Sopra forte o vento. A chuva quando cai parece está desesperadamente a fugir do céu. Eu, aqui em baixo, abrigado nas memórias, nos momentos grandes da minha vida, na sombra imaginada dos amigos que tenho, vou vagabundeando ideias e conceitos, perdendo preconceitos, afastando medos e apagando segredos, afastando tempestades e silenciosamente dou comigo a declamar versos que nunca pensei escrever:
Podes ter fugido do tempo e da cidade
mas nunca poderás fugir da tua identidade.
Eu prefiro ser uma virgula
que um ponto final.
E talvez neste escuro,
que já não me é fatal,
eu seja o ginasta dos trapézios
saltando em espiral
como se fosse o último salto mortal
para um tempo mais de futuro
O Sol entretanto reapareceu, o vento acalmou e nenhum vizinho veio à janela assustado com o vozeirão que eu devo ter feito e me calei para a solidão carregada de gente.Sanzalando