O sol escaldante batia-me no rosto enquanto os meus olhos percorriam o horizonte infinito de dunas. Autentico mar de areia dourada. O mapa antigo e amarelado, enigmático achado na casa do seu avô, se calhar desenhado por um qualquer antepassado, falava de um lugar que muitos consideravam uma lenda: Mossamedes. Eu, que nunca tive um espírito aventureiro, nem nada me preparou para a vastidão dourada que se estendia à minha frente.
Dias de caminhada sob o céu implacável tinham testado a minha resiliência. As noites traziam consigo um manto de estrelas tão brilhantes que pareciam perfurar a escuridão, e o silêncio era tão profundo que a minha própria respiração parecia fazer eco nas dunas. Foi numa dessas madrugadas frias, que uma silhueta começou a surgir através da névoa que chamavam de aurora. Era a hora do romper dela.
Não era um oásis, nem uma miragem. Era a cidade. Casas num quadriculado, de cores variadas mas predominava o branco da cal. Algumas era feitas de um arenito dourado que parecia brilhar com luz própria, erguiam-se majestosamente do deserto. Ao aproximar-me, notei os intricados relevos esculpidos nas paredes, contando histórias de um povo que o mar e o sol. Não havia sinais de vida. Mossamedes era uma cidade fantasma, preservada pelo tempo e pela areia.
Atravessei os portões da cidade, que rangeram suavemente ao toque. As ruas, julgo eu, outrora movimentadas, estavam agora desertas, cobertas por uma fina camada de areia. Mas a cada passo, a cidade parecia sussurrar. Murais desbotados adornavam as paredes das casas, mostrando figuras elegantes em vestes fluídas, dançando e celebrando o sol dourado e o mar azul. Parecia que a vida tinha parado de repente, congelada no tempo.
Ao chegar à praça central, um enorme obelisco apontava para o céu. No centro da praça, havia uma fonte seca que no mapa tinha desenhada uma foca, que por acaso me parecia um leão marinho, um estranho contraste com o ambiente desértico. Ao tocar na base do obelisco, um suave brilho pulsou sob a minha mão, e um murmúrio quase inaudível ecoou. Não eram palavras, mas uma sensação, uma história de água que outrora corria abundantemente, e de um povo que amava a vida e a arte.
Passei o resto do dia a explorar as ruas e a rever a sua arquitectura bem como visitei o mercado vazio, o palácio e a igreja, sentindo a aura de uma civilização grandiosa que tinha sido erguida pelos meus antepassados e outros que tais. No final da tarde, enquanto o sol pintava o céu com tons de laranja subi ao topo da torre do tombo. Lá de cima, a vista era espetacular: Mossamedes estendia-se à volta de uma baía, como se mergulhasse num silencioso monumento de glória e mistério.
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