recomeça o futuro sem esquecer o passado

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21 de fevereiro de 2011

discurso directo

- Onde andas?
- Por aí. Perdido algures entre o mim e o eu.
- Deixas-nos preocupados. A tua falta é sentida...
- ... mas se habituam.
- Que te acontece quando não apareces?
- Também sinto saudades, angustia e muito pavor por vezes.
- Pavor?
- É. Olho-vos, vejo-vos, sinto-vos e não me sai uma palavra para vos dizer. Tremo. Choro por dentro e as palavras continuam invisiveis na minha cabeça.
- Mas ao menos diz olá.
- E quando voltas?
- Um dia destes, como sempre. Normalmente quando me passa o medo do silÊncio.

Sanzalando

17 de fevereiro de 2011

choro soletradamente

Soletro palavras soltas em voz desafinada ao ritmo das lágrimas choradas em silêncio. Mais uma vez mergulho na nostalgia, nado na saudade e bronzeio-me no arrependimento. Mais uma vez faz anos que te deixei, sei lá porquê, sei lá a razão que o meu coração falou mais alto que a cabeça, se hoje estamos todos cada um para seu lado e se calhar até, de costas voltadas uns para os outros, na tentativa de nos enganarmos com a ideia que não sabemos da existência uns dos outros. Eu penso que vocês nem sabem que eu existo. O mesmo se deve passar com vocês. Digo eu que não sei porque estou à margem de vós. 
Tu lá longe, de chuva ou tropicalmente quente, finges que desconheces a minha existência, quando eu sei que tu me olhaste faz agora anos, num olhar fixo de quem quer ver o que vai acontecer e infelizmente não aconteceu nada.
Tu aqui, mais perto, sei que nunca mais te passou pela cabeça saber de mim. Merecido, digo eu que não sou de intrigas, nem acerto num alvo de presunções.
Como vês, aqui estou eu a soletrar palavras vazias num eco surdo de memórias.


Sanzalando

16 de fevereiro de 2011

memória que ainda me lembro

Caminhei por aí perdido em destinos vazios carregados de nadas. Caminhei ouvindo vozes, conselhos e truques e cegamente segui em frente numa parábola de contradições e finais errantes.
Hoje olhei e reparei que não tinha saído do mesmo sítio. Estava apenas mais cansado, mais curvado e com a face mais marcada de tempo gasto.
Me disseram que os meus olhos eram brilhantes. Tenho memória de ter ouvido isto. Assim como também me lembro de ter ouvido dizer que até o meu olhar sorria.
Me disseram que eu não falava, eu cantava palavras de fazer rir. Tenho memória de me ter sido dito que a minha voz era tranquilidade em forma de som. 
Me disseram que o estar parado não era lugar em mim. Me lembro de correr mundo mesmo sem sair do meu canto.
Pois é, estou marcado pelo tempo e ainda estou aqui, no sítio que eu pensava era passagem.


Sanzalando

15 de fevereiro de 2011

me disseram

Me disseram num baixinho tom que tu andavas à procura de palavras para me dizer. Te digo já que suou a falso. Não existem palavras baixinhas para dizer segredos que já deviam ter sido ditos faz mais que tempo. Não existe medo de magoar com verdades quando as verdades são ditas na hora. Me disseram num sussurro, que eu penso, estavam era a inventar para ver se eu ficava calmo e deixasse de te chorar tanta ausência. Mas te respondi, mentalmente ao mesmo tempo que te sorria na memória, que o amor sabe que existe assim como se fosse um clique mesmo de silêncio.
Me disseram tanta coisa num sussurrar de frases incompletas que eu até penso estava a dormir e sonhei de sonhar mesmo de quem dorme.
Me disseram infindáveis ofensas que eu acho não há caixa para guardar tantos ruídos transformado em palavras.
Ah! eu acho estava mesmo a dormir e não me disseram nada, era sonho de dormido profundo.

Sanzalando

13 de fevereiro de 2011

silêncios

Se eu pudesse ver os teus olhos, certificar-me do teu olhar e misturar-me no teu paraíso, eu seria feliz. Se eu fosse o teu universo e odor do teu perfume, eu seria feliz. Mas eu não sou mais que a minha saudade e as lágrimas o meu brilho pelo que eu não sou feliz.
Se eu pudesse ouvir os teus sons e adormecer no teu colo, eu seria feliz. Se eu fosse o teu pôr de sol, transpiração do teu calor, eu seria feliz. Mas mais não sou que a minha sombra nostálgica e o sorriso forçado duma alegria que não tenho.
Se eu não pudesse calar a minha voz e libertar-me desta prisão eu nunca seria feliz. Por isso dedico-te hoje um silêncio.


