31 de janeiro de 2025

Falando à toa

Tem dias que as palavras são mudas, caladas e silenciosas. Tem dias que o pensamento parou num tempo vazio. Tem dias que só apetece dizer que a ilusão ou o sonho duram um instante e a realidade é constantemente real.

Sanzalando

30 de janeiro de 2025

será assim ou não

Eu não sei se algum dia às pessoas verão a minha melhor versão. Na verdade, não sei, talvez ela nunca irá existir. Eu sou esta bagunça, este emaranhado de pontos e vírgulas, de perguntas e respostas que às vezes eu consegue dar um jeitinho ás coisas.
Às vezes eu escondo a confusão e sorrio.

Sanzalando

29 de janeiro de 2025

João Villaret diz F Pessoa Liberdade


Sanzalando

Agradecimento e convidados

Sanzalando

Tesourinhos Musicais 27 Os Rocks Angola


Sanzalando

K'arranca às Quartas agradece

Programa de Rádio com palavras, livros e música  - 29 de Janeiro de 2025.  o agradecimento público a quem ajuda a fazer deste programa de Rádio um Programa de Rádio. Directora da Rádio, Isabel Costa, Anabela Quelhas, Fernando Pereira, Mário Rui Filipe, Nuno Vieira e Luis Conduto. Aos ouvintes, Carlos Matias, Rui Inácio e Abysong que aqui deixaram o seu comentário

Não perca e ouça a boa música que tenho para lhe dar Sanzalando

Programa K'arranca às Quartas 52 - Aniversário

Programa de Rádio com palavras, livros e música  - 29 de Janeiro de 2025.  tal e qual como se fez em directo para ouvir indirectamente aqui ou em qualquer outro lugar.
Este programa é especial porque é o 1º aniversário dele. Não é especial porque todos o são
Não tivemos a Crónica, não falámos de escritor ou de livro porque falámos genericamente de literatura escrita em português.
Mas tivemos os Tesourinhos Musicais que foram Os Rocks, a banda angolana que foi um sucesso em 1963 em terras lusas.
Tivemos apontamentos de colaboradores e amigos. 
Tudo imperdível

Não perca e ouça a boa música que tenho para lhe dar Sanzalando

28 de janeiro de 2025

Não fiz triste a saudade

Se o vento sopra leve e me deixo adormecer, junto do mar, eu sonho. Tantas vezes sonho contigo e com tudo o que planeamos. Tantos desses planos foram só da minha cabeça que eu já começo a pensar que nunca soubeste que eu existia, quanto mais pensava e planeava. Mas na verdade entravas sempre nos meus planos. 
Aqui, ouvindo o marulhar, deixando-me embalar pelas ondas suaves deste fim de tarde calmo e sereno, parece chove dos meus olhos umas quantas lágrimas lastimando o tempo que te sonhei e nada fiz. Essa dor de ter ficado calado, essa dor de não me ter despedido, a desesperança de te ter visto voar levando contigo o amor e deixando a solidão, me entristece, me inverte numa morte viva de tristeza.
Acho mesmo foi o melhor que me aconteceu. Não te fiz triste.


Sanzalando

27 de janeiro de 2025

poeticamente complexo

Tem dias são tempestades, outros são calmaria. Um olhar, um sorriso, uma máscara, uma moeda, coisas simples, transformam o dia.
Eu refletido no espelho não é outro lado de mim. É reflexo. Eu deste lado é complexo.
Tudo é tão simples. O coração bate ritmado. Ninguém pensa nele. Desritma e é complexo, tempestade.
Tudo é tão simples que até parece poesia no final.

Sanzalando

26 de janeiro de 2025

que pergunta faria?

