recomeça o futuro sem esquecer o passado

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29 de dezembro de 2017

era. é. será

Me sento sob chuva a olhar o mar. Zulmarinho parece é sossego de não querer nem mexer-se. Me penso em voz alta: como foi o ano?
Quê?! Vou fazer balanço? Despensa disso. Foi. Passado. Era. Não se faz balanço que enjoa e o mar hoje não balança nem marulha. É sossego só dele mesmo.
Passado é alicerce do futuro e ponto final. Não faço parágrafo porque tenho o presente para viver. Hoje acordei assim: presentemente.


Sanzalando

25 de dezembro de 2017

uma ultima estória de natal

Sou João, de nome próprio e impropriamente me chamam outras coisas, e todos os anos faço o mesmo nesta altura do ano: engordo. Eles são fritos, doces, guloseimas das mais variadas formas e sabores, para além duma lista de nomes de comida propriamente dita, digna deste dia como polvo no forno com batata a murro, ou só este mesmo o que incha o que vai dar ao mesmo. Uns ganham Iphones, cachecóis ou meias, roupa de inverno ou para o verão que há de vir. Eu ganho peso. Original. Mas o meu nome continua a ser João, e todos os anos por esta altura é o mesmo filme.
Hoje é Natal e o espírito está no ar. É amor espalhado no ar, nas sensações e emoções, nos olhares e nas estrelas, se não fosse dia e não estivesse nublado.
Hoje andamos de sorriso na cara porque é Natal. E eu mais gordo, também


Sanzalando

24 de dezembro de 2017

ainda outra estória de natal

Hoje sinto-me como se tivesse apagado a última gota do que existia em mim. Cortei as correntes e as joguei ao mar.
Da Galileia chegou-me a notícia que três gajos magros que seguiam uma estrela, das dez que usam Lux, montados num Camel de tracção às quatro, de ar condicionado ao exterior, ainda estavam longe de chegar à Nazaré, onde uma senhora havia gerado uma luz através dum parto.
Atento segui as notícias. Tudo o que era rádio, televisão e smartphones estava sintonizado para o Oriente Médios que fica um pouco antes do Oriente propriamente dito e eu atento a todos eles. 
Os gajos magros faziam-se acompanhar de incenso que serve para purificar o ar, de commiphora myrrha, conhecida simplesmente por mirra, e cujas resinas têm efeito anti-inflamatório, antisseptico, analgésico e aromático, o que é muito bom para entorses, torcicolo, nevralgias e dores de garganta, para além de ser um bom desodorizabte e de outro que serve para fazer compras e embelezar. Isto deixou-me preocupado. Três prendas para uma luz que haveria de ser dada à luz num estábulo da Nazaré.
Foi aqui que fui ao fundo até às correntes que havia jogado ao mar.
Ai me lembrei o que um meu mestre sempre me dizia, em caso de risco não desesperes, olha para cima e encontras a luz. De facto quando amanheceu eu via a luz, do dia e estava marcadao para esse o tal parto na Galileia.


Sanzalando

21 de dezembro de 2017

outra estória de natal

Meu nome é João, muitos me chamam de Jota e desde pequenino que aprendi a olhar o presépio. Sempre adorei ver aqueles minúsculos bonecos a representarem séculos de tantas histórias, verdadeiras ou frutos de grandes imaginações, pagãs ou religiosas, culturais ou só porque sim. Umns mais ricos que outros, uns mais fantasiosos que outros mas todos a representarem um dia como se fosse o único dia do ano. 
Mas a verdade é que sempre gostei de os ver. Cheguei a estar horas a ver. Nos bombeiros da minha terra sempre tinha um grande. Acho que ainda é o maior que já vi. Pode ser que naquela idade qualquer coisa me parecesse enorme. Mas recordo-me dele e é importante isso, porque desde pequeno que aprendo a lidar com a vida e todos os seus presépios. 
Umas palmadas aqui, um elogio por ali, uma queda, um levantar dorido, às vezes rápido e outras com vontade de ter morrido ali por aquele instante de dor, mas com o ensinamento da vida fui vivendo a olhar presépios. Representações de um dia, reais ou ficcionais.
Ao longo dos tempos fui notando que as dores são diferentes, umas duram outras são passageiras, uma cicatrizam com cicatriz e tudo, outras passam até na fase do esquecimento. Assim como os presépios guardados em caixas até no proximo dia de usar outra vez, igual ou diferente, com os mesmos bonecos, pagãos ou religiosos.
Às vezes basta um olhar de relance, um abraço sentido e a dor mais dorida como que voa e a vida continua mesmo que não tenha um presépio para admirar.


Sanzalando

19 de dezembro de 2017

a minha estória de natal

É estória de Natal. Não vou comprar presente. Nem um. 
Não conheço Jesus, esse que nasceu no dia 25. Só mesmo de ouvir falar dele. Se eu lhe conhecesse eu lhe dava um presente. Vários até. Lhe dava discos da Marisol, filmes do Josélito, albuns do Ádamo ou do Art Sullivan, Rita Pavone ou Giani Morandi ou se calhar de Jacques Brell. Ou então podia ser mesmo só os cartazes do cinema. Acho de Jesus ia gostar. Imagina ele sentado no balcão do Cinema do Eurico. Judeu loiro e olhos azuis, feito super star a cantar um dueto com Aznavor. Oh, ia ainda lá no fundo uma de Piaf. 
É só estória de Natal que vem na memória o filme do Ben Hur.
A neve que cai nos presépios mesmo dos trópicos. 
É na estória de Natal que a gente vê a quantidade de gente que passou ao longo do nosso ano e que se perderam no tempo e com dificuldade a gente se lembra até do nome. 
Cumpri o meu dever e contei uma história de Natal que escrevi como estória da minha memória dos carros de plástico feito e que eram até perfeitos que a gente nem lembra mais a marca.
É uma estória de Natal que a gente faz falar bem, mesmo sabendo que amigos teve que não passam o natal porque se foram antes para incertas partes da vida.
É uma estória de Natal que até tem uma árvore que safadamente me pisca como que a querer que eu lhe sorria.



