26 de maio de 2025

O banco do picadeiro

Todas as tarde, eu passava pelas praças da cidade, sempre  sem pressa, olhos ao calhar olhando que desse para ser visto, meus passos eram curtos, até parecia tinha medo de gastar o tempo. Já nem me lembrava do banco de madeira descascada, ali perto da fonte seca, no picadeiro onde meus avós passeavam ao domingo, onde um dia jurei amor eterno através de um canivete e desenhei um coração com o nome dela dentro.

Passaram-se tantos anos. Tantos que ela já nem deve lembrar eu existo. As cartas, os poemas, os passeios que dei sem lhe tocar para lá do olhar, com uma vontade enorme de lhe  entrelaçar as mãos, mas com mais medo e aprisionado desejo, reprimi com medo de uma cena que nem filme de cinema nunca visto..

Um dia, sem aviso, ela desapareceu. O banco ainda deve estar lá. Onde me sento na memória dos meus passeios imaginados. O vento trouxe-me um cheiro leve de buganvília ou ela não tem cheiro e eu sonhei e daí eu me lembrei dela, destes anos repassados e sem sinal dela.

Fecho os olhos por segundos. Por um segundo, ela voltou. Não como antes, mas como memória: suave, morna, volátil e quem sabe amarelecida pelo tempo.

Sorri. Levantei-me da memória e segui a minha vida como se nada tivesse acontecido, como se o banco do jardim não existisse, nem a gravura feita pelo meu velho canivete que ainda trago no bolso.

O amor esquecido não doí mais. Só me faz companhia.


Sanzalando

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