recomeça o futuro sem esquecer o passado

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22 de agosto de 2010

um outro dia

Bate o sol forte nas minhas costas. Já me ardem. Mas eu não tiro os olhos do além para lá do que consigo ver. Uma ou outra gota deste mar que me separa e me trás recados na crista da onda me vai refrescando o corpo. O olhar continua fixo como fixas são as ideias. Esperança que um dia eu vou conseguir dar o salto do olhar para o real essa eu não perco assim do pé para a mão.
O sol já me fere as costas mas desconsigo mover-me e tentar esconder-me numa sombra de memória e ali ficar.
Me atiro ao mar sem mover um músculo, apenas fingir e consigo refrescar-me. Um dia eu vou atravessar este mar...


Sanzalando

17 de agosto de 2010

tempo de nuvens

As nuvens voltaram e parece têm vontade de continuar por aqui a querer imitar o tempo de lá. O tempo já não é o que era. O tempo, intervalo entre dois instantes e, o tempo, frio do calor tropical que cacimba em todos os meses do ano são agora memórias de outros tempos porque os tempos modernos já não são assim.
Tudo a propósito do despropósito de estar a ver o mar fardado em trabalho que nem deixa olhar para o lado para ver se o biquíni azul anda por aqui num qualquer boca de sapo que não é a história de carochinha que me contaram no tempo em que eu acreditava em duendes e desconhecia doentes.
Mas os tempos novos são tempo que num futuro se hão de escrever com palavras que agora ainda não foram inventadas, porque tendem a ser tempos pós-modernos.
Afinal as nuvens não me deixam ver o mar, a farda não me deixa ir espreitar o mar e o tempo não me mostra mais o mar que foi o meu passado.

Sanzalando

13 de agosto de 2010

levando na memória

Me sento na areia que voltou a escaldar a minha sensível e avantajada bunda. Mas rapidamente esqueço esse incómodo porque aqui o corpo ficado a mente viajou para lá do que vista vê. Me deixei só levar por ventos e marés que aqui não sopram nem me arrastam o físico mas apenas o metafísico da minha resistência em sobrevivência. Cheguei ao meu porto de abrigo, atraquei na minha marina de águas calmas eme deixar levar para caminhos que apenas me lembro de memória. Um rio que corre como se tivesse vontade de se diluir no salgado mar do meu encanto. Um duna de cor doirada que cresce parece tem vontade de chegar ao céu e dizer no Arquitecto que lhe tocou apenas com a força dos grãos soltos de areia. Um ar quente que vem de leste e trás o zumbido dos mosquitos que teimam em me devorar por dentro no seu silêncio de me sugar o sangue. Um perfume ocre duma terra molhada que foi alagada para lá das montanhas que aqui não vejo.
Me sento por momentos e me deixo levar para as recordações que me alimentam no dia a dia dum dia que há de chegar, espero não tarde de mais, espero não depois do entardecer da vida.


Sanzalando

11 de agosto de 2010

hoje estou assim

Sentado por aí fingindo que ouço o marulhar disfarçado de choros e gritos calados de dor. Indiferente passo, ar altivo e finjo que estou na minha praia a olhar o azul mar que se estende até lá. Ninguém repara que as minhas lágrimas escorrem pela face, que a minha voz austera e certeira é uma voz tremulamente disfarçada em voz de gente dura. Faço o que sei, são horas já de esforço e o sorriso de gente serena está gravado na cara como se fosse uma tatuagem.
Os olhos tremem, as mãos estão certas nos movimentos delicados, a voz rouca faz de conta é do ar condicionado. As decisões são ao segundo. Hesitações são inexistentes. Aparentemente.
Que saudades eu tenho de ver o mar...

