recomeça o futuro sem esquecer o passado

Podcasts no Spotify

4 de dezembro de 2024

Programa K'arranca às Quartas 46

Programa de Rádio com palavras, livros e música  - 04 de Dezembro de 2024.  tal e qual como se fosse em directo
Tivemos a Crónica, falámos de Anibaleitor de Rui Zimk e tivemos também os tesourinhos musicais que foram Os N'Gola Ritmos 

  Não perca e ouça Sanzalando

2 de dezembro de 2024

ouvir rádio

Sigo o som que me chega nem sei de onde.. Deixo-me levar ao sabor do ouvido. 
Um rádio toca para lá de uma janela. Não vejo a sintonia porque a vista já não é o que era. Ouço a música que desconheço. Agradeço a oferta de me darem música enquanto caminho e deixo-me  ficar ali parado a escutar. É um canção francesa em voz feminina. Desconheço-a por completo. Mas estou a gostar do que ouço. Há ali um amor encantado. Há ali uma melodia que me encanta. A música termina termina e logo outra a segue. Também é francesa. Esta é bem mais antiga e reconheço a voz de Jacques Brel. Permaneço parado no passeio em frente de uma janela aberta que me deixa ouvir o som de um rádio que toca música francesa. Olho, curioso para lá da janela. É um rádio de sala. Elegante e bem antigo, a ver pela madeira com que é feito. 
Curioso. Ainda há quem ouça rádio. Ainda há rádios antigos que funcionam em casas. Pensava que rádio era agora um artigo única e exclusivamente de automóvel, companhia para filas de trânsito. 
Deve morar aqui um velho saudosista dos tempos antigos e que deve dizer que naquele tempo é que era bom.. pensei eu a fazer um filme já com legendas e dobrado na imaginação. 
Um jovem aparece, olha-me e pergunta-me se a música me estava a incomodar. Fui pronto na negação e rápido em parabenizá-lo pela audição. 
- Mantenha-se ai que ele vai tocar a tarde toda. É a minha companhia diária. disse-me enquanto deixava a sala onde o rádio permanecia.
Ouvi mais duas outras músicas. Recentes e portuguesa. Envergonhado de estar ali a aproveitar-me da música dos outros resolvi seguir o meu caminho e a música foi diminuindo até deixar de a ouvir. Olhei para trás como que a decorar a janela para um ouro dia por ali passar outra vez ou se calhar apenas com pena de a ter deixado.
Pelo sim pelo não, fui a uma grande superfície e comprei um transistor. Agora já posso ouvir rádio onde e quando me apetecer.


Sanzalando

1 de dezembro de 2024

se calhar

Eu se calhar queria escrever uma estória de memórias. Eu queria me descrever, assim mais ao menos desde que nasci até no aqui deste instante. 
Mas tem tantas coisas que eu já esqueci que vou só ficar numa estória de lembranças. Essas que a minha cabeça se lembra, essas que deram lugar ao presente e quem sabe eu vou usar no futuro. Uns aí vão só pensar eu eu sou assim que só tem coisas boas, que nunca esfolou joelhos, nunca morreu de amores, nunca sofreu dor de alma. É que tem coisas que eu já nem me lembro como é que vou escrever de memória? Se escrever linearmente vão ver que a minha caminhada foi cheia de curvas, cheia de coisas que são agora surpreendentes mas que na altura eu achei era só mesmo normalidade. 
Eu tive dificuldade em deixar a adolescência. Eu queria continuar a ser inocente, assim como que um anjo sem asas e muito bem comportado. Eu não tinha um bando, eu tinha um quarteto de amigos que armávamos a barraca e riamos que nem perdidamente. Brincávamos na rua até noite dentro. Hoje me olho e são essas as únicas lembranças que tenho. 


Sanzalando