podem acontecer quando olho em frente e, se tu não sumiste, apenas desapareceste, para espanto de uns tantos e sem surpresa para a realeza que vive na tristeza da chuva mental embrulhada no Orgulho de não olhar para trás só com medo de me avistar numa sombra fantasma que te possa pedir um abraço e tu embalada em palavras te distrais e cais nos meus braços com embaraço de ficares vermelha de Raiva e depois dirás que encaraste o mundo atropelado de problemas com um sorriso de quem é vencedor.



Sanzalando

6 de setembro de 2013

remorsos, sabes como e


Sabes como é. O Remorso é assim como a neve que derrete como um relógio. Vai-se gastando como que a me avisar que o tempo está a ficar curto e provoca aquela dor no estômago parece é fome de raiva e as palavras ficam por falar. 
Estou desconformado e se calhar tu dormes tranquila, abraçada à Nostalgia e rodeada por Neblina enquanto exalas o teu perfume a me instigar a correr atrás de ti, como se elas fossem eu. Os teus lábios, se me lembro dos teus lábios, esboçam um sorriso trocista como que a querer corromper, fosse eu fácil e dócil menino da mamã, obcecado pelo obsceno sabor do teu corpo transpirado de prazer.
Dói-me o estômago e o tempo parece é vapor que sobe para um dia cair parece é chuva, mas mais não é que o Remorso diluído na Raiva dos raios de sol que desabaram na noite escura de sem lua.
Deixo por ali abandonado o Remorso, em cristais de neve que se gastam e num momento de entrega e devoção, assustado de alma e sem coração, gritando raiva sem convicção, atiro-me nos teus braços amarrados de Saudade e do muito de mim que ficou em ti. Eu, Zé Ninguém, me declaro inocente de Neblina, Nostalgia, Remorso ou Raiva e por isso sigo em frente como que para poder sair do lugar. 


Sanzalando

5 de setembro de 2013

faz tempo que o tempo

Sanzalando

Remorso

Viste, Nostalgia, a minha letra tremula? Era assim uma letra que nem cabia no entrelinhas duma sebenta encarnada que eu uso para escrever as cartas sem futuro. Ontem não te escrevi porque a Neblina não me deixou, hoje não te escrevo porque o Remorso me fez deitar todas as letras ao lixo. Pois é, Nostalgia, não quero que as minhas palavras te tirem o sorriso, te contem estórias, te façam imaginar coisas belas duma memória que já não tenho. O Remorso me cerrou os lábios e os olhos, me tirou a alegria das cores das palavras e as virgulas viraram suspiros. Junto às palavras podia seguir um presente que não era envenenado e muitas carícias que talvez merecesses numa certeza de te fazer feliz, mas o Remorso apertou-me o coração num barbante carregado de jamais e com nós de apertos na garganta




Sanzalando

4 de setembro de 2013

carta a Nostalgia

Tem dia que eu, Zé, de apelido Ninguém, mais a minha Neblina sentimos necessidade de escrever uma carta. Uma carta pequena que respondesse a todas as cartas que recebemos de ti, aquelas mensagens enormes, doces e cheias de romance, cheias de amor e promessas que tais, que até parecem são verdadeiras. As tuas mensagens, Nostalgia, aquelas que parecem vão durar eternidades enquanto não desaparecem, que nos vão fazer felizes enquanto não deixaste a nossa vida para trás, num passado parecido feito cacos, vazio de esquecimento forçado, horrível e desconfortado. Uma carta que recolhesse todas as migalhas, que dento duma lata até parecia eram maracas de fazer ritmo. Mas lá vem a falta de vontade e a força da Neblina e as letras ficam na memória para um dia te escrever, Nostalgia. Tem de haver um dia calmo, um dia em que Neblina vá nas compras e eu, arrumado de cabeça e pés, consiga ajeitar umas quantas palavras e te falasse como se estivesses aqui perto e te ditasse a carta para eu deixar de sentir-me preso nestas quatro paredes como se estivesse à espera que tu, Nostalgia, tivesses outro nome assim como Futuro ou Adiado. Estou cansado de sentir parece sou idiota à espera que a gente brigue ou brinque mais uma vez, que eu beba uns copos para ter a desculpa de que a má disposição vem da ressaca, de que estou tonto de tanto fumar essas coisas de fazer rir mas que apenas fazem adiar as lágrimas.
Pronto, Nostalgia, hoje não te escrevo a carta porque a Neblina me diz que não e a vontade me prende à cadeira da preguiça


