1 de abril de 2025

do ontem ao amanhã

Olho à minha volta e vagueio. De pensamento em pensamento caminho fazendo uma estrada de vida. Na verdade, vivemos cercados de múltiplas razões para amar e por vezes passamos por elas sem as notar. Quem não se sente feliz ao ver um pôr-do-sol que nem em fotografia arranjada por artificialismos sofisticados? Quem não se sente agradado pelo sorriso inesperado de um estranho numa forma simples de agradecimento. Tantos pequenos gestos que são grandes afectos.
O amor está nas entrelinhas da vida, nos detalhes que deixamos escapar pela rapidez do passar do tempo e nós sem tempo para num instante olharmos com olhos de admirar e coração de amar.
Com tanto para amar, o que é que nos impede? Medos, orgulhos ou distrações?
Está na hora de soltar amarras e ver a vida como o tempo que intervala o ontem do amanhã.


Sanzalando

31 de março de 2025

falta palavras

Como tenho morrido de amores deu-me para pensar em quanto me custar levantar todas as manhã.
Mas na verdade eu gosto de morrer de amores porém faltam-me palavras para escrever

Sanzalando

27 de março de 2025

a ver se me vejo

Vou de passeio pelas ruas da minha cidade. É fim da tarde e os tristes vão passear. Digo assim porque ouvi a minha mãe dizer que era o passeio dos tristes. Nunca percebi, porque os via a rir ou pelo menos a sorrir quando se cruzavam comigo.
A minha cidade fica à beira-mar e é encantadora. Tanto na praia e na sua baía como nas costas do deserto a perder de vista. E o Pôr-do-Sol tem um encanto que me encanta. 
Mas hoje vou num passeio até na praia, relaxar ouvindo o marulhar e saboreando a maresia. Sentir a brisa do mar faz-me desacelerar e me torna especial. 
Vou só sentar aqui nos hexágonos a olhar para lá do infinito e ver se me vejo.



Sanzalando

26 de março de 2025

Crónica 48


Sanzalando

Amarelo Tango - Nicolau Santos - Livro


Sanzalando

Esta Música tem uma História 03


Sanzalando

Tesourinhos musicais 35 - Shegundo Galarza


Sanzalando

Programa 60 - K'arranca às Quartas


Programa de Rádio com palavras, livros e música  - 26 de Março de 2025, tal e qual como se fez em directo para ouvir indirectamente aqui ou em qualquer outro lugar, aos cortes ou de seguida. 
Escolha e ouça com o pensamento. Ouça-nos com ouvidos de pensar
Ler só faz mal à ignorância
Quem não ouviu em directo ouça agora indirectamente como directo fosse. 
Podem comentar para poder melhorar

Hoje tivemos a Crónica, falámos de Amarelo Tango de Nicolau Santos, tivemos um poema de Oswaldo Montenegro dito pelo próprio - A minha Metade
Tivemos As estórias da Música ou Música com história em que cantámos em italiano com IO CHE AMO SOLO TE cantado por Chiara Civello e Chico Buarque de Holanda

Tivemos nos Tesourinhos Musicais  Shegundo Galarza e o seu Conjunto

Tudo imperdível

Não perca e ouça a boa música que tenho para lhe dar

Sanzalando

25 de março de 2025

A dois amigos que partiram

Eram colegas no trabalho. Eram dois amigos fora dele.
O tempo ensina-nos que a vida é feita de encontros e despedidas. Hoje, com o coração apertado, dedico as minhas palavras a vocês, que partiram, mas deixaram a amizade, gargalhadas e algumas estórias para lembrar.
Cada conversa, cada gesto e cada memória construída ao lado de vocês segue no meu coração. Por aqui, hoje só consigo dizer Obrigado por terem sido parte da minha história. Sigam em paz, amigos.

Sanzalando

24 de março de 2025

Olha bem para mim e sorri.

Olha bem para mim e ouve-me atentamente. Atira os teus olhos carregados de rancor e ouve-me, porque eu não vou gritar e muito menos tenho pachorra para repetir. A dona da tua felicidade és tu. Não causes dores tridimensionais em ninguém nem atentes contra a minha paciência porque o problema teu é teu unicamente. Perdes a cabeça, doí-te o corpo e tens os olhos sem brilho. Refresca-te e retira essa pose de vingança. Canta-te e sorri, atira o drama borda fora que ele não precisa do teu corpo para dramatizar. Deixa o drama viver a vida dele e tu vive a tua. 
Olha bem para mim e sorri. 



Sanzalando

22 de março de 2025

Num Março de antigamente

O vento quente do deserto soprava pela marginal, levantando finas nuvens de areia que se misturavam ao cheiro salgado do Atlântico. Ela semicerrou os olhos contra o brilho dourado do fim de tarde e  segurou os cabelos, protegendo-se da brisa persistente.

Caminhava devagar, os pés quase não pisavam o passeio irregular. Ao longe, os barcos de pesca balançavam no porto, as suas sombras espelhavam na água do zulmarinho. A cidade, com suas ruas quadriculadas e prédios coloniais de cores desbotadas pelo tempo, parecia presa no tempo, entre a memória e o presente.

Ela sentou-se num banco próximo à praia das Miragens. De onde estava, podia ver as dunas estirando-se para o interior, como ondas congeladas de areia. Lembrou-se das histórias que a minha avó lhe contara, sobre os primeiros navegadores que chegaram ali, sobre os mistérios escondidos na terra árida e bela de Moçâmedes.

Parou. Olhou-me e disse-me:

- O deserto é um mar inerte;

- Não. O deserto pode ser a vida. Começas sem nada e se nada fizeres, terminas como começaste.

Olhou-me e partiu sem nada me devolver


Sanzalando

20 de março de 2025

divagação

Todos os meus caminhos têm destino mesmo que eu não saiba qual é. Não vagueio ao deus dará. Tem que ter um propósito nem que eu não saiba onde vou.
O destino é tudo, porque estou predestinado a ser o eu que sempre fui, ou que tento ser. Mesmo que eu não seja o eu que eu penso ser.
Delírio de uma noite de chuva ou apenas um desabafo de um calado ser vagabundo?


