recomeça o futuro sem esquecer o passado

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4 de janeiro de 2025

agradeço

Faz tempo não me vejo no espelho. Não é no espelho de pentear ou de ver a roupa caiu bem. É mesmo no espelho de ver por dentro. Como é que eu estou? Feliz? Sorridente? Choroso? Enfim, como me vai a vida. Falta de tempo não conta porque ele simplesmente voa na velocidade de um tempo que eu não tenho mais velocidade de lhe acompanhar. 
Saudades do tempo profissional? Saudades da adolescência?  Somente saudades?
Olhando bem no espelho de mim eu desconsigo responder claramente. A neblina embacia o pensamento. Tenho saudades de gente, tenho saudades de muita coisa. Não tenho saudades de trabalhar porque isso significava que alguém não estava bem. Vou dizer tudo isso mais como? Desconsigo ter saudades da adolescência porque eu sei esse tempo não volta e o que eu sou hoje devo nesse tempo. Vou ter saudades de hoje? Eu tenho saudades de futuro, esse mistério que é daqui a pouco ou mais logo num dia qualquer. Vou tirar esse espelho e me olhar só de fora. Estou bem. 
Obrigado a mim e a quem me acompanha nesta caminhada de escrever letras vagabundas, perdidas no tempo sem tempo marcado.

Sanzalando

3 de janeiro de 2025

será

Olhando-me há anos atrás em que escrevi com outros números que o mundo não se tornou magicamente colorido só porque o 4 passou a 5, nem o virar da página trará uma montanha de esperanças ou desventuras.
Na verdade, cada ano passado senti que foi o mais desafiante da minha vida. Isto quer dizer que este vai ser ainda mais que o anterior. Ano após ano e o desafio é maior. A maturidade sobe, a realidade é cada vez mais explosiva, assim como o frio de inverno é mais frio que o frio de verão. Cada lugar tem a sua hora, cada hora um espaço e um modo de ser. Cada ano é um desafio. 
Tenho o privilégio de sorrir quando é hora de o fazer, de me calar quando acho que o devo fazer, de dizer o que tenho que dizer, de sentir o que me apetece sentir. Respiro e abraço cada momento de esperança. Continuo a aprender que cada tempo é tempo de ter tempo. Não me afogo nas cinzas de um mar revolto nem me acobardo em manhãs de sol inventado. Faço as minhas conquistas na ausência de pensar como acordarei amanhã.
Estarei morto quando souber qual o melhor ano da minha vida.


Sanzalando

2 de janeiro de 2025

ano novo vida velha

Novo ano e muitas promessas depois eis-me aqui sentado de caneta feito teclado e escrita gatafunhada desenhada em caracteres de imprensa. Sussurrei promessas, outras as fiz em voz alta e bem audível. Umas fiz interiormente, outras em público. É este o carácter do ano novo. 
Prometo solenemente não esquecer o que me permitiste saber sobre ti. Contei-te os meus medos, falei-te das minhas estórias, as que sei de cor e na ponta da língua, bem como as que tenho de me socorrer dum ou outro apontamento porque me perdi na distância do tempo. Sei de ti e tu sabes de mim. Não competimos porque o saber não é corrida nem leituras secundárias de entrelinhas. Não sei prever os teus passos e as tuas palavras, mas sei o sentido com que as dizes e o caminho que traças. Sei que sabes onde vou e entender-me-ás se te disser que quero ficar num ali qualquer.
Entendemo-nos neste dialecto que é nosso, nesta língua de silêncios e meias palavras onde a gramática está repleta de regras apagadas. Sei apenas que cada palavra que sair da minha boca é uma palavra tua. E vice versa. 
Ano novo vida velha porque cada dia é dia 31 de dezembro do ano da graça que quisermos.

Sanzalando