Se eu pudesse te perguntar algo agora, que pergunta te faria? Quantas vezes eu pensei esta pergunta? Cada vez que dou resposta a pergunta sai diferente. É o clima, é o tempo decorrido, é o facto de não saber se quero mesmo fazer alguma pergunta que me faz com que defira ou difira a pergunta que te gostaria de fazer se alguma vez a pudesse fazer.
Eu sei que amar é um verbo que se conjuga em acções e não em palavras e muito menos em perguntas. Se te amei? Juro que agora não sei responder. O tempo passou, muitos ventos, muitas calemas, muitas quedas e muitas lágrimas passaram para poder dar uma resposta sem traumas ou subjectividades. Posso dizer-te que na altura eu morri, morri de amores por ti. Passou o tempo e a recordação foi ficando mesmo isso: recordação.
Eu não enjaulo as minhas palavras, não escondo as minhas perguntas, nem camuflo os meus sentimentos. Mas na verdade eu não sei agora que pergunta te faria se te pudesse perguntar algo agora. Se calhar era capaz de perguntar se ainda te lembras de mim, ou se o tempo estava bom para ti. Era capaz de sair uma pergunta tão trivial que tu me olhasses e te perguntarias se depois de tanto tempo eu não mudei nem um bocado. Continuo a ser o mesmo de sempre, sem malícia nem capacidade de esconder a minha natureza. Foste um pedaço de mim que um dia perdi por um caminho que nem me lembro já onde foi.
Estás viva? olha, foi o que saiu!


Sanzalando

25 de janeiro de 2025

sou humano e fraquejo

E quando num qualquer momento fico sombrio porque deixo os meus demónios invadirem-me o pensamento, o sentimento e quem sabe o olhar, interiorizo e procuro o meu lugar seguro, a minha caixa de todos os socorros, dos primeiros ao último, e sorrio num brilhar de gente que sabe que o amor não dói nem magoa, que respeita e ilumina e que se dá de livre e espontânea vontade.
E quando me sinto quase morto, num instante de qualquer fraqueza, regresso à terra, seguro a caixa de todos os socorros, respiro fundo, olho-me e logo me encontro naquele sorriso brilhante, naquele qualquer instante que eu sou um ser vivo. Isso, vivo e nem morto me quero em pensamento.



Sanzalando

22 de janeiro de 2025

Poema de Carlos Drummond por Fernanda Torres


Sanzalando

Crónicas do Kotadiano Domingos de Sousa


Sanzalando

Tesourinhos Musicais 27 Os Inflexos


Sanzalando

Crónica 40


Sanzalando

Microfone Livre 06 Ana Lua Caiano


Sanzalando

Programa K'arranca às quartas 51

Programa de Rádio com palavras, livros e música  - 22 de Janeiro de 2025.  tal e qual como se fez em directo para ouvir indirectamente aqui ou em qualquer outro lugar.

Tivemos a Crónica em que falei de vida e sobrevida, falámos de Crónicas do Kotadiano, escritor angolano/portimonense ou vice-versa Domingos de Sousa, tivemos o momento de poesia com poema de Carlos Drummond, dito por Fernanda Torres tivemos também os tesourinhos musicais com os Inflexos, a banda de Moçambique


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21 de janeiro de 2025

ternura

Deixo-me olhar o mar por tempos que perdi a conta. Ficar só assim a lhe olhar faz de conta ele me está a segredar coisas. É nesse momento que me encho de ternura, nesse refugio silencioso, nem linguagem de olhar, nessa empatia de solidão. Nesse simplesmente olhar o mar é como que abraçasse um infinito tempo que tenho de passado e o olhar da alma ternura-se.
A ternura é flexibilidade, coragem, desnecessário conquistar mas entregar os olhos com o coração dentro. Olhar o mar tem tudo isso e é um canto onde me sento no tempo.


Sanzalando

20 de janeiro de 2025

como se chama a minha saudade?

A rua tem um nome. A avenida tem um nome. Eu mesmo tenho um nome. Que raio de nome terá a minha saudade? A minha cidade, que tem nome e não me apetece agora dizer, tem perdido gente, ficando cada vez mais pequena, pois os que nascem não sabem o nome da cidade. 
A minha cidade, quadriculado pensamento, qualquer dia deixará de ser a minha cidade e será apenas uma estória que eu vivi. 
Como se chama a minha saudade? Ela é especial, pelo menos para mim. Ela não é feita de silêncios nem de tons pastel. Ela é garrida, barulhenta em festa. A minha saudade tem murmúrios, tem gargalhadas e música num rádio portátil, tem bandeiras mesmo que não estejam hasteadas ao vento. 
A minha cidade tem perdido gente e a minha saudade tem aumentado.
Como se chama a minha saudade?