Sanzalando

19 de março de 2025

Camilo Castelo Branco - Autor


Sanzalando

Crónica 47


Sanzalando

Música com História - Tom Jobim - Fotografia


Sanzalando

Tesourinhos Musicais 34 - Vum Vum


Sanzalando

Programa 59 - K'arranca às Quartas


Programa de Rádio com palavras, livros e música  - 19 de Março de 2025, dia do Pai  tal e qual como se fez em directo para ouvir indirectamente aqui ou em qualquer outro lugar, aos cortes ou de seguida. Escolha e ouça com o pensamento. Ouça-nos com ouvidos de pensar
Ler só faz mal à ignorância
Quem não ouviu em directo ouça agora indirectamente como directo fosse. 
Podem comentar para poder melhorar

Hoje tivemos a Crónica, falámos de Camilo Castelo Branco que fez 200 que nasceu a 16 de Março, tivemos um poema de António Gedeão dito por Mário Viegas - Poema a Galileu
Tivemosuma rubrica nova - As estórias da Música ou Música com história

Tivemos o Vum Vum nos Tesourinhos Musicais 
Tudo imperdível

Não perca e ouça a boa música que tenho para lhe dar

Sanzalando

carta a meu pai

Carta ao Mau Pai

Querido Pai,

Escrevo-te esta carta com o coração pesado e a mente atabalhuada. Há muito que guardo dentro de mim as palavras que hoje te dirijo, na esperança de encontrar algum alívio e, talvez, entendimento. Esta carta não é um ataque, mas um apelo à reflexão e à compreensão.

Desde a minha infância, sempre desejei a tua presença, o teu carinho e o teu apoio. No entanto, apenas encontrei o silêncio, porque vazio estava o teu lugar. Um pai é a primeira figura de autoridade e de amor na vida de um filho, e eu ansiava por ser visto, ouvido e valorizado por ti. Sempre o fiz na imaginação, pelo que via outros pais a fazerem aos seus filhos

Recordo-me dos momentos em que me esforçava para ter uma recordação. Cresci sentindo que me faltava qualquer coisa. A tua aprovação ou o teu sorriso.

Pai, a tua ausência física teve consequências além das que eu próprio percebo. Houve momentos em que precisei desesperadamente de um conselho, de um abraço ou simplesmente de alguém que me escutasse e me apontasse um caminho. Em vez disso, eu estava sozinho a navegar pelos desafios da vida sem a tua orientação, que tanto desejava.

Apesar de tudo, não escrevo esta carta para desculpar ou protestar. Escrevo para tentar encontrar um caminho para a minha cura e para a reconciliação do eu que exigi de mim, ser gente de letra maiúscula.

Eu gostaria de ter conhecido o teu lado da história. Sei que o passado não pode ser alterado.

Pai, quis o destino que morresses quando eu era criança. Quis o destino que eu fosse um sonhador que te imaginou sempre ao meu lado, em silêncio, mas de olhos abertos a ver-me crescer.

Com carinho

JCC


Sanzalando

18 de março de 2025

delirante vida

Despi-me de corpo e alma e desatei a sonhar-me. Não sei se fui longe ou se fiquei por mim, deitado no meu canto, aparvalhado de espanto e por enquanto nada fiz. Se eu fosse poeta desenhava corpos nus nas palavras sentidas, escritas com alma e transparentes. Mas tosco sou e esculpo arestas cortantes nas frases pintadas nas folhas amarelas do tempo.
Desistir-me nunca. Despir-me em transparências e caminhar em intransigências são vícios acrescidos numa vida livre, sem hospícios e outras dores mal doridas.
Vou-me embora das palavras que escrevi, são livres para irem onde lhes apetecer. Deixo-as que já não são minhas.

Sanzalando

17 de março de 2025

inverno e chuva

Era tarde e pouco havia para fazer. Lá fora a chuva caía persistente e copiosa o que me convidava para me manter em casa. Chuva e frio são dois ingredientes que me entristecem. Não sei explicar. Talvez o sol me faça ver o que nestes dias eu desconsigo.
Olhei pela janela e vi a água que corria pela rua abaixo parecia um ribeiro acastanhado.
Perdi-me a olhar para não conseguir ver mais do que a minha alma, triste e solitária num dia de inverno e com chuva.

Sanzalando

14 de março de 2025

vou

Hoje estou num modo de ir para onde o vento me levar. Perto ou longe não me importa, porque vou. Movimento. Quero sentir a vida e quero sorrir. Simplesmente sorrir. Mexer os músculos da cara sorrindo. Na verdade não é toda a altura que tenho tempo de estar comigo. Quero ver-me sorrir, quero voar pela mente sorrindo feliz por ter vida.
Já me deixei dessa coisa de fugir de mim e dos meus sonhos. É tão bom sonhar, sentir o corpo vibrar, estar em inquietação, ter pensamentos a mil à hora ou mil pensamento num instante. Vou onde o vento me levar, sorrindo.

Sanzalando

13 de março de 2025

Delírio

Tem horas que as horas passam a correr e tem horas que passam devagar. Tivesse eu vagar e faria o mesmo. Mas a pressa de chegar faz-me ter pressa de andar nesta vida contente. Um dia, no de amanhã indefinido, faria tudo para parar o curso normal pois contrariado morrerei e outros levar-me-ão sobre os seus ombros. Pesarei mais pois os meus pecados, por capitais que sejam não ficarão leves com a minha morte, pesarão na consciência dos que ficam a limpar.

Sanzalando

12 de março de 2025

Bolhão Pato - Autor


Sanzalando

Tesourinhos Musicais 33 - Duarte Mendes


Sanzalando

Crónica 46 do Programa K'arranca às Quartas


Sanzalando

Programa 58 - K'arranca às Quartas

Programa de Rádio com palavras, livros e música  - 12 de Março de 2025.  tal e qual como se fez em directo para ouvir indirectamente aqui ou em qualquer outro lugar, aos cortes ou de seguida. Escolha e ouça com o pensamento
Quem não ouviu em directo ouça agora indirectamente como directo fosse. 
Podem comentar para poder melhorar

Hoje tivemos a Crónica, falámos de Bolhão Pato, tivemos um poema cantado de Tom Jobim

Tivemos o Duarte Mendes nos Tesourinhos Musicais 
Tudo imperdível

Não perca e ouça a boa música que tenho para lhe dar

Sanzalando

tão certa a minha incerteza

Faço escolhas sob a sombra do sobra. Tem coisas que sinto, outras que preciso e almas que me sentem. Será que a minha alma confia no futuro? Essa incerteza absoluta, imprevisível e quase sempre dúbia? Instalo-me na minha letra ilegível, rabisco desenhos como pés descalços, cabeças carecas, se calhar tentando distrair o pensamento para que não precise escolher. A sorte ditar-me-á a opção. Azar o meu que nem essa sorte eu tenho.
Tenho de escolher e as escolhas feitas, arrancam pedaços da minha incerteza. Tenho de encontrar fé em mim mesmo, de lápis na mão escrevo rascunhos que nem eu sei ler.
Há todo um céu incerto nas minhas absolutas certezas


