Joaquim Sentado, apelido de parte de pai que já vinha dum avô, filho de mãe desconhecida, pelo menos dele, literalmente jazia dia a dia debaixo duma acácia lendo jornais velhos, com um olhar de quem nem sabia o que era uma letra. Fazia vento, chuva ou sol e lá estava o pré-cota na sombra, mesmo nocturna da acácia, agarrado ao jornal que não sabia a idade, que as notícias não passavam disso mesmo e as fotos não amareleciam, e Joaquim Sentado lá estava cultivando o olhar pelo jornal.
Tantas vezes ali passei que cheguei a pôr hipótese de ser uma estátua de gente importante sentada como existem nas cidades importantes que alguma vez albergaram gente ilustre. Mas Joaquim Sentado não era de bronze e de vez em quando se mexia. Som é que nunca tinha lhe ouvido.
Um dia, estava eu com vagar e ali fiquei uns instantes a estudar o ar posto de Joaquim Sentado sobre o então já velho jornal, de fotos já sem nitidez e enxovalhado de tantas vezes dobrado. Levantou a cara, olhou-me nos olhos e num sotaque que não sei como escrever me disse:
- Não fica aí. Vai passear. É horrivel te ver me olhar e eu sem aguentar a força desse teu ver que até parece eu vou explodir as letras que bebi deste velho jornal que um dia foi novo e tinha notícias que eu ainda não sei porque lhes olho e elas não falam.
Se mudo estava, mudo continuei porém pensei que as notícias eram novas porque não tinham sido lidas, embora escritas faz tempo.
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