Sanzalando

12 de fevereiro de 2011

deserto-me

Atirado sobre a areia da praia descanso o corpo. Neste momento me vem à cabeça a ideia que a beleza do deserto é o silêncio e com este se compreende montes de coisas. Assim como a música é capaz de mudar montanhas de coisas. Contradigo-me na certeza de ter duplamente razão. Deserto de música. É essa a minha grande capacidade: não conseguir dizer uma única nota musical afinada. Por isso prefiro os silêncios. Mas gosto de ouvir música. Bolas para mim e mais uns quantos eus que não se entendem. 
Atiro-me de cabeça para o deserto de ideias e me deixo ficar no silêncio duma clave de sol que imagino estará amanhã como por aí deve estar hoje.

Sanzalando

11 de fevereiro de 2011

uma questão de tempo

Estou cansado. Sento-me  e atiro olhar para além do mar. Me embalo no marulhar e invento uma canção em que o teu nome rima com escola e sacola e argola e rebola e embalo-me num ritmo frenético de quem vai entrar em transe. Paro e penso que mais uma vez foi a loucura que quis tomar conta de mim. O mar está calmo que nem ondas batem nas rochas que o encravam noutras situações. O vento não sopra para além duma suave brisa que me perfuma de maresia. Porquê esta minha entrada? Deve ser porque estou cansado e vejo o tempo voar como se fosse uma gaivota ou uma andorinha do mar sem rumo certo.
Não, isso apenas me faz descair uma ou outra lágrima silenciosa. 
Não, para eu cantar assim uma invenção de palavras soltas em turbilhão de ritmos, tem de haver outra razão.
Me recosto na espreguiçadeira, atiro o olhar ainda mais para o profundo deste mar, e procuro razões de encantar que me levam a cantar nesta voz que me faz calar. Acho mesmo é só porque estou cansado de ver o tempo morrer atrás de mim e o que sobra não vai dar para compensar.
Abrando-me e assobio num ritmo calmo de quem nunca soube assobiar. Não canto nem assobio. Afinal para que é que eu sirvo quando não tenho tempo para deixar passar o tempo?

Sanzalando

10 de fevereiro de 2011

tentarei

Olhei para o meu álbum de memórias, aquele que trago na cabeça e onde aponto tudo o que me é relevante no instante mesmo que depois seja apenas um amontoado de pó memorial, e vi o teu perfil desenhado como se um mapa fosse e olhei, re-olhei e procurei deixar de olhar e desconsegui. Caiu uma lágrima porque senti a falta do teu olhar sobre o meu e mais uma vez tentei fechar o álbum e descosneegui. Outra rolou silenciosamente por entre os pelos da minha barba desleixadamente deixada de fazer, a crescer por revolta ou apenas por preguiça. Mas a tua imagem perfilada sobre os meus olhos maltratavam-me num torturante modo de estar. Olhei para o céu e procurei que azul pálido me desorganizasse o pensamento e eu voltasse ao normal. Mas o teu sol brilhou ainda mais forte dentro da minha recordação. Abandonei-me e fui atrás dos sonhos que inventei e acreditei que um dia a minha estória ia ter um final feliz. Lembrei-me de ti no perfil que vi na minha memória e chorei e rabisquei mais umas tantas linhas. Tantas que até um dia  vou conseguir encontrar esse feliz final.

Sanzalando

9 de fevereiro de 2011

me embalei

E elas se zangaram quando me viram caminhar mar dentro. Devem ter pensado eu era louco e pensava tinha virado divindade que caminha sobre o mar frio dum inverno desgostoso. Mas eu apenas estava a molhar os pés para ficar um niquinho mais perto e assim sentir o teu perfume. Recuei e pensei que tudo o que é perfeito está contido dentro dum sonho e me sentei em terra firme e me embalei em sonhos.



