recomeça o futuro sem esquecer o passado

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22 de dezembro de 2024

Inverno de natal

O inverno chegou. Era esperado. Todos os anos no mesmo dia, hora mais ou menos a hora dele chega. Cada dia tem um apeadeiros de clima porém estação só tem uma. E estamos em dia de inverno. Época dele e estamos a protestar mais o quê? Casaco sobre camisola forte e ainda camiseta e ele está num foi-se que até tem dó dele não entranhar nos ossos de cada dia. Se ele aqui neste norte chegou é sinal que o Natal vem atrás dele. Ai tem gente vai esquecer muita coisa e vai ser festa de arromba que qualquer caloria nem aguenta. Depois se entra na dieta para recuperar os dias perdidos a comer coisas que fazem alargar o corpo porém a alma está que nem a mesma ou ainda pior. É a dieta do milagre. Come-se tudo o que aparece e depois espera-se o milagre de não pesar na balança. Mas mais enches a pança e mais contrabalança a solidariedade para a solitariedade de cada um se esconder no seu canto faz de conta é um recanto de defesa.
Vou dizer boas festas e vou esquecer a dor aqui e a dor acolá, o frio aqui e o desamparo de lá. Vou fazer festa porque é Natal e não importa eu tenha espírito natalício ou apenas seja natalino mês de dezembro.
Vou esquecer aquele olhar feroz e vou por um riso de paisagem faz de conta está tudo bem. Vou comprar meias e mais umas quantas coisas que até seja considerado um gajo porreiro e vou sorrindo num mundo que chora.
É inverno e cinzenta-se o tempo que o dia é curto e ouvir o silêncio da noite não é para todos. Tem muitos que ouvem apenas o ruído da barriga parece é relógio de dar horas, que o choro é calado e as lágrimas secaram faz tempo.
É inverno no lado de cá. Faz verão no lado de lá. Vagamente.


Sanzalando

20 de dezembro de 2024

o velhinho Anglia

Caminho lento, passeio fora. Não vim fazer uma caminhada desportiva. Vim só andar. Passear. Se fosse há muitos anos atrás, ia na avenida e sob o caramanchão de buganvílias, passeava neste fim de tarde. Ou então ia para o picadeiro da minha cidade natal e aí os carros já sabiam que aquela rua a esta hora é para passear a pé e até tinham muito cuidado. Mas neste tempo de agora, nesta altura que eu passeio sob frio e ar de quem vai chover, tenho de ir no passeio pois os carros agora andam muito e os condutores não cuidam de ver por onde andam. Simplesmente andam com pressa de chegar mesmo que esse chegar seja a lugar nenhum em especial. Acho ninguém vê quando têm um volante na mão. Aqui no passeio eu sei vou seguro. 
Olho para os carros que passam. O carro da minha infância não vai passar. Certo e sabido por mim assinado e selado. Mas num repente parei, olhei em frente e pareceu-me ver um Anglia. Tal e qual. era da minha idade de ver carros e brincar com as matrículas. Deixei o olhar cair sob esse carro e segui-o. Não era um Anglia. Era um Toyata novinho que me fez a memória voltar para o velhinho Anglia da minha idade. A sua frente só pode ser cópia ou a minha imaginação queimou qualquer coisa.



Sanzalando

19 de dezembro de 2024

Tem gente

Tem gente que se ocupa em ser feliz para esconder a tristeza, tem gente que se acostumou em abraçar mentiras para não gastar as verdades.
Tem gente para tudo e tem gente para nada.
Tem gente que ri com gosto e tem gente que ri para esconder o desgosto.
Tem gente que só é gente porque a gente assim lhes chama
Tem gente que sente e ama e tem gente que se acama em silêncios interiores que quase parece morreram vivas.
Tem gente que é gente de verdade. Letra grande ou grande letra de ser gente
Tem gente.

