Não vou nem discutir nem pôr à discussão o nome. A minha cidade, o meu recanto, não tem lá a minha placenta por contingências familiares, mas tem lá pedaços da pele dos meus joelhos, gotas do meu sangue perdido nas pedradas da saída da escola, tem gotas do meu suor nas ruas encaloradas do meu verão.
Parabéns, Moçâmedes!
São 176 anos de sol, sal e areia — e olha que eu apanhei boa parte disso tudo ainda com joelhos esfolados e chinelos derretidos, feitos de plástico de Macau ou de pneu lá para os lados do Forte ou na Torre do Tombo
Foi ali que eu cheguei de comboio ainda tinha dias de nascido nas terras do planalto, e por ali cresci e levei os primeiros calores a sério. Onde o vento do deserto batia nas pernas parecia agulhas a picar e o mar era tão bonito que até parecia mentira que ele às vezes se revoltava e galgava barreiras e inundava ruas e estradas. Aquele azul enganador que quando nele entrares e levares com aquela água gelada que te lembrava logo que era verdade.
Em Moçâmedes aprendi lições valiosas:
Que o vento podia roubar bonés, papéis da escola e até a vontade de sair de casa.
Que “passar calor” não é figura de estilo — é treino de resistência.
E que peixe fresco era mais comum que os congelados de agora.
As festas? Ah, memoráveis! Bastava umas barraquinhas, dois ou três carrosséis, cachorros quentes e um copo de Rosé, discoteca improvisada com vista para o pôr do sol mais bonito de África, não aceito debate nem contradição e festa estava montada.
Moçâmedes, tu és aquela cidade que envelhece com a minha idade e com o teu vento porém não desapareces da minha saudade nem do meu pensamento
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