Sanzalando

16 de janeiro de 2025

tem dias que acordo a pensar de memória

Tem dias assim em que a gente acorda e pensa em ti. Ó juventude que te foste!
Fecho os olhos e por segundos viajo para esse passado. Transporto-me de corpo e alma para o tempo onde olhava pela varanda e via o celeste encanto de uma existência. Esse passado é real. Foi e é já que permanece na minha memória. Não sei se os pássaros cantavam, não sei se o céu estava limpo ou nublado. A brisa que sempre sopra quando penso nesse tempo trazia-me o perfume da areia desértica ou a maresia atlântica. Tudo dependia donde soprava a brisa.
Abro os olhos apenas para confirmar que o que vivo é memória e não o agora. Como é bom ter memória dos dias que já era realizado, feliz e que conheci quem conheci.


Sanzalando

15 de janeiro de 2025

Poema O Mar Visto da Cadeia


Sanzalando

Victor Burity da Silva Autor


Sanzalando

Tesourinhos Musicais 26 Os Titãs


Sanzalando

Crónica 38


Sanzalando

Programa K'arranca às Quartas 50

Programa de Rádio com palavras, livros e música  - 15 de Janeiro de 2025.  tal e qual como se fez em directo para ouvir indirectamente aqui ou em qualquer outro lugar. Hoje está tempo de congelar sardinhas por estas bandas.
Tivemos a Crónica em que falei de livros e leitores, falámos de Victor Burity da Silva, escritor angolano recentemente falecido, tivemos o momento de poesia com poema de António Cardoso, dito por Domingas Monte tivemos também os tesourinhos musicais Os Titâs, a última banda a imitar The Shadows 


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13 de janeiro de 2025

estória de antigamente que me apetece contar hoje

Neste mês a minha mãe fazia anos. E não sei se por isso se por outra coisa qualquer lembrei-me duma estória dela. Melhor dizendo, passada com ela e só ela era capaz. Não é bem assim mas fica bonito eu dizer. Eu, que sou filho dela tenho uma parecida que se passou no Porto e por causa do cimbalino mas isso é outra estória. Hoje a personagem é a minha mãe. 
A senhora minha mãe adorava feijão macunde. Era com atum era com ovos ou peixe frito. Ela gostava mesmo de feijão macunde. Mas eu reparei que fazia meses ela não comia nem tinha em casa feijão macunde. Me intriguei mas calauda porque eu nem estava muito em casa e não podia arranjar maka. Desde que chegou no puto vindo lá da terra africana dela nunca mais comeu feijão macunde? Estava a me fazer confusão na cabeça. Um dia, não sei quanto tempo depois, mas tinha passado tempo, eu encontrei uma lata de feijão macunde lá em casa. Encorajei-me e lhe atirei:
- Mãe, temos feijão macunde para o almoço?
- Agora temos. - respondeu-me ela com um sorriso de felicidade.
- Que aconteceu. Pensei que cá no puto não havia esse feijão... - perguntei assim feito ignorante mas sabia que havia.
- Sabes que abriu ali na esquina um super-mini-mercado em que a gente compra as coisas da prateleira e não precisa de pedir ao patrão ou empregado as coisas?
- Sim, mãe, eu sei que os mini-mercados estão a abrir em montes de sítio e com isso vai levar ao desemprego os empregados da mercearia. - respondi assim a dar uma de politico esclarecido.
- É, mas ali na mercearia do Sr. Alfredo, nunca me quiseram vender o feijão macunde, ainda por cima diziam que só tinham ao litro. Eles estavam a gozar sempre na minha cara, a dizer que não tinham e se tivessem vendiam ao litro. - aqui a voz dela já dava mostra de certa irritação. - Ali no super-mini-mercado têm latas a dar com fartura e eu trouxe.
- Mãe, o Sr. Alfredo sempre teve esse feijão
- Eu sei que sim porque eu via. Mas nunca me quis vender. - tom bem irritado
- Mãe, ele não sabia o que era feijão macunde. Ele tinha feijão frade ou ciclista como muitos chamam aqui. Ele nem imagina que o feijão frade é o que querias ao pedir feijão macunde. Porque nunca me perguntaste? - eu a querer se didático e mostrar a minha integração...
- Burros!
e então ele nunca mais foi à mercearia do Sr. Alfredo e voltou a comer feijão frade com atum ou peixe frito.

( mãe: beijos muitos desde aqui)
os nomes foram alterados porém a estória e o super-mini-mercado são verdadeiros

Sanzalando

8 de janeiro de 2025

Tesourinhos musicais 25 Os Ekos


Sanzalando.

