Tinha para aí uns quinze anos e uma mania perigosa: achava que o mundo estava à espera de ver a minha coragem.
Naquela manhã de verão, diante da ponte velha, tábuas esburacadas e pilares carcomidos pelo mar e pelo tempo, todos os amigos olhavam-me à espera que eu desse o mergulho
- É alto demais… - murmurei sem pensar que alguém ia ouvir
Sorri, com aquele brilho nos olhos que misturava medo e desafio. Atirei o medo para trás das costas, corri, ainda hoje penso que de olhos fechados, e num bem calculado tempo lancei-me no ar.
O aplauso dos colegas foi escutado pelo vento e pelo meu pavor, depois, um mergulho limpo, água a saltar como se lá tivesse caído um barril, e silêncio. Os meus pés quase tocaram o fundo do mar.
Segundos depois, a cabeça emergiu, olhei para o que resta do tabuleiro da velha ponte. Ri-me, levantei o braço, e naquele instante parecia ter conquistado o mundo. Ouvi aplausos.
O resto da manhã, porém, passei o tempo a murmurar em silêncio que este miúdo nunca mais ia saltar da velha ponte e assim até hoje cumpro esse propósito.
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