Sanzalando

11 de março de 2025

Festas do Mar

Se começaram as Festas do Mar eu estou lá. Sou o primeiro a chegar e último a sair. Digo isto mas descumpro. Tem sempre mais coisas para fazer para além de passear a ver as garinas. Tem trabalhos de casa, tem recados da mãe, tem que ir ver as como estão as flores do parque infantil, escorregar no escorrega grande. Nem tudo se resume nas Festas do Mar. è o mais importante porém não único. 
De manhã tem ida à praia. Imperdível. Tem boca de sapo mais cedo ou mais tarde e eu tenho de lhe marcar o lugar. Tem almoço. Mãe não deixa passar a a hora do almoço sem almoçar. Não tem sesta porque é hora da Oásis. Tem bilhar. Tem voltinha das quatro da tarde na praia para ver as mapundeiras. Tem a volta das 6 da tarde do boca de sapo e eu tenho de lhe olhar num dos meus pontos estratégicos e infalíveis. Tem o jantar e depois sim, as Festas do Mar. Espero não ter que levar a família toda atrás. Elas parecem caracol a andar. E param e conversam e olham e nada mais acontece. Sem elas eu não paro até encontrar o ponto certo da minha atenção.
É assim as Festas do Mar.

Sanzalando

9 de março de 2025

ensaio da aula

Imagine que a sua alma é um vulcão e jorra enquanto tem tempos que dorme, silenciosa, mas dentro dela, continua o fogo vivo, um calor que pulsa, que arde, que se move como um rio subterrâneo de sentimentos e palavras.

E então, um dia, ela jorra violenta. Explode em lava incandescente, em versos perdidos no vento, em emoções que escorrem pelo corpo e queimam o papel do caderno. Não há contenção, apenas a necessidade incontrolável de ser.

É lírico como magma da alma, intensa a forma de amar, ardente forma de ser. Ele queima a rigidez das horas, dissolve a frieza da rotina e redesenha a paisagem do sentir.

Onde antes havia pedra, nasceu terra fértil. Onde antes havia silêncio, há agora um poeta que canta.

Ser vulcão é não temer a erupção. Porque alma que nunca jorra, vira pedra fria e viver é incendiar-se nos fogos da existência.



Sanzalando

7 de março de 2025

Á tia Mariete

Fui à estante em busca de um livro para ler. Olhei. Uns tinha lido recentemente e desobriguei-me de reler tão cedo a mesma coisa. Não por defeito deles, apenasmente porque não me apetecia. Parei numa lombada: Memória. Olhei e deu-me para pensar assim num modo de hipnotizado, paralisado. Memória! E não é que me veio à memória a tia Mariete. Ela foi embora hoje. Entrou noutra dimensão e eu fiquei aqui a olhar para a lombada de um livro que diz só MEMÓRIA. E veio-me à memória as lembranças da sua casa, lá atrás perto do quartel tuga ou atrás do Colégio Das Madres noutra terra. Os olhos lindos. A meiguice e doçura ternurenta que ela tinha na voz. Os doces da tia Mariete. Os Rádios do tio. A tia Mariete me deixou História que me ficou na memória e eu me lembrei ao olhar para um livro, no dia de lhe dizer até um dia...


Sanzalando

6 de março de 2025

gente

Tem janelas que machucam a gente. Tem portas que fecham quando a gente passa. Tem gente que faz mal na gente. E tem nós mesmo que não compreende a gente. As janelas e portas a gente fecha e não lhes olha nem passa e arrumado fica o assunto. Na gente que a gente até que nem desgosta mas nos desgostam, a gente põe de lado faz de conta é capim para gado pastar. Mas quando a gente não gosta da sua própria gente nem a sombra pode pôr de lado que ela vai com a gente. Esse é um dilema que até dá dor de cabeça só de pensar. Não precisa olhar no espelho. Basta a gente se olhar para dentro e fica logo desolado. Vamos fazer mais como. Tem mesmo a gente que aturar a gente que é a gente.

Sanzalando

5 de março de 2025

Gabriel Mariano - Autor


Sanzalando

Tesourinhos Musicais 32 - Os Charruas


Sanzalando

Crónica 45 - K'arranca às Quartas


Sanzalando

Programa 57 K'arranca às Quartas

Programa de Rádio com palavras, livros e música  - 05 de Março de 2025.  tal e qual como se fez em directo para ouvir indirectamente aqui ou em qualquer outro lugar, aos cortes ou de seguida. Escolha e ouça.
Quem não ouviu em directo ouça agora indirectamente como directo fosse. 
Podem comentar para poder melhorar

Hoje tivemos a Crónica, falámos de Gabriel Mariano, uma das autoras maiores da língua portuguesa, Cabo-Verdeano. Tivemos poesia de Cecília Meireles

Tivemos os Tesourinhos Musicais e falámos de Os Charruas
Tudo imperdível

Não perca e ouça a boa música que tenho para lhe dar

Sanzalando

3 de março de 2025

no meu Espaço

Deixo-me esparramar sobre o meu espaço pessoal, que é aquele em que cada pessoa se perde nos pensamentos, em que me creio sentir confortável e seguro. Pode ser um quarto aconchegante, uma mesa de trabalho organizada, um cantinho para relaxar ou o vazio de quem vê o mar. Este espaço reflete a minha personalidade bem como as necessidades essenciais para o meu bem-estar. Respeito-o porque o espaço pessoal é fundamental em qualquer momento. A maresia, a solidão, a brisa, eu, um mundo cheio de mim, carregado de vida, sorrisos dispersos, lágrimas perdidas. O meu espaço no mundo, sem fronteiras nem barreiras leva-me por tantos aís que acabo de me encontrar num espaço urbano onde me cruzo com muita gente, onde observo as fachadas, as árvores, os rostos fechados, os silêncios barulhentos e confusos, caóticos momentos. Mantenho-me equilibrado na minha qualidade de observador pensante, vagabundo de pensamentos e sem abrigo desobrigado de rotinas pelo que num instante dou comigo num espaço cósmico, num vazio repleto de sonhos e desejos, porque estes não ocupam lugar embora fascinem.
Vou por aí, até entrar no buraco negro que é a vida que tudo absorve e tudo confunde.

