recomeça o futuro sem esquecer o passado

Podcasts no Spotify

31 de março de 2017

sabe o sabor de ser gente


Olho assim e deixo o meu peito soltar palavras como se uma rio estivesse a nascer. Tento travá-las, por vergonha, receio ou dúvida. Três incógnitas que me poderão levar à loucura. Mas as palavras saem como se tivessem vida própria, descobrem-me, desnudam-me, vestem-me tentando sarar qualquer ferida que tenta abrir-se em mim.
Olho assim e restauro-me todos os momentos. Desde o nascimento até agora. Mesmo os tempos que não o sendo eu tentava ser maduro, mesmo que não me apetecesse eu tentava elogiar, mesmo do tempo em que eu tinha que segurar o ímpeto de me atirar aos braços de alguém. 
Olho assim e me sabe o sabor de ser gente.

Sanzalando


27 de março de 2017

milibares e assim

E o sol timidamente tenta romper através das nuvens. Como é que ele assim vai conseguir chegar ao verão? Já não tem sol como que era quando eu era puto e andava de calções a gastar os joelhos nas corridas de patins. Esse sol me levava na praia e fazia com que eu não saia de lá. 
Pronto, já sei. Sou assim um modo de sem graça, fácil de irritar e que ainda sonha com o coração. Eu não mereço um dia de sol na primavera. Manhã verão e à tarde inverno. Nem isso, digo eu.
E a brisa que vira vento assim que nem dá troco ao meu lamento?
Primavera de frio, obrigado ao dono do tempo que não deve ter tempo para dar tempo a tempo. Vai ver ele entrou em baixa pressão, num anticiclone que virou-lhe a cabeça e ele pensa é alta pressão. Milibares de razões tenho para estar assim.

Sanzalando

24 de março de 2017

medito porque ganho

Sopra vento que já foi brisa na manhãzinha cedo. Acho este vento vem de leste. Ou será este. Não sei, eu a olhar para o zulmarinho ele sopra da esquerda e ponto final que eu ainda sei qual é a minha mão mais cega.
O cabelo faz tempo se despenteou, porém já não cai nos olhos nem me chateia porque escasseia. Eu olho o zulmarinho que em cada onda levanta é spray que até apetece fotografar porque é bonito. 
Eu medito. Mas porém não me deito. Medito em que tudo o que vai pode até voltar, ou não. Mas não é igual. Não volta igual ao que foi. Chateia perder tempo assim? Não. Ganho na verdade. Não me surpreende que o vento mude, que a vida volte nas voltas que dá, nos sorrisos que não recebi, nos olhos agradecidos que não senti. Ganho sabedoria.
O zulmarinho tem destas coisas, não me perde tempo do tempo que lhe dou porque ele sabe que eu falo não o que ele quer ouvir mas sim o que me apetece lhe dizer

Sanzalando

21 de março de 2017

Olho-me à primavera

Olho-me aos pulinhos na areia das muitas cores, desenhando sombras, construindo castelos de sonhos e divertindo-me apenasmente porque é primavera.
Olho-me em corpo traquina duma idade sem número, dizendo que o amor deve ser vivido em loucura porque o calmo e sereno é aborrecido, que a alegria deve ser servida a cada minuto que vem abafando a triste mente que me mente.
Olho-me no dentro de mim e tranquilo observo o mundo que me rodeia e digo em voz alta que se não abrir o meu coração não vão ser os outros a abri-lo. 
Olho-me e vejo que a verdade não é esquecida porém pode e deve ser divertida.
Olho-me à primavera



Sanzalando

18 de março de 2017

o teu abraço

Caiu o sol ao fim da tarde, anoitecendo suave e quentemente. Eu dei passos largos pela imaginação como se passeasse numa qualquer avenida tropical, chinelos e calções, chapéu de palha e sorriso na cara.
Dei comigo a dizer-me que o que não largo tenho de carregar, o que carrego pesa e o que me pesa lixa-me. Ora, assim vestido, assim alegre, fui largando consciências, umas mais pesadas que outras e olhando-me no reflexo das montras fui vendo a imagem do ser livre que me fui tornando. Foi aí que dei comigo a dizer-me que precisava do teu abraço


Sanzalando

14 de março de 2017

Arthemis faz anos



Podia começar assim um textinho de vai ali que já volto. Mas sem Arthemis este blog já tinha ido nas calemas do tempo faz tempo. Sem ela não tinha arte de letra maiúscula, cinema de C grande, amizade de A enorme.
A Arthemis faz anos. Não estou aqui a agradecer nem começar um agradecimento, mas fico feliz por lhe dizer obrigado, só assim.





