7 de dezembro de 2025

a bicicleta levou-me ao Mundo

Chegado à minha idade, os anos passados num jeito tranquilo de quem já viveu muita coisa, depois de me reformar do trabalho de 40 anos, descobri que tinha tempo e muitos silêncios. Foi então que decidi tirar da garagem a velha bicicleta que nunca parou de andar, a mesma que usava, nas horas livres, mas agora para ver o mundo vais devagar.

Na primeira manhã, sai devagarinho, as pernas não reclamaram, mas logo foram-me lembrando que os movimentos não eram tão rápidos quanto o tinham sido uns anos muito atrás. O bairro onde moro parecia outro: os beirais eram trabalhados e algumas casas eram novas, árvores pareciam-me mais altas, os rostos cruzados na rua de todos os dias pareciam-me desconhecidos. A sensação de liberdade era a mesma de quando tinha 20 anos mas o olhar era agora mais apurado. Olhava e via. 

Pedalei até ao centro da cidade. Lá, crianças corriam nos passeios, os donos passeavam cães e alguns jovens faziam manobras em bicicletas modernas. Quando passavam por mim, acenaram com respeito. “Bom dia, campeão!”, disse um deles. Ri, fazia anos que não me chamavam assim. Curioso. Eu estava com tempo para ver o mundo.

Beira rio +parei e sentei-me num banco a observar a água balançando devagar. Senti o coração bater forte, não de cansaço, mas de alegria. Era como redescobrir um pedaço esquecido da vida.

A partir daquele dia, o passeio de bicicleta virou ritual. Ver o mundo passou a ser hábito. Nalguns dias ia ao parque, noutros explorava as ruas onde nunca tinha passado. Às vezes conversava com gente nova; outras vezes pedalava em silêncio, apreciando o vento no rosto e a certeza de que nunca é tarde para começar alguma aventura.

E assim, descobri que a reforma não era o fim do caminho — era só o começo de um pedal mais leve, mais livre e cheio de pequenas descobertas. Tinha um mundo enorme para conhecer



Sanzalando

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