Sanzalando


1 de março de 2025

divagação de mim

Deixo-me esparramar sobre o meu espaço pessoal, que é aquele em que cada pessoa se perde nos pensamentos, em que me creio sentir confortável e seguro. Pode ser um quarto aconchegante, uma mesa de trabalho organizada, um cantinho para relaxar ou o vazio de quem vê o mar. Este espaço reflete a minha personalidade bem como as necessidades essenciais para o meu bem-estar. Respeito-o porque o espaço pessoal é fundamental em qualquer momento. A maresia, a solidão, a brisa, eu, um mundo cheio de mim, carregado de vida, sorrisos dispersos, lágrimas perdidas. O meu espaço no mundo, sem fronteiras nem barreiras leva-me por tantos aís que acabo de me encontrar num espaço urbano onde me cruzo com muita gente, onde observo as fachadas, as árvores, os rostos fechados, os silêncios barulhentos e confusos, caóticos momentos. Mantenho-me equilibrado na minha qualidade de observador pensante, vagabundo de pensamentos e sem abrigo desobrigado de rotinas pelo que num instante dou comigo num espaço cósmico, num vazio repleto de sonhos e desejos, porque estes não ocupam lugar embora fascinem.

Vou por aí, até entrar no buraco negro que é a vida que tudo absorve e tudo confunde.


Sanzalando

28 de fevereiro de 2025

Tempo descicatrizante

Me estão só para aqui a dizer que o tempo cura as feridas. Mas me estão a mentir. O tempo faz só com que a gente fique habituado até no ponto de a gente se esquecer como é que era. De repente vem uma notícia, uma fotografia, um som ou um cheiro e a ferida reabre parece ainda é a mesma. Agravantemente a reabertura faz com que pareça que a morte te entranhou e já não estás vivo. 
Esse tempo é malvado. Nos branqueia, nos engorda, nos curva e ainda nos faz recapitulações da matéria passada. 
Não tem essa do amor e coisa e tal. É mesmo só fruto do tempo descicatrizante.
Paz na alma do tempo.


Sanzalando

26 de fevereiro de 2025

Tesourinhos Musicais 31 - Os Plutónicos


Sanzalando

Clarisse Lispector - Autora


Sanzalando

Crónica 44


Sanzalando

Programa 56 - K'arranca às Quartas

Programa de Rádio com palavras, livros e música  - 26 de Fevereiro de 2025.  tal e qual como se fez em directo para ouvir indirectamente aqui ou em qualquer outro lugar, aos cortes ou de seguida.
Quem não ouviu em directo ouça agora indirectamente como directo fosse. Podem comentar para poder melhorar

Hoje tivemos a Crónica, falámos de Clarisse Lispector, uma das autoras maiores da língua portuguesa, Ucraniana de Nascimento, brasileira por adopção, que elevou a língua portuguesa. Tivemos poesia na voz de Domingas Monteiro a dizer Ana Paula Tavares

Tivemos os Tesourinhos Musicais e falámos de Os Plutónicos
Tudo imperdível

Não perca e ouça a boa música que tenho para lhe dar

Sanzalando

eu na minha cidade

Me olho e me vejo. Quem sou? Já sei que sou o intermédio da matéria visível e o espírito que realmente penso. Nem apenas o físico que podem ver nem a mente que penso. O visível é dependente da percepção e capacidade visual de quem me olha. O que penso pode ser alterado pela intuição e interpretação de quem me imagina ver.
Na minha rua eu era o menino que estava sempre bem, a simplicidade fazia parte da minha essência. Nas outras ruas eu já podia ser outra coisa. Mas a minha cidade era pequena por isso eu não podia ser muitas coisas. Ao que sei tinha gente que nem imaginava eu existia., logo não tinham ideia de quem eu era ou podia ser. Mas eu era um habitante da minha cidade. Era um transparente porque inexistente nessa parte da cidade. Mas eu era eu. Disso eu tenho a certeza. Eles não podem ter a certeza porque estavam errados, mesmo não sabendo.
Era a minha cidade onde eu era conhecido e também desconhecido. Era eu e não era eu.
.

Sanzalando

25 de fevereiro de 2025

a minha cidade

Deixo o meu corpo caminhar sobre uma cidade que inventei.
Perdida no tempo e sem espaço, a minha cidade cresce até onde os meus olhos alcançam. Ela é linda, talvez porque seja feita sob a minha imaginação e eu não gosto de a desperdiçar. Ela é plana porque eu não gosto de caminhar aos altos e baixos, além de que gosto de ver longe, muito longe, sem barreiras. 
A minha cidade tem ruas quadriculada e matemáticamente certas. Eu não gostaria de me perder na minha cidade. Gosto de saber por onde ando e por onde posso voltar.
A minha cidade é grande como grande é a imaginação de quem a visitar. Mas é linda, independentemente de quem lhe gostar

Sanzalando

24 de fevereiro de 2025

esvaziei a imaginação

Sentei-me frente ao papel. Olhava-o e ele inerte e branco, vazio de letras e palavras. Que faço, pergunto-me sem articular qualquer palavra. Ouço-me em pensamento e respondo-me na volta com um 'estou em branco'. Com a caneta fiz um desenho. Eu a desenhar é lindo de esconder. Mas palavras, que eu queria, nem uma.
O desenho por mim feito parecia ter criado vida e até parecia me atirava a língua de fora a fazer pouco. Nem uma palavra fazia companhia ao desenho já quase desfeito por mim. A Rua das Hortas ou a Avenida da Praia do Bonfim vinham-me à cabeça mas palavras que é o que eu queria, nada. A D. Maria Guedes vinha à janela da minha imaginação, mas não dizia palavra nem fazia algo que me tirasse daquele bronco vazio de palavras. A esposa do Raul Gomes também veio à janela. Sorriu-me e palavras nem uma. E o desenho quase rasgado de raiva sorria-me atirando a língua para fora num faz pouco deste vazio imaginário. D. Lucia salvou-me quando me disse vai para casa que está cacimbo.
Eu fui e abriguei-me desta vergonha vazia de ideias e palavras.

Sanzalando

19 de fevereiro de 2025

Tesourinhos Musicais 30 - Duo Ouro Negro


Sanzalando

Teixeira de Pascoaes


Sanzalando

Crónica 43


Sanzalando

Programa 55 - K'arranca às Quartas

Programa de Rádio com palavras, livros e música  - 19 de Fevereiro de 2025.  tal e qual como se fez em directo para ouvir indirectamente aqui ou em qualquer outro lugar.
Quem não ouviu em directo ouça agora indirectamente como directo fosse

Hoje tivemos a Crónica, falámos de Teixeira de Pascoaes

Mas tivemos os Tesourinhos Musicais e hoje falámos e ouvimos Duo Ouro Negro que chegaram a ser três

Tudo imperdível

Não perca e ouça a boa música que tenho para lhe dar
Boa, a música
Sanzalando

17 de fevereiro de 2025

eu mesmo assim

Me embalo na música e me deixo sonambular por sonhos e desejos. Quero ser um vagabundo de pensamento, um anárquico da regra, um desobediente da ordem. Quer ser eu no todo e no total de mim. Me deixem ser só livre de corpo e alma. Me deixem ser eu, mesmo assim um eu que nem eu sei quem sou.

