Entrei fingindo naturalidade e à vontade, como se eu tirasse fotos profissionais todas semanas. O Helder me perguntou:
- Vais querer com fundo azul, branco? - ou será que não perguntou nada porque as fotos eram a preto e branco?
Eu, querendo parecer moderno, escolhi o cinzento claro.
Erro número um.
Na segunda, fechei os olhos bem na hora do flash.
Na terceira, não me lembro o que é que aconteceu mas ele não gostou.
E na quarta… milagre! Saí bem! Pelo menos eu achei.
Esperei uma hora, peguei o envelope com as fotos e saí da loja com a sensação de ter feito algo importante. No caminho para casa abri para conferir e foi aí que percebi o verdadeiro terror: meu “sorriso natural” parecia uma careta de quem acabou de dar uma trinca num limão.
Cheguei a casa e, claro, mostrei para a minha mãe.
Ela olhou e disse:
— Ah, mas estás tão lindo! Só estás com o pescoço meio torto. - fiquei assim sem saber se chorar ou rir.
Mesmo assim, guardei as fotos, no estilo se precisar estarão aqui mas espero me esquecer.
Na verdade esqueci.
Hoje, no último dia dos 68, abro o envelope, que já está meio amarelo, mas continua lá com a seis fotografias, sinal que esqueci durante anos e hoje, quando reencontro aquele envelope amarelado, não tem jeito, eu rio.
Porque ali tá tudo: o cabelo desobedientemente empastado, o sorriso incerto, a vontade de ser alguém e o charme involuntário da adolescência.
A verdade é que, no fundo eu hoje digo que não fui na Foto Pop tirar fotografias, fui lá para mais tarde ela me revelar fases da gente que já nem sabíamos que existir
am.

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