Sanzalando

18 de dezembro de 2024

16 de dezembro de 2024

Ao meu pai que faria 99

Escrevo na memória com letra invisível para nunca mais esquecer a data em que os meus lábios te disseram adeus. Na verdade eu já nem sei quando foi isso. Se calhar ias para o trabalho, se calhar ias ao café ou ao cinema. Se calhar nunca te disse. 
Das coisas que eu sei, é que nasceste a 17 de Dezembro de 1925 e eras meu pai. Na memória a letra invisível tornou-se esquecimento e eu do que me lembro são assim relâmpagos de quatro anos. Recordo a tua NSU porque não tinhas carro e eu nem sei porquê. Lembro-me do teu clube de futebol, o que te tirava do sério. Não é o meu mas isso desimporta. Queria era lembrar-me do toque dos teus dedos, do teu respirar ao me dares beijos de mimo, da tua força a dares-me colo. Mas a tinta invisível se apagou no tempo da memória que não sei se tive. Perco-me em pensamentos de imaginação, nas brincadeiras que me deves ter ensinado a brincar, nas batidas descompensadas da tua musicalidade que, segundo a mãe, era nula, nas canções de embalar que não sei se as tive.
Pois é, meu pai, amanhã seriam 99 e para me recordar só tenho memória de que não me lembro. Assim,  meu pai, seguindo as vozes que me contaram vou permitir-me brincar como dizem tu brincavas, vou divertir-me como me falam que te divertias. A gravata levo-a no bolso, segundo me dizem, tu nunca leste nenhum decreto onde dizia que ela era para ser usada ao pescoço.

n 17-12-1925  
f 18-06.1961

Sanzalando

12 de dezembro de 2024

O pelourinho que era fonte e a foca que era lobo marinho

Na minha terra havia um pelourinho que transformaram em fonte luminosa. Acho foi ideia de algum iluminado, mas como não sou de intrigas nem vou entrar por aí. Mas eu já conheci aquilo, ou pelo menos só me lembro daquilo em fonte de água com uma foca que por acaso era um lobo marinho. Era lindo. 
Eu de calções, sandálias a ver a foca que era lobo marinho a brincar a vida dela naquele pedaço de água. Desconheço o autor de brilhante proeza. Eu divertia-me. A cidade divertia-se. 
Não. não é lenda nem anda perto disso. É um dos momentos que guardo na lembrança, não vá eu um dia perder a memória.
Quem pôs lá o pelourinho não sei se algum dia soube. Quem deu foral muito menos sei. Só me lembro mesmo que aquela fonte de água alegrou-me a vida com uma foca que era um lobo marinho.


Sanzalando

11 de dezembro de 2024

Manuel Teixeira Gomes Gente Singular


Sanzalando

Tesourinhos musicais 23 Os Joviais - K'arranca às Quartas


Sanzalando

Crónica 36 - K'arranca às Quartas


Sanzalando

Programa K'arranca às Quartas 47

Programa de Rádio com palavras, livros e música  - 11 de Dezembro de 2024.  tal e qual como se fez em directo, no dia em que a Cidade de Portimão fez 100 anos
Tivemos a Crónica sobre a cidade, falámos de Manuel Teixeira Gomes e do seu livro Gente Singular e tivemos também os tesourinhos musicais que foram Os Joviais 

  Não perca e ouça a boa música que tenho para lhe dar Sanzalando

2 de dezembro de 2024

ouvir rádio

Sigo o som que me chega nem sei de onde.. Deixo-me levar ao sabor do ouvido. 
Um rádio toca para lá de uma janela. Não vejo a sintonia porque a vista já não é o que era. Ouço a música que desconheço. Agradeço a oferta de me darem música enquanto caminho e deixo-me  ficar ali parado a escutar. É um canção francesa em voz feminina. Desconheço-a por completo. Mas estou a gostar do que ouço. Há ali um amor encantado. Há ali uma melodia que me encanta. A música termina termina e logo outra a segue. Também é francesa. Esta é bem mais antiga e reconheço a voz de Jacques Brel. Permaneço parado no passeio em frente de uma janela aberta que me deixa ouvir o som de um rádio que toca música francesa. Olho, curioso para lá da janela. É um rádio de sala. Elegante e bem antigo, a ver pela madeira com que é feito. 
Curioso. Ainda há quem ouça rádio. Ainda há rádios antigos que funcionam em casas. Pensava que rádio era agora um artigo única e exclusivamente de automóvel, companhia para filas de trânsito. 
Deve morar aqui um velho saudosista dos tempos antigos e que deve dizer que naquele tempo é que era bom.. pensei eu a fazer um filme já com legendas e dobrado na imaginação. 
Um jovem aparece, olha-me e pergunta-me se a música me estava a incomodar. Fui pronto na negação e rápido em parabenizá-lo pela audição. 
- Mantenha-se ai que ele vai tocar a tarde toda. É a minha companhia diária. disse-me enquanto deixava a sala onde o rádio permanecia.
Ouvi mais duas outras músicas. Recentes e portuguesa. Envergonhado de estar ali a aproveitar-me da música dos outros resolvi seguir o meu caminho e a música foi diminuindo até deixar de a ouvir. Olhei para trás como que a decorar a janela para um ouro dia por ali passar outra vez ou se calhar apenas com pena de a ter deixado.
Pelo sim pelo não, fui a uma grande superfície e comprei um transistor. Agora já posso ouvir rádio onde e quando me apetecer.