Sanzalando

15 de fevereiro de 2025

desenho-te com palavras

Quantas vezes te fiz o retrato usando as minhas palavras. Sei-te de cor cada desenho meu. Porém sei que estou completamente desatualizado. Recordo-te com 18 anos e faz meio século que te perdi no olhar. Como te desenharia hoje? Manteria o teu riso enigmático? Poria o teu olhar brilhante porém questionante? Ou será que te deveria descrever a bold e em maiúsculas onde o teu poder coubesse? Não faço a menor ideia. Os teus castanhos cabelos agora têm cor artificial ou branquearam como o salitre dos nossos dias de verão?
Raios me partam se eu sei como te poderia desenhar hoje com as minhas palavras?

Sanzalando

14 de fevereiro de 2025

delirante

Cada vez que escrevo uma palavra eu enriqueço. Um som, uma frase, uma admiração, eu atenciosamente ouvindo, enriqueço. Sem grandes ou pequenas palavras eu vivo, desde que sejam palavras audíveis. 
Se cada palavra representar uma pessoa, eu estou rodeado de multidão e, dessa gente, algumas eu levarei para um lugar grande de mim: a minha vida.
Cada palavra parece ser um código de barras de alguém. Eu em delírio.


Sanzalando

12 de fevereiro de 2025

Ainda estou aqui - Livro - Filme - Fernanda Torres


Sanzalando

Tesourinhos Musicais 29 - Petrus Castrus


Sanzalando

Crónica 42


Sanzalando

Programa 54 K'arranca às Quartas

Programa de Rádio com palavras, livros e música  - 12 de Fevereiro de 2025.  tal e qual como se fez em directo para ouvir indirectamente aqui ou em qualquer outro lugar.

Hoje tivemos a Crónica titulada A Rádio, falámos de um filme AINDA ESTOU AQUI e de Fernanda Montenegro

Mas tivemos os Tesourinhos Musicais que foram os Petrus Castrus

Tudo imperdível

Não perca e ouça a boa música que tenho para lhe dar Sanzalando

o que fomos

Enamorado de ideias, dançando ao sabor da música dos desejos, vagueio por pensamentos com vontade de atracar num porto seguro.
Os teus braços fechados encerram abraços que me podias dispensar, os teus lábios serrados escondem os beijos que não me destes. Desviei-me de desejos com medo de te acordar. 
Somos luz e escuridão, dia e noite, aberto e fechado. Desentendemo-nos na sincronização da vida, perdemo-nos nos afectos e vontades.
Fomos um ponto e virgula que se desentendeu, ficaste no ponto e eu fui-me na vírgula.


Sanzalando

10 de fevereiro de 2025

divagando

Vagueando o olhar por entre o cacimbo da manhã na praia encontro-me mesclado de saudade e esperança. Já tentei parar de olhar e recolher-me a casa, deixando esta não vista para outro dia em que eu a tenha, porém a maresia, o marulhar e a solidão agarram-me como se eu tivesse que estar ali. Se calhar há um qualquer verão que me chama. No âmago da minha existência, no centro do meu querer. Mas quem sou eu para estar aqui, ao cacimbo à espera de quê? 



Sanzalando

5 de fevereiro de 2025

Tesourinhos Musicais 28 Conjunto Académico João Paulo


Sanzalando

Crónica 41


Sanzalando

Otílio Figueiredo - K'arranca às Quartas


Sanzalando

Programa 53 K'arranca às Quartas

Programa de Rádio com palavras, livros e música  - 05 de Fevereiro de 2025.  tal e qual como se fez em directo para ouvir indirectamente aqui ou em qualquer outro lugar.

Hoje tivemos a Crónica titulada Higiene Oral, rela simbólica e metafórica, falámos de um escritor de livros, de música e de desenhos, isto é, falámos de Otílio de Figueiredo
Mas tivemos os Tesourinhos Musicais que foi o Conjunto Académico João Paulo que da Madeira veio brilhar para Lisboa

Tudo imperdível

Não perca e ouça a boa música que tenho para lhe dar Sanzalando

memória

Saltitando de pensamento em pensamento vou vagueando feito um tonto perdido sobre mim. É, acho que me perdi. Desencontrei-me de mim e fui por aí ao sabor da memória como se fosse um mar de maré vazia, sabor a sal e quente como tropical fosse. Deixo-me ir. Sou um jovem sem pátria, sem ponto de partida e nem sabe onde fica a chegada. Sigo-me de memória, rastejo ideias, umas rascas e outras aparentemente sérias e perfumadas. Mesmo estas são fachada porque desconsigo viver a memória. Tenho-a, mas isso mesmo, é só memória.


Sanzalando

4 de fevereiro de 2025

navego

Navegando por pensamentos e sonhos dou comigo a rever amores. Uns perfeitos e outros impuramente desfeitos. Há amores que parecem belos porém tal como os seus frutos são amargos. Há outros que feios dão cor à vida e se perpetuam indefinidamente reluzentes. É isso. Amor não precisa de truques nem magias porque ele só por si é uma magia. 
Vagueando por ideias e pensamentos dou comigo a falar sozinho, entre a minha dormência impaciente e a minha demência inocente.
Vagueio-me vagabundando por ruas de sonhos e desejos, memórias e palavras soltas.

Sanzalando

31 de janeiro de 2025

Falando à toa

Tem dias que as palavras são mudas, caladas e silenciosas. Tem dias que o pensamento parou num tempo vazio. Tem dias que só apetece dizer que a ilusão ou o sonho duram um instante e a realidade é constantemente real.

Sanzalando

30 de janeiro de 2025

será assim ou não

Eu não sei se algum dia às pessoas verão a minha melhor versão. Na verdade, não sei, talvez ela nunca irá existir. Eu sou esta bagunça, este emaranhado de pontos e vírgulas, de perguntas e respostas que às vezes eu consegue dar um jeitinho ás coisas.
Às vezes eu escondo a confusão e sorrio.