Sanzalando

12 de março de 2017

Março mar e sol

Faz conta hoje não passaram 45 anos, mais vírgula, reticências ou simples esquecimento. São só horas de eu ir na praia das miragens ver as vermelhas chicoronhas entrar no mar de pica-pica como se fosse ele se acabar a seguir. Faz horas que Artur Alexandre Alves está lá de molho. Ele diz que se atrasou porque a mulola estava cheia depois de vila Arriaga, senão há mais horas ele estava a tirar o pó da Chela naquela água que é o início do zulmarinho. Eu só me sento a ver esfregar areia nas coxas onde pica-pica se enrolou. Pode ser eu alegre a alma se o guarda-sol azul chegar atracado num sorriso de simpatia e não trazer a reboque o ar de quem fiz algo errado ontem. É Março aqui e lá


Sanzalando

10 de março de 2017

sorrir na praia

Como é bonito olhar o sol e lhe ver o brilho dum sorriso ao dia.
É tão bom caminhar pelo seu calor e ser apanhado nos seus raios que não há raio que me parta se não sorrir. E assim vou caminhando ao longo da minha praia sabendo que cruzei com pessoas com quem foi muito difícil me relacionar, olhar ou apenas cumprimentar. Mas também essas pessoas me foram importantes, mais não seja porque me mostraram como eu não gostaria de ser.
Como é bom sorrir na praia, debaixo do sol de primavera.


Sanzalando

8 de março de 2017

e se fez sol

E de repente fez-se sol quente, brilhante e carregado de vida. O chilrear começou. Para mim é o dia natural da primavera emborra carregando febre de gripe, tosse de falta de ar por encharcamento viral, quase perdendo os pulmões em cada ataque. Mas com a minha loucura sã vou esquecer isso tudo, vou descansar xingando-me de preguiça, segurando a pulso uma vontade de trepar pelo ego até insuflar um outro ataque.
Não vou deixar a febre me vergar, me desculpar ou me zangar.
Hoje meu dia natural de primavera vou dizer poesia no olhar.


Sanzalando

3 de março de 2017

hoje chove e vejo melhor

Hoje me deu para olhar como era há 4 anos atrás e ver como é que sou hoje, muitos dias e livros depois.
O dia acordou de chuva. Cinzento assim como eu nem gosto de pensar ser. Olhei o zulmarinho e lá estava ele cinzento violento. É inverno, eu sei. Não gosto. Também sei. Como não consigo rir em dias assim fico sério só porque sim. 
Mas olhando para 4 anos de diferença deu para ver que a vida é rara e mágica, insaciável porém perfeita e simples, justa cruzada com injustiça, complexa, sem trancas porém fechada sobre o que ele foi.
AH. Mudei de óculos, vejo melhor e se calhar é por isso que chove lá fora, no zulmarinho.


Sanzalando

1 de março de 2017

Março, mar e festas

Sigo praia fora como quem vê o zulmarinho num perder sem fim à vista. Vagabundo-me por pegadas desfeitas, outras bem feitas e outras por fazer. Minha cabeça percorre o areal a tantos de não sei quê à hora. Certo ou errado. A dúvida multiplica-se numa divisão de interrogações e dou comigo a salpicar água salgada como no filme e tudo o vento levou, sem dançar, só mesmo chapinhar o pé todo inteiro nas ondas que me ultrapassam o tornozelo. É Março, dia de feira e destas, dia de mar. Mais não quero saber.
Sigo praia fora como quem gosta de rosas e tem de levar os seus espinhos porque fazem corpo com elas.
Sigo feliz na dúvida de saber quem serei e se um fim só existe dentro de nós. Fui e vivi o que faz parte da minha História. Bonita, aliás.


Sanzalando