Me olho com o olhar mais crítico e me pergunto se devo fazer o balanço deste ano. Na verdade eu sinto necessidade de ter uma conversa construtiva comigo. Não sobre um assunto em particular, mas pela generalidade. Na minha idade, assim a dar para o decadente, na minha vida provinciana de lugares comuns, no meu modo de estar deteriorado porque perdidas as mil formas de fazer tudo ao mesmo tempo, eu preciso conversar-me, para que o meu cérebro não pense como um vegetal, para que o meu corpo não esteja ancorado em nenhum porto seguro mas apenas enraizado na minha ideia de vida, para que os meus projectos não se transformem em cenas pensadas na comodidade dum qualquer sofá.
Este ano fiz cerca de 820 km de bicicleta, 91 encontros de padel, 75 km de caminhada, vivi cerca de 15 dias a mais de 2500 metros de altitude com os seus problemas de adaptação e publiquei o meu segundo livro: Zulmarinho, delírios ao sabor das ondas.
De nada em especial se somarmos os dias inúteis que perdi, as horas que me senti um solitário triste vagueando no meio da multidão alegre e divertida, as frustações laborais que sempre se sobrepõem aos meus sucessos.
Eu se calhar gostava de ter a ingenuidade e descultura de outrora, continuar com a essência da estranheza e fascinado com a curiosidade de saber e conhecer.
Nesta conversa a ter, iria tentar não ser um actor, representar o meu próprio papel mesmo que para isso eu tenha de admitir estar errado.
Eu, degenerado, me sinto culpado de prometer-me ser sempre melhor e acabar todos os anos com a sensação de que afinal não o fui. Falta-me ligar à placenta, enraizar novos tempos e desamarrar todas as âncoras e ferros.
Bom ano, também para mim.
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