Sanzalando

29 de janeiro de 2025

João Villaret diz F Pessoa Liberdade


Sanzalando

Agradecimento e convidados

Sanzalando

Tesourinhos Musicais 27 Os Rocks Angola


Sanzalando

K'arranca às Quartas agradece

Programa de Rádio com palavras, livros e música  - 29 de Janeiro de 2025.  o agradecimento público a quem ajuda a fazer deste programa de Rádio um Programa de Rádio. Directora da Rádio, Isabel Costa, Anabela Quelhas, Fernando Pereira, Mário Rui Filipe, Nuno Vieira e Luis Conduto. Aos ouvintes, Carlos Matias, Rui Inácio e Abysong que aqui deixaram o seu comentário

Não perca e ouça a boa música que tenho para lhe dar Sanzalando

Programa K'arranca às Quartas 52 - Aniversário

Programa de Rádio com palavras, livros e música  - 29 de Janeiro de 2025.  tal e qual como se fez em directo para ouvir indirectamente aqui ou em qualquer outro lugar.
Este programa é especial porque é o 1º aniversário dele. Não é especial porque todos o são
Não tivemos a Crónica, não falámos de escritor ou de livro porque falámos genericamente de literatura escrita em português.
Mas tivemos os Tesourinhos Musicais que foram Os Rocks, a banda angolana que foi um sucesso em 1963 em terras lusas.
Tivemos apontamentos de colaboradores e amigos. 
Tudo imperdível

Não perca e ouça a boa música que tenho para lhe dar Sanzalando

28 de janeiro de 2025

Não fiz triste a saudade

Se o vento sopra leve e me deixo adormecer, junto do mar, eu sonho. Tantas vezes sonho contigo e com tudo o que planeamos. Tantos desses planos foram só da minha cabeça que eu já começo a pensar que nunca soubeste que eu existia, quanto mais pensava e planeava. Mas na verdade entravas sempre nos meus planos. 
Aqui, ouvindo o marulhar, deixando-me embalar pelas ondas suaves deste fim de tarde calmo e sereno, parece chove dos meus olhos umas quantas lágrimas lastimando o tempo que te sonhei e nada fiz. Essa dor de ter ficado calado, essa dor de não me ter despedido, a desesperança de te ter visto voar levando contigo o amor e deixando a solidão, me entristece, me inverte numa morte viva de tristeza.
Acho mesmo foi o melhor que me aconteceu. Não te fiz triste.


Sanzalando

27 de janeiro de 2025

poeticamente complexo

Tem dias são tempestades, outros são calmaria. Um olhar, um sorriso, uma máscara, uma moeda, coisas simples, transformam o dia.
Eu refletido no espelho não é outro lado de mim. É reflexo. Eu deste lado é complexo.
Tudo é tão simples. O coração bate ritmado. Ninguém pensa nele. Desritma e é complexo, tempestade.
Tudo é tão simples que até parece poesia no final.

Sanzalando

26 de janeiro de 2025

que pergunta faria?

Se eu pudesse te perguntar algo agora, que pergunta te faria? Quantas vezes eu pensei esta pergunta? Cada vez que dou resposta a pergunta sai diferente. É o clima, é o tempo decorrido, é o facto de não saber se quero mesmo fazer alguma pergunta que me faz com que defira ou difira a pergunta que te gostaria de fazer se alguma vez a pudesse fazer.
Eu sei que amar é um verbo que se conjuga em acções e não em palavras e muito menos em perguntas. Se te amei? Juro que agora não sei responder. O tempo passou, muitos ventos, muitas calemas, muitas quedas e muitas lágrimas passaram para poder dar uma resposta sem traumas ou subjectividades. Posso dizer-te que na altura eu morri, morri de amores por ti. Passou o tempo e a recordação foi ficando mesmo isso: recordação.
Eu não enjaulo as minhas palavras, não escondo as minhas perguntas, nem camuflo os meus sentimentos. Mas na verdade eu não sei agora que pergunta te faria se te pudesse perguntar algo agora. Se calhar era capaz de perguntar se ainda te lembras de mim, ou se o tempo estava bom para ti. Era capaz de sair uma pergunta tão trivial que tu me olhasses e te perguntarias se depois de tanto tempo eu não mudei nem um bocado. Continuo a ser o mesmo de sempre, sem malícia nem capacidade de esconder a minha natureza. Foste um pedaço de mim que um dia perdi por um caminho que nem me lembro já onde foi.
Estás viva? olha, foi o que saiu!


Sanzalando

25 de janeiro de 2025

sou humano e fraquejo

E quando num qualquer momento fico sombrio porque deixo os meus demónios invadirem-me o pensamento, o sentimento e quem sabe o olhar, interiorizo e procuro o meu lugar seguro, a minha caixa de todos os socorros, dos primeiros ao último, e sorrio num brilhar de gente que sabe que o amor não dói nem magoa, que respeita e ilumina e que se dá de livre e espontânea vontade.
E quando me sinto quase morto, num instante de qualquer fraqueza, regresso à terra, seguro a caixa de todos os socorros, respiro fundo, olho-me e logo me encontro naquele sorriso brilhante, naquele qualquer instante que eu sou um ser vivo. Isso, vivo e nem morto me quero em pensamento.



Sanzalando

22 de janeiro de 2025

Poema de Carlos Drummond por Fernanda Torres


Sanzalando

Crónicas do Kotadiano Domingos de Sousa


Sanzalando

Tesourinhos Musicais 27 Os Inflexos


Sanzalando

Crónica 40


Sanzalando

Microfone Livre 06 Ana Lua Caiano


Sanzalando

Programa K'arranca às quartas 51

Programa de Rádio com palavras, livros e música  - 22 de Janeiro de 2025.  tal e qual como se fez em directo para ouvir indirectamente aqui ou em qualquer outro lugar.

Tivemos a Crónica em que falei de vida e sobrevida, falámos de Crónicas do Kotadiano, escritor angolano/portimonense ou vice-versa Domingos de Sousa, tivemos o momento de poesia com poema de Carlos Drummond, dito por Fernanda Torres tivemos também os tesourinhos musicais com os Inflexos, a banda de Moçambique


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21 de janeiro de 2025

ternura

Deixo-me olhar o mar por tempos que perdi a conta. Ficar só assim a lhe olhar faz de conta ele me está a segredar coisas. É nesse momento que me encho de ternura, nesse refugio silencioso, nem linguagem de olhar, nessa empatia de solidão. Nesse simplesmente olhar o mar é como que abraçasse um infinito tempo que tenho de passado e o olhar da alma ternura-se.
A ternura é flexibilidade, coragem, desnecessário conquistar mas entregar os olhos com o coração dentro. Olhar o mar tem tudo isso e é um canto onde me sento no tempo.


Sanzalando

20 de janeiro de 2025

como se chama a minha saudade?

A rua tem um nome. A avenida tem um nome. Eu mesmo tenho um nome. Que raio de nome terá a minha saudade? A minha cidade, que tem nome e não me apetece agora dizer, tem perdido gente, ficando cada vez mais pequena, pois os que nascem não sabem o nome da cidade. 
A minha cidade, quadriculado pensamento, qualquer dia deixará de ser a minha cidade e será apenas uma estória que eu vivi. 
Como se chama a minha saudade? Ela é especial, pelo menos para mim. Ela não é feita de silêncios nem de tons pastel. Ela é garrida, barulhenta em festa. A minha saudade tem murmúrios, tem gargalhadas e música num rádio portátil, tem bandeiras mesmo que não estejam hasteadas ao vento. 
A minha cidade tem perdido gente e a minha saudade tem aumentado.
Como se chama a minha saudade?

