Sigo o som que me chega nem sei de onde.. Deixo-me levar ao sabor do ouvido.
Um rádio toca para lá de uma janela. Não vejo a sintonia porque a vista já não é o que era. Ouço a música que desconheço. Agradeço a oferta de me darem música enquanto caminho e deixo-me ficar ali parado a escutar. É um canção francesa em voz feminina. Desconheço-a por completo. Mas estou a gostar do que ouço. Há ali um amor encantado. Há ali uma melodia que me encanta. A música termina termina e logo outra a segue. Também é francesa. Esta é bem mais antiga e reconheço a voz de Jacques Brel. Permaneço parado no passeio em frente de uma janela aberta que me deixa ouvir o som de um rádio que toca música francesa. Olho, curioso para lá da janela. É um rádio de sala. Elegante e bem antigo, a ver pela madeira com que é feito.
Curioso. Ainda há quem ouça rádio. Ainda há rádios antigos que funcionam em casas. Pensava que rádio era agora um artigo única e exclusivamente de automóvel, companhia para filas de trânsito.
Deve morar aqui um velho saudosista dos tempos antigos e que deve dizer que naquele tempo é que era bom.. pensei eu a fazer um filme já com legendas e dobrado na imaginação.
Um jovem aparece, olha-me e pergunta-me se a música me estava a incomodar. Fui pronto na negação e rápido em parabenizá-lo pela audição.
- Mantenha-se ai que ele vai tocar a tarde toda. É a minha companhia diária. disse-me enquanto deixava a sala onde o rádio permanecia.
Ouvi mais duas outras músicas. Recentes e portuguesa. Envergonhado de estar ali a aproveitar-me da música dos outros resolvi seguir o meu caminho e a música foi diminuindo até deixar de a ouvir. Olhei para trás como que a decorar a janela para um ouro dia por ali passar outra vez ou se calhar apenas com pena de a ter deixado.
Pelo sim pelo não, fui a uma grande superfície e comprei um transistor. Agora já posso ouvir rádio onde e quando me apetecer.
Sanzalando