Sanzalando

10 de agosto de 2010

um hoje

Ouço o mar no seu marulhar e me deixo levar de pensamento em pensamento como se fosse um ser em descanso. Não estou e nem quero estar na moda. Nem me interessa seguir a tendência actual, seja lá o que é que é isso. Hoje não me deixo levar pelo infinito presente do facebook, HI5, blogs e sei lá que resma mais de coisas aparecem para me baralhar.
Hoje apenas quero o presente infinito pessoal de ser o meu presente perfeito carregado de imperfeições e delírios.
Hoje apenas quero deixar-me levar nas minhas mentiras que se misturam nas minhas verdades e deixar rolar as lágrimas que chorei ou as que vou chorar um dia.
Hoje... faz conta não estive aqui.

Sanzalando

9 de agosto de 2010

Mundo imaginário

o Mundo Imaginário existe. Por isso é que os sonhos não dormem. Os sonhos são os degraus que o mundo real perdeu. Ou se calhar não, serão apenas o mundo imaginário da razão. Acho que me meto em assuntos que me transcendem. Eu tenho sonhos e realidades e tantas vezes não sei onde uma acaba e começa outra e não é por isso que estou preocupado. Os pesadelos se calhar sãosonhos prisioneiros.
E os meus sonhos são pedaços de palavras escritas a tinta na minha alma.
Eu tenho um mundo imaginário que escrevi com as minhas palavras em traços perfeitos de simetria e rima.
Eu tenho o mundo imaginário em que Adão não foi enganado por Eva e nem há maçãs envenenadas. Nem os sete anões brincaram com a Branca de Neve nem os três porquinhos fizeram gato sapato com o lobo mau.
Eu tenho um mundo imaginário que pode ser uma pomba como pode ser um beijo que te dou no desejo.
Eu tenho um mundo imaginário que se desnuda em cada palavra que me faz chegar a ti.

Sanzalando

8 de agosto de 2010

Domingo de olhar

Sentado na minha pedra como se fosse ela a minha cadeira real, imóvel perante o ondular do mar, silenciosamente ouvindo o marulhar, sinto o teu corpo a aproximar-se, adivinho o teu perfume, transpiro com o quente que me irradias e os meus olhos, como dois cristais, viajam através de todas as distâncias, contornam recordações, deslindam ilusões e eu, num momento fragmentado de tempo chego-te como se estivesses ali, à mão de semear, como dizia a minha avozinha.
Sei as tuas cores, odores e sabores.
Sei o teu quente num cacimbo de disfarce.
Sei o teu perfume num misto enjoado de doce e acre.
Enfim, sentado na minha pedra estou na minha janela de mundo a olhar-te como sempre estive na minha vida.


