recomeça o futuro sem esquecer o passado

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9 de julho de 2010

Diálogos duma só voz (XXII)

- Olho nos teus olhos e parece vejo mar...
- Não me olhes que eu hoje sou água salgada aquecida em sol maria. Me entristece a alma porque não consigo ver nada para além dum agora. Assim como tu estás sempre, estou eu agora. Até parece não tenho futuro e apenas alicerces de passado mal passado.
- Oh, lá lá. Situação aqui parece preta...
- Não consigo acompanhar os meus passos com fotogramas de realidade, não consigo verbalizar todas as quedas que caio. Apenas ouço a minha boca falar palavras caladas de faz tempo.
- Como é o tempo do silêncio?
- Além de calado é cacimbo que cacimba na cabeça destapada numa noite sem dormir.
- Tás... péssimo...
- Maneira negra de ver as coisas que não se vêem... talvez seja esse o meu segredo que faz tempo eu procuro.
- Parece fechas as portas...
- ... que nunca consegui abrir e não sei se algum dia vou ter força para lhas abrir.
- Não te esqueças que começar de novo é apenas começar novamente...
- Tantas vezes comecei que não sei se alguma vez acabarei... talvez... eu seja eternamente um ser calado mergulhado em mar de saudade.


Sanzalando

1 comentário:

  1. " ando tão à flor da pele que qualquer coisa me faz chorar..."
    Não tenho a pretensão de achar que podia ter este monólogo, diálogo consigo, mas que podia, podia. Você é o poeta/escritor, eu sou a leitora que ao ler digo de mim para mim que isto podia ser comigo, porque ando tão à flor da pele que leio e penso que podia ser eu a pensar, que a escrever ainda chorava mais, de impotência de não saber escrever assim bonito.
    Gostei.Muito.Tudo.E já me fez chorar, o que é bom, porque quem chora seus males espanta.

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