Sanzalando

16 de janeiro de 2025

tem dias que acordo a pensar de memória

Tem dias assim em que a gente acorda e pensa em ti. Ó juventude que te foste!
Fecho os olhos e por segundos viajo para esse passado. Transporto-me de corpo e alma para o tempo onde olhava pela varanda e via o celeste encanto de uma existência. Esse passado é real. Foi e é já que permanece na minha memória. Não sei se os pássaros cantavam, não sei se o céu estava limpo ou nublado. A brisa que sempre sopra quando penso nesse tempo trazia-me o perfume da areia desértica ou a maresia atlântica. Tudo dependia donde soprava a brisa.
Abro os olhos apenas para confirmar que o que vivo é memória e não o agora. Como é bom ter memória dos dias que já era realizado, feliz e que conheci quem conheci.


Sanzalando

15 de janeiro de 2025

Poema O Mar Visto da Cadeia


Sanzalando

Victor Burity da Silva Autor


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Tesourinhos Musicais 26 Os Titãs


Sanzalando

Crónica 38


Sanzalando

Programa K'arranca às Quartas 50

Programa de Rádio com palavras, livros e música  - 15 de Janeiro de 2025.  tal e qual como se fez em directo para ouvir indirectamente aqui ou em qualquer outro lugar. Hoje está tempo de congelar sardinhas por estas bandas.
Tivemos a Crónica em que falei de livros e leitores, falámos de Victor Burity da Silva, escritor angolano recentemente falecido, tivemos o momento de poesia com poema de António Cardoso, dito por Domingas Monte tivemos também os tesourinhos musicais Os Titâs, a última banda a imitar The Shadows 


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13 de janeiro de 2025

estória de antigamente que me apetece contar hoje

Neste mês a minha mãe fazia anos. E não sei se por isso se por outra coisa qualquer lembrei-me duma estória dela. Melhor dizendo, passada com ela e só ela era capaz. Não é bem assim mas fica bonito eu dizer. Eu, que sou filho dela tenho uma parecida que se passou no Porto e por causa do cimbalino mas isso é outra estória. Hoje a personagem é a minha mãe. 
A senhora minha mãe adorava feijão macunde. Era com atum era com ovos ou peixe frito. Ela gostava mesmo de feijão macunde. Mas eu reparei que fazia meses ela não comia nem tinha em casa feijão macunde. Me intriguei mas calauda porque eu nem estava muito em casa e não podia arranjar maka. Desde que chegou no puto vindo lá da terra africana dela nunca mais comeu feijão macunde? Estava a me fazer confusão na cabeça. Um dia, não sei quanto tempo depois, mas tinha passado tempo, eu encontrei uma lata de feijão macunde lá em casa. Encorajei-me e lhe atirei:
- Mãe, temos feijão macunde para o almoço?
- Agora temos. - respondeu-me ela com um sorriso de felicidade.
- Que aconteceu. Pensei que cá no puto não havia esse feijão... - perguntei assim feito ignorante mas sabia que havia.
- Sabes que abriu ali na esquina um super-mini-mercado em que a gente compra as coisas da prateleira e não precisa de pedir ao patrão ou empregado as coisas?
- Sim, mãe, eu sei que os mini-mercados estão a abrir em montes de sítio e com isso vai levar ao desemprego os empregados da mercearia. - respondi assim a dar uma de politico esclarecido.
- É, mas ali na mercearia do Sr. Alfredo, nunca me quiseram vender o feijão macunde, ainda por cima diziam que só tinham ao litro. Eles estavam a gozar sempre na minha cara, a dizer que não tinham e se tivessem vendiam ao litro. - aqui a voz dela já dava mostra de certa irritação. - Ali no super-mini-mercado têm latas a dar com fartura e eu trouxe.
- Mãe, o Sr. Alfredo sempre teve esse feijão
- Eu sei que sim porque eu via. Mas nunca me quis vender. - tom bem irritado
- Mãe, ele não sabia o que era feijão macunde. Ele tinha feijão frade ou ciclista como muitos chamam aqui. Ele nem imagina que o feijão frade é o que querias ao pedir feijão macunde. Porque nunca me perguntaste? - eu a querer se didático e mostrar a minha integração...
- Burros!
e então ele nunca mais foi à mercearia do Sr. Alfredo e voltou a comer feijão frade com atum ou peixe frito.

( mãe: beijos muitos desde aqui)
os nomes foram alterados porém a estória e o super-mini-mercado são verdadeiros

Sanzalando

8 de janeiro de 2025

Tesourinhos musicais 25 Os Ekos


Sanzalando.

Crónica 39


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Morro da Pena Ventosa Rui Couceiro


Sanzalando

Programa K'arranca às Quartas 49

Programa de Rádio com palavras, livros e música  - 08 de Janeiro de 2025.  tal e qual como se fez em directo para ouvir indirectamente aqui ou em qualquer outro lugar
Tivemos a Crónica de Ano Novo, falámos do Morro da pena Ventosa de Rui Couceiro através das palavras de Anabela Quelhas, uma colaboradora de letra maiúscula e tivemos também os tesourinhos musicais Os Ekos que estiveram muito bem.
Inaugurámos uma nova rubrica, o momento de poesia, onde após digitalização, ouvimos um poema desta vez e, para abrir, foi Fernando Pessoa narrado por Mundo dos Poemas

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Um Adeus ao Anatas

Tentei de todas as formas plantar uma árvore, em todas as estações do ano, abrigadas ou em descampado e nenhuma cresceu. Arte ou fé me faltou. Plantei palmeiras artificiais e o sol as secou. Desenhei árvores no chão, como uma criança as desenha no papel e o vento as apagou. O meu quintal ficou deserto e só capim floresceu uns dias depois de cada chuva chuvida. Os meus braços doridos, de cavar, desenhar ou segurar os sonhos agrícolas, estão esqueléticos e já nem cigarros seguram. 
Falsas frases minhas centrifuguei nos desejos de um dia ver o mar amarelo dum deserto que deixei criança, plantadas num quintal que de caderno de capa vermelha fiz.
Fabulei-me de desejos, tropecei em quereres e caí de costas na contra costa da minha inquisição.
O Anatas partiu e nos amigos todos deixou saudade. Um dia, um dia desertificar-me-ei. Certo e sabido como tu sabias.