Sanzalando

7 de agosto de 2010

51 - Estórias no Sofá - três na vida de dois

Era assim como que uma vez um homem que se tornou vendedor de tecidos, daqueles que vinham da Europa e eram fabricados na Ásia e seus arredores, que o mundo é redondo eu eu não posso dizer que eram tecidos dos quatro cantos do mundo, estava casado pela terceira vez com uma linda mias linda mulher.
Com a primeira viveu doze anos de intensa felicidade, uma delícia de vida se é que se pode saborear assim a vida. Com a segunda foram 18 anos de divina vida de paz e amor.
Mas na verdade nada se comparava com a beleza desta terceira mulher. Ele já cansado de tanto trabalhar, não havia dia que não vendesse um metro dos tecidos mais lindos que toda a terra podia ter tecido.
Não, no primeiro dia do ano era sagrado que nem a porta se entreabria. Era o único. Todos os outros podia ser dia de vender. Mas eu falava que ele já cansado olhava intensamente para tanta beleza. As forças faltavam mas o olhar se mantinha assim como desde que se lembra. Não se cansava de olhar para a sua terceira mulher. Mas cada dia ele a via cada vez mais triste. Um dia lhe perguntou:
- Maria, tu sabes que te amo, porém ver-te triste faz-me lembrar que a tua juventude está a murchar. Nada do que eu faça ou te diga te dá alegria. Diz-me só mesmo o que é que tu desejas e tudo o que eu puder te satisfarei?
- Tudo, mesmo assim com as consoantes e vogais?
- Sabes que nunca te menti e não vai ser hoje o primeiro dia.
- Coração, tu me levas o coração, mas os meus sentimentos mais quentes de intimidade têm ardores insaciáveis, para não dizer que são fogos terríveis, difíceis de apagar.
- Precisas dum bombeiro que eu já não consigo nem atear fogos, quanto mais apagá-los?
- Sabes que só te amo a ti, mas se tiver que haver um outro bombeiro, eu prefiro escolher...
- Aponta-mo que eu lhe vou convidar e contar o nosso dilema antes que se faça tragédia.
- O vizinho, coração, esse que me segue em cada olhar...
E lá foi o homem dos panos e tecidos fabricados em toda a circunferência do mundo, falar com o seu vizinho
- Jovem, ao que sei andas a galar a vizinha dos panos...
- E quem o não faria a tanta beleza?
E lá o homem dos tecidos e panos contou as tristezas da mulher e a sua velhice que apenas não afectava a vista.
- Vem comigo, jovem, e que a vida siga o seu destino. disse o velho com a voz sumida.
em casa, feitas as apresentações, o homem dos panos e tecidos se preparava para deixar os jovens sozinhos quando a sua linda e jovem esposa lhe disparou:
- Coração, me deixas aqui em casa com um desconhecido? Todos os meus prazeres têm de ser teus também, adorado esposo. Fica.
O que se passou naquela casa eu não sei que eu não fui convidado para ver e ninguém me quis contar. Apenasmente sei que todas as semanas o jovem vizinho entrada ao entardecer e saia madrugada alta da casa do homem dos panos e tecidos fabricados em parte toda do mundo.
E foi aqui que me lembrei que o Nietzsche disse que em último caso amamos o desejo e não aquilo que desejamos.

Sanzalando

5 de agosto de 2010

Soletrando

O mar se atira na rocha como quem não tem medo de se magoar. Parece ele quer atirar para longe as pedras que se lhe atravessam no caminho. Eu queria sem assim como nem o mar. Teimosamente me atirava contra as minhas ideias até elas se moverem em direcção à realidade que eu sonho. Mas eu não tenho a força do mar e nem a sua teimosia. E dos meus sonhos eu apenas sei soletrar ideias soltas porque faz tempo eu já perdi a fronteira entre essas duas minhas realidades. Sonho e vida. Acho ambas se misturam como se mistura o silêncio das pedras na quietude do meu deserto que faz tempo não sei mais é amarelo ou dourado.
Aqui fico soletrando sonho de realidade e realidade de sonho. Um dia vou conseguir dizer sem me enganar, sem deixar a língua se enrolar na emoção e sem que uma lágrima me caia dos olhos e se misture nesse mar que é meu sangue.


Sanzalando

4 de agosto de 2010

e eu ia falar de mais o quê?

Me sento sobre as pedras da imaginação. É, há ideias que calcificaram e que fazem parte de mim como mexilhão da rocha. Mas estava eu a falar que estava eu sentado sobre minhas ideias fixas quando me saltou uma ideia pululante: as mulheres se casam de branco para saltar à vista porque quase toda a gente vai de muitas cores e a dar para o escuro ou para o brilhante para tentar sobressair da noiva. Aí me lembrei que a areia da praia também tem muitas cores a contrastar com os poucos azuis do mar. A areia quer chamar a atenção em relação ao mar. Só pode ser uma questão de ciúme. Digo eu que tenho ideias fixas e hoje me apeteceu saltitar nas ideias saltitonas do nexo ausente. As praias que não têm areia ficam assim com muito menos gente, os solitários, introspectistas ou quem não gosta mesmo de cor.
Com isto tudo me perdi e lá fiquei a olhar para uma imagem da memória de biquíni azul a se bronzear na praia que hoje deve ter acordado por trás da cortina de cacimbo.

Sanzalando