 Sanzalando

8 de fevereiro de 2011

foi tanto o tempo que perdemos

O silêncio é o meu choro calado num degrau da vida. Quase diria que estou na fase do silêncio, na fase chorada de mim. Já sei, aqui é inverno e o teu calor não me afaga e para lá da linha que nos separa existe também o medo calado de ter uma aventura que me afaste da realidade.
Hoje me apetece chorar. Hoje faço silêncio como se tu fosses a minha amada desaparecida nas rugas do meu tempo. Os meus olhos humedecidos escondem a humidade temporal que nos separa, a verdade que nos destroi a ausência que nos apaga.
Hoje me apetece fazer silêncio sobre o tempo que perdi ao mesmo tempo que rego a esperança com as lágrimas que não verti.
Afinal de contas o meu silêncio é o meu choro de um dia de outros tantos, uma miragem na paragem das minhas lembranças. O meu silêncio, travestido de lágrima, te eleva ao céu na exacta proporção de te ter como diva. 
Um dia, já sem os olhos cheios de lágrimas, já sem a vista enublada de amor, olhar-te-ei e te direi baixinho: foi tanto o tempo que perdemos.


Sanzalando

6 de fevereiro de 2011

Domingo

Sem palavras porque sem voz ou sem voz porque não tenho palavras. Acho cheguei ao ponto farto de soletrar lágrimas. As lágrimas têm som salgado. Salgado mar que me deixas aqui em terra, do lado errado desta margem que não me dá margem de manobra.
Aqui estou sentado à espera qual aranha num túnel de esperança escurecido pelo tempo.

Sanzalando

3 de fevereiro de 2011

eu sei

Me sento por aqui e desato a pensar que eu sei o que é amar sem que o outro lado saiba que eu existo. Eu sei quando é que é o teu dia, o ano, se a chuva te atrapalha ou te embeleza. Eu sei que estou para ti como se tu estivesses para mim mesmo que eu saiba que tu não sabes que eu existo.
Eu sei que estou por aqui escrevendo as minhas letras como quem procura num labirinto as respostas para todas estas minhas certezas.
Olho silaba a silaba, porque me cansei de olhar letra a letra, e tu não estás presente a não ser na memória da minha infantilidade.
Eu sei que os dias passam e por isso me sento.
Eu sei que um dia receberei uma resposta ou um sinal, só não sei é se terei tempo de lhe responder.







Sanzalando

2 de fevereiro de 2011

com ou sem óculos,bebo um café banal

Sobre o nariz coloquei os óculos. Tento ver para lá da linha do horizonte e, porque me disseram, sei que não a verei, se não assim como a vejo agora. É que depois daquela linha é o abismo, não existe nada. Vazio absoluto, me garantiram. Tiro os óculos e a névoa se instala num automatismo impressionante e a linha do horizonte que deixei de ver deixa de me preocupar. Ponho os óculos, de ver ao perto e não vejo para além duma palavra porque as outras calei e não soletrei. Retiro aqueles e ponho os de ver ao longe e nada porque a chuva mental cega-me. 
Bebo um café e tiro outro para ti e ambos, na beira da cama, conversaremos sobre coisas banais como fazem os casais nos domingos cinzentos de qualquer dia da semana.
Falo-te dos meus sonhos e tu finges que ouves assim como eu darei toda a atenção quando tu falares, mesmo que eu não te ouça.
Ponho os óculos progressivos e espero progressivamente ver qualquer coisa que valha a pena.

Sanzalando

1 de fevereiro de 2011

mês 2 e ideias nem vê-las

Entrados no mês 2 do ano de 2011. O corpo gelado tremelica que nem caniço em dia de vento, o nariz pinga que nem dia de chuva, a voz cala-se que nem sussurro de vento abafado numa caverna perdida num planalto da vida. Ideias é que nem uma. Nem amostra em formato reduzido. Acho mesmo estou cacimbado num exagero dum fotografo memorial.
O zulmarinho não me cheira, o zumbido dos ouvidos não me deixa nem ouvir-lhe e o lacrimejar do H1N1 não me permite nem vê-lo.  Ideias é que nem uma.
Me afundo num sofá, ligo a Tv e o polegar percorre canal a canal. As imagens quase se sobrepõem e idéias é que nem vê-las.
Me atiro na cortina do tempo e espero como se ela fosse uma rede de descanso.
Ideias hei-de tê-las 


Sanzalando