1 de novembro de 2025

Hoje é dia de todos os santos

Hoje é Dia de Todos os Santos.  Foi o calendário a lembrar-me disso, com a solenidade de quem carrega séculos de devoção, procissões, velas e flores, já que se mistura como o dia de finados que me tinham dito que era amanhã, quando eu ainda era menino de acreditar em tudo o que me diziam. É um dia em que se fala de céu e de eternidade, de virtude e de milagres. Mas eu, que tenho o hábito de procurar o sagrado nas pequenas coisas, penso noutros santos, os meus santos de carne e osso, que ainda andam por aqui, que ainda me dizem bom dia e me desejam um optimo dia pela frente, mesmo que não tenham Santos no nome.

Penso na Dona Mariana, vizinha da casa ao lado, que todas as manhãs varre o passeio e cumprimenta o mundo com um “bom dia” que parece uma bênção transportada no sorriso natural.
Penso no meu amigo Joaquim, que nunca chega a horas, mas chega sempre com um sorriso e um café quente quando mais preciso.
Penso nas professoras dos meus sobrinhos, que ensinam letras e paciência em doses iguais, e que, sem auréola nem incenso, salva pequenos futuros todos os dias. Penso nos meus colegas que ainda acordam cedinho, nos dias feriados como de semana fossem para vestirem as suas batas brancas e irem desensofrer os sofredores de maleitas e outras desfeitas. Penso naquelas pessoas qe mantém a rua limpa para eu passar em respiração normal e não em apneia. Penso naquele que de madrugada faz o pão para eu comê-lo fresco, quente, manhã cedo. Penso em tantos que nem as letras deste computador chegariam para os nomear.

Esses são os meus santos.

Não estão em altares nem em vitrais coloridos. Estão na rua, no autocarro, no supermercado. São santos do quotidiano, canonizados pelo afeto e pela coragem silenciosa de continuar.

Neste dia de Todos os Santos, há quem vá ao cemitério levar flores aos que já partiram. Eu levo o coração cheio de gratidão pelos que ainda cá estão, os santos vivos, os que me emprestam a sua fé quando a minha se distrai.
Talvez a santidade não seja um prémio póstumo, mas um gesto simples, repetido mil vezes com amor: ouvir, cuidar, partilhar, perdoar.

Por isso hoje acendo uma vela, não no altar, mas no pensamento, por todos os santos que vivem comigo.
Os santos anónimos.
Os santos imperfeitos.
Os santos que ainda me telefonam, que riem das minhas trapalhadas, que me lembram que a vida, mesmo sem milagres, já é uma bênção.



Sanzalando

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