Meu nome é João, muitos me chamam de Jota e desde pequenino que aprendi a olhar o presépio. Sempre adorei ver aqueles minúsculos bonecos a representarem séculos de tantas histórias, verdadeiras ou frutos de grandes imaginações, pagãs ou religiosas, culturais ou só porque sim. Umns mais ricos que outros, uns mais fantasiosos que outros mas todos a representarem um dia como se fosse o único dia do ano.
Mas a verdade é que sempre gostei de os ver. Cheguei a estar horas a ver. Nos bombeiros da minha terra sempre tinha um grande. Acho que ainda é o maior que já vi. Pode ser que naquela idade qualquer coisa me parecesse enorme. Mas recordo-me dele e é importante isso, porque desde pequeno que aprendo a lidar com a vida e todos os seus presépios.
Umas palmadas aqui, um elogio por ali, uma queda, um levantar dorido, às vezes rápido e outras com vontade de ter morrido ali por aquele instante de dor, mas com o ensinamento da vida fui vivendo a olhar presépios. Representações de um dia, reais ou ficcionais.
Ao longo dos tempos fui notando que as dores são diferentes, umas duram outras são passageiras, uma cicatrizam com cicatriz e tudo, outras passam até na fase do esquecimento. Assim como os presépios guardados em caixas até no proximo dia de usar outra vez, igual ou diferente, com os mesmos bonecos, pagãos ou religiosos.
Às vezes basta um olhar de relance, um abraço sentido e a dor mais dorida como que voa e a vida continua mesmo que não tenha um presépio para admirar.
Sanzalando
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