Sanzalando

15 de dezembro de 2017

palavras não tem

Procurei umas mil letras para umas centenas de palavras. Escrevi-as em verso e em prosa. Palavras que me definissem, que fossem o reflexo do circunflexo ano da minha vida. Porém não as encontrei por mais rascunhos efectuados, por mais tentativas feitas.
Tentei descrever-me e contar-me o quanto sou maravilhoso. 365 dias deste ano que o fui. Entusiasmei-me e na emoção me perdi.Renunciei todas as palavras, risquei todas as letras. Vivi.
Porque ao fim e ao cabo um ano cabe em 365 dias, uns quantos sonhos realizados, umas tantas surpresas acrescidas e tanto amor vivido que bendita vida que palavras não tem.

Sanzalando

12 de dezembro de 2017

faceboquiaberto

Chove que nem amostra clínica de dilúvio. Pouco. Eu, que não sou dado como tolo fico na janela a olhar as micro-gotas que caiem vindas lá do céu, ou um bocado mais abaixo. 
Medito, quando me devia era deitar. Mas deu-me para aqui. Cleópatra, pensei eu. É que ambos temos perfil. Ela célebre pelo nariz e eu conhecido por meia dúzia no tal de facebook. Enfim, faceboquei-me. Eu escrevo post, espero um like, pelo menos um, aguardo comentários, pelo menos um. Às vezes gostava de ser partilhado. Olha, instagrei-me numa foto, twittei-me numa frase. Espero tantos likes. Espero o meu clube de fãs. Espero miles gostos. Bonequinhos. Correntes. Eu sou um faceboquiano.
Não existe nada mais prejudicial para o meu facebook, para o meu ego, do que eu não escrever nada da minha luta interna, do tempo que dedico à harmonia das palavras.
Faceboqueei-me por completo. São as notícias, são as verdades infaliveis e os prognósticos de tantos sábios. Eu não tenho tempo para me cultivar. Acho vou por coisas de lado para me faceboquear ainda mais.
Afinal de contas meditei e não me deitei.


Sanzalando

7 de dezembro de 2017

Quipola, se ainda me lembro, era assim ou mais ou menos

Hoje a minha mãe não foi no trabalho porque está a preparar o pic-nic d'amanhã na Quipola. Eu sei que vamos apanhar o comboio na estação do Sr. Alves e vamos sair lá pertinho da Sofrio, junto da Casa dos Rapazes que o Padre Dinis por lá criou. Se não estou esquecido?! Tinha outro padre novinho que foi para lá. Cristovão?! Ai que a idade de ser pequenino neste tempo todo tem partidas na memória. 
Eu sei mesmo é que vamos apanhar o comboio, vamos andar devagarinho e pertinho da Quipola ele vai parar, a gente vai sair. Tem missa e procissão. Tem gente que não sei de onde veio. Eu ia dizer era dia de festa mas acho é dia Santo. Se é dia santo é porque já morreu. Não conheço santo que é vivo. Morto faz festa. Faz sim, e é na Quipola. Tem pic-nic de churrasco, gasosa, para mim podia ser Alpine mas minha mãe de certeza leva carbo-sidral, se não for só água mesmo.
Não sei a que horas é a missa, não faço ideia a que horas é a procissão. Eu sei mesmo é que eu vou no comboio e espero elas estejam lá todas.


Sanzalando

4 de dezembro de 2017

aqui ou lá, eu vou por mim

Me deixo levar pela brisa mental que sopra dos lado sul e pelo cheiro a terra molhada, quando aqui impera a areia seca da seca.
Me deixo embrulhar no perfume mar que este chão emana, quando por lá impera a calema a água castanha das enxurradas.
Me deixo embriagar pelas paisagens salvagens dos oásis da memórias, quando por lá impera a savana e o seu fervilhar de emoções.
Neste quadro de cores garridas esbatidas em aguarelas ou tapetadas em tons cinza me decido a parar a reclamar da vida. Deixei de emburrar, de me queixar, de me enrugar por antecipação.Há coisas bem simples para fazer. Umas a gente pode e faz. Outras não e não faz. Depende ou não de mim? O que depender de terceiros isso é com eles e com os que se lhes seguem.
Por mim me deixo levar por mim, aqui ou lá, onde quer que eu esteja.


Sanzalando

1 de dezembro de 2017

eu, o frio e o lugar comum

Me disseram por aí que o frio estava cá. Eu sinto-o e por isso acredito que seja inverno. Não quero mas se é, seja. O zulmarinho está ali mais azul que nunca. Sereno e sem tilintar. Me sento em meditação ou recordação. Não consigo ver a diferença neste momento. É o mesmo que eu disser que adormeci a pensar em ti. Se adormeci não estava a pensar. Mas acredito que sim. O teu corpo junto a mim. Aquecidamente adormecemos.Era assim que eu julgo estava a pensar em ti quando adormeci. Afinal de contas eu sou um personagem da minha existência e por isso lhe posso dar lugares, nem que sejam comuns.
Cada noite me fazes falta e me acompanhas nestes aforismos paradisíacos da minha imaginação. Eu sou o lugar certo de ponto nenhum.


Sanzalando