Naquele tempo, o parque infantil e a avenida eram de terra vermelha batida. Quando chovia não viravam um lamaçal danado como as ruas e zonas de terra batida normal. Quando fazia sol, o pó se grudava na pele das pernas desnudadas e parecia tinha meia avermelhada. Mas ninguém se importava ou achava bem ou mal. Era ali que a gente se encontrava à tarde, depois da escola. Ela por ali que a gente brincava às escondidas, à apanhada, polícias e ladrões, jogava à queimada ou simplesmente sentava a contar anedotas. Tinha sempre alguém que tinha jeito. Também tinha dias que se tocava viola e se cantava. Outros dias tinha um trazia uma bola de de cabedal quase careca de uso geracional diverso e se jogava um campeonato inventado com regras definidas no início de cada jogo.
Ao final acabado da tarde as mães gritavam das janelas ou varandas :
- já está tá escuro! Vem pra dentro!
Ouvíamos mas fazíamos de conta que não. O tempo passava depressa demais quando estávamos junto.
Acendiam-se as luzes da rua mas os ouvidos continuavam surdos selectivamente para o chamamento materno.
Às vezes, sentávamo-nos no lancil do passeio só para conversar. Falávamos de tudo: dos sonhos, dos medos e de aventuras que só existiam na imaginação. Riamos de qualquer forma e por qualquer coisa e, mesmo sujos de poeira e com o joelho esfolados, parecíamos os meninos mais felizes do mundo.
Hoje, quando passam pelas mesmas zonas, através da memória, sabemos que continuam iguais, silenciosas porque não ouvimos as nossas vozes nem as nossas gargalhadas e muito menos o chamar das mães para irmos para casa.
Sentimos saudade daquele tempo. Saudade da liberdade simples, das amizades sinceras e da alegria de brincar sem pressa. Sentimos saudade e ao mesmo tempo alegria. Foi aquele tempo que nos fez.
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