Sanzalando

3 de setembro de 2013

Neblina

Neblina acordou com o acordar do dia de hoje, num tom suave de querer parecer que se ouve: estou chegando meu amor. 
Neblina é minha companheira de faz tempo que o tempo me chamou de Zé Ninguém. Sempre que ela acorda me lembra que cada vez que a não quero ver, mais vezes a verei. Não vale a pena eu brigar com ela, porque isso seria dizer que ela é importante para mim. Na verdade eu me importo com ela, mas não gosto de lhe ver porque ela é o reflexo do meu corpo, um jogar fora de tempo até que a chuva apareça.
Quando vejo Neblina os meus sonhos parece param e a minha alma quase parece explode de dor. Mas ela não é importante, porque para mim não existe essa coisa de importante e um sonhador não sente estranha dor nem se entranha nesse sustentar de ilusões acinzentadas como se fosse uma rosa sem pétalas de esperar sentado que algo de novo aconteça.
Neblina é a minha insustentável companheira porque tem de ser.



Sanzalando

2 de setembro de 2013

saltitando ou não novas palavras

Hoje que é hoje, se estiver a ouvir as minhas palavras é porque estou aqui, mesmo que a verdade não seja essa. Pode acontecer ouvir a minha voz de silêncio e isso quer dizer que eu não vou estar aqui a falar as palavras que você imagina está a ouvir desde a minha boca. É sinal que a sua memória gravou uma lembrança de mim e eu posso estar em Luanda, ou em Paris ou num Ôcasaquistão que tenha eco. É evidente se ouvir palavras de dor, de nostalgia ou com sabor a chá de tranquilidade, essas palavras não são mesmo minhas mas dum arrogante qualquer que ocupou o meu espaço e quer amar com as palavras da minha imaginação.
Eu não sou contador de estórias apenas ditador de palavras que podem ter sentido ou descanso conforme a hora do dia. Se por acaso parecer uma estória, vejam bem pois pode ser um delírio da vossa parte. As minhas palavras vão direitinhas ao céu para serem gravadas cada uma na sua estrela, por isso não podem ter sentido nem brilho que não seja cintilante nem morada em pessoa certa uma vez que eu pensava ter pessoas para sempre que se afastaram e me aproximei de pessoas quem nem imaginava conhecer.
Ah! se ouvirem dizer que tem mulher linda podem estar certas que sou o autor dessa frase, mesmo que esteja afónico.


Sanzalando

1 de setembro de 2013

novo bi, novos caminhos

Meu nome é Zé. De apelido Ninguém. Não tenho profissão nem defeitos e nem virtudes. Falo palavras para encher o tempo. Não sei o que é alegria, tristeza ou euforia. Existo porque me ouço. Nasci faz tempo que nem me lembro. Tem coisas que gosto assim como fechar-me antes da chuva, dar três voltas na chave para fechar as portas da minha transparência, de parecer inteligente à frente de pinturas abstractas e de não perder amigos por causa da falta de legendas das palavras que ficaram por dizer.
Recolho migalhas e ouço cigarras quando não me apetece tropeçar nas minhas palavras. Gostava de ser sempre sincero e de não ter fome para não ter de comer palavras.
Apresentei-me numa apresentação remexida com colher de pau. Eis-me doravante se houver amanhã.


Sanzalando
recomeça o futuro sem esquecer o passado