Sanzalando

7 de janeiro de 2025

vagabundo-me herege

Vagabundo-me por ruas e vielas vazias de gente, porem carregadas de estória. Invento a cada passo uma estória referente àquela casa, aquele beiral, aquele quintal, aquele buraco. Dizendo de outra forma, eu dou vida à minha vagabundagem.  O silêncio que me envolve deixa-me a pensar que aquelas estórias que acabei de inventar são verdadeiras. Eu acredito nelas porque elas são a minha imaginação e a minha imaginação sou eu. Eu acredito em mim. 
No inverno do lado norte tem dias assim, vazios de gente e abarrotar de silêncios. Não há ruído de gerador, de farra, de copos e de corpos em movimento. Sou eu e a minha vagabundagem por estas ruas desertas de gente e carregadas de estória.
Paro numa casa em que está escrito que ali é a Igreja dos Pobres e Desavindos. A porta está fechada. Se eu sentisse frio ou estivesse desavindo comigo ficava na rua, pensei. E comecei logo a magicar que todos os deus são demasiado vaidosos e convencidos. Eles desejam o amor, a veneração, pedem sacrifícios, uns pedem música e dança, outros ladainhas infindáveis, uns o dízimo, outros fazem colecta. A vaidade dos deuses é coisa para ser explorada por mortais. 
Não tem deus nenhum que diga que não ouve as rezas? Que não responde aos pedidos?
Senti-me herege e segui caminho fora sem antes olhar  para dentro de mim, à porta duma Igreja fechada, pobre e desamparado sem nada para fazer ou falar.



Sanzalando

6 de janeiro de 2025

caminhos

Perdi-me sentado em pensamentos absurdos. Quantos caminhos percorri que não foram escolha minha? Fui por eles, alguns por sugestão, outros ao acaso e outros porque não tinha outro caminho para escolher. Nos primeiros aceitei e culpa minha não ter feito o juízo completo. Nos por acaso simplesmente porque não sou de estar parado e a aventura é um lugar comum. Corre bem é optimo, correu mal, melhorarei. nos caminhos únicos não foi bem a escolha, foi o percurso para lá chegar. Culpa minha, opção minha. Correu bem, optimo, correu mal, melhorarei.
Sentado tento justificar-me. Absurdo. Todos os caminhos são caminhos por isso se chamam caminhos. Uns são melhores que outros. Por isso há caminhos com portagem e são rápidos e há caminhos que demoram. Mas tudo é caminho. Essa vida que eu levo, é um caminho. Às vezes parece recto e outras vezes tão sinuoso que me deixa na dúvida se esse é o meu caminho. Mas sigo num seguir feito de peito aberto, recebendo os trocos, ventos e sóis. 
São os caminhos.

Sanzalando

5 de janeiro de 2025

acho eu

Acho que nossa busca incessante por conquistas se deve ao facto das constantes comparações a que nos submetemos, como se existisse um padrão de uma boa vida. Acreditamos que a nossa vida não é perfeita como a do outro, sofremos por alcançar méritos que não são para ser nossos e deixamos de viver intensamente os que o são.



Sanzalando

4 de janeiro de 2025

agradeço

Faz tempo não me vejo no espelho. Não é no espelho de pentear ou de ver a roupa caiu bem. É mesmo no espelho de ver por dentro. Como é que eu estou? Feliz? Sorridente? Choroso? Enfim, como me vai a vida. Falta de tempo não conta porque ele simplesmente voa na velocidade de um tempo que eu não tenho mais velocidade de lhe acompanhar. 
Saudades do tempo profissional? Saudades da adolescência?  Somente saudades?
Olhando bem no espelho de mim eu desconsigo responder claramente. A neblina embacia o pensamento. Tenho saudades de gente, tenho saudades de muita coisa. Não tenho saudades de trabalhar porque isso significava que alguém não estava bem. Vou dizer tudo isso mais como? Desconsigo ter saudades da adolescência porque eu sei esse tempo não volta e o que eu sou hoje devo nesse tempo. Vou ter saudades de hoje? Eu tenho saudades de futuro, esse mistério que é daqui a pouco ou mais logo num dia qualquer. Vou tirar esse espelho e me olhar só de fora. Estou bem. 
Obrigado a mim e a quem me acompanha nesta caminhada de escrever letras vagabundas, perdidas no tempo sem tempo marcado.

Sanzalando

3 de janeiro de 2025

será

Olhando-me há anos atrás em que escrevi com outros números que o mundo não se tornou magicamente colorido só porque o 4 passou a 5, nem o virar da página trará uma montanha de esperanças ou desventuras.
Na verdade, cada ano passado senti que foi o mais desafiante da minha vida. Isto quer dizer que este vai ser ainda mais que o anterior. Ano após ano e o desafio é maior. A maturidade sobe, a realidade é cada vez mais explosiva, assim como o frio de inverno é mais frio que o frio de verão. Cada lugar tem a sua hora, cada hora um espaço e um modo de ser. Cada ano é um desafio. 
Tenho o privilégio de sorrir quando é hora de o fazer, de me calar quando acho que o devo fazer, de dizer o que tenho que dizer, de sentir o que me apetece sentir. Respiro e abraço cada momento de esperança. Continuo a aprender que cada tempo é tempo de ter tempo. Não me afogo nas cinzas de um mar revolto nem me acobardo em manhãs de sol inventado. Faço as minhas conquistas na ausência de pensar como acordarei amanhã.
Estarei morto quando souber qual o melhor ano da minha vida.


Sanzalando

2 de janeiro de 2025

ano novo vida velha

Novo ano e muitas promessas depois eis-me aqui sentado de caneta feito teclado e escrita gatafunhada desenhada em caracteres de imprensa. Sussurrei promessas, outras as fiz em voz alta e bem audível. Umas fiz interiormente, outras em público. É este o carácter do ano novo. 
Prometo solenemente não esquecer o que me permitiste saber sobre ti. Contei-te os meus medos, falei-te das minhas estórias, as que sei de cor e na ponta da língua, bem como as que tenho de me socorrer dum ou outro apontamento porque me perdi na distância do tempo. Sei de ti e tu sabes de mim. Não competimos porque o saber não é corrida nem leituras secundárias de entrelinhas. Não sei prever os teus passos e as tuas palavras, mas sei o sentido com que as dizes e o caminho que traças. Sei que sabes onde vou e entender-me-ás se te disser que quero ficar num ali qualquer.
Entendemo-nos neste dialecto que é nosso, nesta língua de silêncios e meias palavras onde a gramática está repleta de regras apagadas. Sei apenas que cada palavra que sair da minha boca é uma palavra tua. E vice versa. 
Ano novo vida velha porque cada dia é dia 31 de dezembro do ano da graça que quisermos.

Sanzalando