Crónica 39


Sanzalando

Morro da Pena Ventosa Rui Couceiro


Sanzalando

Programa K'arranca às Quartas 49

Programa de Rádio com palavras, livros e música  - 08 de Janeiro de 2025.  tal e qual como se fez em directo para ouvir indirectamente aqui ou em qualquer outro lugar
Tivemos a Crónica de Ano Novo, falámos do Morro da pena Ventosa de Rui Couceiro através das palavras de Anabela Quelhas, uma colaboradora de letra maiúscula e tivemos também os tesourinhos musicais Os Ekos que estiveram muito bem.
Inaugurámos uma nova rubrica, o momento de poesia, onde após digitalização, ouvimos um poema desta vez e, para abrir, foi Fernando Pessoa narrado por Mundo dos Poemas

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Um Adeus ao Anatas

Tentei de todas as formas plantar uma árvore, em todas as estações do ano, abrigadas ou em descampado e nenhuma cresceu. Arte ou fé me faltou. Plantei palmeiras artificiais e o sol as secou. Desenhei árvores no chão, como uma criança as desenha no papel e o vento as apagou. O meu quintal ficou deserto e só capim floresceu uns dias depois de cada chuva chuvida. Os meus braços doridos, de cavar, desenhar ou segurar os sonhos agrícolas, estão esqueléticos e já nem cigarros seguram. 
Falsas frases minhas centrifuguei nos desejos de um dia ver o mar amarelo dum deserto que deixei criança, plantadas num quintal que de caderno de capa vermelha fiz.
Fabulei-me de desejos, tropecei em quereres e caí de costas na contra costa da minha inquisição.
O Anatas partiu e nos amigos todos deixou saudade. Um dia, um dia desertificar-me-ei. Certo e sabido como tu sabias.

Sanzalando

7 de janeiro de 2025

vagabundo-me herege

Vagabundo-me por ruas e vielas vazias de gente, porem carregadas de estória. Invento a cada passo uma estória referente àquela casa, aquele beiral, aquele quintal, aquele buraco. Dizendo de outra forma, eu dou vida à minha vagabundagem.  O silêncio que me envolve deixa-me a pensar que aquelas estórias que acabei de inventar são verdadeiras. Eu acredito nelas porque elas são a minha imaginação e a minha imaginação sou eu. Eu acredito em mim. 
No inverno do lado norte tem dias assim, vazios de gente e abarrotar de silêncios. Não há ruído de gerador, de farra, de copos e de corpos em movimento. Sou eu e a minha vagabundagem por estas ruas desertas de gente e carregadas de estória.
Paro numa casa em que está escrito que ali é a Igreja dos Pobres e Desavindos. A porta está fechada. Se eu sentisse frio ou estivesse desavindo comigo ficava na rua, pensei. E comecei logo a magicar que todos os deus são demasiado vaidosos e convencidos. Eles desejam o amor, a veneração, pedem sacrifícios, uns pedem música e dança, outros ladainhas infindáveis, uns o dízimo, outros fazem colecta. A vaidade dos deuses é coisa para ser explorada por mortais. 
Não tem deus nenhum que diga que não ouve as rezas? Que não responde aos pedidos?
Senti-me herege e segui caminho fora sem antes olhar  para dentro de mim, à porta duma Igreja fechada, pobre e desamparado sem nada para fazer ou falar.



Sanzalando

6 de janeiro de 2025

caminhos

Perdi-me sentado em pensamentos absurdos. Quantos caminhos percorri que não foram escolha minha? Fui por eles, alguns por sugestão, outros ao acaso e outros porque não tinha outro caminho para escolher. Nos primeiros aceitei e culpa minha não ter feito o juízo completo. Nos por acaso simplesmente porque não sou de estar parado e a aventura é um lugar comum. Corre bem é optimo, correu mal, melhorarei. nos caminhos únicos não foi bem a escolha, foi o percurso para lá chegar. Culpa minha, opção minha. Correu bem, optimo, correu mal, melhorarei.
Sentado tento justificar-me. Absurdo. Todos os caminhos são caminhos por isso se chamam caminhos. Uns são melhores que outros. Por isso há caminhos com portagem e são rápidos e há caminhos que demoram. Mas tudo é caminho. Essa vida que eu levo, é um caminho. Às vezes parece recto e outras vezes tão sinuoso que me deixa na dúvida se esse é o meu caminho. Mas sigo num seguir feito de peito aberto, recebendo os trocos, ventos e sóis. 
São os caminhos.

