Era uma vez, e era assim que começavam as estórias da minha infância, um menino magro, que morava numa pequena cidade rodeada por mar azul por um lado e por areia dourada do deserto por outro. Ele não tinha muitos brinquedos, mas guardava com muito carinho uma coleção de carrinhos de madeira que alguém lhe tinha oferecido num natal qualquer
Os carrinhos não tinham cores brilhantes nem rodas de metal, mas eram mágicos. Cada um tinha um formato diferente: um parecia um camião, outro lembrava um carro de corrida com listas e números, e havia também um que ele dizia ser um machimbombo grande.
Todos os dias, depois da escola, espalhava os seus carrinhos no chão de terra batida do quintal. Com pedrinhas e estradas feita com o raspar dos sapatos, construía estradas, pontes e até túneis que agora poderiam ser chamados só de viadutos. A imaginação dele transformava o lugar numa verdadeira cidade em miniatura: os carrinhos faziam filas no trânsito, paravam para abastecer no posto feito de latinhas e até transportavam passageiros invisíveis.
Às vezes, o avô sentava-se na varanda para ver. Com um sorriso, dizia:
- Esses carrinhos só andam porque lhes dás vida.
E era verdade. No mundo da imaginação, os carrinhos corriam mais rápido que o vento, atravessavam montanhas inventadas e sempre chegavam ao destino certo. Não precisava de nada além de sua imaginação e do amor que sentia pelos brinquedos simples que guardava como tesouros.
Com o tempo, cresceu, mas nunca se esqueceu das tardes em que a sua cidadezinha de terra e madeira ganhava vida. Os carrinhos ficaram guardados numa caixa, mas cada vez que ele a abria, podia ouvir o eco das risadas de criança e o barulho dos motores que só existiam dentro do coração dele. Com esse mesmo tempo a sua cidade foi ficando cada vez com menos gente, gente que ele ia esquecendo ou ia sendo levada pelo vento
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