Eu não era dado a grandes passeios. Vindo da cidade pequena os meus limites eram areia e mar. No Porto eu estava perdido, enclausurado na liberdade toda que tinha.
A zona da Ribeira era marcada por actividades portuárias e por uma degradação urbana. Ainda assim, já havia o encanto das casas coloridas encavalitadas umas nas outras e os barcos rabelos, quase sempre os vi parados, carregando pipas de vinho do Porto, não eram para passeios turísticos. As esplanadas eram tão poucas que poucos eram os turísticas, eram lugares simples, frequentados por moradores e trabalhadores e um ou outro estudante em dia de folga ou de comemoração de qualquer coisa, após receber a bolsa de estudo.
A Avenida dos Aliados já era o coração da cidade, mas o trânsito era intenso e o ambiente, menos polido que hoje. Os cafés, como o Café Majestic, mantinham a aura Belle Époque, mas eram sobretudo frequentados pelos portuenses, não por turistas. Eu entrei olhei e não frequentei pois tinha medo de não ter estatuto para tanto.
Os tróleis e os electricos ainda funcionava e circulavam. Passear neles era uma experiência autêntica, com janelas de madeira, bancos rijos e o tilintar característico descendo a Avenida da Boavista. Era um passeio para manhã de domingo quando o tempo permitia.
O comércio tradicional dominava: mercearias, retrosarias, lojas de ferragens, alfaiates e confeitarias. Será que havia pastelarias? Não me lembro e nem vou vasculhar. Locais como o Bolhão fervilhavam de vendedores e freguesas carregando cestas e muitos palavrões à mistura.
Nos anos 1980, muitos edifícios estavam em mau estado de conservação, sobretudo no centro histórico.
Nos anos 1980, muitos edifícios estavam em mau estado de conservação, sobretudo no centro histórico.
Mas afinal de contas eu estava ali para estudar, talvez namorar. Este ponto tenho marcado no esquecimento que até parece que não o vivi. Coisas da idade!
A francesinha já era um clássico para os dias de festa, de comemoração ou simplesmente para matar a fome naqueles domingos em que a carteira ainda não chorava de vazia, ou então comer uma boa tripas à moda do Porto ou com um fino fazia parte do clássico festim.
Mas relembro que eu estava no Porto apenas para estudar. Sorte sorte foi ter os meus mecenas em cada amigo que tive naqueles anos enclausurado na minha liberdade estudantil.
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