Sanzalando

5 de janeiro de 2025

acho eu

Acho que nossa busca incessante por conquistas se deve ao facto das constantes comparações a que nos submetemos, como se existisse um padrão de uma boa vida. Acreditamos que a nossa vida não é perfeita como a do outro, sofremos por alcançar méritos que não são para ser nossos e deixamos de viver intensamente os que o são.



Sanzalando

4 de janeiro de 2025

agradeço

Faz tempo não me vejo no espelho. Não é no espelho de pentear ou de ver a roupa caiu bem. É mesmo no espelho de ver por dentro. Como é que eu estou? Feliz? Sorridente? Choroso? Enfim, como me vai a vida. Falta de tempo não conta porque ele simplesmente voa na velocidade de um tempo que eu não tenho mais velocidade de lhe acompanhar. 
Saudades do tempo profissional? Saudades da adolescência?  Somente saudades?
Olhando bem no espelho de mim eu desconsigo responder claramente. A neblina embacia o pensamento. Tenho saudades de gente, tenho saudades de muita coisa. Não tenho saudades de trabalhar porque isso significava que alguém não estava bem. Vou dizer tudo isso mais como? Desconsigo ter saudades da adolescência porque eu sei esse tempo não volta e o que eu sou hoje devo nesse tempo. Vou ter saudades de hoje? Eu tenho saudades de futuro, esse mistério que é daqui a pouco ou mais logo num dia qualquer. Vou tirar esse espelho e me olhar só de fora. Estou bem. 
Obrigado a mim e a quem me acompanha nesta caminhada de escrever letras vagabundas, perdidas no tempo sem tempo marcado.

Sanzalando

3 de janeiro de 2025

será

Olhando-me há anos atrás em que escrevi com outros números que o mundo não se tornou magicamente colorido só porque o 4 passou a 5, nem o virar da página trará uma montanha de esperanças ou desventuras.
Na verdade, cada ano passado senti que foi o mais desafiante da minha vida. Isto quer dizer que este vai ser ainda mais que o anterior. Ano após ano e o desafio é maior. A maturidade sobe, a realidade é cada vez mais explosiva, assim como o frio de inverno é mais frio que o frio de verão. Cada lugar tem a sua hora, cada hora um espaço e um modo de ser. Cada ano é um desafio. 
Tenho o privilégio de sorrir quando é hora de o fazer, de me calar quando acho que o devo fazer, de dizer o que tenho que dizer, de sentir o que me apetece sentir. Respiro e abraço cada momento de esperança. Continuo a aprender que cada tempo é tempo de ter tempo. Não me afogo nas cinzas de um mar revolto nem me acobardo em manhãs de sol inventado. Faço as minhas conquistas na ausência de pensar como acordarei amanhã.
Estarei morto quando souber qual o melhor ano da minha vida.


Sanzalando

2 de janeiro de 2025

ano novo vida velha

Novo ano e muitas promessas depois eis-me aqui sentado de caneta feito teclado e escrita gatafunhada desenhada em caracteres de imprensa. Sussurrei promessas, outras as fiz em voz alta e bem audível. Umas fiz interiormente, outras em público. É este o carácter do ano novo. 
Prometo solenemente não esquecer o que me permitiste saber sobre ti. Contei-te os meus medos, falei-te das minhas estórias, as que sei de cor e na ponta da língua, bem como as que tenho de me socorrer dum ou outro apontamento porque me perdi na distância do tempo. Sei de ti e tu sabes de mim. Não competimos porque o saber não é corrida nem leituras secundárias de entrelinhas. Não sei prever os teus passos e as tuas palavras, mas sei o sentido com que as dizes e o caminho que traças. Sei que sabes onde vou e entender-me-ás se te disser que quero ficar num ali qualquer.
Entendemo-nos neste dialecto que é nosso, nesta língua de silêncios e meias palavras onde a gramática está repleta de regras apagadas. Sei apenas que cada palavra que sair da minha boca é uma palavra tua. E vice versa. 
Ano novo vida velha porque cada dia é dia 31 de dezembro do ano da graça que quisermos.

Sanzalando