Sanzalando

1 de dezembro de 2024

se calhar

Eu se calhar queria escrever uma estória de memórias. Eu queria me descrever, assim mais ao menos desde que nasci até no aqui deste instante. 
Mas tem tantas coisas que eu já esqueci que vou só ficar numa estória de lembranças. Essas que a minha cabeça se lembra, essas que deram lugar ao presente e quem sabe eu vou usar no futuro. Uns aí vão só pensar eu eu sou assim que só tem coisas boas, que nunca esfolou joelhos, nunca morreu de amores, nunca sofreu dor de alma. É que tem coisas que eu já nem me lembro como é que vou escrever de memória? Se escrever linearmente vão ver que a minha caminhada foi cheia de curvas, cheia de coisas que são agora surpreendentes mas que na altura eu achei era só mesmo normalidade. 
Eu tive dificuldade em deixar a adolescência. Eu queria continuar a ser inocente, assim como que um anjo sem asas e muito bem comportado. Eu não tinha um bando, eu tinha um quarteto de amigos que armávamos a barraca e riamos que nem perdidamente. Brincávamos na rua até noite dentro. Hoje me olho e são essas as únicas lembranças que tenho. 


Sanzalando

30 de novembro de 2024

se não tivesse sido assim?

Te recordo na minha imaginação, te revejo na dimensão em que te deixei de ver. 
Olho para trás e fico a imaginar o calor de fogo que faríamos se tivéssemos continuado com a chama acesa que um dia, de um só sopro, apagaste.
O que restou desse tempo são palavras que vou recortando à minha memória, textos nunca escritos nem lágrimas nuca choradas.
Não tivemos a nossa oportunidade, não deste tempo ao tempo para mostrar que poderias ser feliz segurando-me na mão e guiar o meu instinto pelas estradas agrestes da vida. O que nos poderia ter acontecido se tivéssemos permanecido mais uns tempos de mãos dadas? Talvez eu não estivesse à procura de palavras, talvez eu não roubasse à memória sonhos sonhados numa varanda virada para ti.
Perdemos a morada, ganhamos duas, distantes no tempo e no espaço.
Eu escrevo. E tu, que fazes?


Sanzalando

28 de novembro de 2024

metáfora de espera

A espera pode ser metaforicamente comparada a muitas coisas que evocam a sensação de paciência, incerteza e desejo.

1. Uma semente no inverno

A espera é como uma semente enterrada na terra fria, invisível, mas cheia de potencial. Ainda que o momento pareça estático, silencioso ou até vazio, a vida prepara-se para nascer quando a primavera chegar.


2. Um relógio sem ponteiros

A espera é como um relógio sem ponteiros, onde o tempo parece congelado, mas não para de existir. 


3. Uma vela ao vento

A espera é como uma chama que luta contra o vento — frágil, mas persistente, mantendo a esperança viva mesmo diante da incerteza de se manter acesa


4. O horizonte no fim do mar

A espera é como olhar para o horizonte enquanto navega; mesmo sabendo que ele está longe, seguimos em frente com a promessa de existir algo oara lá da linha visível.


5. Uma chávena de chá frio

A espera pode ser comparada ao momento em que você precisa deixar o chá arrefecer antes de beber, ter a paciência para apreciar o seu gosto, sem pressa ou ansiedade.


Essas metáforas transmitem a ideia de que, na espera, há uma mistura de frustração e esperança, mas também um espaço para aprendizado e amadurecimento.